Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
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Da atribuição à existência<br />
mento, análogo ao “unheimlich” freudiano: “o que está próximo e longínquo<br />
aa mesmo t<strong>em</strong>po”, mas ao caráter de duplo especular desse estranhamento,<br />
desse sinistro. O riso era, pois, uma defensiva e secundária “formação reativa”<br />
onde era atribuído a outr<strong>em</strong> o que não poderia ser visto, especularmente, no<br />
âmbito próprio do sujeito. Por esta razão, <strong>em</strong> seu s<strong>em</strong>inário intitulado Formações<br />
do Inconsciente, Jacques Lacan, por r<strong>em</strong>issão à freudiana Psicopatologia da Vida<br />
Cotidiana, irá incluir o Chiste, juntamente <strong>com</strong> o sintoma, <strong>com</strong> o Inconsciente e<br />
<strong>com</strong> o ato falho, no âmbito das formações de linguag<strong>em</strong>, vendo nestas não só a<br />
precondição do inconsciente simbólico, por ele atribuído a Freud, mas também<br />
a presença de uma lógica universal equivalente ao modo de funcionamento<br />
do pré-consciente (Condensação e Deslocamento) presente <strong>em</strong> sua primeira<br />
tópica. Ou seja, o cômico, b<strong>em</strong> assim a piada não seriam necessariamente<br />
universais, e sim a lógica que os atualizaria, enquanto manifestação da lógica<br />
do processo primário. Como também não seria universal e sim circunstancialmente<br />
histórica qualquer articulação, atribuída à influência de Twain, entre o<br />
inibitório puritanismo vitoriano e a pretensa “imaturidade” sexual do adulto<br />
dezenovesco, até porque o cômico <strong>em</strong> Freud apenas iria d<strong>em</strong>onstrar que a “piada”,<br />
por ser, <strong>com</strong>o já se disse, uma “formação reativa”, isto é, uma forma defensiva<br />
secundária, iria possuir a lógica própria da significação inconsciente,<br />
até porque o “pan-sexualismo” atribuído a Freud não passou de “uma formação<br />
reativa” da cultura <strong>em</strong> face da descoberta da sexualidade infantil. Freud<br />
iria propor, isto sim, uma articulação, tomada a partir de seus conceitos fundamentais:<br />
Inconsciente, Transferência, Pulsão e Repetição, entre Castração,<br />
Fantasia e Desejo <strong>com</strong>o forma de se materializar o primado de Édipo, ao passo<br />
que Zola, um de seus “amigos”, também foi visto preconceituosamente, até<br />
porque se contrapôs ao racismo anti-s<strong>em</strong>ita, <strong>com</strong>o portador de “priapismo<br />
mórbido”. Ele, apenas, <strong>em</strong> seu naturalismo, privilegiou a preocupação libidinal<br />
<strong>com</strong> uma sexualidade que a cultura queria escamotear, enquanto aquele<br />
(Freud) apenas brandiu a “descoberta” de sua “peste”: a sexualidade infantil,<br />
consolidando um pensamento gerado pela articulação entre suas raízes áticas e<br />
judaicas.<br />
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