Perfis e percepções acerca da consulta ginecológica em ... - UFMG
Perfis e percepções acerca da consulta ginecológica em ... - UFMG
Perfis e percepções acerca da consulta ginecológica em ... - UFMG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
57<br />
E: Quando que a senhora acha que as mulheres dev<strong>em</strong> começar a ir no<br />
ginecologista?<br />
Carm<strong>em</strong>: Ah, eu acho que não deve ir nunca (...)<br />
E: É mesmo?<br />
Carm<strong>em</strong>: Só <strong>da</strong> gente ter que ficar pela<strong>da</strong> [*]<br />
E: Mas igual a senhora falou, se ficar doente? Mesmo assim?<br />
Carm<strong>em</strong>: Ah, ce sabe que que é? Ah, mas mesmo assim [**] não, eu acho<br />
que deve ir se atender mas eu acho que se tiver um posto, um médico que<br />
trata a gente ia, mas acontece que eu acho que t<strong>em</strong> médico muito s<strong>em</strong><br />
educação, a gente pega e fica com vergonha né? Falando as coisa assim,<br />
gritando com a gente, a primeira não, a primeira [*] e aí a gente pega e<br />
não vai.<br />
(0 a 3 anos de estudo, 50 anos)<br />
Ao longo de to<strong>da</strong>s as falas, percebe-se como as entrevista<strong>da</strong>s atribu<strong>em</strong> grande<br />
importância à primeira <strong>consulta</strong> ginecológica, considerando-a como uma<br />
importante fonte de informação, seja sobre métodos contraceptivos e<br />
funcionamento do corpo, seja sobre a gravidez. Independente <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
mulher ou do momento indicado para que esta <strong>consulta</strong> aconteça, ela está<br />
s<strong>em</strong>pre associa<strong>da</strong> a esta busca pela informação e prevenção.<br />
As mulheres com escolari<strong>da</strong>de baixa, apesar de ter<strong>em</strong> ido ao ginecologista pela<br />
primeira vez por estar<strong>em</strong> (ou pensar<strong>em</strong> estar) grávi<strong>da</strong>s, acham que este não é o<br />
momento oportuno para a primeira <strong>consulta</strong>. Ou seja, apesar de ter<strong>em</strong> ido apenas<br />
quando ficaram grávi<strong>da</strong>s, elas acreditam que o ideal é ir antes <strong>da</strong> primeira<br />
gravidez. Duas conclusões pod<strong>em</strong> ser tira<strong>da</strong>s <strong>da</strong>í: pode ser que haja uma<br />
mu<strong>da</strong>nça de conduta e elas ensin<strong>em</strong> às suas filhas a importância de ir<strong>em</strong> ao<br />
ginecologista antes de engravi<strong>da</strong>r<strong>em</strong>, ou pode ser que, para elas, a teoria<br />
continue sendo muito distante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Deve-se levar <strong>em</strong> conta, nesta<br />
discussão, a questão do acesso, já que, conforme discutido anteriormente, as<br />
mulheres com menor ren<strong>da</strong> e menor escolari<strong>da</strong>de apresentam um menor acesso<br />
à <strong>consulta</strong> ginecológica quando compara<strong>da</strong>s às mulheres com uma condição<br />
socioeconômica mais favorável.<br />
Se a segun<strong>da</strong> hipótese for a ver<strong>da</strong>deira, deve-se considerar, ain<strong>da</strong>, que a i<strong>da</strong>de<br />
média à primeira relação sexual caiu e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a i<strong>da</strong>de média à<br />
primeira gravidez aumentou nos últimos anos, o que faz com que as mulheres<br />
que procuram o ginecologista apenas na primeira gravidez o façam mais