Obra Completa - Universidade de Coimbra

na terra, produziu-se num domingo de Paschoa, na
procissão em volta da igreja da freguezia. 0 louco lançou
mão da cruz, n uma excitação maniaca imprevista
e violentíssima, gritando n'um tom de indizível afflicção:
«ajoelhem todos!»
O doente considerava-se victima de uma horrível
perseguição. Era lúcido e conversava bem. A principio
fugia de casa durante a noite, deitava-se nos Iodaçaes
e logares immundos, e ás vezes demorava-se fora
de casa por alguns dias. Depois tornou-se furioso,
odiava os amigos e as pessoas da familia, maltratando-os
sem motivo. O ataque apparecia e desapparecia d'um
modo abrupto e rápido. Dizia mal de algumas pessoas
a sós comsigo. Yozes mysteriosas fallavam-lhe de indivíduos
que o perseguiam, lançando-lhe fluidos bons ou
máos e fluidinhos.
Esta perseguição era principalmente religiosa e politica,
porque o doente era um amigo do povo; trazia
então uma enxada ao liombro «para o respeitarem».
Umas vezes comia excessivamente, outras recusava
tanazmente a alimentação; nos intervallos das excitações
pathologicas não acceitava comida nem cigarros
fóra de casa, o que fazia nos dias em que andava mais
agitado.
Por varias vezes quiz matar o prior da freguezia e
outras pessoas que o perseguiam, e proclamava que havia
de fazer um talho em casa, com a carne do irmão.
Por varias vezes quebrava as portas da casa de habitação
e punha-lhe o fogo; fazia aquillo «para matar as
pulgas».