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VI. As artes e as confluências interculturais ou, destarte, a diferença ...

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Carlos H. do C. SilvaCom a crise da cultura moderna, fragmentação da razão clássica, alternativade concepções universalist<strong>as</strong>, seja nos novos paradigm<strong>as</strong> da ciência, seja nore ferido pluralismo multi-cultural, impõe-se ao universo d<strong>as</strong> <strong>artes</strong> uma revolução«cósmica» d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> condut<strong>as</strong>, da sua «função» e até finalidade 43 . Curiosamente,não vem tanto de dentro dos quadros estéticos, m<strong>as</strong> da dinâmic<strong>as</strong>ocial e d<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> que, ora divulgam e fazem do consumo recente d<strong>as</strong><strong>artes</strong> um fenómeno com nov<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> 44 , ora permitem não apen<strong>as</strong> a«re produção técnica» do objecto artístico, m<strong>as</strong> ainda uma nova gramáticama terial do seu uso 45 .E, dada certa uniformização de atitudes e estilos, inclusive pela globalizaçãotécnica mais aparente, muit<strong>as</strong> vezes se pensa que o baluarte cultural de identidadeprópria <strong>ou</strong> da «comunidade de destino» a que se pertence está no conjuntodos valores, não se entendendo que a axiologia em si mesma já éexpressão da subjectividade que «absolutiza» o valor <strong>as</strong>sim comparável na crisede uma <strong>ou</strong>tra compreensão metafísica do ser no mundo na sua mesma diferenciaçãoontológica 46 . Quer isto dizer que a moralização e, depois, a leiturado religioso em termos de reserva de valores aparentemente específicos <strong>ou</strong>idiossincrásicos corresponde já a um inevitável traço de pensamento globalizante,incapaz de se dar conta da relatividade e do estilo diverso do estardessa identidade, a qual há-de demandar, pelo contrário, uma definição estéticae até poiética, mais do que ética <strong>ou</strong> idealista 47 .Como se poderia meditar, a partir d<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> de José Gil, a propósito daex periência estética, o próprio sujeito se desidentifica numa <strong>ou</strong>tra plurímodacompreensão de si:«Este “experimentar” engloba um “experienciar” e uma “experimentação” para alémda consciência: é este o campo de uma possível “metafenomenologia”. Ora, a chaveque dá acesso a este novo campo é uma semiótica d<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> percepções (…). Oque é então a percepção da obra de arte? Nem um misto de prazer e de cogni ção, nemum acto que visa um fenómeno particular, visível, e cuja descrição de ve rá recorrernecessariamente a conceitos clássicos da teoria do conhecimento; m<strong>as</strong> um tipo de“experiência” que se caracteriza, precisamente, pela dissolução da percep ção (tal comoé tradicionalmente descrita). O espectador vê, primeiro, como es pectador (<strong>ou</strong> su jeitopercepcionante) para, depois, entrar num <strong>ou</strong>tro tipo de conexão (que não é uma“comunicação”) com o que vê, e que o faz “participar” de um certo modo na obra» 48 .Saliente-se que esta participação na poíesis da obra, que se pode supor plural,não se toma em termos do já comum e, por tal, comunicável, m<strong>as</strong> supõe um195

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