O Anticristo | Friedrich Nietzsche - Charlezine
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www.mundocultural.com.br<br />
O <strong>Anticristo</strong> | <strong>Friedrich</strong> <strong>Nietzsche</strong><br />
www.mundocultural.com.br<br />
Aqui apenas toco superficialmente o problema da origem do cristianismo. A<br />
primeira coisa necessária para resolver o problema é a seguinte: que o cristianismo<br />
deve ser compreendido apenas a partir da análise do solo em que se originou – não é<br />
uma reação contra os instintos judaicos; é sua conseqüência inevitável; é<br />
simplesmente mais um passo dentro da intimidante lógica dos judeus. Nas palavras do<br />
Salvador: “a salvação vem dos judeus”(1). – A segunda coisa a ser lembrada é esta:<br />
que o tipo psicológico do Galileu(2) ainda é reconhecível, mas que apenas em sua<br />
forma mais degenerada (mutilado e sobrecarregado com características estrangeiras)<br />
pôde servir da maneira em que foi utilizado: como tipo para Salvador da humanidade.<br />
– Os judeus são o povo mais notável da História, pois quando foram<br />
confrontados com o dilema do ser ou não ser, escolheram, através de uma deliberação<br />
excepcionalmente lúcida, o ser a qualquer preço: esse preço envolvia uma radical<br />
falsificação de toda a natureza, de toda a naturalidade, de toda a realidade, de todo o<br />
mudo interior e também o exterior. Colocaram-se contra todas aquelas condições sob<br />
as quais, até agora, os povos foram capazes de viver, ou até mesmo tiveram o direito<br />
de viver; a partir deles se desenvolveu uma idéia que se encontrava em direta<br />
oposição às condições naturais – sucessivamente distorceram a religião, a civilização, a<br />
moral, a história e a psicologia até as transformar em uma contradição de sua<br />
significação natural. Nós encontramos o mesmo fenômeno mais adiante, em uma<br />
forma incalculavelmente exagerada, mas apenas como uma cópia: a Igreja cristã,<br />
comparada ao “povo eleito”, exibe absoluta ausência de qualquer pretensão à<br />
originalidade. Precisamente por esse motivo os judeus são o povo mais funesto de<br />
toda a história universal: sua influência causou tal falsificação na racionalidade da<br />
humanidade que hoje um cristão pode sentir-se anti-semita sem se dar conta de que<br />
ele próprio não é senão a última conseqüência do judaísmo.<br />
Em minha “Genealogia da Moral” apresentei a primeira explicação psicológica<br />
dos conceitos subjacentes a estas coisas antitéticas: uma moral nobre e uma moral do<br />
ressentimento, a segunda sendo um mero produto da negação da primeira. O sistema<br />
moral judaico-cristão pertence à segunda divisão, e em todos os sentidos. Para ser<br />
capaz de dizer Não a tudo que representa uma evolução ascendente da vida – isto é,<br />
ao bem-estar, ao poder, à beleza, à auto-afirmação – os instintos do ressentimento,<br />
aqui completamente transformados em gênio, tiveram de inventar outro mundo no<br />
qual a afirmação da vida representasse as maiores malignidades e abominações<br />
imagináveis. Psicologicamente, os judeus são pessoas dotadas da mais forte vitalidade,<br />
tanto que, quando se viram frente a condições onde a vida era impossível, escolheram<br />
voluntariamente, e com um profundo talento para a autopreservação, tomar o lado de<br />
todos os instintos que produzem a decadência – não por estarem dominados por eles,<br />
mas como que adivinhando neles o poder através do qual “o mundo” poderia ser<br />
desafiado. Os judeus são exatamente o oposto dos decadentes: simplesmente foram<br />
forçados se mostrar com esse disfarce, e com um grau de habilidade próximo ao non<br />
plus ultra(3) do gênio histriônico conseguiram se colocar à frente de todos of<br />
movimentos decadentes (– por exemplo, o cristianismo de Paulo –), e assim fazeremse<br />
algo mais forte que qualquer partido de afirmação da vida. Para o tipo de homens<br />
que aspiram ao poder no judaísmo e no cristianismo – em outras palavras, a classe<br />
sacerdotal – a decadência não é senão um meio. Homens desse tipo têm um interesse<br />
vital em tornar a humanidade enferma, em confundir os valores de “bom” e “mau”,<br />
“verdadeiro” e “falso” de uma maneira que não é apenas perigosa à vida, mas que<br />
também a falsifica.