Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...
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Antônio Sérgio Mendonça e Leodegário A. de Azevedo Filho<br />
dica”), “Symptôme” (Santificação do Sintoma) e “fantasma obsessivo”, no<br />
pensamento de Lacan. Logo, não se tratava aí de uma mera atribuição conceitual<br />
imputada interpretativamente (no caso de Rouanet, a Freud), e sim do<br />
próprio reconhecimento incontroverso da dívida autoral.<br />
Tal constatação nos leva ao desenvolvimento prioritário de duas considerações:<br />
a) tomando-se <strong>com</strong>o parâmetro crítico a leitura textual da lírica canoniana<br />
ver<strong>em</strong>os que a atribuição presente na contribuição de Rouanet, <strong>em</strong> princípio,<br />
funciona <strong>com</strong>o um corpus addititium, o que, por favor, não quer dizer, <strong>em</strong><br />
absoluto, que suas hipóteses conceituais, apenas por esta razão, não sejam pertinentes.<br />
Todavia, o reconhecimento explícito e textual no texto freudiano de<br />
dívida autoral anterior à obra terá, guardadas as devidas proporções, o valor<br />
<strong>com</strong>o corpo conceitual de um test<strong>em</strong>unho incontestado, porque dado textualmente<br />
<strong>em</strong> vida pelo próprio texto do autor; b) porém, já <strong>com</strong>o juízo interpretativo<br />
e atributivo, no que se refere à possibilidade da obra de Mark Twain ter<br />
originado a teoria freudiana sobre o “Chiste”, não se pode negar que não haja<br />
plena confirmação conceitual desta convicção. Embora não se possa também<br />
negar o conhecimento e a preferência do próprio Freud por estes autores, outra<br />
coisa b<strong>em</strong> diferente é reconhecer-se, s<strong>em</strong> dúvida alguma, já que não foi feito<br />
explicitamente por ele, que a obra Esboços, de Twain, estaria para o “Chiste”<br />
assim <strong>com</strong>o a Gradiva, de Jensen, esteve para o conceito de “fantasma fundamental”.<br />
No entanto, isso não afasta inteiramente a possibilidade de êxito<br />
conceitual da hipótese defendida por Rouanet. Então, usar<strong>em</strong>os, para aquilatá-la,<br />
<strong>com</strong>o uma metáfora, a distinção entre delirante artista e artista delirante.<br />
O primeiro apenas se utilizaria do caráter estabilizador do delírio (forma de<br />
alucinação não-fálica, quando muito libidinal, sensual), b<strong>em</strong> <strong>com</strong>o do reconhecimento<br />
social do lugar de artista que lhe é, provisoriamente, outorgado,<br />
<strong>com</strong> a função de ego auxiliar, o que evitaria, momentaneamente, que sucumbisse<br />
à Foraclusão (Verwerfung freudiana). Já o artista delirante t<strong>em</strong>-se valido do<br />
delírio <strong>com</strong>o um recurso de autoria. Neste sentido, Lacan irá distinguir, quando<br />
atento ao estudo do delírio homossexual por Freud identificado na psicose<br />
paranóica <strong>em</strong> Schreber, o escrito (ato físico de escrever) da função poética (esté-<br />
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