Obra Completa - Universidade de Coimbra

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O delírio dos degenerados.—Para completar o estudo
da symptomatologia resta-me tratar do delírio. Até
aqui tenho feito sobresahir a excentricidade typica do
doente, revelando-se antes pelas perversões sensoriomotrizes,
do que pelas perturbações ideaccionaes.
Estas, porem, são suficientemente importantes para
lhes dedicar alguns instantes de. escrupulosa attenção.
Como o delírio dos actos, o delírio intellectual estala
instantaneamente, numa actividade vertiginosa, pandemonica,
sob a influencia das mais fúteis causas occasionaes
ou mesmo sem causa occasional apreciavel,
e sem mostrar a incubação característica das psychonevroses
meramente accidentaes.
As idêas misturam-se, precipitam-se, atropellam-se
num redemoinho tumultuoso, muitas vezes sem nexo
logico, sem relações de dependencia reciproca nem
subordinação ao estado psychologico ou ao humor
preponderante do doente (Observações vn, viu, xvm,
etc.), fabulosas, extravagantes, numa associação pervertida
e torpida, como extranhas emergencias espontâneas
d'um cerebro profundamente desequilibrado.
Parece que se adivinha n'esse cerebro delirante o
que quer que seja de vibração dolorosa, intima, absolutamente
intraduzível; é uma trovoada maníaca, violenta,
n'uma atmosphera ensombrada de nuvens, que
não deixam a descoberto um só retalho do céo claro.
Frequentemente o paroxismo ideaccional termina
como começou, d'um modo egualmente precipitado e
súbito, podendo ter durado alguns dias ou somente
algumas horas (P. GARNIER).