.XII VIAS URBANAS DE SILVES: MUTAÇÕES E PERVIVÊNCIAS MARIA JOSÉ GONÇALVES Arqueóloga, Gabinete de Arqueologia <strong>da</strong> Câmara Municipal de Silves resumo N Neste pequeno estu<strong>do</strong> apresentam-se alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s resultantes <strong>da</strong> investigação arqueológica e <strong>da</strong> análise d<strong>as</strong> fontes históric<strong>as</strong>, que conjugad<strong>as</strong>, nos permitiram reconstituições <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> viário urbano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Silves, nos perío<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>minação islâmica e durante o século XV, observan<strong>do</strong>-se mutações e pervivênci<strong>as</strong>. Figura 1 Indicação <strong>do</strong> possível cardus e decumanus, segun<strong>do</strong> R.V.Gomes. 80 AS VIAS DO ALGARVE
introdução Ain<strong>da</strong> que alguns autores admitam para a ci<strong>da</strong>de de Silves uma possível fun<strong>da</strong>ção Romana 1 , a ver<strong>da</strong>de é que até à presente <strong>da</strong>ta, não obstante a enorme área escava<strong>da</strong>, ou arqueológicamente acompanha<strong>da</strong>, no Centro Histórico (Programa Polis) 2 , ain<strong>da</strong> em curso, e muitos outros trabalhos antes realiza<strong>do</strong>s, os vestígios romanos são residuais e descontextualiza<strong>do</strong>s e a ocupação mais antiga remonta ao perío<strong>do</strong> islâmico, consistin<strong>do</strong>, na maior parte <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>os, em estrutur<strong>as</strong> habitacionais e negativ<strong>as</strong> (silos e foss<strong>as</strong>), est<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> escavad<strong>as</strong> no substracto geológico (Vieira e Chanoca, 2006 a; 2006 b). Também no decurso de obr<strong>as</strong> de construção civil, tiveram lugar em zon<strong>as</strong> mais baix<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, trabalhos arqueológicos em áre<strong>as</strong> de dimensão <strong>as</strong>sinalável e não se colocaram a descoberto níveis de ocupação romana. As ocupações mais antig<strong>as</strong> remontavam ao século XI em <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s c<strong>as</strong>os – Biblioteca (Gonçalves e Santos, 2005:198), Teatro M<strong>as</strong>carenh<strong>as</strong> Gregório (Ramos,2004:4) e aos séculos XII-XIII no Empreendimento <strong>do</strong> C<strong>as</strong>telo (Duarte e Costa, 2006). To<strong>da</strong>via, a Arqueóloga R. V. Gomes, exumou tramo de muralha que <strong>as</strong>sentava sobre nível arqueológico que atribuiu ao perío<strong>do</strong> tar<strong>do</strong>-romano, um pouco a n<strong>as</strong>cente <strong>da</strong> Porta <strong>da</strong> Almedina (Gomes e Gomes, 1992:288 e Gomes, 2002 b:332), e defende fun<strong>da</strong>ção romana para a ci<strong>da</strong>de de Silves (Gomes,2002a:93), ven<strong>do</strong> n<strong>as</strong> actuais ru<strong>as</strong> que cruzam junto à Sé, o car<strong>do</strong> maximus e o decumanos, que marcavam a organização urbana d<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des roman<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> e na actual organização urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de esses traços de ortogonali<strong>da</strong>de, antes vislumbramos um urbanismo com origem n<strong>as</strong> ci<strong>da</strong>des islâmic<strong>as</strong>, em que o planeamento é mínimo e se centra n<strong>as</strong> a Mesquita Aljama e os Merca<strong>do</strong>s, e a situação estratégica e o relevo actuam como principais elementos condiciona<strong>do</strong>res <strong>da</strong> sua implantação. Assim, estamos perante um crescimento orgânico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, altamente dependente <strong>do</strong> aumento <strong>da</strong> população, ain<strong>da</strong> que algum<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> de planeamento se encontrem subjacentes 3 . perío<strong>do</strong> de permanência islâmica Ain<strong>da</strong> que algum<strong>as</strong> frentes de trabalho arqueológico se encontrem em curso, e pouca informação tenha si<strong>do</strong> divulga<strong>da</strong> sobre os acha<strong>do</strong>s, temos conhecimento de que se não colocaram a descoberto quaisquer vestígios <strong>da</strong> rede viária urbana relativa ao perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>minação islâmica 4 . Pelo contrário, lógic<strong>as</strong> efectuad<strong>as</strong> sob os actuais arruamentos, estrutur<strong>as</strong> habitacionais islâmic<strong>as</strong>, revelan<strong>do</strong> que a actual rede viária nem sempre coincide exactamente com os arruamentos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de islâmica. Porém, em du<strong>as</strong> intervenções ocorrid<strong>as</strong> em zon<strong>as</strong> que corresponderiam ao arrabalde Este <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, há vestígios de vi<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>. Na intervenção arqueológica <strong>da</strong> “Biblioteca”, em que os elementos arquitectónicos de maior relevância se materializam em <strong>do</strong>is tramos de muralha liga<strong>do</strong>s por uma torre de ângulo, foram coloca<strong>do</strong>s a descoberto 1 Ver a propósito, artigo de Jorge de Alarcão (2005:294 a 297), sobre a localização <strong>do</strong> oppidum Cilibis. 2 Foram escavad<strong>as</strong> v<strong>as</strong>t<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> e realizad<strong>as</strong> mais de 150 son<strong>da</strong>gens arqueológic<strong>as</strong> na ci<strong>da</strong>de de Silves. 3 Ver a propósito: Ahmed Tahiri (2006), n<strong>as</strong> fontes jurídic<strong>as</strong>: Trata<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Hisba e Direito ao Merca<strong>do</strong>, Regulamento <strong>da</strong> Defesa, Regime Imobiliário e Regulamentação Tributária, Regime de Arren<strong>da</strong>mento de Vivend<strong>as</strong> e Terrenos, Trata<strong>do</strong>s de Construção, etc. E, ain<strong>da</strong>, Alfonso Gonzalez Carmona (2005) La Medina en formación. Los <strong>da</strong>tos de los textos jurídicos – Comunicação apresenta<strong>da</strong> no 3º Congreso La Medina en Formación: La Ciu<strong>da</strong>d en el Occidente Islámico Medieval. Nov<strong>as</strong> aportaciones de la arqueologia e relectura de fuentes, Silves, 7 a 10 de Setembro de 2005. 4 As son<strong>da</strong>gens realizad<strong>as</strong> nalgum<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>, nomea<strong>da</strong>mente na Rua <strong>da</strong> Arrochela, Rua Nova <strong>do</strong> Carmo e Rua <strong>do</strong> Pelourinho, revelaram a existência de foss<strong>as</strong>, que habitualmente se localizam sob os arruamentos, levan<strong>do</strong> a inferir tratar-se de ru<strong>as</strong> que à época já existiam, com um traça<strong>do</strong> semelhante. <strong>ACTAS</strong> <strong>DAS</strong> I JORNA<strong>DAS</strong> 81
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