Imagens e Simbolos - Luiz Fernando
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Absoluto os ajuda a libertar-se da ilusão, a rasgar o véu da Mâyâ.<br />
Mas a renúncia ao mundo não é a única consequência que um<br />
Indiano tem o direito de tirar da descoberta do Tempo cíclico infinito.<br />
Como hoje se começa a compreender melhor, a Índia não conheceu só a<br />
negação e a recusa total do mundo. Partindo ainda do dogma da<br />
irrealidade fundamental do Cosmos, a espiritualidade indiana elaborou<br />
igualmente urna via que não conduz necessariamente à ascese e ao<br />
abandono do mundo. É, por exemplo, a via que prega Krsna na Bhagavad-<br />
Gîtâ 5 : a phalatrsnavairâgya, quer dizer, «a renúncia ao fruto das suas<br />
acções», aos lucros que se podem tirar das respetivas acções, mas não à<br />
acção em si. É a via que traz à luz a continuação do mito de Visnu e de<br />
Indra, cuja aventura foi contada mais atrás.<br />
De fato, humilhado pela revelação de Visnu, Indra renuncia à sua<br />
vocação de deus guerreiro e retira-se para as montanhas para aí se<br />
entregar ao mais terrível ascetismo. Noutros termos, apressa-se a tirar o<br />
que lhe parece ser a única conclusão lógica da descoberta da irrealidade e<br />
da vaidade do mundo. Encontra-se na mesma situação do príncipe<br />
Siddhârtha imediatamente após ter abandonado o seu palácio e esposas<br />
em Kapilavastu e se ter empenhado nas suas penosas mortificações. Mas<br />
podemos perguntar-nos se um Rei dos Deuses, um esposo, tinha o direito<br />
de tirar tais conclusões de uma revelação de ordem metafísica, se a sua<br />
renúncia e a sua ascese não colocavam em perigo o equilíbrio do mundo.<br />
Efetivamente, pouco tempo depois, a rainha Çaci, sua mulher, desolada<br />
por ter sido abandonada, implora a ajuda do seu padre-conselheiro,<br />
Brhaspati. Tomando-lhe a mão, Brhaspati aproxima-se de Indra e fala-lhe<br />
demoradamente, não só das virtudes da vida contemplativa, mas também<br />
da importância da vida ativa, da vida que encontra a sua plenitude neste<br />
mundo. Indra recebe assim uma segunda revelação: compreende que<br />
cada um deve seguir a sua própria via e realizar a sua vocação, isto é, em<br />
última instância, cumprir o seu dever. Mas como a sua vocação e o seu<br />
dever consistiam em continuar a ser Indra, retoma a sua identidade e<br />
5 Cf. por exemplo, Bhagavad-Gitâ, IV, 20; ver nosso livro Techniques du Yoga<br />
(Paris, Gallimard, 1948), pp. 141 sq.<br />
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