Obra Completa - Universidade de Coimbra

Depois, naturalmente, a creança é d'uma curiosidade
insaciavel; deseja examinar um objecto que vê a distancia,
palpal-o, admiral-o, leval-o á bocca, por um
movimento instinctivo, egoista, eminentemente significativo.
Sente-se cercada de impressões novas, que despertam
a necessidade contínua de movimento, e uma vaga
anciedade de experimentar, de conhecer os objectos
exteriores, que a pequenina creatura fila com o seu
grande olhar pasmado e interrogador.
Então, ou porque os educadores lhe recusam formalmente
o objecto desejado, ou porque a incommoda um
estado doloroso indefinido, a creança chora; o remedio
é prompto e rápido: bate-se-lhe, põe-se-lhe medo com
o papão ou intimida-se com um individuo qualquer
que um dia lhe inspirou grande repugnancia, e lançase-lhe
no cerebro o germen dos poltrões e dos covardes.
No interior domestico, a despeito de todas as phrases
pomposas dos romancistas e dos poetas sentimenlaes,
a creança, na enorme maioria dos casos, é simplesmente
uma victima.
Ella assiste á explosão dos arrazoados paternos, das
phrases violentas contra os irmãos ou conlra os creados;
ouve admirada a historia núa dos pequeninos
escandalos galantes, as aventuras romanescas dos amores
torpes d'um conhecido da casa, a critica invejosa
daquella senhora ou d'aquelle sujeito que se vestem
bem, etc.
Esmagada no circulo ferreo das repressões sysle-