ABRAPP Relatório Social 2010Agenda Futura para a SustentabilidadeComo o tema Sustentabilidade pode contribuir para oobjetivo último dos Fundos de Pensão, que é o de zelar pelaaposentadoria de milhões de trabalhadores? Esta pergunta temfeito com que as entidades participantes deste <strong>relatório</strong> estejamconstantemente tentando compreender melhor o assunto,para estabelecer estratégias para sua incorporação em seusprocessos de gestão e de investimento. O texto abaixo sugerealgumas possibilidades de ação sobre aqueles que poderiamser os aspectos prioritários para que o setor incorpore aindamais fortemente a sustentabilidade em seu dia a dia. Uma leituraatenta deste último capítulo indica quais são aqueles temas quemerecem atenção e quais aqueles sobre os quais os Fundos dePensão já estão desenvolvendo boas práticas. Para os fundosde pensão interessados em melhorar suas práticas, este capítuloé um mapa que pode ajudar no sentido de maior incorporaçãodo tema.As filosofias de gestão e modelosorganizacionais mudam com o tempo paraque as empresas estejam preparadas paraatender às novas necessidades. Essasfilosofias chegam até as empresas porciclos de “ondas” de gestão, verdadeirosmodismos organizacionais que funcionamcomo respostas às alterações nas forçassociais, políticas e econômicas vigentes,que criam um novo contexto no qual aempresa opera e a forçam a buscar novosatributos e ferramentas de atuação detal forma a manter-se competitiva. Apóster passado o auge dessas “ondas” degestão, elas deixam marcas nas empresas,que são conceitos, processos e práticasconsiderados relevantes que as empresascontinuarão aplicando em suas atividadescom o passar dos anos. Quanto maisimportante ou relevante for a “onda” degestão, maior será sua contribuição parao desenvolvimento da gestão empresariale mais fortemente seus conceitos estarãoincorporados na prática e na culturaempresarial. É importante perceber quecada nova “onda” traz contribuiçõesúnicas e específicas para as organizaçõesem um dado momento histórico e queessas contribuições vão se acumulandocom o tempo, exigindo das empresas ede seus gestores novas competênciase habilidades para poderem atuar nomercado.A primeira visão a preponderar nasempresas foi a Administração Científicaque entendia as organizações comomáquinas eficientes de produção. Apartir dos anos 30 surge a PerspectivaHumanista que valorizava a relaçãohumana no ambiente de trabalho. Apósa 2ª Guerra Mundial, como resposta ànecessidade humana de reconstruçãoda economia global, a perspectiva daGestão como ciência assume um caráterpreponderante e começa a utilizara matemática, a estatística e outrastécnicas quantitativas. A partir dos anos50, a Abordagem Sistêmica começa aser difundida entre as organizações quepassam a se ver como componentes deum sistema no qual há interdependênciaentre elas e outros componentes dessesistema (como recursos naturais, humanose financeiros disponíveis no sistema).A partir dos anos 70, as empresascomeçam a incorporar conceitos deplanejamento estratégico em sua gestão,principalmente análise de fatoreschaveque podem impactar o negócio.O movimento da Gestão da Qualidade,surgido a partir dos anos 80, trouxe comocontribuição uma maior consciência danecessidade de qualidade em todos osprocessos organizacionais e as empresascomeçaram a utilizar modelos mais<strong>completo</strong>s, como o Ciclo PDCA (Plan, Do,
77Check e Action), método essencial dagestão da qualidade que ficou conhecidocomo Ciclo Deming da Qualidade. A partirda década de 90, os conceitos vinculadosàs Organizações que Aprendem (LearningOrganizations) trouxeram às empresasa proposta de aprendizado, renovação einovação contínua. Também na década de90, não obstante os estragos causados,a Reengenharia fortaleceu a percepçãode gestão da empresa por processos e anecessidade de questionar a existênciade alguns deles. No final dos anos 90, atecnologia da informação consolidousecomo vetor de transformaçãoorganizacional, gerando inclusive novosmodelos de negócios, como o B2C(Business-to-Consumer) e a venda deprodutos diretos ao consumidor, o B2B(Business-to-Business) e as transaçõesentre organizações e, finalmente, asrecentes ferramentas de C2C (Consumerto-Consumer)com os mercadoseletrônicos criados por intermediáriosbaseados na web.Tomando a gestão empresarial por essaperspectiva evolutiva e que responde àsalterações sociais, políticas e econômicas,a sustentabilidade empresarial tambémpode ser considerada como uma “onda”de gestão. Ela apresenta às empresas,como resposta às incríveis mudanças decontexto observadas nos últimos anos eque passam a exigir delas novas visõesde mundo, comportamentos, valores eestratégias, sem os quais dificilmentepoderão manter sua capacidadecompetitiva. Assim, da mesma forma quenão é possível para uma empresa sercompetitiva sem trabalhar por processos,aprender com seus erros, incorporara visão de qualidade em tudo o quefaz, perceber-se fazendo parte de umsistema, manter boas relações com seupúblico interno nem gerenciar bem suacadeia de fornecedores etc., tambémnão iremos conceber uma empresacompetitiva que não trabalhe de formasustentável. Com o passar do tempo, asempresas foram tendo que desenvolverhabilidades gerenciais para poderemmanter-se competitivas. A sustentabilidadeestá se tornando o novo atributo decompetitividade.A Teoria dos Dois Fatores, do psicólogoe professor de gestão norte-americanoFrederick Herzberg, ilustra bema idéia do que é ser competitivo.Hoje, sustentabilidade ainda é fatormotivacional. No entanto, no futuropróximo será fator higiênico: ou seja,ou a empresa trabalha com esse temaou, muito provavelmente, perderácompetitividade. Parodiando Paulo Freire,se a sustentabilidade sozinha não garanteo sucesso da empresa, sem ela tampoucoa empresa terá sucesso.Para o caso dos Fundos de Pensão, comopode-se perceber ao longo deste <strong>relatório</strong>,o tema Sustentabilidade, como atributoda gestão organizacional e como fatorde competitividade — e, portanto, delucratividade —, tem levado as entidadesa observarem com cuidado esse aspectonas empresas nas quais investem oudesejam investir. Isso porque os Fundos dePensão têm se conscientizado de formatão consistente que seus investimentospodem ser seriamente impactados porformas de gestão não sustentáveis, oque se exemplifica claramente por algunscasos empresariais que nos indicamque práticas equivocadas na gestãodos aspectos sociais e ambientais dosnegócios podem prejudicar os resultadosoperacionais, como ocorreu com orecente incidente envolvendo a BP (BritishPetroleum), em águas caribenhas.Os Fundos de Pensão no Brasil não estão,portanto, alheios a essa discussão e,conforme se pode verificar nos dadosapresentados neste <strong>relatório</strong>, têmpaulatinamente incorporado o tema, pormeio de diferentes práticas. No entanto, otema vem se somar à função principal dosFundos de Pensão, que é administrar comprofissionalismo os recursos colocadossob sua responsabilidade, obtendo osmelhores resultados dos investimentosque gerenciam. Fruto de exigênciaslegais relacionadas às responsabilidadesfiduciárias dos gestores de Fundos dePensão, a preocupação pela segurançado capital de milhões de trabalhadoresbrasileiros encontrou na sustentabilidadeum forte aliado, na medida em queela permite diminuir os riscos deinvestimentos e, portanto, contribuir pararesultados de longo prazo.Essa percepção tem sido construída aolongo de um percurso de alguns anos,desde as primeiras ações em 2003(como a criação dos Princípios para oInvestimento Responsável Abrapp/Ethos eo apoio ao ISE - Índice de SustentabilidadeEmpresarial da Bovespa) até este anode 2010, quando lançamos a terceiraedição do Relatório Social dos Fundos dePensão e quando realizamos um eventoespecífico sobre o tema para o setor (emsetembro, no Rio de Janeiro). Terminada