Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Processo, de <strong>Franz</strong> <strong>Kafka</strong> – Uma interpretação<br />
esperar, religiosamente, obedient<strong>em</strong>ente, para ser admitido. O formalismo de<br />
uma ética vazia de conteúdo real não garante, a ninguém, passar pelas “portas<br />
da Lei”. A espera é inútil. O guardião não nos abre a porta e consumimos nossa<br />
vida s<strong>em</strong> sermos admitidos. Quando morr<strong>em</strong>os as portas são fechadas para<br />
s<strong>em</strong>pre.<br />
Joseph K. reage à parábola de forma errada. Ao invés de ser estimulado a<br />
uma revisão de sua vida, reconhecendo a “culpa”, protesta inocência. “Trata-se<br />
de um erro. Como pode alguém ser culpado Somos homens, simplesmente<br />
homens, iguais <strong>em</strong> nossa condição.” “É verdade”, responde-lhe o padre,<br />
arr<strong>em</strong>atando <strong>com</strong> a frase culminante do livro: “é o que costumam dizer todos<br />
os culpados.” 22<br />
Joseph K. “ignora a natureza da Corte” que o processa. 23 Teima até o fim<br />
<strong>em</strong> proceder racionalmente, <strong>com</strong>o um advogado, <strong>em</strong> busca de contradições na<br />
estória narrada pelo padre que o despede, desalentado, para seguir seu caminho<br />
fatal. Sua última chance se fora.<br />
O Processo é, portanto, a narrativa de uma condenação filosófica. Joseph K. é<br />
o ser do cotidiano. Nós o v<strong>em</strong>os a todo momento. Está s<strong>em</strong>pre por aí, a <strong>com</strong>petir,<br />
intrigar, manipulando espertezas, desfrutando de prazeres e vantagens<br />
pessoais, <strong>com</strong>o se a história da vida <strong>com</strong>eçasse e terminasse nele, s<strong>em</strong>pre indiferente<br />
ao próximo. Vive <strong>em</strong> pleno sonambulismo moral. Sacudir eticamente<br />
um hom<strong>em</strong> <strong>com</strong>o este é proeza de dinâmica psicológica que não se verifica<br />
<strong>com</strong> freqüência. Daí sua paradoxal grandeza.<br />
Joseph K. se nos aparece <strong>com</strong>o um ser humano que enobrece, <strong>com</strong> seu “despertar”<br />
dramático, a pequenez das vidas <strong>com</strong>uns.<br />
A difícil exegese kafkiana<br />
A maioria dos intérpretes do O Processo não percebe a grandeza do drama de<br />
Joseph K. Muitos são os que se a<strong>com</strong>odam <strong>com</strong> interpretações triviais.<br />
22 The Trial, op. cit., p. 254.<br />
23 Id<strong>em</strong>, p. 265.<br />
161