23.01.2015 Views

Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...

Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...

Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Imag<strong>em</strong> e t<strong>em</strong>po na obra de Maria Gabriela Llansol<br />

todo. Veja-se o que Llansol escreve no Livro das Comunidades e que pode ser<br />

visto <strong>com</strong>o uma chave desse procedimento de ruptura: “Se eu me concentrar<br />

num fragmento do t<strong>em</strong>po / não é hoje, n<strong>em</strong> amanhã / mas se eu me concentrar<br />

num fragmento do t<strong>em</strong>po, / agora, / esse fragmento revelará todo o<br />

t<strong>em</strong>po.” (v. p. 67) A imag<strong>em</strong> descobre / revela o fragmento <strong>com</strong>o um todo<br />

e, por isso, pod<strong>em</strong>os afirmar que cada cena fulgor é construída <strong>com</strong>o um fragmento<br />

do t<strong>em</strong>po, que se apresenta <strong>com</strong>o totalidade simultânea. Como José<br />

Augusto Mourão o aponta, 30 na cena fulgor ou na imag<strong>em</strong> que concentra o<br />

redobramento do t<strong>em</strong>po e do espaço, “não se trata de deslocar o sentido,<br />

mas de construir uma iconografia dos pontos luminosos, dos momentos de<br />

júbilo”. Dessa iconografia nasce a imag<strong>em</strong>, que pod<strong>em</strong>os considerar<br />

trans-histórica, <strong>em</strong>anando da imaginação, enquanto poder de construir<br />

fulgurantes intuições que extravasam o contexto da representação, assinalando<br />

e intensificando a mais vívida passag<strong>em</strong> entre a liberdade da consciência<br />

e o dom poético.<br />

Por outro lado e <strong>em</strong> relação à questão do t<strong>em</strong>po, é necessário frisar a relação<br />

da escrita de Maria Gabriela Llansol <strong>com</strong> a teoria do “eterno retorno”. Ela verifica-se<br />

frequent<strong>em</strong>ente na sua obra, mas exprime-se <strong>com</strong> ve<strong>em</strong>ência no fragmento<br />

anterior, <strong>com</strong>o na passag<strong>em</strong> nietzschiana, <strong>em</strong> que a autora diz: “S<strong>em</strong>ivivos<br />

que me cercais, e me encerrais numa solidão subterrânea, no mutismo e no<br />

frio do túmulo; vós que me condenais a levar uma vida que mais valia chamar<br />

morte, voltareis a ver-me, um dia. Depois de morto terei a minha vingança: sab<strong>em</strong>os<br />

voltar, nós, os pr<strong>em</strong>aturos. É um dos nossos segredos. Voltarei vivo,<br />

mais vivo do que nunca.” (Livro das Comunidades, p. 59) O modo <strong>com</strong>o se rompe<br />

a historicidade, na obra llansoliana, deve bastante à teoria do eterno retorno.<br />

Tanto do ponto de vista heideggeriano <strong>com</strong>o deleuziano, o eterno retorno é,<br />

fundamentalmente, uma ruptura da continuidade t<strong>em</strong>poral que define o t<strong>em</strong>po<br />

na sua sucessão passado-presente-futuro e a instauração do t<strong>em</strong>po <strong>com</strong>o<br />

presente ou, para usar a expressão de Walter Benjamin, de “instante dialéti-<br />

30 Cf. A Pele da Imag<strong>em</strong>, p. 145.<br />

189

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!