O Anticristo | Friedrich Nietzsche - Charlezine
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LXII<br />
www.mundocultural.com.br<br />
O <strong>Anticristo</strong> | <strong>Friedrich</strong> <strong>Nietzsche</strong><br />
www.mundocultural.com.br<br />
– Com isto concluo e pronuncio meu julgamento: eu condeno o cristianismo;<br />
lanço contra a Igreja cristã a mais terrível acusação que um acusador já teve em sua<br />
boca. Para mim ela é a maior corrupção imaginável; busca perpetrar a última, a pior<br />
espécie de corrupção. A Igreja cristã não deixou nada intocado pela sua depravação;<br />
transformou todo valor em indignidade, toda verdade em mentira e toda integridade<br />
em baixeza de alma. Que se atrevam a me falar sobre seus benefícios “humanitários”!<br />
Suas necessidades mais profundas a impedem de suprimir qualquer miséria; ela vive<br />
da miséria; criou a miséria para fazer-se imortal... Por exemplo, o verme do pecado:<br />
foi a Igreja que enriqueceu a humanidade com esta desgraça! – A “igualdade das<br />
almas perante Deus” – essa fraude, esse pretexto para o rancor de todos espíritos<br />
baixos – essa idéia explosiva terminou por converter-se em revolução, idéia moderna e<br />
princípio de decadência de toda ordem social – isso é dinamite cristã... Os<br />
“humanitários” benefícios do cristianismo! Fazer da humanitas(1) uma<br />
autocontradição, uma arte da autopoluição, um desejo de mentir a todo custo, uma<br />
aversão e desprezo por todos instintos bons e honestos! Para mim são esses os<br />
“benefícios” do cristianismo! – O parasitismo como única prática da Igreja; com seus<br />
ideais “sagrados” e anêmicos, sugando da vida todo o sangue, todo o amor, toda a<br />
esperança; o além como vontade de negação de toda a realidade; a cruz como símbolo<br />
representante da conspiração mais subterrânea que jamais existiu – contra a saúde, a<br />
beleza, o bem-estar, o intelecto, a bondade da alma – contra a própria vida...<br />
Escreverei esta acusação eterna contra o cristianismo em todas as paredes, em<br />
toda parte onde houver paredes – tenho letras que até os cegos poderão ler...<br />
Denomino o cristianismo a grande maldição, a grande corrupção interior, o grande<br />
instinto de vingança, para o qual nenhum meio é suficientemente venenoso, secreto,<br />
subterrâneo ou baixo – chamo-lhe a imortal vergonha da humanidade...<br />
E conta-se o tempo a partir do dies nefastus(2) em que essa fatalidade<br />
começou – o primeiro dia do cristianismo! – Por que não contá-lo a partir do seu<br />
último dia? – A partir de hoje? – Transmutação de todos os valores!...<br />
1 – Caráter humano, sentimento humano.<br />
2 – Dia nefasto.