Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL
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Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />
― E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os<br />
meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias‖ (p. 110).<br />
Este final da obra constitui uma abertura para o futuro, o tempo dos filhos. Se do ponto de vista<br />
sociológico esta fuga para a cidade se apresenta como um êxodo rural que imita o êxodo bíblico em<br />
busca de Canã; do ponto de vista filosófico apresenta-se como uma forma de alienação. Sendo o<br />
absurdo de ordem metafísica e não económico-social, mesmo que a cidade oferecesse melhores<br />
condições de vida este manter-se-ia, pois não se pode escapar ao mal (a doença, a morte, o sofrimento).<br />
Entendendo o absurdo como a existência do mal (injustiça social e da natureza), e o trágico<br />
como a consciência desse mesmo mal 32 , Fabiano afasta-se de Sísifo na medida em que luta, mas mantém<br />
a ilusão da esperança (uma forma de alienação). Em Sísifo, pelo contrário, é a luta sem ilusão que lhe<br />
confere grandeza de herói trágico porque consciente da sua condição e sem esperança. Fabiano,<br />
ignorante porque iludido ou iludido porque ignorante não tem a lucidez do herói trágico que se sabe sem<br />
esperança e sem dono, mas por isso vence.<br />
Caberá ao leitor compreender que a fuga para a cidade é uma falsa fuga porque esta não é uma<br />
obra que se confine ao universo sertanejo, a sua dimensão é a do Homem e esse nunca se libertará da<br />
seca, metáfora do Mal. Vidas Secas pode, pois, ser lida como a saga de uma família de ―retirantes‖<br />
fugindo à seca, mas, a um nível superior, como a luta do Homem contra o Mal.<br />
32 Cf. ALBERT CAMUS, O mito de Sísifo, Carnaxide, Livros do Brasil, 2007, p.127― Se este mito é trágico é porque o seu herói<br />
é consciente (…). Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição: é<br />
nela que ele pensa durante a sua descida. A clarividência que devia fazer o seu tormento consome ao mesmo tempo a sua<br />
vitória . Não há destino que não se transcenda pelo desprezo‖<br />
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