11.07.2015 Views

VI. As artes e as confluências interculturais ou, destarte, a diferença ...

VI. As artes e as confluências interculturais ou, destarte, a diferença ...

VI. As artes e as confluências interculturais ou, destarte, a diferença ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Carlos H. do C. Silva60Cf. Almada NEGREIROS, in Ver, ed. cit., p. 78. Note-se o contr<strong>as</strong>te com a perspectiva deFernando Pessoa, no que respeita à literatura, vide infra, n. 164.61Na perspectiva da interculturalidade estética pode pôr-se em causa tal análise, já que a b<strong>as</strong>epulsional de dada identidade cultural, bem <strong>as</strong>sim dos respectivos traum<strong>as</strong> e complexos defundo, mudarão de acordo com <strong>ou</strong>tr<strong>as</strong> escal<strong>as</strong> e referênci<strong>as</strong> de diferentes cultur<strong>as</strong>. Foi <strong>as</strong>simque a economia do diagnóstico do «complexo de Édipo» colheu no mundo clássico e na tradição bíblica mosaica, m<strong>as</strong> deixa de ter significado pertinente na mundividência hindu <strong>ou</strong>chinesa… É o registo antropocêntrico desta psicanálise cultural que se modifica, quer naamplificação junguiana de arquétipos de um subconsciente colectivo, suporte de divers<strong>as</strong>trans formações simbólic<strong>as</strong> mais abrangentes (até em termos de imaginário comparado,também de confronto de manifestações estétic<strong>as</strong>…), quer na superação por uma psicologiado transpessoal e que <strong>ou</strong>sa a mutação de escala psíquica do humano vulgar. Cf. JacquesRANCIÈRE, L’inconscient esthétique, Paris, Galilée, 2001, pp. 25ss.62Está <strong>as</strong>sim situado o âmbito, naturalmente abrangente e de fundo técnico, que determina<strong>as</strong> diversidades depois dit<strong>as</strong> «culturais». A invenção da roda, num c<strong>as</strong>o longevo, <strong>ou</strong> a arte dena vegar contra o vento e por orientação <strong>as</strong>tronómica, tal se desenvolveu no período dosDescobrimentos, a imprensa e su<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> para a inteligentzia moderna, <strong>ou</strong>, hoje, ocomputador pessoal, o multimedia, determinam <strong>as</strong> coordenad<strong>as</strong> espacio-temporais, a própriaestrutura d<strong>as</strong> gramátic<strong>as</strong> culturais <strong>as</strong>sim surgid<strong>as</strong>.63Cf. supra, n. 54. Esta caracterização do plano intercultural pode <strong>as</strong>sim equivaler ao confronto entre mundos e, em miniatura, mesmo a um choque de tipo civilizacional. Cf. tam -bém Victor SEGALEN, Essai sur l’éxotique, Paris, Livre de Poche, 1999, pp. 30ss., quandochama a atenção, complementarmente, para o «prazer» no <strong>as</strong>sim diverso.64Cf. Mikel DUFRENNE, Phénoménologie de l’expérience esthétique, ed. cit., t. I: L’objet esthétique,pp. 11ss., também Martin HEIDEGGER, Der Ursprung der Kunstwerk, in Holzwege, ed.cit., pp. 21ss., e tenha-se presente, entre nós, o sentido da aura estética da obra, tal como re -flectida por Afonso BOTELHO, «A Luz em Ecce Homo», in Ensaios de Estética Portuguesa. EcceHomo/Painéis/Tomar, Lisboa, Verbo, 1989, pp. 27ss.; vide p. 28: «O que se esquece com frequênci<strong>as</strong>ão <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> de qualidade da luz que participa na criação de uma obra plástica. Talcomo acontece com a carência do modelo vivo, também neste c<strong>as</strong>o se induz a existência única daluz física, com a qual o pintor viu, imagin<strong>ou</strong> e pint<strong>ou</strong> a sua obra. Esta é a luz dos sentidos, quesupostamente condiciona <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> conhecid<strong>as</strong> como natura list<strong>as</strong> e que se ambiciona reproduzir semalteração. (…)». M<strong>as</strong>, além desta perspectiva que di ríamos objectivante, <strong>ou</strong> «instrumental», daobra, o nosso esteta distingue <strong>ou</strong>tr<strong>as</strong> qualidades de luz, da tal aura da obra: «Outra é a luzsubjectiva do artista, por essência imperativa e alterante. Outra ainda virá do sobrenatural, visível<strong>ou</strong> invisivelmente, isto é, oculta na crença do pintor <strong>ou</strong> apen<strong>as</strong> manifestada na composição.»Esta «gradação» poder-se-ia aplicar em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>ou</strong>tr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> artístic<strong>as</strong>.65A lembrar o que Henri BERGSON, em Les deux s<strong>ou</strong>rces de la morale et de la religion (1932),éd. du Centenaire, Paris, PUF, 1963 2 , p. 1245: «…jusque sur notre planète réfractaire, la fonctionessentielle de l’univers, qui est une machine à faire des dieux» – deix<strong>ou</strong>, <strong>as</strong>sim, dito acerca domesmo mundo como «máquina de fazer deuses»… e o que, a partir de <strong>ou</strong>tra perspectiva, complementarmente diria G<strong>as</strong>ton BACHELARD, Poétique de l’espace, Paris, PUF, 1967 5 , pp. 23ss.,e vide ID., La poétique de la rêverie, Paris, PUF, 1968, pp. 12ss., quanto à natureza poética da261

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!