TRANSPORTE NEGÓCIOS SOBRE DUAS RODAS Empresários começam a perceber o crescimento do uso de bicicletas e descobrem novas oportunidades com as “magrelas” 26 maio de 2013 | www.acil.com.br
Por Guto Rocha Invisíveis para a maioria dos motoristas, os ciclistas estão cada dia mais presentes nas ruas de Londrina. Vencendo pesadas ladeiras com a batata da perna turbinada e dividindo perigosos e apertados espaços nas ruas e avenidas - entupidas com carros - os adeptos da bicicleta começam a ser notados por alguns homens de negócio. Pequenos gestos ou grandes investimentos que incentivem o uso da bicicleta são sempre animadores. Uma promessa de mudança de cultura que nós, ciclistas, acalentamos a cada pedalada. Dias atrás fui até à farmácia que fica na rotatória das avenidas Higienópolis e JK. Quando estava procurando um lugar para trancar minha bicicleta (coisa rara em Londrina), o gerente do estabelecimento veio até mim e disse para eu guardá-la dentro da farmácia. “É mais seguro”, comentou. Não precisei trancar a bicicleta e, claro, virei freguês. Outro empresário que me conquistou como freguês foi Christian Ferreira de Amorin, dono do salão La Peluqueria, que percebeu as vantagens da bicicleta no seu dia a dia. Há quase quatro anos, Chris Peluquero, como é mais conhecido, adotou a bicicleta como seu único meio de transporte. “As rodas viraram meus pés e pernas. Vou ao banco pagar contas, venho trabalhar. O supermercado, que fica a duas quadras apenas, parece longe se não for de bicicleta. Vou pra todo lado de bicicleta”, afirma. Chris Peluquero foi além com a “bike”: criou uma promoção em seu salão para atrair clientes antenados com o movimento das duas rodas. Quem for até lá de bicicleta ganha descontos nos serviços. “Dependendo da distância que a pessoa se deslocou, o valor pode até aumentar”, comenta. Segundo ele, a ideia surgiu da vontade de ver mais gente pedalando por Londrina. “Queria incentivar as pessoas a utilizarem bicicleta, é preciso se criar uma cultura das duas rodas para melhorar a cidade e a saúde das pessoas.” Como ciclista, entendo bem o que Chris Peluquero percebe ao pedalar pela cidade. Mas, antes de falar das dificuldades que um ciclista enfrenta em Londrina, é preciso deixar claro o prazer proporcionado por uma pedalada. O vento no rosto, a sensação de liberdade e a imensa satisfação de olhar para trás e ver que a fila de carros congestionados na hora do rush continua parada depois de ter descido a Rua Pernambuco inteira, até o Moringão, em poucos minutos. E isso vale para qualquer outra via de Londrina. Entretanto, obter esse prazer com segurança é sempre um perigoso desafio. Para isso, é preciso estar equipado: capacete, lanternas traseiras e dianteira são essenciais. Afinal, como seres invisíveis, nós, ciclistas, estamos expostos a todos os tipos de perigos. Os buracos no asfalto são muitos e traiçoeiros, às vezes surgem de um dia para outro nas rotas que costumo fazer. Os motoristas incautos, no entanto, são os maiores riscos que encontramos pelo caminho. Como a rede de ciclovias é insuficiente e não está interligada, somos obrigados a dividir os espaços com as máquinas motorizadas. Para piorar a situação, até mesmo os pedestres, que também são vítimas do trânsito caótico da cidade, não respeitam as poucas ciclovias que temos para usar. Segundo a gerente de Trânsito do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL), engenheira Cristiane Biazzono Dutra, a Prefeitura tem planos para implantar 107 quilômetros de ciclovias na cidade. Mas não há prazos para que isso seja concluído. Atualmente, segundo ela, existem de fato 17 quilômetros de ciclovias. Muitas delas compartilhadas com pedestres em calçadas e outras que ainda não estão sinalizadas indicando que ali é uma ciclovia. O IPPUL está realizando, desde de 2012, uma pesquisa com ciclistas para traçar um perfil desse público e, a partir daí, definir locais para se implantar novas ciclovias. A engenheira observa que qualquer ciclista pode participar, respondendo à pesquisa que está na página principal do site da Prefeitura de Chris Peluquero: “As rodas viraram meus pés e pernas. Vou pra todo lado de bicicleta” Ricardo de Carvalho: “Gente de todas as classes sociais estão aderindo ao ciclismo, seja como modalidade esportiva, seja como meio de transporte” Londrina (www.londrina.pr.gov.br). Mesmo com tantas adversidades, o número de ciclistas tem crescido em Londrina. Cristiane diz que não existe um levantamento seguro da quantidade de bicicletas rodando pela cidade. “Como não são emplacadas, fica difícil saber quantas são”, afirma. Segundo ela, o objetivo da Prefeitura é de que no futuro pelo menos 10% dos deslocamentos em Londrina sejam feitos em bicicletas. O sócio-proprietário da Bicicletaria Recreio, Ricardo de Carvalho, que está no negócio das duas rodas há 27 anos, afirma que a bicicleta vive um momento “nunca visto antes” em Londrina. “Gente de todas as classes sociais estão aderindo ao ciclismo, seja como modalidade esportiva, seja como meio de transporte”, afirma. Ele, que começou a trabalhar em oficina Associação Comercial e Industrial de Londrina 27