presença de gases e presença deradiomodificadores. características biológicas:toxicidade, antigenicidade e conteúdoenzimático.Alexander & Hamilton, 1960, mostraramque a irradiação de proteínas promovedanos na cadeia lateral dos aminoácidos,aparecimento de novos grupos, quebras deligações peptídicas e formação de ligaçõesinter e intramoleculares.Considerando-se que os venenos sãoricos em proteínas, vislumbrou-se a possibilidadede submetê-los aos efeitos daradiação ionizante, na tentativa de sanarum dos nossos problemas de saúde públicaque é o acidente ofídico.Assim, para aumentar a vida útil dosanimais utilizados na soroprodução e melhorara produção de antivenenos paratornar o tratamento hoje apenas disponívelpara uso humano acessível também aosanimais domésticos, têm sido feitos estudosenvolvendo a irradiação de venenoscom o objetivo de destoxicá-los.A Supervisão de Radiobiologia doIPEN vem, desde o início da década de 80,estudando os dois principais gêneros envolvidosnos acidentes ofídicos: o gêneroBothrops, devido a sua alta incidência, e ogênero Crotalus, devido a sua alta letalidade.Murata et al., 1990, irradiando o venenoda Crotalus durissus terrificus, a cascavelbrasileira, com diversas doses de radiação,mostrou que a dose de 2.000Gy eraa adequada no sentido de combinar diminuiçãode toxicidade com manutençãodas propriedades imunológicas, quandotestadas em camundongos, coelhos e cavalos.Ainda nesta linha de pesquisa,Guarnieri, em 1992, usou os raios gamapara destoxicar o veneno de B.jararaca, e,à semelhança do que foi encontrado paraanticorpos quando injetados em animais.Cabe ressaltar, ainda, que os anticorposformados contra estes agregados são capazesde neutralizar tanto os efeitos dacrotoxina isolada quanto aqueles promovidospelo veneno total de cascavel.Estes achados apontam a radiaçãoionizante como uma excelente ferramentaa ser empregada na destoxicação de venenos,por ser uma metodologia capaz demodificar um componente sem acrescentarqualquer substância ao mesmo, comoocorre com a maioria das metodologiasque vêm sendo empregadas com o intuitode atenuar a toxicidade de venenos, como,por exemplo, adição de glutaraldeído,26 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimentocascavel, a dose de 2.000Gy foi a idealpara destoxicar este veneno com manutençãode suas propriedades imunológicas,conforme mostraram os experimentosbioquímicos, biológicos e imunológicos.Recentemente, Nascimento et al., estudandoa crotoxina, principal toxina doveneno de cascavel, tanto pela prevalênciaquanto pela toxicidade, mostrou que airradiação desta toxina isolada resultou naformação de agregados de alto pesomolecular, assim como produtos de baixopeso molecular em função das quebraspromovidas pela radiação.Após estudos específicos sobre estesagregados, comprovou-se que eles são osresponsáveis pela diminuição da toxicidadeda crotoxina, que após a irradiação semostrou duas vezes menos tóxica que atoxina não-irradiada (nativa). Além domais, por apresentarem alto pesomolecular, estes agregados têm sido utilizadospara imunização de animais, sem,entretanto, acrescentar-se qualqueradjuvante à mistura a ser inoculada. Isto éuma grande vantagem, pois sabe-se queos adjuvantes até hoje utilizados são altamentetóxicos aos animais (Bennett et al.,1992).Estes produtos de alto peso molecular,quando isolados por métodos bioquímicos,se mostraram totalmente atóxicos, e o queé melhor, capazes de induzir formação deinibidores de centro ativo etc.Por outro lado, a radiação ionizanteainda apresenta uma outra vantagem queé a possibilidade de ter seus efeitos moduladosatravés da utilização de scavengers,conforme mostrado por Andriani em 1995.Estes produtos, conforme descritos anteriormente,têm a capacidade de interagircom as espécies reativas formadas duranteo processo de irradiação, impedindo-asde reagir com a amostra que está sendoirradiada.Exemplificando, de acordo com osachados da autora supracitada, a espéciereativa elétron aquoso não alterou a atividadeenzimática da toxina estudada(crotoxina), porém causou modificaçõesestruturais na proteína irradiada; enquantoque o radical hidroxila alterou a atividadeenzimática, mantendo, entretanto, a estruturaprotéica intacta. Nenhuma das espéciesreativas, neste experimento, estavamenvolvidas com a atividade tóxica do veneno.Estas informações reforçam a possibilidadede um controle dirigido do efeitoda radiação, por meio do uso de scavengerse estimulam ainda mais o uso da radiaçãoionizante para destoxicar venenos que,uma vez desprovidos de toxicidade, poderiaminclusive ser usados em um esquemade vacinação dos animais expostos aosriscos de acidentes ofídicos.A biomédica Nanci do Nascimento inoculando um camundongo com veneno decascave'irradiado, para testar a atividade tóxica do veneno.
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