Raid Amezri – Uma história mal contada - TTVerde

Naquele momento a água corria sem pressa e uma
amena brisa vinda de norte embalava as árvores ao
longo das margens. As encostas eram descomunais e
senti que estávamos no meio da natureza crua e
alcancei a nossa fragilidade. Mas a espera era
angustiante e mais valia a pena dedicar-me a algo
útil, já que era certo irmos passar ali mais uma noite.
Fui apanhar mais lenha um pouco mais para
montante, onde me recordava ter visto uns bocados
bons para arder, quando reparo num movimento no
meio do rio a cerca de 200mts.
Parei e mantive-me imóvel…
Raid Amezri – Uma história mal contada
Afinal não tinha passado muito tempo quando despertei.
A ansiedade da incerteza e o medo de poder perder o
carro não me deixavam dormir. Enquanto aquecia a
água para o café, deixei-me admirar onde estava.
Mesmo “atrás” do acampamento uma enorme marca
semicircular cavada na parede vertical do desfiladeiro
indicava uma queda de água, que desembocava num
declive de cascalho. Ali nascia um pequeno afluente do
Assif Melloul em época de chuva.
Mesmo ao lado do acampamento, a apenas um ou dois
metros mais abaixo, folhas e troncos moldados aos
arbustos e a algumas rochas de grandes dimensões,
davam a entender que quando o rio subia, a corrente
passava ali, deixando o tejadilho do Defender uns dois
metros abaixo desta cota…
No local do acampamento viam-se algumas rochas e
pedras vindas “lá de cima” com as enxurradas. No leito
do rio havia árvores partidas e destroços por todo o lado.
A cerca de 40metros do acampamento na nossa margem
uma derrocada com rochas do tamanho de pequenos
automóveis e um pinheiro com mais de trinta metros de
comprimento jaziam como testemunhas do Inverno.
Hesitante e investigador, parando por vezes e olhando em redor vinha um babuíno. Certamente deveriam vir outros
pensei. Ainda não me tinha dado por mim, certamente por causa da direção do vento. Depois reparo em outro muito
pequeno e mais outro de tamanho intermédio. Pai, mãe e filho. Ainda bem que aqui estão, pensei outra vez, é sinal que
a natureza está no seu devido lugar.
51