10439Os Diários <strong>de</strong> AulasOs Diários <strong>de</strong> Aulas representam mais uma das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelos alu<strong>no</strong>sdo Curso <strong>de</strong> Licenciatura <strong>em</strong> Ciências Biológicas durante a realização do EstágioSupervisionado. E se apresenta como um meio dos alu<strong>no</strong>s-estagiários registrar<strong>em</strong> suasexperiências com a vivência diária do <strong>estágio</strong>, e refletir sobre elas, constituindo-se <strong>em</strong> uminstrumento que preten<strong>de</strong> oportunizar o registro e a análise constante <strong>de</strong> seu próprioaprendizado. Como o <strong>no</strong>me diz, trata-se <strong>de</strong> um diário, a ser preenchido ao longo do trabalhodo s<strong>em</strong>estre, com riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes que caracterizam cada um dos momentos vividos, istoinclui: datas, locais, ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>scobertas, dúvidas, idéias <strong>no</strong>vas que tenham lhe ocorrido esuas reflexões.O diários <strong>de</strong> aulas ao constituír<strong>em</strong> um conjunto <strong>de</strong> narrações que reflet<strong>em</strong> asperspectivas do professor, nas dimensões objetiva e subjetiva, sobre os processos maissignificativos da sua ação, possibilita uma perspectiva diacrônica das situações vividas peloprofessor e, portanto, da sua evolução e <strong>de</strong>senvolvimento profissional num <strong>de</strong>terminadoperíodo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po (ZABALZA, 2004). Além disso, o diário <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado umadas estratégias com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contribuir significativamente para a formação <strong>de</strong>professores, na medida <strong>em</strong> que ao associar a escrita a ativida<strong>de</strong> reflexiva, permite ao professoruma observação mais profunda dos acontecimentos da prática.A construção dos diários <strong>de</strong> aula se processa <strong>de</strong> maneira individual, <strong>de</strong>vendo cada umdos alu<strong>no</strong>s-estagiários efetuar o registro <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> fatos, práticas, experiências vivenciadas,condições estruturais e pedagógicas, relações interpessoais, e todos os <strong>de</strong>mais el<strong>em</strong>entos quepermeiam o contexto escolar <strong>em</strong> que os estagiários se encontram inseridos. A cada um dosaspectos apresentados <strong>de</strong>ve-se associar uma reflexão, que <strong>de</strong>verá inclusive estar ancorada auma referência bibliográfica que possa lhe dar suporte.Os diários elaborados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser discutidos <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, na faculda<strong>de</strong>, com oprofessor-supervisor do <strong>estágio</strong>, e <strong>em</strong> algumas situações socializados com a turma para <strong>de</strong>batee reflexões. Esses momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate têm se mostrado bastante frutíferos na medida <strong>em</strong> quepromov<strong>em</strong> um intercâmbio <strong>de</strong> experiências capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar pontos <strong>em</strong> comum, quepermit<strong>em</strong> que os sujeitos <strong>de</strong>sconstruam impressões <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> da situação vivenciada,passando a encará-las com maior naturalida<strong>de</strong>, e conseqüent<strong>em</strong>ente, aumentando a segurançapara seu enfrentamento. Percebe-se, também, que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e reflexão <strong>em</strong> grupopropicia um avanço <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> reflexão dos diários elaborados subseqüentes.
10440É nessa perspectiva que a equipe <strong>de</strong> professores do Estágio Supervisionado v<strong>em</strong>trabalhando junto aos alu<strong>no</strong>s-estagiários a proposta <strong>de</strong> elaboração dos diários, por entendê-loscomo estratégia capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o processo a que Schon (1995) <strong>de</strong>sig<strong>no</strong>u como"reflexão sobre a reflexão na ação", que seria o olhar retrospectivamente para a ação e refletirsobre o momento da reflexão na ação: o que aconteceu, o que o professor observou, quesignificados atribuiu e que outros significados po<strong>de</strong> atribuir ao que aconteceu.Alguns alu<strong>no</strong>s têm apresentado dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> construir diários que express<strong>em</strong> essenível <strong>de</strong> reflexão, mas o que se po<strong>de</strong> perceber é que com o avanço dos períodos, e aconseqüente vivência <strong>de</strong>ssa prática, ocorre um amadurecimento <strong>de</strong>sses profissionais <strong>em</strong>formação, como po<strong>de</strong>mos observar ao analisar os diários <strong>de</strong> um mesmo estagiário <strong>em</strong>diferentes momentos do <strong>estágio</strong>, conforme ilustra os trechos extraídos dos diários da alunaestagiáriaN:A professora (J) utiliza basicamente o quadro e o livro-texto. O livro-texto ébasicamente a única fonte <strong>de</strong> informação utilizada; trechos são selecionados ecopiados <strong>no</strong> quadro; a explicação utiliza as próprias palavras do livro. A aula épuramente expositiva e com poucas interações. (Estagiária N, Estágio I, 5o.período) Não é que o ensi<strong>no</strong> tradicional não tenha seu valor e suas vantagens; oprobl<strong>em</strong>a é ele ser o único utilizado. Qualquer método, por mais inusitado epromissor que seja, apresenta falhas se for o único apresentado aos alu<strong>no</strong>s. Variar éimportante para manter o interesse não só dos discentes, mas dos próprios docentes,que repet<strong>em</strong> a mesma rotina por décadas. (Estagiária N, Estágio IV, 8o. período)O que se po<strong>de</strong> perceber <strong>no</strong>s trechos apresentados é uma evolução na abordag<strong>em</strong> daaluna-estagiária ao discutir questões relativas às metodologias adotadas <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, umavez que <strong>no</strong> fragmento do Diário do Estágio I (5o. período) a mesma restringe-se a <strong>de</strong>screveras aulas observadas, enquanto que <strong>no</strong>s escritos referentes ao Estágio IV (8o. período) épossível i<strong>de</strong>ntificar uma ação mais reflexiva, <strong>no</strong> momento <strong>em</strong> que questiona o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>uma única metodologia e infere sobre suas conseqüências na ação docente.Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado na análise dos diários diz respeito as reflexões feitaspelos estagiários acerca da sua futura atuação profissional, como po<strong>de</strong> ser observado <strong>no</strong>sfragmentos que segu<strong>em</strong>: