Imagens e Simbolos - Luiz Fernando
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perspetiva historicista do cristianismo, nada de mais natural do que isso: a<br />
revelação teve uma história; a revelação primitiva, operada na aurora dos<br />
tempos, sobrevive ainda entre as nações, mas está meio esquecida,<br />
mutilada, corrompida; a única via de aproximação passa através da<br />
história de Israel: a revelação só foi plenamente conservada nos livros<br />
santos do Antigo Testamento. Como veremos melhor mais adiante, o<br />
judaico-cristianismo esforça-se por não perder contato com a história<br />
santa que, ao contrário da «história» de todas as outras nações, é a única<br />
real e a única com um significado: pois é o próprio Deus quem a faz.<br />
Preocupado antes de mais em ligar-se a uma história que fosse ao<br />
mesmo tempo uma revelação, atentos para não serem confundidos com<br />
os «iniciados» das diversas religiões com mistérios e com as múltiplas<br />
gnoses que pululavam no fim da antiguidade, os Padres da Igreja eram<br />
obrigados a isolar-se nesta posição polémica: a recusa de todo o<br />
«paganismo» era indispensável ao triunfo da mensagem de Cristo.<br />
Podemos perguntar-nos se esta atitude polémica continua a impor-se nos<br />
nossos dias tão rigorosamente. Não falamos como teólogos: não temos a<br />
sua responsabilidade nem a sua competência. Mas para alguém que não<br />
se sente responsável pela fé dos seus semelhantes, é evidente que o<br />
simbolismo judaico-cristão do baptismo não contradiz de modo nenhum o<br />
simbolismo aquático universalmente difundido. Tudo lá está: Noé e o<br />
dilúvio têm como par, em inúmeras tradições, o cataclismo que pôs termo<br />
a uma «humanidade» («sociedade») com excepção de um só homem que<br />
se tornará o Antepassado mítico de uma nova humanidade: As «Águas da<br />
Morte» são um leitmotiv das mitologias paleo-orientais, asiáticas e<br />
oceânianas. A água «mata» por excelência: ela dissolve, anula todas as<br />
formas. Justamente por isso ela é rica em «germes», criadora. O<br />
simbolismo da nudez ritual equivale à integridade e à plenitude; o<br />
«Paraíso» implica a ausência de «vestuário», ou seja a ausência da<br />
«usura» (imagem arquetípica do Tempo). Quanto à nostalgia do Paraíso<br />
ela é universal, se bem que as suas manifestações variem quase<br />
indefinidamente (cf. também Traité, pp. 327 sq.). Toda a nudez ritual<br />
implica um modelo intemporal, uma imagem paradisíaca.