Obra Completa - Universidade de Coimbra

trucidava os hystericos, viam-se já clarear as primeiras
alvoradas da emancipação mental, que, depois da queda
do Império do Oriente, quasi transportou a humanidade
do século xv para o meio do século xvm.
A Edade Media pejada de ruinas soltava o ultimo
arranco, e sobre a lapida tumular erguia-se o vulto
sympathico da Renascença, palpitante de promessas,
sorridente de tendencias progressivas.
As fronteiras acanhadas do velho mundo tinham-se
alargado prodigiosamente com as descobertas dos
grandes viajantes; as relíquias scieniificas da eschola
de Constantinopla transportavam-se para o Occidente;
descobria-se a polvora, a bússola, a imprensa e fazia-sc
a Reforma religiosa, que preparavam as conquistas
commerciaes e scientificas, pondo em contacto povos
vários com costumes e religiões diversas, abrindo-nos
o caminho da índia, demonstrando a esphericidade da
terra, diffundindo todos os conhecimentos adquiridos
e transportando-os da penumbra da opinião individual
para a larga esphera do critério publico, libertando já
o pensamento da autocracia catholica e resuscitando
para a critica todo um longo passado, com as suas
glorias, com as suas misérias, com os seus exemplos,
com as suas memoráveis tradições.
. ERASMO e RABELAIS, chocando vivamente a antithese,
rasgam cruelmente o flanco de todos os despotismos
— da Realeza, da Egreja, do Militarismo, da Auctoridade
arbitraria — com sarcasmos scintillantes e gargalhadas
immortaes; MONTAIGNE e CHARRON tentam a
historia natural da psychologia e da moral; COPÉRNICO.