IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
IPARDES & IAPAR. O mercado de orgânicos no Paraná
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
37<br />
contexto das discussões sobre o meio ambiente que ocorriam na década <strong>de</strong> setenta 11 ,<br />
permaneceram nas décadas seguintes e culminaram <strong>no</strong> evento da Eco-92 12 , mantendo-se<br />
como questões <strong>de</strong>safiadoras neste século.<br />
A envergadura que assumiram as questões ambientais po<strong>de</strong> se associar à idéia<br />
<strong>de</strong> mudança societária. Esta mudança oportuniza refletir sobre a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> campo,<br />
trabalhada por Bourdieu (2005), em que as conseqüências ambientais e os <strong>de</strong>bates em<br />
tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>la configuram-se em ameaças às fronteiras do campo hegemônico do <strong>mercado</strong><br />
agroalimentar, propiciando a emergência dos alimentos orgânicos <strong>no</strong> seu interior, e, em<br />
conseqüência, a construção social <strong>de</strong> um <strong>mercado</strong> com suas particularida<strong>de</strong>s.<br />
Associando-se às discussões em curso acirra-se o <strong>de</strong>bate que põe em xeque o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> alimentos padronizada. Dentre as questões levantadas está aquela<br />
que evi<strong>de</strong>ncia o fato <strong>de</strong> os alimentos per<strong>de</strong>rem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com seus locais <strong>de</strong> origem, uma<br />
vez que o lugar da produção é somente uma contingência <strong>no</strong> elo da ca<strong>de</strong>ia produtiva,<br />
orientada principalmente pelas relações entre a indústria e o varejo. A diversida<strong>de</strong> alimentar<br />
torna-se reduzida e, dadas as características da produção para a indústria, alimentos que<br />
anteriormente <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong> condições ambientais específicas e que obe<strong>de</strong>ciam a ciclos <strong>de</strong><br />
sazonalida<strong>de</strong> são produzidos em condições controladas tec<strong>no</strong>logicamente, <strong>de</strong>finidos como<br />
parte <strong>de</strong> uma cesta <strong>de</strong> alimentos padrão. Nessas condições estão incluídos não só os<br />
alimentos <strong>de</strong>stinados ao processamento industrial, mas vários dos alimentos frescos e in<br />
natura, a exemplo do tomate, batata, laranja, manga e uva, entre outras frutas e hortaliças.<br />
Como <strong>de</strong>staca Khatounian, o "alimento mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> não tem mais i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, se<br />
internacionalizou [...] não pertence a lugar nenhum, não tem sabor <strong>de</strong> coisa alguma, enche o<br />
estômago, mas não alimenta a alma <strong>no</strong> contexto dos aromas, história, <strong>de</strong> vínculo com o<br />
meio ambiente. Enche o estômago, mas a alma percebe o seu vazio" (2001, p.48).<br />
11 Naquela oportunida<strong>de</strong> foi promovida pela ONU a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio<br />
Ambiente Huma<strong>no</strong> (1972), conhecida como Conferência <strong>de</strong> Estocolmo, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estocolmo, Suécia. O<br />
evento trouxe ao <strong>de</strong>bate global a discussão do tema da segurança ecológica, acrescentando-o às <strong>de</strong>mais<br />
questões consi<strong>de</strong>radas prioritárias, como a paz, os direitos huma<strong>no</strong>s e o <strong>de</strong>senvolvimento com igualda<strong>de</strong>. A<br />
conferência tor<strong>no</strong>u-se um marco <strong>de</strong> referência para as discussões sobre o que, na seqüência, viria a se<br />
constituir numa das questões mais complexas e mais cruciais da história recente da humanida<strong>de</strong>, ou seja, a<br />
questão do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável (VOGT, 2003, p.10).<br />
12 A segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED), também<br />
conhecida como ECO-92, reuniu representantes <strong>de</strong> 175 países e <strong>de</strong> Organizações Não-Governamentais (ONGs),<br />
tendo sido consi<strong>de</strong>rada o evento ambiental mais importante do século XX. Foi a primeira gran<strong>de</strong> reunião<br />
internacional realizada após o fim da Guerra Fria e a maior reunião <strong>de</strong> chefes <strong>de</strong> Estado da história da humanida<strong>de</strong>.<br />
Governantes <strong>de</strong> quase todos os países <strong>de</strong> todos os continentes encontraram-se para discutir o maior dos <strong>de</strong>safios<br />
<strong>de</strong> interesse global: como reverter o atual processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental – incluindo perda <strong>de</strong> florestas e<br />
redução da biodiversida<strong>de</strong> – e <strong>de</strong> mudanças climáticas globais, garantindo, ao mesmo tempo, um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
que resulte na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações mais carentes do planeta.