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ENTREVIST
ENTREVISTA ENTREVIST
ENTREVIST . Eliseu Martins
verdade só vão acontecer em 2009,
por força de normas que deverão ser
emitidas ao longo de 2008, então não
acredito que haja problemas muito relevantes.
Quais dessas mudanças
podem ser destacadas?
Eliseu Martins - A questão do ágio
pago por expectativa de rentabilidade
futura. No Brasil, esse ágio vem sendo
obrigatoriamente amortizado, de maneira
sistemática, com prazos que variam
de cinco a dez anos. Já segundo as
normas internacionais, é proibida a
amortização a não ser que fique evidenciado
que o ágio está perdendo
valor, ou seja, a baixa do ágio passa a
ser dependente de uma perda efetiva
ou não. Como resultado dessa adaptação,
as grandes empresas brasileiras
que têm valores elevados de ágio irão
sentir a diferença de maneira bem clara.
Quem não tiver amortização terá
despesas menores e lucros maiores,
podendo pagar mais dividendos. O
impacto, portanto, é bastante positivo
uma vez que, por fazer amortização sistemática,
os balanços e resultados acabam
ficando desligados da realidade
econômica da empresa.
O senhor diria que os
impactos serão todos
positivos?
Eliseu Martins - Sem dúvida. Não
vejo nenhum efeito negativo. Há um
pequeno aspecto que poderia ser problemático,
que é o tratamento contábil
dos gastos com pesquisas. No Brasil,
a maioria das empresas joga esse
custo diretamente em Despesas, mas
algumas contabilizam como ativo diferido
para amortizar posteriormente,
caso a pesquisa produza receita. Lá
fora, esse tipo de gasto tem que ir direto
para Despesas, até por falta de
critérios confiáveis para saber se a
pesquisa vai ou não produzir receita
no futuro. Então, pode ser que algumas
empresas tenham que fazer essa
mudança e sofrer algum desequilíbrio
mas, como os gastos com pesquisas
feitos pelas empresas no Brasil são
muito pequenos, não acredito que haja
qualquer problema relevante.
Quando o processo de
convergência estiver
concluído, quais serão as
vantagens mais visíveis?
Eliseu Martins - Teremos melhor
comparabilidade entre as demonstrações
financeiras das empresas brasileiras
e as de qualquer outra empresa
no mundo. No Brasil, temos muita dificuldade
para entender os balanços das
empresas de outros países, tal a diferença
de normas. Nesse sentido, o objetivo
é ter cada vez mais homogeneidade
no mundo inteiro de modo que
todos entendam os balanços. Considerando
o ponto de vista dos investidores
que aplicam nas ações de empresas
brasileiras, as estatísticas con-
As estatísticas confirmam que aquelas
empresas que já produzem informações em
USGAAP têm conseguido captar recursos com
maior facilidade no mercado
firmam que aquelas que já produzem
informações em USGAAP têm conseguido
captar recursos com maior facilidade
no mercado, barateando seu custo
de capital. Além disso, a harmonização
contábil ajuda a reduzir custos dos
processos em si. As empresas brasileiras
do setor de construção civil de
médio porte para cima, por exemplo, têm
diversas obras no exterior e hoje são
obrigadas a mudar toda a contabilidade
de acordo com as normas de cada
filial, um processo caro. Mas, além dos
gastos com a produção das informações,
há outro tipo de custo, difícil de
medir e cada vez mais importante: quanto
custa, para quem está olhando um
balanço, entender as diferenças de
normas e quanto custa o risco de tomar
decisões erradas? Isso tem sido
cada vez mais uma preocupação em
todo o mundo e os países estão tentando
conseguir uma melhoria da qualidade
das informações divulgadas pelas
empresas.
Quais serão, ao longo dos
próximos dois anos, os
principais desafios nesse
processo no Brasil ?
Eliseu Martins - O maior deles será
o de disseminar as regras e desenvolver
um amplo trabalho de aprendizado
que contribua para ampliar a compreensão
de todos os profissionais envolvidos:
contadores, auditores, analistas
de crédito, analistas de investimento,
administradores de carteiras, etc. Os
fundos de pensão, inclusive, terão que
ficar atentos porque há normas contábeis
internacionais específicas para
essas entidades. Será preciso traduzir
as normas para uma linguagem “brasileira”
de modo que os detalhes sejam
compreendidos por todos.
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