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Revista Biotecnologia

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uma vacina que poderia, através da imunizaçãopreventiva, impedir que as pessoasse infectassem durante o contato comáguas poluídas, seja para o trabalho diário,lazer, manobras militares etc.Embora consideremos que o caminhomais adequado seja o do saneamentobásico associado ao tratamento específicopara o controle da esquistossomose, fomos(e somos) obrigados a reconhecer a dificuldadepolítica e econômica no momento douso destas medidas nos países subdesenvolvidos,e assim sendo, a vacina seria umaalternativa como instrumento complementarde controle.Recordo-me quando há quase 20 anos,em visita ao laboratório da dra. MíriamTendler no Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz),no Rio de Janeiro, a mesma ofereceu-meum coelho que, segundo ela, estava "quente",isto é, estava produzindo uma grandequantidade de anticorpos, pois havia sidoinoculado com antígenos de vermes adultosde S.mansoni. Como o animal iria sersacrificado, pois já havia sido sangradovárias vezes para obtenção de anti-soroque ela estava utlizando para conhecer osantígenos existentes nos vermes, sugeri quefosse inoculado com cercárias, a fim deverificar se estava "vacinado". Qual não foinossa agradável surpresa quando, 60 diasapós a infecção experimental, nenhumverme foi recuperado. Este foi o início deuma longa jornada, de muitos trabalhospublicados, de duas teses que a dra. Tendlerdefendeu sob minha orientação, de centenasde experiências, de marchas e contramarchas,até chegarmos ao pedido depatente feito em 1995 de um antígenorecombinante, denominado Sm 14: Sm deSchistosoma mansoni e 14 representando opeso molecular aproximado emquilodaltons.Os primeiros trabalhos (início da décadade 80) foram feitos com os antígenosdenominados SE que eram obtidos colocandoos vermes adultos em uma soluçãosalina tamponada por dez dias. Apóscentrifugação, o SE foi administrado, emtrês doses, associado ao antígeno completode Freund (ACF) e induziu uma proteçãoacima de 90% em coelhos e em torno de50% em camundongos albinos suíços. Ofracionamento do SE em cromotografia emcoluna de Sephadex G-100 permitiu oisolamento de uma fração F1, que associadoao ACF também apresentou altopercentual de proteção em coelhos, semelhanteao obtido com SE. Através da técnicade "western blot", soros de coelhos imunizadoscom F1 reconheceram várias fraçõesantigênicas de pesos moleculares entre 60e 116kda (Tendler e cols., 1982). Algunsanos mais tarde, Míriam Tendler vai aosEstados Unidos da América fazer um cursode imunologia, organizado pelo dr. AlanSher, importante pesquisador no campo daesquistossomose, que também descreveuum antígeno protetor, a paramiosina (Sm97). Neste curso, havia como exercício emuma das aulas práticas fazer clonagem deantígenos. Junto com a dra. Mo Klinkert,Míriam fez várias clonagens, sendo queuma foi posteriormente seqüenciada e descritacomo Sm 14 (Moser et al., 1991). Tratasede uma proteína da família FABP ("fattyacid-binding protein") que parece ser comumem invertebrados.Com a chegada do dr. Andrew Simpson,vindo da Inglaterra para trabalhar no Centrode Pesquisas René Rachou - Fiocruz,tornou-se possível a expressão do Sm 14.As muitas experiências feitas com diferenteslinhagens de camundongos mostraramque a rSM 14 (Sm 14 recombinante)apresentava taxa de proteção à infecçãodesafiante em torno de 50-60% (figura 3).Em 1992, Hillyer e colaboradores, pesquisadoresradicados em Porto Rico,demostraram que uma fração antigênica debaixo peso molecular (Fh 15) isolada daFasciola hepatica apresentava proteçãocontra as infecções por S.mansoni ouF.hepatica (Rodrigues e cols., 1992)A fasciolose é uma das mais importantesdoenças parasitárias de ruminantesdomésticos, causando perdas econômicasseveras em dezenas de países em todo omundo, devido à mortalidade e redução naprodução de carne e de leite. O homemapenas ocasionalmente é infectado.Dado o grau de homologia entre a Sm14 e a Fh 15 (± 44%), a sugestão lógica foiensaiar a imunização com o rSm 14 nainfecção experimental de F.hepatica emcamundongos. Os resultados repetidamentemostraram proteção total. De fato, emnenhum dos camundongos imunizadoscom rSm 14 as metacercárias de F.hepaticadesenvolveram-se até vermes adultos, enão houve alteração no fígado dos animaisvacinados, ao contrário do encontrado nogrupo de camundongos-controle (não-imunizados),cuja infecção produziu intensodesarranjo na estrutura hepática.Em 1994, foram iniciados processosvisando a patentear este antígeno promissor.Com o apoio do dr. Carlos Morel, entãopresidente da Fiocruz, e sob a coordenaçãotécnica de Maria Celeste Emerick, daGestão Tecnológica da Fiocruz, foram encaminhadosao INPI no Brasil e a mais dezpaíses os pedidos de patente. As patentes jáforam concedidas na Nova Zelândia,Espanha e Itália. Como "efeito colateral", eapós mais de dez anos de discussão,conseguimos também um Ato da Presidênciada Fiocruz que prevê para os inventoresde produtos patenteados participação noslucros auferidos pela instituição. Este deveráser um grande incentivo para que ospesquisadores despertem para a importânciade terem patenteadas suas descobertas.Mais recentemente, um grupo de pesquisadoresde Montevidéu, liderado pelodr. Alberto Nieto, descreveu outro antígenode peso molecular semelhante, comhomologia ao Sm 14, no helmintoEchinococus granulosus, importante causadorda hidatidose, doença que acometeovinos, bovinos, porcinos e também ohomem.Ensaios serão realizados na Austráliaem ovinos e em gado infectados experimentalmentecom F.hepatica. Caso os resultadossejam semelhantes àqueles obtidosem camundongos, será confirmada adisponibilidade de uma vacina de grandeimportância sanitária e econômica.Como prosseguimento, estudos deverãoser realizados em voluntários humanose posteriormente em zonas endêmicas deesquistossomose.Os ensaios experimentais até agora realizadosevidenciam que o Sm 14 éimunogênico e capaz de estimular a imunidadeprotetora contra a infecção peloS.mansoni e F.hepatica. Seria interessantedeterminar se o Sm 14 também protegeriacontra outras espécies de Schistosoma(japonicum, haematobium, bovis). De fato,a possibilidade de uma vacina que tenhamúltipla atividade contra helmintos, e quepossa ser utilizada na veterinária e nohomem, apresenta-se como importanteprogresso na imunoprofilaxia.<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 35

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