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Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL

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Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />

Escutam-se os cantares das raparigas, que também dançam e fazem baixão e todos acorrem a<br />

ouvir Serafim Jon, cantador de mornas. A dança é ao som da morna como da contradança, os homens<br />

bebem grogue ―seca-calor‖, as mulheres bebem leite, embora o costume seja, por vezes, alterado porque<br />

― …tem moças que metem grogue no corpo coma homem‖ (p. 123) e come-se milho preparado dos<br />

mais diversos modos.<br />

3.4 Religião / Sacralidade/Mistérios<br />

Em FVL situamo-nos numa era pré-industrial, próxima do primitivo e do sagrado em que é<br />

profundo o respeito pela terra-mãe e dela apenas se pede solidariedade, cooperação e equilíbrio para que<br />

a vida possa continuar. A religiosidade funda-se, antes de mais, na fé na natureza, sendo a chuva a<br />

salvação, como confirma a voz do narrador omnisciente:<br />

― A chuva era um símbolo de fé. Crer nela ou não crer nela, a enviada de Nosso Senhor. Entre<br />

esta e a escuridão, entre a coragem e o pânico, o povo escolhia a coragem e a fé porque eram tocadas<br />

pela luzinha da esperança‖( p. 15).<br />

Confronte-se esta esperança no advento da chuva com a simbologia deste elemento natural, por<br />

Mircea Eliade ―As águas simbolizam a soma universal das virtualidades; elas são fons et origo, o<br />

reservatório de todas as possibilidades da existência; elas precedem toda a forma e suportam toda a<br />

criação.‖ 41<br />

Ainda segundo este estudioso, como já referimos, para este tipo social e humano, a Natureza está<br />

sempre carregada de um valor religioso. Podemos verificá-lo na personagem de José da Cruz que<br />

recebeu dois sinais indicando-lhe o momento da sementeira: o tempo, a natureza, interpretada através<br />

dos sentidos da visão, olfacto e tacto e um sonho, aviso de dentro: ‖ Um anjo a descer do céu pra terra,<br />

montado numa nuvem […] o anjo trazia um balde d‘água nas mãos‖(p.19).<br />

Como notaremos, elementos da religião católica (anjo) e elementos de uma religião natural<br />

unem-se num sincretismo revelador:<br />

― – Compadre, eu por mim tomo o sonho desta manhana como um aviso que vem dar força aos<br />

outros avisos que tenho tido. Às vezes sinto o tempo falar na pele do meu corpo‖( p. 19).<br />

41 <strong>MI</strong>RCEA ELIADE, op.cit., p.105<br />

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