Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
- No tags were found...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Maria João Cantinho<br />
T<strong>em</strong>po e escrita; T<strong>em</strong>po e espaço<br />
Questões <strong>com</strong>o estas são pertinentes: afinal de que t<strong>em</strong>po estamos a falar E<br />
<strong>com</strong>o se relaciona o T<strong>em</strong>po <strong>com</strong> a escrita Questão ainda mais <strong>com</strong>plexa: é<br />
possível estabelecer uma relação directa do t<strong>em</strong>po <strong>com</strong> a imag<strong>em</strong><br />
Em “O Devir <strong>com</strong>o simultaneidade” (v. Um Falcão no Punho, p. 132), Llansol<br />
afirma: “Como ser civil conheço o presente, o passado, e o futuro. Mas<br />
<strong>com</strong>o escritor tenho um olhar que toca sobretudo o espaço, livre de t<strong>em</strong>po.<br />
Nele não há poder, que é s<strong>em</strong>pre o poder de escolher e de chegar à morte.<br />
Aqui, parece esboçar-se uma distinção entre espaço e t<strong>em</strong>po, estabelecendo<br />
uma diferenciação entre o primeiro, que é do domínio da escrita e do corpo,<br />
e o t<strong>em</strong>po, que se relaciona <strong>com</strong> a história e o poder. Esta diferenciação é<br />
apenas aparente, quando se retoma a escrita llansoliana à luz da concepção<br />
de Lugar, <strong>com</strong>o ela aparece no Livro das Comunidades. O que, desde logo, esta<br />
aparente diferenciação nos leva a pensar é na sobreposição dos t<strong>em</strong>pos, <strong>em</strong><br />
simultaneidade ou numa multiplicidade de t<strong>em</strong>pos. Silvina Rodrigues Lopes<br />
28 defende que o “o devir <strong>com</strong>o simultaneidade” corresponde a um espaço<br />
trans-histórico de grande <strong>com</strong>plexidade que <strong>com</strong>preende o “real” e o “irreal”<br />
indescerníveis, <strong>com</strong>o na proposta de Bergson. Tal significa que a imag<strong>em</strong> assume,<br />
na escrita llansoliana, a apresentação da cadeia de conexões entre os<br />
actuais e a ruptura resultante da actualização do virtual. A escrita, mediante a<br />
imag<strong>em</strong>, faz-se “abertura de possíveis”, assumindo o inesperado e o descontínuo.<br />
A desintegração dos t<strong>em</strong>pos/do t<strong>em</strong>po é operada, assim, pela escrita,<br />
eacena fulgor resulta desse enfraquecimento do contínuo, até que os seus el<strong>em</strong>entos,<br />
diss<strong>em</strong>inados, perfaçam a nova ord<strong>em</strong> espacio/t<strong>em</strong>poral. O t<strong>em</strong>po<br />
que a escrita abandona é o t<strong>em</strong>po <strong>com</strong>um, tal <strong>com</strong>o a luz <strong>com</strong>um. O fulgor sobrevém<br />
do “t<strong>em</strong>po-duração, que a escrita concebe e fomenta”, 29 por uma relação<br />
de descontinuidade, intensificando o fragmento, que é visto <strong>com</strong>o um<br />
28 Cf. Teoria da Des-possessão, p. 49.<br />
29 Id<strong>em</strong>, p. 51.<br />
188