Imagens e Simbolos - Luiz Fernando
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veiculado por certas sociedades humanas; tais criações foram difundidas<br />
muito longe do Seu lugar de origem e foram assimiladas por povos e<br />
sociedades que doutro modo as não teriam conhecido.<br />
Creio que estudando tão rigorosamente quanto possível as relações<br />
entre certos complexos religiosos e certas formas de cultura, e precisando<br />
as etapas da difusão destes complexos o etnólogo tem o direito de se<br />
declarar satisfeito com os resultados das suas pesquisas. Mas este não<br />
seria o caso do historiador das religiões: uma vez aceites e integrados os<br />
resultados da etnologia, aquele deve ainda pôr-se outros problemas:<br />
porquê tal mito ou tal símbolo puderam ser difundidos? Que revelavam<br />
eles? Por que motivo certos pormenores — mesmo muito importantes —<br />
se perdem durante a difusão, enquanto outros continuam a sobreviver?<br />
Em suma: a que respondem estes mitos e estes símbolos para terem tido<br />
uma tal difusão? É preciso não abandonar estas questões aos psicólogos,<br />
aos sociólogos e aos filósofos porque ninguém está mais bem preparado<br />
para as resolver do que o historiador das religiões.<br />
Basta que nos demos ao trabalho de estudar o problema para<br />
verificar que, difundidos ou descobertos espontaneamente, os símbolos,<br />
os mitos e os ritos revelam sempre uma situação--histórica: situação<br />
limite quer dizer: aquela que o homem descobre ao tomar consciência do<br />
seu lugar no Universo. É principalmente ao esclarecer estas situaçõeslimite<br />
que o historiador das religiões cumpre a sua tarefa e vai ao<br />
encontro das investigações da psicologia de profundidade e até mesmo da<br />
filosofia. Este estudo é possível e, aliás, já foi iniciado. Chamando a<br />
atenção para a sobrevivência dos símbolos e temas míticos na psiqué do<br />
homem moderno, mostrando que a redescoberta espontânea dos<br />
arquétipos do simbolismo arcaico é coisa vulgar entre nós, seres<br />
humanos, sem diferença de raça e de meio histórico, a psicologia de<br />
profundidade libertou o historiador das religiões das suas últimas<br />
hesitações. Dentro em pouco daremos alguns exemplos de redescoberta<br />
espontânea de um simbolismo arcaico e veremos o que eles podem<br />
ensinar a um historiador das religiões.<br />
Mas desde já se adivinham as perspetivas que se abririam à história<br />
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