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Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...

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Izacyl Guimarães Ferreira<br />

Quando diz que o soneto não se faz, acontece, está dando uma chave para seu<br />

processo criativo, que nos faz recordar o Bandeira da frase: “o primeiro verso é<br />

<strong>com</strong> Deus, o resto é <strong>com</strong>igo”, ou nosso outro mestre, Drummond, que fala de<br />

uma idéia que gera um ritmo. Assim, também, documenta o próprio Valéry, do<br />

sopro solene do decassílabo nasceu a obra-prima que é Le Cimetière marin. Pois<br />

b<strong>em</strong>: se o soneto acontece e é forma fixa rigorosa, não será incorreto pensar que<br />

Lêdo Ivo aceita a noção de inspiração, porque acredita <strong>em</strong> sua capacidade de trabalho<br />

verbal: “A forma é o verdadeiro conteúdo da poesia” diz (Confissões, pág.<br />

269). Acontece. Já dissera antes: “Pertenço à linhag<strong>em</strong> daqueles que acham s<strong>em</strong><br />

procurar.” ( p. 194)<br />

Magia, voluptuosidade, erotismo, m<strong>em</strong>ória, reportag<strong>em</strong> lírica, nada escapa à<br />

ânsia de dizer que nosso poeta vai acumulando ao longo de seus textos. O que<br />

nunca faltará <strong>em</strong> seus textos é cântico, celebração, palavra rilkeana e sua; entusiasmo,<br />

palavra hölderliniana e sua. Odes. Onde cabível o olhar de <strong>com</strong>passiva denúncia<br />

ou lamento, faz crítica ou elegia. Em suma, nunca falta envolvimento,<br />

<strong>com</strong>prometimento, <strong>com</strong> o quotidiano e <strong>com</strong> a cultura, nesse poeta que confessa<br />

odiar <strong>em</strong> poesia as vanguardas e os que considera caipiras, pela presunção delas,<br />

pela in<strong>com</strong>petência desses. Porque teve s<strong>em</strong>pre profunda consciência de ser poeta<br />

“profissional” (p. 301), de estar sintonizado <strong>com</strong> a cultura da língua e de seu<br />

ofício. “Sou um poeta. As palavras me obedec<strong>em</strong>”, proclama adiante (p. 321).<br />

Tal obediência caracteriza os sonetos acontecidos <strong>em</strong> 1946, por certo, pois a<br />

forma fixa e exigente do soneto pode, se o trato for desatento, destruir sua arquitetura.<br />

L<strong>em</strong>brava b<strong>em</strong> Augusto Meyer, <strong>em</strong> prefácio à Coroa de Sonetos de Geir Campos<br />

(Organização Simões, 1953): “só é bom o soneto que não ostenta a sua sonetice”.<br />

E a mesma obediência será marcante ainda num po<strong>em</strong>a de Estação Central,<br />

quando, partindo daquelas frases de cartilha de alfabetização, trabalha a poética<br />

social, engajada, que outros autores tratam no limite da prosa, e Lêdo <strong>com</strong><br />

este rigor de forma e tanta música:<br />

Na escola primária<br />

Ivo viu a uva<br />

e aprendeu a ler.<br />

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