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Franz Kafka com Felice Bauer, em Budapeste, 1917. - Academia ...

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Imag<strong>em</strong> e t<strong>em</strong>po na obra de Maria Gabriela Llansol<br />

É difícil não ler aqui o desejo de uma “ord<strong>em</strong> que há-de vir”, uma promessa<br />

que aparece sob os termos de “uma nova terra, bafejada por um céu aberto”<br />

ou, ainda, <strong>em</strong> O Senhor de Herbais, na sibilina frase: “o que o texto tece advirá ao<br />

hom<strong>em</strong> <strong>com</strong>o destino” (v. p. 210). Manuel Gusmão 21 parte da análise dessa<br />

frase e do confronto <strong>com</strong> o texto benjaminiano, 22 que fala da “pequena parcela<br />

messiânica” que aqueles que vieram antes de nós têm para nos passar, para nos<br />

mostrar <strong>com</strong>o a escrita llansoliana nos convoca a reaprender a linguag<strong>em</strong>.<br />

Como o autor o afirma, “Um tal enunciado pode ser considerado <strong>com</strong>o um<br />

princípio ou um ‘programa’ poético e estético, uma ‘lei’ imanente a esta textualidade.”<br />

É o texto qu<strong>em</strong> tece, através das múltiplas vozes que o atravessam e que<br />

ele contém. Mas estamos longe, aqui, de um texto à maneira de um tecido, no<br />

seu sentido medieval, <strong>com</strong>o uma teia acabada, ou uma tecelag<strong>em</strong> definitivamente<br />

terminada, um ergon. Pelo contrário, esse texto vai-se tecendo de múltiplos<br />

modos, todos eles moventes, <strong>com</strong> a sua energia própria, <strong>com</strong>o Manuel<br />

Gusmão o diz: <strong>com</strong>o energueia. A atestar essa idéia da pluralidade movente dos<br />

textos, o autor cita o “palimpsesto transparente”, <strong>com</strong>o aparece no Livro das<br />

Comunidades (p. 57): “Leio um texto e vou-o cobrindo <strong>com</strong> o meu próprio texto<br />

que esboço no alto da página mas que projecta a sua sombra escrita sobre<br />

toda a mancha do livro. Esta sobreposição textual t<strong>em</strong> por fonte os olhos, parece-me<br />

que um fino pano flutua entre os olhos e a mão e acaba cobrindo<br />

<strong>com</strong>o uma rede, uma nuv<strong>em</strong>, o já escrito. O meu texto é <strong>com</strong>pletamente transparente<br />

e percebo a topografia das primeiras palavras. Concentro-me <strong>em</strong> São<br />

João da Cruz quando o texto fala <strong>em</strong> Friedrich N.”<br />

Várias vozes, sobrepondo-se, indissociabilidade entre escrita e leitura, a “construção”<br />

de um sujeito que aparece <strong>com</strong>o um “processo” e não uma consciência,<br />

defin<strong>em</strong> a metáfora têxtil supracitada e são aspectos que nos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong>, de imedia-<br />

21 Cf. texto inédito, A História e o Projecto do Humano.<br />

22 Cf. Walter Benjamin, Écrits Français, “Sur le Concept d’Histoire”, p. 340: “Il y a un rendez-vous<br />

mystérieux entre les générations défuntes et celle dont nous faisons partie nous-mêmes. Nous avons<br />

été attendus sur terre. Car il nous est dévolu à nous <strong>com</strong>me à chaque équipe humaine qui nous<br />

précéda, une parcelle du pouvoir messianique.”<br />

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