Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL
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Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />
O homem intervém ainda para controlar o comportamento dos filhos, a mãe deixa-os soltos<br />
―como porcos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis‖( p. 21), por isso, ―depois da comida, falaria<br />
com sinha Vitória a respeito da educação dos meninos‖ ( p.24).<br />
O homem é o principal provedor de alimento e subsistência para a família. A ele cabe cuidar dos<br />
animais, fazer os arranjos:<br />
―Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de<br />
Inverno a Verão. Era sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar<br />
mandacaru, ensebar látegos – aquilo estava no sangue‖( p. 84).<br />
(p.45).<br />
O filho mais velho auxilia nos trabalhos levando as cabras ao bebedouro, com a ajuda de Baleia<br />
2.3 Religião, sacralidade e mistérios<br />
Como é próprio de uma sociedade rural, isolada, as instituições não chegam ao povo do sertão, a<br />
Igreja surge associada ao espaço - cidade afastada não só pela distância, como pelos rituais.<br />
A religião impõe uma tradição: a ida à missa com roupas de festa, no dia de Natal. O<br />
cumprimento deste dever acarreta desconforto, sofrimento, mas constitui uma autoridade perante a qual<br />
Fabiano não ousa qualquer desrespeito:<br />
― Como tinha religião, entrava na igreja uma vez por ano. E sempre vira, desde que se entendera,<br />
roupas de festa assim: calça e paletó engomados, botinas de elástico, chapéu de baeta, colarinho e<br />
gravata. Não se arriscaria a prejudicar a tradição, embora sofresse com ela. Supunha cumprir um dever,<br />
tentava aprumar-se. Mas a disposição esmorecia: o espinhaço vergava, naturalmente, os braços mexiam-<br />
se desengonçados.‖ (p.67).<br />
Deus, distante e perfeito, está presente no mistério e na prece. As práticas supersticiosas<br />
coexistem com a oração e o rosário, num sincretismo que é próprio deste tipo de sociedades. O capítulo<br />
dedicado a Fabiano inicia-se com a cura da ―bicheira da novilha raposa‖; impossibilitado de fazer o<br />
―curativo ordinário‖ com creolina porque não encontra o animal, cura-o ―no rasto‖:<br />
―Não o encontrou, mas supôs distinguir as pisadas dele na areia, baixou-se, cruzou dois gravetos<br />
no chão e rezou. Se o bicho não estivesse morto, voltaria para o curral, que a oração era forte.‖ (p.17).<br />
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