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ACTAS DAS I JORNADAS as vias do Algarve da ... - Calçadinha

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eat<strong>as</strong> em plena escuridão medieval Finalmente,<br />

auto-estra<strong>da</strong> era, nesse tempo, um ‘el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>’<br />

a facilitar comércios, a encurtar distânci<strong>as</strong>, a<br />

aproximar os mun<strong>do</strong>s, a partilhar festivi<strong>da</strong>des…<br />

Os tempos amadureceram, porém. Visto <strong>do</strong> ar, antes<br />

de concluí<strong>do</strong>, o troço <strong>da</strong> A13 em construção desde<br />

Santo Estêvão (Benavente) até Vila Franca de Xira<br />

(Ponte Salgueiro Maia) era traço de união coleante,<br />

ufano já <strong>do</strong>s seus viadutos e pontes, <strong>da</strong> faixa<br />

reluzente <strong>do</strong> alcatrão acabadinho de estender…<br />

Pode vir a ser também – visto com outros olhos<br />

– a longa cicatriz para sempre r<strong>as</strong>ga<strong>da</strong> na verde<br />

v<strong>as</strong>tidão <strong>da</strong> lezíria, habitua<strong>da</strong> apen<strong>as</strong> ao voo suave<br />

d<strong>as</strong> cegonh<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> garç<strong>as</strong>, ao p<strong>as</strong>so cadencia<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> boia<strong>da</strong>, ao sossega<strong>do</strong> ramerrão de agricultores<br />

e campinos…<br />

Caminhos antigos, percursos modernos – por mais<br />

que o impacte se minimize (na teoria e na prática),<br />

certo é que ele vai existir sempre: no pensamento<br />

<br />

<strong>as</strong> vered<strong>as</strong> e <strong>as</strong> vi<strong>as</strong>:<br />

<strong>do</strong> aparente improviso<br />

à organização<br />

sistemática<br />

Seduzem-me <strong>as</strong> vered<strong>as</strong> por entre os matos –<br />

porque nunca vão em linha recta. Temos a sensação<br />

de que foi alguém tol<strong>da</strong><strong>do</strong> no espírito o primeiro<br />

que af<strong>as</strong>tou os carr<strong>as</strong>cos e <strong>as</strong> urzes e os troviscos e<br />

decidiu abrir o trilho. Não foi. Usou <strong>da</strong> inteligência,<br />

a<strong>da</strong>ptou-se ao terreno – como, de resto, hoje,<br />

apesar <strong>da</strong> técnica, também <strong>as</strong> auto-estrad<strong>as</strong> se<br />

a<strong>da</strong>ptam (ao terreno e aos interesses…).<br />

Recor<strong>do</strong>-me <strong>da</strong> longa conversa que tive com João<br />

Garcia, em Novembro de 2002, meses depois de<br />

ele ter escala<strong>do</strong> o Himalaia e toca<strong>do</strong> o Pico Evereste,<br />

em expedição de que se salvou por um triz.<br />

Também ali os trilhos ziguezagueavam e af<strong>as</strong>tar-se<br />

<br />

<strong>do</strong> trilho, <strong>do</strong> caminho – desde tempos imemoriais.<br />

D<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> desde sempre se louvou o<br />

esplen<strong>do</strong>r. O rigor técnico <strong>do</strong> traça<strong>do</strong>; a sóli<strong>da</strong><br />

imponência <strong>do</strong> piso; a majestade d<strong>as</strong> pontes;<br />

a soleni<strong>da</strong>de escrita <strong>do</strong>s miliários… Legiões<br />

<br />

sábio de centuriões, esforço hercúleo, carrean<strong>do</strong><br />

lajes, estruturan<strong>do</strong> camad<strong>as</strong>… Criara-se, <strong>as</strong>sim,<br />

uma «rede viária» – «To<strong>do</strong>s os caminhos vão <strong>da</strong>r<br />

<br />

su<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> depressa cheg<strong>as</strong>sem aonde era preciso,<br />

para arreca<strong>da</strong>r impostos ou reprimir rebeliões, nos<br />

<br />

Daí o prestígio de um <strong>do</strong>s cargos preliminares <strong>do</strong><br />

vigintivirato senatorial: os quattuorviri viarum<br />

curan<strong>da</strong>rum. Aju<strong>da</strong>vam os edis na conservação d<strong>as</strong><br />

vi<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e, sobretu<strong>do</strong>, d<strong>as</strong> quatro principais<br />

que ab<strong>as</strong>teciam a Urbe: a Ápia (a grande obra<br />

de Appius Claudius Caecus), a Cássia, a Cimínia<br />

e a Clódia. Sabia-se que <strong>do</strong> seu bom esta<strong>do</strong> de<br />

conservação e <strong>da</strong> segurança pessoal que ofereciam<br />

dependia a normali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em Roma no que<br />

<br />

o Itinerário, manancial<br />

sedutor e enigmático<br />

Daí a importância <strong>do</strong> Itinerário de Antonino 2 que, se<br />

calhar, aguar<strong>da</strong> agora um estu<strong>do</strong> perspicaz encara<strong>do</strong><br />

com <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> <strong>do</strong> século XXI.<br />

2<br />

Sobre este <strong>do</strong>cumento, atribuí<strong>do</strong> à época <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r Caracala (198-217), é inúmera a bibliografia, atenden<strong>do</strong> a que abarca to<strong>do</strong> o Império Romano<br />

e, portanto, em ca<strong>da</strong> zona os respectivos investiga<strong>do</strong>res procuram fazer a identificação entre os topónimos aí regista<strong>do</strong>s e os vestígios actuais, quer<br />

arqueológicos quer toponímicos. Para uma ideia geral acerca <strong>da</strong> importância deste <strong>do</strong>cumento, poderá consultar-se, por exemplo, P. ARNAUD, «L’Itinéraire<br />

d’Antonin: um témoin de la littérature itinéraire du B<strong>as</strong>-Empire», Geographia Antiqua (Florença), 2, 1993, p. 33-49.<br />

<strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 55

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