Imagens e Simbolos - Luiz Fernando
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coincide com o aparecimento da Ásia no horizonte da história;<br />
aparecimento que, catalizado pela revolução de Sun Yat Sen se tem visto<br />
a afirmar sobretudo nos últimos anos; sincronicamente, grupos étnicos<br />
que não tinham, até agora, participado na Grande História senão<br />
fugazmente e por alusões (como os Oceanianos, os Africanos, etc.)<br />
preparam-se por sua vez para entrar nas grandes correntes da história<br />
contemporânea, e sentem-se já impacientes por fazê-la. Não que exista<br />
qualquer relação causal entre o aparecimento do mundo «exótico» ou<br />
«arcaico» no horizonte da história, e o renovo de favor verificado na<br />
Europa, em relação ao conhecimento simbólico. Mas acontece que este<br />
sincronismo foi particularmente feliz; estranha-se o fato de a Europa<br />
positivista e materialista do século XIX ter conseguido sustentar o diálogo<br />
espiritual com culturas «exóticas» quando estas, sem excepção, se<br />
pretendem seguidoras de vias de pensamento que não o empirismo ou o<br />
positivismo. Aí está pelo menos uma razão para esperar que a Europa não<br />
fique paralisada perante as imagens e os símbolos que, no mundo exótico,<br />
ocupam o lugar dos nossos conceitos ou os veiculam e os prolongam. É<br />
extraordinário como de toda a espiritualidade europeia duas mensagens<br />
apenas interessem realmente aos mundos extra-europeus: o cristianismo<br />
e o comunismo. Ambos, de maneira diversa, é certo, e em planos<br />
nitidamente opostos, são soteriologias, doutrinas da salvação e portanto<br />
misturam «símbolos» e «mitos» a uma escala que não tem semelhante<br />
senão na humanidade extra-europeia 1 .<br />
Uma feliz conjunção temporal fez, diziamos, com que a Europa<br />
Ocidental redescobrisse o valor cognitivo do símbolo numa altura em que<br />
já não está sózinha a «fazer história», em que a cultura europeia, a não<br />
ser que se feche num provincianismo esterilizante, é obrigada a contar<br />
com outras vias de conhecimento, com outras escalas de valores que não<br />
1 Simplificamos o mais possível porque se trata de um aspeto das coisas que nos é<br />
impossível abordar aqui. No que respeita a mitos e símbolos soteriológicos<br />
comunistas, é evidente que, feitas todas as reservas acerca da elite marxista<br />
dirigente e sua ideologia, as massas simpatizantes são estimuladas c chicoteadas<br />
por slogans tais como: libertação, paz, ultrapassagem dos conflitos sociais,<br />
abolição do Estado explorador e das classes privilegiadas, etc., slogans estes cuja<br />
estrutura e função mítica já não precisam de ser demonstradas.<br />
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