Imagens e Simbolos - Luiz Fernando
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pois, tal como se provou recentemente 5 , para o mundo arcaico o mito é<br />
real porque ele relata as manifestações da verdadeira realidade: o<br />
sagrado. É em tal espaço que se está diretamente em contato com o<br />
sagrado — seja este materializado em certos objetos (tchuringas,<br />
representações da divindade, etc.) ou manifestado nos símbolos hierocósmicos<br />
(Pilar do Mundo, Árvore Cósmica, etc.). Nas culturas que<br />
conhecem a concepção das três regiões cósmicas — Céu, Terra, Inferno —<br />
o «centro» constitui o ponto de intersecção destas regiões. É aqui que se<br />
torna possível uma ruptura de nível e, ao mesmo tempo, uma<br />
comunicação entre estas três regiões. Temos motivos para crer que a<br />
imagem de três níveis cósmicos é bastante arcaica; ela encontra-se, por<br />
exemplo, nos pigmeus Semang da península de Malaca: no centro do<br />
Mundo ergue-se um enorme rochedo, Batu-Ribn; debaixo dele encontrase<br />
o Inferno. Outrora de Batu-Ribn elevava-se um trono em direcção ao<br />
Céu 6 . O inferno, no centro da terra e a «porta» do Céu encontram-se pois<br />
no mesmo eixo, e por este eixo se efetuava a passagem de uma região<br />
cósmica para outra. Hesitar-se-ia em crer na autenticidade desta teoria<br />
cosmológica entre os pigmeus Semang se não tivessemos bases para<br />
admitir que a mesma teoria tinha sido já esboçada na época préhistórica<br />
7 . Os Semang dizem que antigamente um tronco de árvore ligava<br />
o cume da Montanha Cósmica, o Centro do Mundo, com o Céu. É uma<br />
alusão a um tema mítico extremamente difundido: outrora, as<br />
comunicações com o Céu e as relações com a divindade eram fáceis e<br />
«naturais»; em consequência de uma falta ritual, estas comunicações<br />
foram interrompidas e os deuses retiraram-se mais para o alto nos céus.<br />
5 Cf. . R. Pettazzoni, Miti e Leggende, I (Torino, 1948), p. v; id., Veritá del Mito<br />
(Studi e Materiali di Storia delle Religioni, vol. XXI, 1947-1948, pp. 104-116); G.<br />
van der Leeuw, Die Bedeutung der Mythen (Festschrift für Alfred Bertholet,<br />
Tübingen, 1949, pp. 287-293); M. Elíade, Traité d'Histoire des Religions, pp. 350<br />
sq.<br />
6 P. Schebesta, Les Pygmées (trad. fr., Paris, 1940), pp. 156 sq.<br />
7 Cf. por exemplo, W. Gaerte, Kosmische Vorstellungen im Bilde prähistorisher<br />
Zeit: Erdberg, Himmelsberg, Erdnabel und Welttenströme (Anthropos, IX, 1914,<br />
pp. 956-979).<br />
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