15.05.2013 Views

O Anticristo | Friedrich Nietzsche - Charlezine

O Anticristo | Friedrich Nietzsche - Charlezine

O Anticristo | Friedrich Nietzsche - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

XXIV<br />

www.mundocultural.com.br<br />

O <strong>Anticristo</strong> | <strong>Friedrich</strong> <strong>Nietzsche</strong><br />

www.mundocultural.com.br<br />

Aqui apenas toco superficialmente o problema da origem do cristianismo. A<br />

primeira coisa necessária para resolver o problema é a seguinte: que o cristianismo<br />

deve ser compreendido apenas a partir da análise do solo em que se originou – não é<br />

uma reação contra os instintos judaicos; é sua conseqüência inevitável; é<br />

simplesmente mais um passo dentro da intimidante lógica dos judeus. Nas palavras do<br />

Salvador: “a salvação vem dos judeus”(1). – A segunda coisa a ser lembrada é esta:<br />

que o tipo psicológico do Galileu(2) ainda é reconhecível, mas que apenas em sua<br />

forma mais degenerada (mutilado e sobrecarregado com características estrangeiras)<br />

pôde servir da maneira em que foi utilizado: como tipo para Salvador da humanidade.<br />

– Os judeus são o povo mais notável da História, pois quando foram<br />

confrontados com o dilema do ser ou não ser, escolheram, através de uma deliberação<br />

excepcionalmente lúcida, o ser a qualquer preço: esse preço envolvia uma radical<br />

falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o<br />

mudo interior e também o exterior. Colocaram-se contra todas aquelas condições sob<br />

as quais, até agora, os povos foram capazes de viver, ou até mesmo tiveram o direito<br />

de viver; a partir deles se desenvolveu uma idéia que se encontrava em direta<br />

oposição às condições naturais – sucessivamente distorceram a religião, a civilização, a<br />

moral, a história e a psicologia até as transformar em uma contradição de sua<br />

significação natural. Nós encontramos o mesmo fenômeno mais adiante, em uma<br />

forma incalculavelmente exagerada, mas apenas como uma cópia: a Igreja cristã,<br />

comparada ao “povo eleito”, exibe absoluta ausência de qualquer pretensão à<br />

originalidade. Precisamente por esse motivo os judeus são o povo mais funesto de<br />

toda a história universal: sua influência causou tal falsificação na racionalidade da<br />

humanidade que hoje um cristão pode sentir-se anti-semita sem se dar conta de que<br />

ele próprio não é senão a última conseqüência do judaísmo.<br />

Em minha “Genealogia da Moral” apresentei a primeira explicação psicológica<br />

dos conceitos subjacentes a estas coisas antitéticas: uma moral nobre e uma moral do<br />

ressentimento, a segunda sendo um mero produto da negação da primeira. O sistema<br />

moral judaico-cristão pertence à segunda divisão, e em todos os sentidos. Para ser<br />

capaz de dizer Não a tudo que representa uma evolução ascendente da vida – isto é,<br />

ao bem-estar, ao poder, à beleza, à auto-afirmação – os instintos do ressentimento,<br />

aqui completamente transformados em gênio, tiveram de inventar outro mundo no<br />

qual a afirmação da vida representasse as maiores malignidades e abominações<br />

imagináveis. Psicologicamente, os judeus são pessoas dotadas da mais forte vitalidade,<br />

tanto que, quando se viram frente a condições onde a vida era impossível, escolheram<br />

voluntariamente, e com um profundo talento para a autopreservação, tomar o lado de<br />

todos os instintos que produzem a decadência – não por estarem dominados por eles,<br />

mas como que adivinhando neles o poder através do qual “o mundo” poderia ser<br />

desafiado. Os judeus são exatamente o oposto dos decadentes: simplesmente foram<br />

forçados se mostrar com esse disfarce, e com um grau de habilidade próximo ao non<br />

plus ultra(3) do gênio histriônico conseguiram se colocar à frente de todos of<br />

movimentos decadentes (– por exemplo, o cristianismo de Paulo –), e assim fazeremse<br />

algo mais forte que qualquer partido de afirmação da vida. Para o tipo de homens<br />

que aspiram ao poder no judaísmo e no cristianismo – em outras palavras, a classe<br />

sacerdotal – a decadência não é senão um meio. Homens desse tipo têm um interesse<br />

vital em tornar a humanidade enferma, em confundir os valores de “bom” e “mau”,<br />

“verdadeiro” e “falso” de uma maneira que não é apenas perigosa à vida, mas que<br />

também a falsifica.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!