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o dilema hermenêutico 155<br />
de jamais suspeitávamos que ela existia, consideram verdadeiro<br />
o provérbio. A realidade da beleza e o ato de<br />
ver, por parte do contemplado r, não podem ser separados .<br />
São aspectos complementares de uma mesma realidade.<br />
Algo de similar vale quanto à realidade histórica. Pode<br />
parecer perigosamente subjetivq, mas a verdade é que a<br />
realidade histórica não existe realmente per se. Existe no<br />
ôlho do contemplador, na mente e no coração do historiador<br />
equipado para penetrar nela. Lucas viu a realidade<br />
da expansão do cristianismo corretamente e a registrou<br />
de maneira fiel porque a encarou de um ponto~de-vista inteiramente<br />
diverso do de Tácito. Nos três pontos que controlam<br />
a existência do homem e lhe dão um ôlho capaz<br />
de ver a realidade, Lucas estava determinado pelo poder<br />
do Espírito Santo. tsses três pontos são o de onde, o onde<br />
e o para onde da vida do homem: o irrevocável pretérito,<br />
o inescapável presente e o inevitável futuro. Lucas<br />
vinha do seu batismo, vivia na igreja e olhava para o<br />
Juízo e a vida do mundo vindouro. Estava em condições<br />
de apreender a realidade da história da primeira igreja<br />
como o crescimento da palavra do Senhor em virtude do<br />
"lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tito<br />
3.5), em virtude do fato de que êle era conduzido, como<br />
filho e membro da famma de Deus, "pelo Espírito" (Romanos<br />
8. 14), e em virtude do fato de que estava "selado<br />
com o prometido Espírito Santo, o que é a garantia de<br />
nossa herança" (Efésios 1.14), o Espírito que clamava<br />
nêle: "Vem, Senhor Jesus" (Apoca1ipse 2217,20).<br />
Podemos contemplar e apreender a realidade que Lucas<br />
contemplou e registrou no poder do Espírito apenas<br />
quando nos situamos em seu ponto de mira e estamos onde<br />
êle estêve. Podemos ver o que "realmente" aconteceu<br />
apenas na medida em que comparticipamos do de onde,<br />
do onde e do para onde de sua vida. Para compreender<br />
o que isto significa devemos penetrar para além da "igreja<br />
conÍessante e audiente" da declaração de Frar até às<br />
realidades últimas que originaram e ainda sustêm a igreja<br />
confessante e audiente. Devemos penetrar na obra de<br />
Deus, que cria, sustenta e consuma a igreja. De que maneira<br />
está constituído o ponto de mira do contemplador<br />
da realidade genuína De onde vem onde está para<br />
onde vai<br />
De onde viemos nós (só podemos falar disso em têrmos<br />
pessoais) Viemos do nosso batismo, e isso determina<br />
nossa visualização da realidade e nos dá nossa capacidade<br />
para contemplar a realidade. Aqui, em meio<br />
a uma realidade altamente mundana (um homem, um<br />
pouco d'água, algumas palavras, um rito), aconteceu al-