IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
21<br />
Interessa conhecer quais recursos e estratégias estão mobilizados <strong>no</strong> presente e<br />
quais já foram mobilizados na construção <strong>de</strong> tal <strong>mercado</strong> localizado (neste caso <strong>no</strong> Paraná),<br />
quais possibilitaram e têm possibilitado a introdução <strong>de</strong> mudanças. Para tanto, lança-se o<br />
olhar não só para <strong>de</strong>ntro do <strong>mercado</strong> construído <strong>no</strong> Paraná, mas também para os elementos<br />
que o articulam a macrofenôme<strong>no</strong>s econômicos, políticos e sociais.<br />
Para tanto, assume-se que gran<strong>de</strong> parte das transformações que ocorrem em um<br />
campo econômico "são freqüentemente ligadas a mudanças nas relações <strong>de</strong> troca com o<br />
exterior do campo", o que Bourdieu <strong>de</strong><strong>no</strong>mina transformações a partir <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finições das<br />
fronteiras (grifo do autor). Ou seja, o campo econômico relaciona-se com suas fronteiras e,<br />
muitas vezes, as trocas com elas são muito mais relevantes em processos <strong>de</strong> mudança do<br />
que as que ocorrem internamente ao campo econômico.<br />
Dentre as transformações (ou até mesmo revoluções, nas palavras <strong>de</strong> Bourdieu), o<br />
autor <strong>de</strong>staca como muito importantes aquelas que <strong>de</strong>correm das trocas estabelecidas com o<br />
Estado 6 , mas também consi<strong>de</strong>ra como mobilizadoras as que se originam das "transformações<br />
das fontes <strong>de</strong> abastecimento [...] (das) mudanças <strong>de</strong>terminadas por mudanças na <strong>de</strong>mografia<br />
[...] ou (das) mudanças <strong>no</strong>s estilos <strong>de</strong> vida" 7 . Bourdieu assinala que muitas vezes é a partir<br />
<strong>de</strong>ssas trocas com as fronteiras que os agentes que são dominados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo<br />
assumem a posição <strong>de</strong> "<strong>de</strong>safiadores", construindo "redutos" e/ou <strong>mercado</strong>s especializados,<br />
os quais po<strong>de</strong>m ser a entrada para o seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Parece muito oportuna a abordagem acima para a reflexão sobre o <strong>mercado</strong> <strong>de</strong><br />
orgânicos. A partir <strong>de</strong>la se po<strong>de</strong> trabalhar com a hipótese <strong>de</strong> que as mudanças <strong>no</strong>s estilos <strong>de</strong><br />
vida das últimas décadas do século passado propiciaram que se gerassem <strong>de</strong>terminadas<br />
6 Vale a pena transcrever a citação a seguir, a qual elucida significativamente a relevância da relação com o<br />
Estado: "A competição entre as empresas assume freqüentemente a forma <strong>de</strong> uma competição para o po<strong>de</strong>r<br />
sobre o po<strong>de</strong>r do Estado – <strong>no</strong>tadamente sobre o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> regulamentação e sobre os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />
– e para as vantagens asseguradas pelas diferentes intervenções do estado, tarifas preferenciais, patentes,<br />
regulamentos, créditos para pesquisa-<strong>de</strong>senvolvimento, compras públicas <strong>de</strong> equipamento, ajudas para<br />
criação <strong>de</strong> emprego, i<strong>no</strong>vação, mo<strong>de</strong>rnização, exportação, habitação etc. Em suas tentativas para modificar a<br />
seu favor as 'regras do jogo' em vigor e valorizar assim algumas <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s suscetíveis <strong>de</strong><br />
funcionar como capital <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo estado do campo, as empresas dominadas po<strong>de</strong>m utilizar seu capital social<br />
para exercer pressões sobre o Estado e obter <strong>de</strong>le uma modificação do jogo a seu favor. Assim, o que se<br />
chama <strong>de</strong> <strong>mercado</strong> é apenas, em última instância, uma construção social, uma estrutura <strong>de</strong> relações<br />
específicas, para a qual os diferentes agentes engajados <strong>no</strong> campo contribuem em diversos graus, através <strong>de</strong><br />
modificações que eles conseguem lhe impor, usando po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>tidos pelo Estado, que são capazes <strong>de</strong><br />
controlar e orientar". (BOURDIEU, 2005, p.40).<br />
7 No primeiro caso o autor cita como exemplo as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scobertas petrolíferas do começo do século XX;<br />
com relação à <strong>de</strong>mografia, exemplifica com a queda da natalida<strong>de</strong> ou o aumento da expectativa <strong>de</strong> vida; e <strong>no</strong><br />
que tange aos estilos <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>staca o crescimento do trabalho das mulheres, ocasionando a queda <strong>de</strong><br />
produtos e criando outros, como, por exemplo, os dos produtos congelados e dos for<strong>no</strong>s <strong>de</strong> microondas etc.<br />
(BOURDIEU, 2005, p.41).