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Quando surge a percepção da utilização do corpo como força produtiva<br />
constante, a “disciplina não é mais simplesmente uma arte de repartir os corpos, de<br />
extrair e acumular o tempo deles, mas de compor forças para obter um aparelho<br />
eficiente” (Foucault, 2006, p. 138). Agora temos o uso das técnicas disciplinares para<br />
explorar a mais intima força do indivíduo, compondo-a em seguida ao conjunto, que<br />
formará uma corrente de poder. A relação do poder disciplinar é diferente da relação de<br />
soberania, pois esta última,<br />
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quer no sentido amplo quer no restrito, recobria a totalidade do corpo<br />
social. Com efeito, o modo como o poder era exercido podia ser<br />
transcrito, ao menos no essencial, nos termos da relação soberanosúdito.<br />
Mas, no século XVII e XVIII, ocorre um fenômeno<br />
importante: o aparecimento, ou melhor, a invenção de uma nova<br />
mecânica do poder, com procedimentos específicos, instrumentos<br />
totalmente novos e aparelhos bastante diferentes, o que é<br />
absolutamente incompatível com as relações de soberania<br />
(FOUCAULT, 1986, p.187).<br />
O poder soberano agia pela força para obter respeito, gerado pelo medo e tinha-<br />
se, neste período, uma forma de se ver de onde emanava o poder. No século XVII,<br />
aparece a nova ação de controle, com uma “física do poder” mais delineada e<br />
esclarecida, que age e toma o corpo como agente produtivo, um biopoder que instaura o<br />
controle pelas técnicas disciplinares, que irá tornar dócil e por vezes mais útil o<br />
indivíduo, antes alvo do poder soberano, agora mais útil e dócil, um agente da<br />
biopolítica.<br />
Foucault (2006, p. 127) mostra que os “quadros vivos”, no século XVIII, são<br />
uma técnica de poder e um processo de saber. Acontecimento curioso pois, ao entrar<br />
neste século, esta nova arte de controle tinha como uma de suas minúcias as anotações,<br />
como por exemplo, nos hospitais, o médico passa a produzir uma ficha de cada<br />
indivíduo, na qual consta desde seus dados de identificação até suas ações mais íntimas,<br />
como informações sobre suas relações sexuais. Esta ação gerencialmente produzirá um<br />
saber, pois teremos um arquivo que identificará e distinguirá este indivíduo em uma<br />
massa para poder organizá-lo, mensurá-lo enfim, enquadrá-lo em qualquer classificação<br />
possível. Com isso, ao passo que o médico tinha esta configuração do saber pelas<br />
anotações, formam-se os arquivos individuais, detendo um poder sobre este indivíduo;<br />
assim, os médicos podem ter um mapeamento dele enquanto ser integrante de um<br />
conjunto social.