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ESPECIAL Especial<br />

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ESPECIALEspecial<br />

LEITE DE BRUXA. (Esp.<br />

leche de bruja; Ingl.<br />

witch´s milk Al. Hexenmilch).<br />

Bruxa é mulher<br />

que tem fama de se utilizar<br />

de supostas forças sobrenaturais<br />

para causar<br />

malefícios, perscrutar o<br />

futuro e fazer sortilégios;<br />

feiticeira. Por extensão,<br />

é mulher muito feia e/ou<br />

azeda e mal-humorada<br />

(Dicionário Houaiss da língua<br />

portuguesa). Nos dias de hoje, pelo<br />

que se vê na mídia, as bruxas são bonitas, queridas de<br />

todos e não fazem mal a ninguém. A palavra bruxa refere-<br />

-se também a mariposas – insetos lepidópteros – de várias<br />

famílias, de coloração escura e que apresentam envergadura<br />

superior a 10cm.<br />

O termo bruxismo tem dois significados: Em odontologia/<br />

medicina significa ranger de dentes e ocorre mais em pessoas<br />

jovens e durante o sono. O processo causa abrasão nas<br />

superfícies de oclusão dos dentes, tendendo a reduzir a altura<br />

das coroas. Como o paciente ignora o fato, deve ser alertado<br />

por outras pessoas e orientado pelo dentista ou estomatologista<br />

para controlar o hábito. Se necessário, prescrevem-se<br />

sedativos ou tranquilizantes. O outro significado de bruxismo<br />

refere-se à crença em bruxas e em bruxarias; forma de<br />

demonismo ligado a bruxas. Na Idade Média ocorreu um<br />

longo período de bruxismo sob o beneplácito do cristianismo.<br />

Surgiu o terrível instrumento de repressão: o Tribunal da Santa<br />

Inquisição, constituído por um corpo investigatório preconceituoso,<br />

ignorante e brutal. Seu objetivo era o de exterminar as<br />

facções que se opunham à Igreja, denominadas heréticas.<br />

Segundo os historiadores, ocorreu um período de 200 anos<br />

de terror, conhecido como a Era das Fogueiras. Uma série de<br />

sinais arbitrários e considerados como suspeitos de bruxismo,<br />

incluíam crianças que apresentavam galactorreia ao nascer<br />

ou que mais tarde rangiam os dentes ao dormir. Eram postas<br />

em observação e convenientemente exorcismadas para que<br />

não viessem a se tornar bruxas. Igualmente suspeitas eram<br />

as adolescentes de dedos longos, mandíbula proeminente,<br />

pernas e braços grandes em relação ao corpo e andar saltitante.<br />

No imaginário doentio do inquisidor, muitas mulheres<br />

inocentes foram consideradas “bruxas” e punidas com a<br />

morte na fogueira.<br />

O recém-nascido, tanto masculino como feminino, devido à<br />

passagem transplacentária dos hormônios maternos, sobretudo<br />

estrogênicos, pode apresentar estímulo das células hipofisárias<br />

secretoras de prolactina, com consequente hipertrofia<br />

mamária bilateral e secreção transitória de leite, semelhante<br />

ao colostro. Esta secreção neonatal pode durar alguns dias,<br />

algumas semanas ou até dois meses. Microscopicamente,<br />

verifica-se dilatação dos ductos mamários, porém sem formação<br />

de ácinos. Este fenômeno – neonato secretando leite<br />

– aparentemente extraordinário e enigmático, foi chamado de<br />

leite de bruxa. Esta denominação surgiu na Idade Média,<br />

permanecendo até hoje. Trabalho de pesquisa americano<br />

demonstrou que o leite de bruxa ou galactorreia neonatal é<br />

ocorrência comum, atingindo cerca de 5% dos recém-nascidos<br />

de ambos os sexos. O médico ou outro profissional da saúde,<br />

sabedor dessa manifestação fisiológica, deve tranquilizar os<br />

familiares e as mamães preocupadas com seus bebês “dando<br />

leite”, esclarecendo-os de que não se trata de doença e muito<br />

menos de qualquer manifestação de “bruxaria”. Não há<br />

nada a fazer e nem se preocupar, porque tudo desaparece<br />

espontaneamente. É necessário também adverti-los de que as<br />

mamas não devem ser espremidas numa tentativa de esvazia-<br />

-las. A espremedura pode provocar complicações.<br />

Atualmente, nos divertimos apenas com a famosa expressão<br />

popular e espirituosa dos espanhois: “No creo en brujas,<br />

pero que las hay, las hay” (Não acredito em bruxas, mas<br />

que elas existem, existem!)<br />

Texto baseado em várias fontes e em Pena GP, Andrade-Filho,<br />

JS. Analogies in medicine: valuable for learning, reasoning,<br />

remembering and naming. Adv in Health Sci <strong>Ed</strong>uc Theory<br />

Pract. 2010 Oct; 15(4):609-19. Epub 2008 Jun 5.<br />

José de Souza Andrade Filho - Patologista, membro da Academia<br />

Mineira de Medicina e professor de anatomia patológica<br />

da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.<br />

80<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 113 - 2012

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