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Inspiração providencial - Acil

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14<br />

Márcio Leijoto<br />

Especial para o Jornal da ACIL<br />

Um senhor com cabelos e bigode grisalhos,<br />

camisa vinho de mangas cumpridas<br />

arregaçadas nos ombros, calça jeans<br />

e um perfume perceptível mesmo não tão<br />

perto se aproxima e cumprimenta Mauro.<br />

Este senhor pede a Mauro que libere a<br />

entrada de uma moça sem carteira de<br />

identidade na boate, uma casa de música<br />

dançante destinada a um público mais<br />

adulto. Mauro Antonio Garcia está há<br />

sete anos administrando a Casa de Shows<br />

Albatroz, boa parte deste tempo com o<br />

sócio Pedro dos Santos, e todas as noites<br />

ouve inúmeros pedidos como este ou de<br />

clientes querendo um favor. Mauro sabe<br />

que alguns ele não pode atender, mas tem<br />

de ter muito jogo de cintura para não<br />

perder o cliente.<br />

Naquele momento, a casa estava ainda<br />

metade ocupada, uma banda tocava<br />

alguma música de forró e várias pessoas<br />

já haviam cumprimentado ou pedido um<br />

favor para o empresário. E ainda eram<br />

22h30 de uma sexta-feira. Normalmente,<br />

nestes dias, a casa fecha no final da<br />

madrugada. Mauro não permitiu a entrada<br />

da mulher, alegando que se o juizado<br />

de menores aparecesse lá, e ela fosse<br />

menor de idade, iria dar problemas para<br />

ele. O senhor ainda tentou argumentar,<br />

garantiu que ela tinha mais de 18, mas<br />

não adiantou. Mesmo assim, ele se despede<br />

de Mauro com um sorriso. “O segredo<br />

do sucesso de uma casa está em tratar<br />

todo mundo bem, dando atenção a todos”,<br />

diz Mauro.<br />

Esse caso é um dos mais leves, considerando<br />

todos os problemas enfrentados<br />

pelos empresários de bares, boates e casas<br />

noturnas que agitam a noite londrinense.<br />

Quanto mais cheio for o local, mais trabalho.<br />

“Você tem sempre de estar atento,<br />

JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005<br />

VIDA NOTURNA<br />

Cores, sons, sabores nas noites londrinenses<br />

A magia que bares, restaurantes e boates exercem sobre seus freqüentadores tem origem complexa,<br />

que passa pela estrutura do local, boa música, atendimento e muito jogo de cintura dos empresários<br />

vendo se as pessoas estão satisfeitas, se o<br />

atendimento está sendo rápido, se a música<br />

e o ambiente estão agradando, se não<br />

está muito quente, se os funcionários<br />

estão sendo educados, impedir que haja<br />

confusão, verificar se não está faltando<br />

nada”, disse Carlos Eduardo Carvalho<br />

Grade, coordenador de marketing da boate<br />

Empório Guimarães. E se não for assim,<br />

um dado é bastante ilustrativo: segundo<br />

Carlos, desde que o Empório funciona, há<br />

oito anos, 34 boates abriram as portas e<br />

fecharam. Fruto da má administração,<br />

segundo os entrevistados.<br />

De acordo com o sindicato local dos<br />

proprietários de hotéis, restaurantes,<br />

bares e similares, Londrina tem 35 estabelecimentos<br />

para os notívagos – levando<br />

em conta aqueles com um público considerado<br />

grande. São 10 boates e casas de<br />

shows e o resto bares, freqüentados por<br />

pessoas de 15 a 40 anos. “É difícil agradar<br />

tanta gente diferente. Nunca dá para saber<br />

como vai ser a noite, por mais que o<br />

público seja quase o mesmo. É uma incerteza<br />

gostosa, mas muito trabalhosa”,<br />

conta William Amador Bueno de Moraes,<br />

que há 26 anos administra o tradicional<br />

bar e restaurante Vilão.<br />

E ainda tem o trabalho que o público<br />

não vê, realizado durante o dia. “É repor<br />

o estoque, comprar o que foi perdido,<br />

como copos, conversar com fornecedores,<br />

resolver pendengas, avaliar se os funcionários<br />

estão trabalhando bem, estar se<br />

atualizando, ver o que pode ser melhorado...<br />

enfim, trabalho para o dia inteiro”,<br />

diz Gilberto Camargo, sócio-proprietário<br />

da boate GLS Friends, aberta há 13 anos.<br />

Há muito trabalho durante o dia, com<br />

alguns absurdos. “Teve uma época que<br />

toda a semana tínhamos de refazer uma<br />

parede, porque no final da noite sempre<br />

apareciam buracos provocados por chutes<br />

e pancadas”, conta Carlos Grade, do<br />

Empório Guimarães.<br />

Manter um local funcionando para<br />

atender quem sai à noite não é fácil. O<br />

cliente que vai num lugar e acha que lá<br />

apenas trabalham os donos, os garçons,<br />

os caixas e o segurança, mas está errado.<br />

Existe toda uma estrutura invisível aos<br />

nossos olhos. Por exemplo, o Pátio São<br />

Miguel, uma espécie de confeitaria, lanchonete,<br />

loja de conveniência e local de<br />

venda de ingressos para a maioria dos<br />

eventos londrinenses, funciona 24 horas<br />

por dia, desde sua inauguração há 10<br />

anos (completados no dia 11 deste mês).<br />

Para manter tudo isso impecável, são<br />

cinco sócios administrando 95 funcionários.<br />

“Aqui nunca faltou nada. Você pode<br />

vir a hora que for, que vai encontrar o<br />

produto que quer”, diz Alexandre Alves.<br />

Se não tiver jeito<br />

para o negócio, o<br />

empresário pode se<br />

dar mal: em oito<br />

anos, 34 boates<br />

tiveram vida<br />

efêmera em Londrina<br />

“É uma estrutura enorme, envolvendo<br />

vários fatores, por isso não existem outros<br />

pátios em Londrina. Não é só abrir e<br />

pronto. É preciso uma bagagem e um<br />

capital que muitos não têm”, comenta. O<br />

pátio se tornou ponto de encontro de<br />

jovens um ano depois de inaugurado,<br />

pois era a única alternativa de “reabastecimento”<br />

para quem estava na “balada”.<br />

De acordo com os entrevistados, os<br />

locais preferidos pelos londrinenses à<br />

noite são bares. Como a Casa de Cachaça,<br />

inaugurada em 1991, pelos cunhados<br />

Osmaldo Bueno de Oliveira e João Francisco<br />

Brandão. “Nós trabalhávamos em<br />

outras áreas e um dia resolvemos abrir<br />

um bar. Encontramos essa casa para<br />

alugar, antes era uma escola de línguas e<br />

vimos aqui um ponto bom para começar”,<br />

disse Osmaldo, referindo-se ao ponto<br />

numa rua central da Cidade.<br />

Há cinco anos, eles resolveram abrir<br />

um outro bar, o Pau Brasil. “É preciso<br />

muito jogo de cintura. Mas o segredo para<br />

dar certo eu acredito que está na paciência,<br />

porque o retorno não é imediato e<br />

num conjunto de outros fatores: o estilo<br />

do bar, o atendimento, a cerveja bem<br />

gelada, a altura do som, a qualidade da<br />

música, a segurança. Hoje vivemos disso<br />

e não podemos descuidar de nada”, afirma.<br />

E existem boates, poucas, mas há.<br />

Tecno, pop-rock, aberta para bandas<br />

covers e de garagem, elitizadas, GLS, não<br />

importa o estilo, o tempo tem mostrado<br />

uma coisa: só estão sobrevivendo as que<br />

investem em infra-estrutura e as quais o<br />

proprietário procura dar atenção especial<br />

no atendimento. Os proprietários do Empório,<br />

Alexandre Guimarães, e da Friends,<br />

os sócios Gilberto Camargo e Miguel Palma,<br />

são donos dos prédios das boates e<br />

gastam bastante em infra-estrutura e<br />

novidades. “Você pode ver que nas boates<br />

que abrem e fecham normalmente os<br />

empresários alugam o prédio e por isso<br />

não querem gastar muito dinheiro na<br />

modificação do imóvel e, mais, querem<br />

um retorno imediato do dinheiro, o que<br />

não existe”, diz Gilberto, cuja boate ficou<br />

um ano no vermelho até se tornar uma<br />

referência do público GLS.<br />

“Contratamos os melhores profissionais,<br />

investimentos em equipamentos<br />

modernos, buscamos as músicas que estão<br />

tocando nas melhores boates da Europa<br />

e dos Estados Unidos, sempre promovemos<br />

festas, atualizamos a decoração,<br />

sempre tentando agradar o público.<br />

E temos conseguido”, completa. Carlos<br />

Grade informa também que Guimarães<br />

tem contratado profissionais de destaque<br />

nacional para trazer as novidades para o<br />

Empório.<br />

Mas esse é o segredo do sucesso? Ou<br />

tem mais? A reportagem ouviu 19 empresários<br />

de bares, boates e estabelecimentos<br />

que atendem os notívagos<br />

londrinenses. Num determinado momento<br />

da conversa, os entrevistados acabam<br />

repetindo muitas coisas, como o amor<br />

pelo negócio, o envolvimento deles com o<br />

local, as dificuldades enfrentadas por<br />

quem resolve trabalhar no ramo e os<br />

motivos pelos quais outros não dão certo.<br />

É preciso gostar da noite, ou pelo<br />

menos de lugares semelhantes ao qual o<br />

empresário resolve abrir? Se você perguntar<br />

isso para Alexandre Vieira, sócio<br />

de Alexandre Guimarães na boate Luz, ou<br />

para Edmar Matos, da casa noturna Acústico,<br />

ambos vão responder que sim. Os<br />

dois foram promotores de festas boêmias,<br />

shows e por um tempo trabalharam como<br />

promoters de boates. Até que resolveram<br />

abrir cada um o seu próprio negócio. “O<br />

que me ajudou bastante é que eu tenho<br />

uma boa base de trabalho na rua, no<br />

contato com o público, do tempo em que<br />

trabalhava para outros. Acho que tenho<br />

um pouco de prática em saber o que o<br />

15<br />

Continua na página 16

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