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Volume 4 - Portal do Professor - Ministério da Educação

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Sumário33Introdução05 Lições <strong>do</strong> Rio Grande: ReferencialCurricular para as escolas estaduais11 Referenciais Curriculares <strong>da</strong> EducaçãoBásica para o Século 2125 Por que competências e habili<strong>da</strong>des naeducação básica?29 A gestão <strong>da</strong> escola comprometi<strong>da</strong> com aaprendizagem39 Referencial <strong>da</strong> Área de Ciências <strong>da</strong>Natureza: Ciências, Biologia, Física eQuímica43 Integração entre as ÁreasCiências49 Por que ensinar e aprender Ciências?52 Competências gerais <strong>da</strong> área de Ciências<strong>da</strong> Natureza55 Eixos temáticos de Ciências: ensinofun<strong>da</strong>mental60 ReferênciasFísica85 Por que ensinar e aprender Física?86 Como ensinar Física?90 Temas estruturantes91 Conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentais95 Estratégias para ação102 A origem <strong>do</strong> universo - Anexo105 ReferênciasQuímica109 Por que ensinar e aprender Química?109 A leitura e a produção de textos emQuímica110 A resolução de problemas em Química112 Temas estrutura<strong>do</strong>res113 Conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentais relaciona<strong>do</strong>saos temas e conceitos estruturantes118 Estratégias para ação121 ReferênciasBiologia65 Por que ensinar e aprender Biologia?65 Escola: lugar de encontro68 Competências gerais <strong>da</strong> área de Ciências<strong>da</strong> Natureza e seus des<strong>do</strong>bramentos parao ensino e a aprendizagem <strong>da</strong> Biologia noensino médio69 Habili<strong>da</strong>des específicas e conceitosestruturantes para a aprendizagem deBiologia no ensino médio70 Conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Biologia e sua seleção noensino médio71 Temas Estruturantes e sua organizaçãono ensino de Biologia81 ReferênciasReferencial Curricular 4.indd 3 25/8/2009 11:10:15


44Referencial Curricular 4.indd 4 25/8/2009 11:10:15


Lições <strong>do</strong> Rio GrandeReferencial Curricular para as escolas estaduaisMariza AbreuSecretária de Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Educação55No Brasil e no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, hojeo principal desafio é melhorar a quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> educação de nossos alunos. E isso é difícil.Até algum tempo atrás, precisávamosaumentar o numero de vagas. O desafio eraexpandir o acesso à educação escolar. Issoera mais fácil, pois se tratava de construiruma escola, inaugurá-la e aumentar o númerode matrículas.Hoje, o acesso à escola está, em grandeparte, resolvi<strong>do</strong> ou relativamente encaminha<strong>do</strong>em to<strong>do</strong> o País e aqui no Esta<strong>do</strong>, especialmenteno ensino fun<strong>da</strong>mental e médio. Ain<strong>da</strong>é problema na educação infantil, responsabili<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s Municípios, e é também problemana educação profissional, responsabili<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s. Mas no ensino fun<strong>da</strong>mental noRS, é de 98% a taxa de escolarização <strong>da</strong>scrianças nas escolas estaduais, municipaisou particulares. E 77% <strong>do</strong>s jovens de 15 a 17anos estão matricula<strong>do</strong>s no sistema de ensino.É um percentual ain<strong>da</strong> pequeno quan<strong>do</strong>compara<strong>do</strong> com a meta de escolarizar nomínimo 98% também <strong>da</strong> população nessafaixa etária. E muitos desses jovens ain<strong>da</strong> estãoatrasa<strong>do</strong>s, cursan<strong>do</strong> o ensino fun<strong>da</strong>mental.Entretanto, soma<strong>da</strong>s as vagas nas escolaspúblicas e particulares <strong>do</strong> ensino médio, hávaga para to<strong>do</strong>s os jovens de 15 a 17 anosresidentes no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.É ver<strong>da</strong>de que existe problema na distribuiçãogeográfica dessas vagas. Às vezesfaltam vagas em alguns lugares e há excessonoutros, principalmente nas ci<strong>da</strong>des grandese mais populosas, naquelas que recebempopulação de outras regiões ou de fora <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>. Às vezes, nas ci<strong>da</strong>des grandes, faltaem alguns bairros e sobra em outros. E noensino médio, há ain<strong>da</strong> o problema de inadequaçãoentre os turnos, com falta de vagasno diurno.Mas o grande desafio em to<strong>do</strong> o Brasil eno Rio Grande <strong>do</strong> Sul é a falta de quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> educação escolar ofereci<strong>da</strong> às nossascrianças e jovens. Colocamos muitos alunosna escola e os recursos públicos destina<strong>do</strong>sà escola pública não aumentaram na mesmaproporção e, em consequência, caiu a quali<strong>da</strong>de,as condições físicas <strong>da</strong>s escolas pioraram,baixou o valor <strong>do</strong>s salários <strong>do</strong>s professores,cresceram as taxas de reprovação erepetência e reduziu-se a aprendizagem.Melhorar a quali<strong>da</strong>de é muito mais difícil.Em primeiro lugar, ninguém tem a fórmulapronta, pois, para começar, já não étão simples conceituar, nos dias de hoje, oque é quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação. Depois, nãoé palpável, não se “pega com a mão”, comoescola construí<strong>da</strong> e número de alunos matricula<strong>do</strong>s.E depois, não é tão rápi<strong>do</strong>.Construir escola é possível de se fazer notempo de um governo e de capitalizar politicamente.Quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação é maislenta no tempo, mais devagar. E tem mais umproblema. De mo<strong>do</strong> legítimo, os governantesmovimentam-se atenden<strong>do</strong> a deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong>população. E educação de quali<strong>da</strong>de nãoé ain<strong>da</strong> uma deman<strong>da</strong> de to<strong>do</strong>s. Por isso,apesar <strong>do</strong>s discursos políticos e eleitorais, naprática a educação não tem si<strong>do</strong> priori<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s governos. Nas pesquisas de opinião, emgeral, segurança, saúde e às vezes tambémemprego aparecem antes <strong>da</strong> educação naspreocupações <strong>da</strong> população. Isso porque jáhá vaga para to<strong>do</strong>s, ou quase to<strong>do</strong>s na escolapública, e, por exemplo, tem meren<strong>da</strong>Referencial Curricular 4.indd 5 25/8/2009 11:10:15


66para as crianças. As maiores reclamações <strong>da</strong>população referem-se a problemas com otransporte escolar ou a falta de professores.Dificilmente alguém reclama que seu filhonão está aprenden<strong>do</strong>. Dificilmente os pais oua socie<strong>da</strong>de se mobilizam por falta de quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> educação.Por tu<strong>do</strong> isso é que se diz que, se queremoseducação de quali<strong>da</strong>de para to<strong>do</strong>s,precisamos de to<strong>do</strong>s pela educação de quali<strong>da</strong>de.E a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de só podeser resulta<strong>do</strong> de um conjunto de ações, <strong>do</strong>governo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Como exemplos, em nosso governo, encaminhamosuma solução para o problema<strong>do</strong> transporte escolar, por meio <strong>da</strong> aprovação,após longa e proveitosa negociaçãocom os prefeitos através <strong>da</strong> FAMURS, de umalei na Assembléia Legislativa crian<strong>do</strong> o Programade Transporte Escolar no RS. Juntocom as direções, a Secretaria de Educaçãoestá aperfeiçoan<strong>do</strong> o processo de matrícula,rematrícula e organização <strong>da</strong>s turmas<strong>da</strong>s escolas estaduais. A confirmação <strong>da</strong> rematrículapermite realizar um levantamento<strong>do</strong>s alunos que continuam frequentan<strong>do</strong> aescola, eliminan<strong>do</strong> os que deixam a escolapor aban<strong>do</strong>no ou são transferi<strong>do</strong>s e ain<strong>da</strong>constam na listagem de alunos. Ao mesmotempo, reaproxima os pais <strong>da</strong> escola, poisa relação <strong>da</strong> família com a escola é uma<strong>da</strong>s primeiras condições para que o alunoapren<strong>da</strong>. De 2007 para 2008, a organização<strong>da</strong>s turmas <strong>da</strong>s escolas em parceria comas CRE’s e a Secretaria foi realiza<strong>da</strong> de formaartesanal, em fichas de papel; de 2008 para2009, mais um passo – utilizamos o nossoINE, a Informática na Educação. E tambémestá sen<strong>do</strong> feita uma pesquisa sobre o perfilsocioeconômico <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des escolarespara promover política de equi<strong>da</strong>de emnossas escolas. A partir de agosto de 2008,aperfeiçoamos a autonomia financeira <strong>da</strong>sescolas, com atualização <strong>do</strong> número de alunosmatricula<strong>do</strong>s, pois até então eram ain<strong>da</strong>utiliza<strong>do</strong>s os <strong>da</strong><strong>do</strong>s de 2003, e aperfeiçoamosos critérios de repasse <strong>do</strong>s recursos. Aomesmo tempo, o valor mensal repassa<strong>do</strong> àsescolas aumentou de 4,2 milhões para 5,4milhões. Consideran<strong>do</strong>-se a redução <strong>da</strong> matrículana rede estadual, pelo decréscimo <strong>da</strong>população na i<strong>da</strong>de escolar e a expansão <strong>da</strong>matrícula nas redes municipais, o valor <strong>da</strong>autonomia financeira aumentou de R$ 3,99para R$ 4,18 por aluno.Em junho de 2008, foi lança<strong>do</strong> o ProgramaEstruturante Boa Escola para To<strong>do</strong>s, comcinco projetos: SAERS – Sistema de AvaliaçãoEducacional <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul; <strong>Professor</strong>Nota 10; Escola Legal; Sala de Aula Digitale Centros de Referência na Educação Profissional.Precisamos de escolas com boas condiçõesde funcionamento. Se muitas escolasestaduais encontram-se em condições adequa<strong>da</strong>s,isso se deve muito mais aos professorese às equipes de direção que conseguiramse mobilizar e mobilizar suas comuni<strong>da</strong>despara fazer o que o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,nesses quase 40 anos de crise fiscal, não foicapaz de fazer. Mas temos muitas escolas quenão conseguiram fazer isso, ou porque suasdireções não se mobilizaram o suficiente ouporque suas comuni<strong>da</strong>des não tinham condiçõesde assegurar os recursos necessáriospara fazer o que o governo não conseguiafazer. É difícil, em pouco tempo, recuperaro que o governo, em 30 ou 40 anos, nãofez. Estamos realizan<strong>do</strong> um esforço imensopara isso. Uma <strong>da</strong>s primeiras medi<strong>da</strong>s que ogoverno a<strong>do</strong>tou foi assegurar que o salárioeducaçãofosse to<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> nas despesasque podem ser realiza<strong>da</strong>s com esses recursos.Pela lei federal, o salário educação nãopode ser utiliza<strong>do</strong> na folha de pagamento<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res <strong>da</strong> educação ou outros quaisquer.Entretanto, o salário-educação saía <strong>da</strong>conta própria onde era deposita<strong>do</strong> pelo governofederal e, transferi<strong>do</strong> para o caixa único<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, não retornava às despesas emque pode ser aplica<strong>do</strong>.Para uma educação de quali<strong>da</strong>de é necessáriolevar às escolas a tecnologia <strong>da</strong> informação.É um processo complica<strong>do</strong> no Brasile em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, como tivemos oportuni<strong>da</strong>dede observar quan<strong>do</strong> acompanhamos oColégio Estadual Padre Colbachini, de NovaReferencial Curricular 4.indd 6 25/8/2009 11:10:15


Bassano, no Prêmio Educa<strong>do</strong>res Inova<strong>do</strong>res<strong>da</strong> Microsoft, etapa internacional em HongKong. Não adianta instalar laboratório de informáticanas escolas se, nas salas de aula,o ensino continuar a ser desenvolvi<strong>do</strong> apenascom quadro negro, giz e livro didático. E olaboratório for um espaço utiliza<strong>do</strong> uma ouduas vezes por semana para aprender informáticaou bater papo na internet, em geralcom o atendimento de um professor específico,enquanto os professores <strong>do</strong> currículocontinuam a não utilizar softwares educacionais.O laboratório de informática precisavir a funcionar como aquela antiga sala deáudio-visual, onde se tinha o retroprojetor oua televisão com o vídeo-cassete. Para utilizaresse espaço didático, os professores se agen<strong>da</strong>vampara <strong>da</strong>r aulas específicas <strong>da</strong>s suasdisciplinas. É preciso um servi<strong>do</strong>r de apoio,de multi-meios, que saiba operar o hardware,mas os professores precisam ser capacita<strong>do</strong>spara usarem a tecnologia <strong>da</strong> informação– os laboratórios com os microcomputa<strong>do</strong>rese os softwares educacionais – como recursosdidáticos em suas aulas. Em parceria com oMEC, nossa meta é instalar mais 500 laboratóriosnas escolas estaduais em 2009, comparte <strong>do</strong>s microcomputa<strong>do</strong>res compra<strong>do</strong>spela Secretaria e outros recebi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> MEC,através <strong>do</strong> PROINFO.O Sistema de Avaliação Educacional <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul é constituí<strong>do</strong> por duasações: o Projeto de Alfabetização de Criançasde Seis e Sete Anos e o Sistema de AvaliaçãoExterna <strong>da</strong> Aprendizagem. O Projeto de Alfabetizaçãofoi inicia<strong>do</strong> em 2007, pois o Brasilacabara de introduzir a matrícula obrigatóriaa partir <strong>do</strong>s 6 anos de i<strong>da</strong>de e de ampliara duração <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental para noveanos letivos, por meio de duas leis federaisrespectivamente de 2005 e 2006. O desafiopassou a ser o de alfabetizar as crianças apartir <strong>do</strong>s 6 anos no primeiro ano <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental. Nossa proposta é construir umamatriz de habili<strong>da</strong>des e competências <strong>da</strong> alfabetização,começan<strong>do</strong> com o processo dealfabetização aos 6 anos para completá-lono máximo no segun<strong>do</strong> ano, aos 7 anos. Oprojeto piloto foi estendi<strong>do</strong> em 2008 para ascrianças de 7 anos no segun<strong>do</strong> ano <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental e reinicia<strong>do</strong> com novas turmasde crianças de 6 anos no primeiro ano.Em 2009, o projeto deixou de ser piloto e foigeneraliza<strong>do</strong> na rede estadual, pois passou aser ofereci<strong>do</strong> a to<strong>da</strong>s as turmas com criançasde 6 anos no primeiro ano <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mentalneste ano. O Projeto de Alfabetização<strong>da</strong> Secretaria de Educação <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul a<strong>do</strong>tou três propostas pe<strong>da</strong>gógicas testa<strong>da</strong>se vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s em experiências anteriores:o GEEMPA que desenvolve uma propostapós-construtivista de alfabetização; o Alfa eBeto que se constitui num méto<strong>do</strong> fônico dealfabetização e o Instituto Ayrton Senna quetrabalha uma proposta de gerenciamento <strong>da</strong>aprendizagem, com base no méto<strong>do</strong> de alfabetizaçãojá utiliza<strong>do</strong> pela escola. O ProjetoPiloto, financia<strong>do</strong> em 2007 com recursos <strong>da</strong>iniciativa priva<strong>da</strong> e, em 2008 e 2009, comrecursos <strong>do</strong> MEC, foi desenvolvi<strong>do</strong> em turmasde escolas estaduais e municipais, distribuí<strong>da</strong>sem to<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong>. Para to<strong>da</strong> a redeestadual, em 2009 o Projeto é financia<strong>do</strong>com recursos próprios <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul.O SAERS – Sistema de Avaliação Externade Aprendizagem, inicia<strong>do</strong> em 2007 de formauniversal nas escolas estaduais, é complementarao sistema nacional de avaliação<strong>do</strong> rendimento escolar desenvolvi<strong>do</strong> peloMinistério <strong>da</strong> Educação. O governo federalaplica o SAEB – Sistema de Avaliação <strong>da</strong>Educação Básica – desde o início <strong>do</strong>s anos90, numa amostra de escolas públicas e priva<strong>da</strong>sde ensino fun<strong>da</strong>mental e médio e, desde2005, a Prova Brasil em to<strong>da</strong>s as escolaspúblicas de ensino fun<strong>da</strong>mental com mais de20 alunos nas séries avalia<strong>da</strong>s.A avaliação é realiza<strong>da</strong> para melhorar aquali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, para que os professorespossam, por meio <strong>da</strong> entrega <strong>do</strong>s boletinspe<strong>da</strong>gógicos às escolas, apropriar-se <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> avaliação e, com isso, melhoraro processo de ensino-aprendizagem.Mas o Projeto mais importante <strong>do</strong> ProgramaBoa Escola para To<strong>do</strong>s é o <strong>Professor</strong> Nota77Referencial Curricular 4.indd 7 25/8/2009 11:10:15


8810, pois não existe escola de quali<strong>da</strong>de semprofessor de quali<strong>da</strong>de, com boa formação,eleva<strong>da</strong> auto-estima e comprometi<strong>do</strong> com aaprendizagem de seus alunos. Para isso, énecessário uma formação continua<strong>da</strong> ofereci<strong>da</strong>pelo Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.Desde 2008 já foram realiza<strong>da</strong>s váriasações de formação continua<strong>da</strong> para os professores,como o Progestão, programa de formaçãocontinua<strong>da</strong> à distância para gestoresescolares, desenvolvi<strong>do</strong> pelo CONSED – ConselhoNacional de Secretários <strong>da</strong> Educação.Embora o governo estadual anterior tenhaadquiri<strong>do</strong> o material instrucional <strong>do</strong>Progestão, não implementou o programapara gestores <strong>da</strong>s escolas estaduais. Desde2000, o curso somente foi ofereci<strong>do</strong> em algunsMunicípios gaúchos para gestores municipais.Desenvolvemos o PDE Escola, juntocom o MEC, o Acelera Brasil, e uma sériede ações de capacitação para professoresde diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ensino, comoeducação indígena, especial, prisional, dejovens e adultos, etc. Chegamos a capacitarem 2008 mais de 16 mil <strong>do</strong>s nossos cercade 80 mil professores em ativi<strong>da</strong>de na redeestadual de ensino.E agora estamos entregan<strong>do</strong> para vocêsas Lições <strong>do</strong> Rio Grande. No Rio Grande <strong>do</strong>Sul, como no Brasil, o processo social e educacionaldesenvolve-se de maneira pendular.Nos anos 50/60 até os anos 70, tivemosum processo muito centraliza<strong>do</strong> no que serefere a currículos escolares. Os currículoseram elabora<strong>do</strong>s nas Secretarias de Educaçãoe repassa<strong>do</strong>s às escolas, para que elasos executassem. Aqui no Rio Grande <strong>do</strong>Sul, inclusive os exames finais eram feitosna própria Secretaria de Educação e eramenvia<strong>do</strong>s a to<strong>da</strong>s as escolas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, paraserem aplica<strong>do</strong>s. Eram elabora<strong>do</strong>s não paraavaliar o sistema, como o SAEB ou SAERS,mas para avaliar, aprovar ou reprovar osalunos. Os professores deviam desenvolveros currículos elabora<strong>do</strong>s pela Secretaria deforma a preparar seus alunos para fazeremas provas <strong>da</strong> SEC. Naquela época, a socie<strong>da</strong>deera muito mais simples, com menoshabitantes, e era menos diversifica<strong>da</strong>. A frequênciaà escola era muito menor: apenas36% <strong>da</strong> população de 7 a 14 anos estavamna escola em 1950, enquanto hoje são 97%no Brasil e 98% no Esta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> apenas36% <strong>da</strong> população na faixa etária apropria<strong>da</strong>frequentava a escola, basicamente só aclasse média estu<strong>da</strong>va e a escola era maispadroniza<strong>da</strong>, tanto no currículo quanto naforma de avaliação <strong>da</strong> aprendizagem.Atualmente, a socie<strong>da</strong>de brasileira é muitomais complexa e diversifica<strong>da</strong>, com maishabitantes, e o Brasil é uma <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>desmais desiguais <strong>do</strong> planeta. A escola é de to<strong>do</strong>s:to<strong>da</strong>s as classes sociais estão na escola,sen<strong>do</strong> impossível desenvolver um processoeducacional padroniza<strong>do</strong> como antigamente.Com a luta pela redemocratização <strong>do</strong> Paísnos anos 80, conquistou-se o importante conceitode autonomia <strong>da</strong> escola. Entretanto, nomovimento pendular <strong>da</strong> história, fomos parao outro extremo. Hoje, no País existem diretrizescurriculares nas normas <strong>do</strong>s Conselhosde Educação, tanto Nacional como Estadual,mas essas diretrizes são muito gerais nãoexistin<strong>do</strong>, assim, qualquer padrão curricular.A partir dessas normas, as escolas são totalmentelivres para fazerem os seus currículos,inclusive dificultan<strong>do</strong> o próprio processo deir e vir <strong>do</strong>s alunos entre as escolas, porquequan<strong>do</strong> um aluno se transfere, é diferente deescola para escola o que se ensina em umamesma série.O Brasil inteiro está fazen<strong>do</strong> um movimentode síntese entre esses <strong>do</strong>is extremos, entreaquilo que era totalmente centraliza<strong>do</strong> nasSecretarias, até os anos 70, e a extrema autonomia<strong>da</strong> escola, no que se refere a currículos.Estamos chegan<strong>do</strong> a uma posição intermediária,que é uma proposta de referencialcurricular para ca<strong>da</strong> rede de ensino, defini<strong>da</strong>pelas Secretarias: não é aquela centralizaçãoabsoluta, nem a absoluta descentralizaçãode hoje. Essa síntese é também um imperativo<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a partir, por exemplo, <strong>da</strong>smetas <strong>do</strong> Movimento To<strong>do</strong>s pela Educação.Esse Movimento, lança<strong>do</strong> em setembrode 2006, têm como objetivo construir umaReferencial Curricular 4.indd 8 25/8/2009 11:10:15


educação básica de quali<strong>da</strong>de para to<strong>do</strong>s osbrasileiros até 2022, a partir <strong>da</strong> premissa deque o País só vai ser efetivamente independentequan<strong>do</strong> atingir esse objetivo, o que,simbolicamente significa, até o ano <strong>do</strong> bicentenário<strong>da</strong> independência política <strong>do</strong> Brasil.Para isso, fixou cinco metas:• Meta 1 – to<strong>da</strong> criança e jovem de 4 a17 anos na escola• Meta 2 – to<strong>da</strong> criança plenamente alfabetiza<strong>da</strong>até os 8 anos• Meta 3 – to<strong>do</strong> aluno com aprendiza<strong>do</strong>adequa<strong>do</strong> à sua série• Meta 4 – to<strong>do</strong> jovem com ensino médioconcluí<strong>do</strong> até os 19 anos• Meta 5 – investimento em educaçãoamplia<strong>do</strong> e bem geri<strong>do</strong>Para cumprir a meta 3, a socie<strong>da</strong>de brasileiratem que definir o que é apropria<strong>do</strong> emtermos de aprendizagem, para ca<strong>da</strong> série <strong>do</strong>ensino fun<strong>da</strong>mental e <strong>do</strong> médio. Para isso, épreciso definir uma proposta de referencialcurricular. É o que estamos construin<strong>do</strong> paraa rede estadual de ensino <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul. Mas não se começa <strong>do</strong> zero e não sereinventa o que já existe, parte-se <strong>da</strong> experiência<strong>da</strong> própria rede estadual de ensinoe também <strong>da</strong>quilo que outros já fizeram,<strong>do</strong>s parâmetros curriculares nacionais e <strong>do</strong>que outros países já construíram. Estu<strong>da</strong>moso que <strong>do</strong>is países elaboraram: Argentina ePortugal, e o que outros Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil jáconstruíram, especialmente São Paulo e MinasGerais. Mas não se copia, se estu<strong>da</strong> e sefaz o que é apropria<strong>do</strong> para o Rio Grande <strong>do</strong>Sul. Constituímos uma comissão de 22 especialistas,forma<strong>da</strong> por professores de váriasinstituições de educação superior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>e professores <strong>da</strong> rede estadual de ensino,aposenta<strong>do</strong>s ou em ativi<strong>da</strong>de, titula<strong>do</strong>s nasvárias áreas <strong>do</strong> conhecimento.O ENCCEJA – Exame de Certificaçãode Competências <strong>da</strong> Educação de Jovense Adultos – aponta o caminho <strong>da</strong>s grandesáreas <strong>do</strong> conhecimento. O SAEB e a ProvaBrasil, assim como o nosso SAERS, avaliamLíngua Portuguesa (leitura e interpretaçãode textos) e Matemática (resolução de problemas),nas quatro áreas <strong>do</strong>s parâmetroscurriculares nacionais (números e operações,grandezas e medi<strong>da</strong>s, espaço e forma,tratamento <strong>da</strong> informação). Já o ENEM– Exame Nacional <strong>do</strong> Ensino Médio – é absolutamenteinterdisciplinar, com 63 questõesobjetivas e re<strong>da</strong>ção.As áreas <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> ENCCEJAtêm origem nas diretrizes curriculares parao ensino médio aprova<strong>da</strong>s pela Câmara deEducação Básica <strong>do</strong> Conselho Nacional deEducação em 1998, cuja relatora foi a professoraGuiomar Namo de Mello. Naqueles<strong>do</strong>cumentos – Parecer 15 e Resolução 3 –constavam três áreas, ca<strong>da</strong> uma delas comdetermina<strong>do</strong> número de habili<strong>da</strong>des e competênciascognitivas, a saber: Linguagens,seus códigos e tecnologias, incluin<strong>do</strong> línguaportuguesa e língua estrangeira moderna,com nove habili<strong>da</strong>des e competências;Ciências Exatas e <strong>da</strong> Natureza, seus códigose tecnologias, incluin<strong>do</strong> matemática, física,química e biologia, com <strong>do</strong>ze habili<strong>da</strong>des ecompetências, e a área <strong>da</strong>s Ciências Humanas,seus códigos e tecnologias, com novehabili<strong>da</strong>des e competências. Em consonânciacom a Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional, os currículos <strong>do</strong> ensino médiodeveriam também desenvolver, além dessasáreas, conteú<strong>do</strong>s de educação física e arte,sociologia e filosofia.Em 2002, ao organizar o ENCCEJA, oMEC primeiro separou matemática <strong>da</strong>s ciências<strong>da</strong> natureza, crian<strong>do</strong> quatro áreas <strong>do</strong>conhecimento, que passaram a corresponderàs quatro provas <strong>do</strong> exame de certificação<strong>da</strong> EJA; segun<strong>do</strong>, organizou as áreas de Matemáticae a de Ciências <strong>da</strong> Natureza tambémca<strong>da</strong> uma delas com nove habili<strong>da</strong>dese competências cognitivas; terceiro, no caso<strong>da</strong>s provas <strong>do</strong> ensino médio, incluiu os conteú<strong>do</strong>sde sociologia e filosofia, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>história e geografia, na área <strong>da</strong>s CiênciasHumanas; quarto, incluiu conteú<strong>do</strong>s de educaçãofísica e arte na prova de linguagens;e, por fim, cruzou as cinco competências básicas<strong>da</strong> inteligência humana – <strong>do</strong>minar linguagens,compreender fenômenos, enfren-99Referencial Curricular 4.indd 9 25/8/2009 11:10:15


10tar situações-problema, construir argumentaçõese elaborar propostas – que haviamorienta<strong>do</strong> a organização <strong>da</strong> prova <strong>do</strong> ENEM,com as nove habili<strong>da</strong>des e competências deca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s quatro áreas de conhecimentoe criou uma matriz de referência para oENCCEJA com quarenta e cinco habili<strong>da</strong>dese competências cognitivas a serem avalia<strong>da</strong>snas provas desse exame nacional. Uma observação:educação física e arte foram incluí<strong>da</strong>snuma prova escrita de certificação decompetências <strong>da</strong> EJA; nos novos concursos<strong>do</strong> magistério e na organização <strong>do</strong> currículo,devem ser trabalha<strong>da</strong>s como componentescurriculares específicos por pressuporemhabili<strong>da</strong>des específicas, além <strong>da</strong>s exclusivamentecognitivas.As áreas <strong>do</strong> conhecimento e a matriz dereferência <strong>do</strong> ENCCEJA são, hoje, o quese considera como a melhor alternativapara organização <strong>do</strong>s currículos escolares<strong>da</strong> educação básica, de forma a superar afragmentação e pulverização <strong>da</strong>s disciplinas.Nessa direção, o MEC está reorganizan<strong>do</strong> oENEM com a intencionali<strong>da</strong>de de orientar areorganização <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino médiobrasileiro, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> assim consequência àsdiretrizes curriculares de 1998. Nessa mesmadireção, encaminham-se os ReferenciaisCurriculares para a rede estadual de ensino<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Nessas quatro grandesáreas <strong>do</strong> conhecimento, com seus conteú<strong>do</strong>s,é que passaremos a trabalhar.A proposta de Referencial Curricular <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul contém as habili<strong>da</strong>des ecompetências cognitivas e o conjunto mínimode conteú<strong>do</strong>s que devem ser desenvolvi<strong>do</strong>sem ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s anos letivos <strong>do</strong>s quatroanos finais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e no ensinomédio. A partir desse Referencial, ca<strong>da</strong>escola organiza o seu currículo. A autonomiape<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola consiste na liber<strong>da</strong>dede escolher o méto<strong>do</strong> de ensino, em sua livreopção didático-meto<strong>do</strong>lógica, mas não nodireito de não ensinar, de não levar os alunosao desenvolvimento <strong>da</strong>quelas habili<strong>da</strong>des ecompetências cognitivas ou de não abor<strong>da</strong>raqueles conteú<strong>do</strong>s curriculares.Com o nosso Projeto de Alfabetização,fica mais fácil entender o que queremos dizer.Com o projeto piloto, nosso objetivo édesenvolver a matriz <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des e competênciascognitivas <strong>do</strong> processo de alfabetização,em leitura e escrita e em matemática,que deve ser desenvolvi<strong>da</strong> com as criançasde seis e sete anos de i<strong>da</strong>de no primeiro esegun<strong>do</strong> anos <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental denove anos de duração. Essa matriz é o nossocombina<strong>do</strong>: o que fazer com os alunos paraque apren<strong>da</strong>m aquilo que é apropria<strong>do</strong> parasua i<strong>da</strong>de. Ca<strong>da</strong> escola continua com sua liber<strong>da</strong>dede escolher o méto<strong>do</strong> de alfabetização.Mas seja qual for o a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, no final <strong>do</strong>ano letivo os alunos devem ter desenvolvi<strong>do</strong>aquelas habili<strong>da</strong>des e competências cognitivas.A escola não é livre para escolher nãoalfabetizar, para escolher não ensinar. A liber<strong>da</strong>de<strong>da</strong> escola, sua autonomia, consisteem escolher como ensinar.Somos uma escola pública. Temos compromissocom a socie<strong>da</strong>de, com a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Somos professores <strong>do</strong>s nossos alunos quesão os futuros ci<strong>da</strong>dãos e ci<strong>da</strong>dãs <strong>do</strong> nossoPaís. E estamos aqui para cumprir o nossocompromisso com eles. E nós, <strong>da</strong> Secretaria<strong>da</strong> Educação, estamos aqui para cumprir onosso compromisso com vocês, porque é naescola que se dá o ato pe<strong>da</strong>gógico, é na escolaque acontece a relação professor/aluno.É para trabalhar para vocês, professorase professores <strong>da</strong>s escolas estaduais <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul, que nós estamos aqui, naSecretaria de Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Educação.Bom trabalho!Julho de 2009.Referencial Curricular 4.indd 10 25/8/2009 11:10:16


Referenciais Curriculares <strong>da</strong>Educação Básica para o Século 21Guiomar Namo de Mello1111O objetivo principal de um currículo é mapear o vasto território <strong>do</strong>conhecimento, recobrin<strong>do</strong>-o por meio de disciplinas, e articular asmesmas de tal mo<strong>do</strong> que o mapa assim constituí<strong>do</strong> constitua umpermanente convite a viagens, não representan<strong>do</strong> apenas uma delimitaçãorígi<strong>da</strong> de fronteiras entre os diversos territórios disciplinares.Nilson José Macha<strong>do</strong>I - Por que é importante um currículo estadual?A SEDUC-RS vem a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> medi<strong>da</strong>s paraenfrentar o desafio de melhorar a quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s aprendizagens <strong>do</strong>s alunos no ensino públicoestadual <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Entreessas medi<strong>da</strong>s, os Referenciais Curricularespara as escolas estaduais gaúchas incidemsobre o que é nuclear na instituição escola:o que se quer que os alunos apren<strong>da</strong>m e oque e como ensinar para que essas aprendizagensaconteçam plenamente.A reflexão e a produção curricular brasileiratem se limita<strong>do</strong>, nas últimas déca<strong>da</strong>s, aos<strong>do</strong>cumentos oficiais, legais ou normativos.Os estu<strong>do</strong>s sobre currículo não despertamgrande interesse <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de acadêmicae também são escassos nos organismostécnico-pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong>s sistemasde ensino público. O currículo vem perden<strong>do</strong>o senti<strong>do</strong> de instrumento para intervir e aperfeiçoara gestão pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola e aprática <strong>do</strong>cente. 1 Provavelmente por essa razão,quan<strong>do</strong> nos anos 1990 se aprovaram asDiretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e seelaboraram os Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), os sistemas de ensino públicoestaduais e municipais consideraram essetrabalho um material a mais para enviar àsescolas. E, por inexperiência de gestão curricular,assumiram que os Parâmetros constituíamum currículo pronto e suficiente paraorientar as escolas e seus professores quantoao que e como ensinar. Mas não eram.Os Parâmetros não são um material a maispara enviar às escolas sozinhos. Formula<strong>do</strong>sem nível nacional para um país grande e diverso,os Parâmetros também não continhamrecomen<strong>da</strong>ções suficientes sobre como fazêlosacontecer na prática. Eram necessariamenteamplos e, por essa razão, insuficientespara estabelecer a ponte entre o currículo propostoe aquele que deve ser posto em ação naescola e na sala de aula.O currículo alinhaO currículo integra e alinha, sob umaconcepção educacional: as aprendizagenscom as quais a escola se compromete naforma de competências e habili<strong>da</strong>des a seremconstituí<strong>da</strong>s pelos alunos; as propostasde meto<strong>do</strong>logias, estratégias, projetosde ensino, situações de aprendizagem; osrecursos didáticos com os quais a escolaconta, incluin<strong>do</strong> instalações, equipamentos,materiais de apoio para alunos e professores;as propostas de formação continua<strong>da</strong><strong>do</strong>s professores; a concepção e o formato<strong>da</strong> avaliação. Em outras palavras, o currículoé o núcleo <strong>da</strong> Proposta Pe<strong>da</strong>gógica,este por sua vez expressão <strong>da</strong> autonomia<strong>da</strong> escola. A arte e a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gestãoeducacional é articular e colocar em1Vale a pena lembrar que o Rio Grande <strong>do</strong> Sul foi um <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s que cultivou com grande competência esse trabalho curricular nos anos 1960 e 1970.Referencial Curricular 4.indd 11 25/8/2009 11:10:16


12sinergia to<strong>do</strong>s esses insumos <strong>do</strong> processode aprendizagem e ensino. No desalinhamentodeles, residem alguns <strong>do</strong>s entravesmais sérios <strong>da</strong> reforma para a melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de desse processo.A noção de que na escola existe o curriculare o extracurricular foi profun<strong>da</strong>mente revista aolongo <strong>do</strong> século 20. Era adequa<strong>da</strong> para umaeducação em que os conteú<strong>do</strong>s escolares deveriamser memoriza<strong>do</strong>s e devolvi<strong>do</strong>s tal como foramentregues aos alunos, e o currículo, abstratoe desmotiva<strong>do</strong>r, precisava de um “tempero”extracurricular na forma de ativi<strong>da</strong>des culturais,lúdicas ou outras, para que a escola fosse menosaborreci<strong>da</strong>. Na concepção moderna, o currículosupõe o tratamento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curricularesem contextos que façam senti<strong>do</strong> para osalunos, assim, o que acontece na escola ou écurricular ou não deveria acontecer na escola.Ativi<strong>da</strong>des esportivas aos fins de semana semqualquer vinculação com a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica<strong>da</strong> escola, na ver<strong>da</strong>de, mais <strong>do</strong> que extracurriculares,são “extraescolares”, e só acontecemna escola por falta de outros espaços e temposdisponíveis. Ativi<strong>da</strong>des de esporte, cultura ou lazer,planeja<strong>da</strong>s e integra<strong>da</strong>s aos conteú<strong>do</strong>s deEducação Física, Artes, Ciências ou Informática,dentro <strong>da</strong> Proposta Pe<strong>da</strong>gógica, são curricularesquer ocorram em dias letivos ou em fins desemana, na escola ou em qualquer outro espaçode aprendizagem.O currículo, portanto, não é uma lista dedisciplinas confina<strong>da</strong>s à sala de aula. É to<strong>do</strong> oconteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> experiência escolar, que acontecena aula convencional e nas demais ativi<strong>da</strong>desarticula<strong>da</strong>s pelo projeto pe<strong>da</strong>gógico.O currículo transpareceO currículo, detalha<strong>do</strong> em termos de “o quee quan<strong>do</strong> se espera que os alunos apren<strong>da</strong>m”,é também a melhor forma de <strong>da</strong>r transparênciaà ação educativa.Num momento em que se consoli<strong>da</strong>m ossistemas de avaliação externa como a PRO-VA BRASIL, o SAEB e o ENEM, é fun<strong>da</strong>mentalque a avaliação inci<strong>da</strong> sobre o que está defato sen<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong> na escola, por diferentesrazões.A primeira diz respeito ao compromissocom a aprendizagem <strong>da</strong>s crianças e jovensde um sistema de ensino público. O currículoestabelece o básico que to<strong>do</strong> aluno tem o direitode aprender e, para esse básico, detalhaos contextos que dão senti<strong>do</strong> aos conteú<strong>do</strong>s,às ativi<strong>da</strong>des de alunos e professores, aosrecursos didáticos e às formas de avaliação.Orienta o desenvolvimento <strong>do</strong> ensino e <strong>da</strong>aprendizagem no tempo, garantin<strong>do</strong> que opercurso seja cumpri<strong>do</strong> pela maioria <strong>do</strong>s alunosnum segmento de tempo dentro <strong>do</strong> anoletivo e de um ano letivo a outro, ordenan<strong>do</strong>os anos de escolari<strong>da</strong>de.A segun<strong>da</strong> razão diz respeito à gestão escolar,porque explicita quais resulta<strong>do</strong>s são espera<strong>do</strong>se pode ser a base para um compromisso<strong>da</strong> escola com a melhoria <strong>da</strong>s aprendizagens<strong>do</strong>s alunos. O contrato de gestão porresulta<strong>do</strong>s tem no currículo sua base mais importantee na avaliação o seu indica<strong>do</strong>r maisconfiável. Isso requer que o currículo estabeleçaexpectativas de aprendizagem viáveis deserem alcança<strong>da</strong>s nas condições de tempo erecurso <strong>da</strong> escola.A terceira razão, pela qual é importanteque a avaliação inci<strong>da</strong> sobre o que está sen<strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong> na escola, diz respeito à <strong>do</strong>cência,porque é importante que, em ca<strong>da</strong>série e nível <strong>da</strong> educação básica, o professorsaiba o que será avalia<strong>do</strong> no desempenho deseus alunos. A avaliação externa não podeser uma caixa-preta para o professor. A referência<strong>da</strong> avaliação é o currículo e não viceversa.Não faz senti<strong>do</strong>, portanto, afirmar quese ensina ten<strong>do</strong> em vista a avaliação, quan<strong>do</strong>o senti<strong>do</strong> é exatamente o oposto: se avaliaten<strong>do</strong> em vista as aprendizagens espera<strong>da</strong>sestabeleci<strong>da</strong>s no currículo.Finalmente, a quarta razão diz respeitoaos pais e à socie<strong>da</strong>de. Para acompanharo desenvolvimento de seus filhos de mo<strong>do</strong>ativo e não apenas reagir quan<strong>do</strong> ocorreum problema, é indispensável que a famíliaseja informa<strong>da</strong> <strong>do</strong> que será aprendi<strong>do</strong> numReferencial Curricular 4.indd 12 25/8/2009 11:10:16


perío<strong>do</strong> ou ano escolar. Essa informaçãodeve também estar acessível para a opiniãopública e a imprensa.O currículo conectaPor sua abrangência e transparência,o currículo é uma conexão vital que inserea escola no ambiente institucional e noquadro normativo que se estrutura desde oâmbito federal até o estadual ou municipal.Nacionalmente, a Constituição e a LDB estabelecemos valores fun<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> educaçãonacional que vão direcionar o currículo.As DCNs, emana<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Conselho Nacionalde Educação, arrematam esse ambienteinstitucional em âmbito nacional. Noscurrículos que Esta<strong>do</strong>s e Municípios devemelaborar para as escolas de seus respectivossistemas de ensino, observan<strong>do</strong> as diretrizesnacionais, completa-se a conexão <strong>da</strong> escolacom os entes políticos e institucionais <strong>da</strong>educação brasileira.O currículo <strong>do</strong>s sistemas públicos, estaduaisou municipais, conecta a escola comas outras escolas <strong>do</strong> mesmo sistema, configuran<strong>do</strong>o que, no jargão educacional, échama<strong>do</strong> de “rede”: rede estadual ou redemunicipal de ensino.O termo rede, embora seja usa<strong>do</strong> há tempospelos educa<strong>do</strong>res, assume atualmenteum novo senti<strong>do</strong> que é ain<strong>da</strong> mais apropria<strong>do</strong>para descrever esse conjunto de uni<strong>da</strong>desescolares cujos mantene<strong>do</strong>res são os governosestaduais ou municipais. De fato, o termorede hoje é emprega<strong>do</strong> pelas Tecnologias<strong>da</strong> Comunicação e Informação (TCIs), comoum conjunto conecta<strong>do</strong> de enti<strong>da</strong>des que têmuma personali<strong>da</strong>de e estrutura próprias, masque também têm muito a compartilhar comoutras enti<strong>da</strong>des.Uma rede pode ser de pessoas, de instituições,de países. No caso de uma rede deescolas públicas, a conexão que permite compartilhare construir conhecimentos em colaboraçãoé muito facilita<strong>da</strong> com a existênciade um currículo que é comum a to<strong>da</strong>s e quetambém assume características próprias <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> experiência de ca<strong>da</strong> escola.Pode-se mesmo afirmar que, embora os sistemasde ensino público venham sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>sde “rede” há bastante tempo, apenascom referências curriculares comuns e com ouso de TCIs, essa rede assume a configuraçãoe as características de rede no senti<strong>do</strong> contemporâneo,um emaranha<strong>do</strong> que não é caótico,mas inteligente, e que pode abrigar umaaprendizagem colabora<strong>da</strong>.Finalmente, o currículo conecta a escolacom o contexto, seja o imediato de seuentorno sociocultural, seja o mais vasto <strong>do</strong>País e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Se currículo é cultura social,científica, cultural, por mais ári<strong>do</strong> queum conteú<strong>do</strong> possa parecer à primeira vista,sempre poderá ser conecta<strong>do</strong> com um fatoou acontecimento significativo, passa<strong>do</strong> oupresente. Sempre poderá ser referi<strong>do</strong> a umaspecto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, próxima ou distante,vivi<strong>da</strong> pelo aluno. Essa conexão tem si<strong>do</strong>designa<strong>da</strong> como contextualização, como sediscutirá mais adiante.O currículo é um ponto de equilíbrioO currículo procura equilibrar a prescriçãoestrita e a prescrição aberta. A primeiradefine o que é comum para to<strong>da</strong>s as escolas.A segun<strong>da</strong> procura deixar espaço abertopara a criativi<strong>da</strong>de e a inovação pe<strong>da</strong>gógica,sugerin<strong>do</strong> material complementar, exemplosde ativi<strong>da</strong>des, pesquisas, projetos interdisciplinares,sequências didáticas.A presença <strong>da</strong> prescrição fecha<strong>da</strong> e <strong>da</strong>prescrição aberta garante a autonomiapara inovar. Quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> é possível, podeser difícil decidir ações prioritárias e conteú<strong>do</strong>sindispensáveis. Quan<strong>do</strong> estes últimosestão <strong>da</strong><strong>do</strong>s, oferecem uma base segura apartir <strong>da</strong> qual a escola poderá empreendere a<strong>do</strong>tar outras referências para tratar osconteú<strong>do</strong>s, realizar experiências e projetos.1313Referencial Curricular 4.indd 13 25/8/2009 11:10:16


14Um bom currículo também combina reali<strong>da</strong>dee visão. Suas prescrições estritas precisamser realistas ao prever quanto e quãobem é possível aprender e ensinar num determina<strong>do</strong>tempo e em condições determina<strong>da</strong>s.Mas esses possíveis não podem ser tãofáceis que deixem de desafiar o esforço e oempenho <strong>da</strong> escola.O currículo demarcao espaço de consensoTo<strong>do</strong> currículo tem como referência primeiraas finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> educação, consensua<strong>da</strong>spela socie<strong>da</strong>de. No caso <strong>do</strong> Brasil,essas finali<strong>da</strong>des estão expressas na LDB enos instrumentos normativos que a complementaram.Para cumpri-las, recortam-seos conteú<strong>do</strong>s e estabelecem-se as expectativasde aprendizagem, publicizan<strong>do</strong> oespaço para construir o consenso sobre aeducação que vamos oferecer aos alunos.Isso é mais sério <strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>na prática <strong>da</strong> escola básica brasileira.No Brasil, a legislação nacional, que decorre<strong>da</strong> Constituição de 1988, tem um princípiope<strong>da</strong>gógico fun<strong>da</strong>mental e inova<strong>do</strong>rem relação ao quadro legal anterior, que éo direito de aprendizagem. Esse princípio sesobrepõe ao <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de ensino, que foium divisor de águas no campo educacionalbrasileiro nos anos 60. Quan<strong>do</strong> o direito deaprender é mais importante <strong>do</strong> que a liber<strong>da</strong>dede ensinar, não é o ensino, opera<strong>do</strong>pelo professor, e sim a aprendizagem <strong>do</strong>salunos, que se constitui em indica<strong>do</strong>r de desempenhoe de quali<strong>da</strong>de.A educação básica não forma especialistas,nem prepara para empregos específicos.Como seu próprio nome afirma, está totalmentevolta<strong>da</strong> para a constituição de pessoascapazes de viver, conviver e trabalhar nestasocie<strong>da</strong>de de mo<strong>do</strong> produtivo, solidário, integra<strong>do</strong>e prazeroso. Diante de ca<strong>da</strong> disciplinaou conteú<strong>do</strong>, é preciso sempre problematizar:qual o papel desse conteú<strong>do</strong> na formaçãobásica para viver no mun<strong>do</strong> contemporâneo?Para que esse conhecimento é importante? Sea resposta for para ingressar no ensino superiorou para engajar-se num emprego específico,é preciso lembrar que, segun<strong>do</strong> a LDB,a educação básica não está destina<strong>da</strong> a nenhumdesses objetivos.Afirmar que a educação básica não sedestina a preparar para um posto de trabalhoespecífico, nem para fazer vestibular,não significa que ela seja alheia aotrabalho e à continui<strong>da</strong>de de estu<strong>do</strong>s, aocontrário. A LDB afirma logo em seu primeiroArtigo, Parágrafo 2º, que “A educaçãoescolar deverá vincular-se ao mun<strong>do</strong><strong>do</strong> trabalho e à prática social”. Nos Arts.35 e 36, dedica<strong>do</strong>s ao ensino médio, a leimenciona explicitamente a preparação básicapara o trabalho.Sen<strong>do</strong> o trabalho projeto de to<strong>do</strong>s os ci<strong>da</strong>dãose ci<strong>da</strong>dãs, a educação básica deverápropiciar a to<strong>do</strong>s a constituição <strong>da</strong>s competênciasnecessárias para ingressar no mun<strong>do</strong><strong>do</strong> trabalho. O acesso ao ensino superior éingresso numa carreira profissional, o quequer dizer que a educação básica deverápropiciar a to<strong>do</strong>s as competências que sãopré-requisito para escolher e perseguir umacarreira de nível superior. Portanto, a respostaàs questões acima deve ser completa<strong>da</strong>: aeducação básica não está destina<strong>da</strong> ao preparopara um trabalho específico nem paraentrar na facul<strong>da</strong>de, mas sen<strong>do</strong> básica é indispensávela ambos.Referencial Curricular 4.indd 14 25/8/2009 11:10:16


II - DCN, PCN e currículos <strong>do</strong>s sistemas públicosestaduais ou municipais1515Na origem <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s modernos, a definição<strong>do</strong> que se deve aprender na escola esteveassocia<strong>da</strong> à busca <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de nacionale <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de formal entre os ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong>ío caráter público e leigo que o currículo assumena maioria <strong>do</strong>s países. Desse processoresulta a presença, na quase totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>snações democráticas, de leis de educaçãoque estabelecem o currículo nacional, ain<strong>da</strong>que os níveis de especificação sejam distintosde um país para outro.As profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s nomun<strong>do</strong> após a segun<strong>da</strong> guerra mundial provocaramrupturas e revisões <strong>da</strong>s bases democráticas<strong>da</strong> educação. A partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong>metade <strong>do</strong> século 20, os currículos nacionaispassam por sucessivas reorganizações.Além de incorporar a rápi<strong>da</strong> transformação<strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> cultura, essas revisões tambémderam ênfases crescentes aos valores <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> equi<strong>da</strong>de, como forma desuperar a intolerância e a injustiça social.Finalmente, desde o limiar <strong>do</strong> século 21, arevolução tecnológica está impon<strong>do</strong> a to<strong>da</strong>sas nações revisões curriculares com a finali<strong>da</strong>dede incorporar também, e para to<strong>do</strong>s, osvalores <strong>da</strong> autonomia, <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de e<strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, que serão necessárias paraa ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia nas socie<strong>da</strong>des pós-industriais.Essa rápi<strong>da</strong> retrospecção histórica é importantepara destacar que a construção decurrículos não é um capricho pe<strong>da</strong>gógiconem um ato arbitrário <strong>do</strong>s níveis de condução<strong>da</strong>s políticas educacionais. É, sim, um dever<strong>do</strong>s governos que estão gerencian<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong>num momento de rupturas e mu<strong>da</strong>nças deparadigmas educacionais.O Brasil é um país complexo. Por ser federação,a definição <strong>do</strong> currículo se iniciana regulação nacional – <strong>do</strong> Congresso e <strong>do</strong>Conselho Nacional de Educação, passa pelacoordenação <strong>do</strong> Governo Federal, finaliza nagestão estadual ou municipal para entrar emação na escola. Além disso, é um país de dimensõescontinentais, com grande diversi<strong>da</strong>deregional e marcantes desigual<strong>da</strong>des sociais nadistribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e <strong>do</strong> acesso à quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong>. Estabelecer currículos nessa reali<strong>da</strong>deé uma tarefa na<strong>da</strong> trivial, que a LDB inicia eordena em duas perspectivas.A primeira perspectiva, a partir <strong>da</strong> qual aLDB regula o currículo, é política e se refereà divisão de tarefas entre a União e os entesfedera<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> estabelece para to<strong>da</strong> aeducação básica, em seu Art. 26, que “Oscurrículos <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e Médiodevem ter uma base nacional comum, a sercomplementa<strong>da</strong>, em ca<strong>da</strong> sistema de ensinoe estabelecimento escolar, por uma partediversifica<strong>da</strong>, exigi<strong>da</strong> pelas característicasregionais e locais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> cultura,<strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> clientela”. Diferentemente<strong>da</strong>s leis de diretrizes e bases que aantecederam, a LDB não definiu, nem delegoua nenhuma outra instância, a definiçãode “disciplinas” ou “matérias” obrigatóriaspara integrar a base nacional comum a quese refere o Art. 26.A segun<strong>da</strong> perspectiva é pe<strong>da</strong>gógica e serefere ao paradigma curricular a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelaLei. Quan<strong>do</strong> trata separa<strong>da</strong>mente <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental e <strong>do</strong> médio, a LDB traça as diretrizes<strong>do</strong>s currículos de ambos segun<strong>do</strong> umparadigma comum, expresso em termos decompetências básicas a serem constituí<strong>da</strong>s pelosalunos e não de conhecimentos disciplinares(Arts. 32, 35 e 36). As competências ficamassim estabeleci<strong>da</strong>s como referência <strong>do</strong>s currículos<strong>da</strong> educação escolar pública e priva<strong>da</strong>,<strong>da</strong>n<strong>do</strong> destaque, entre outras, à capaci<strong>da</strong>dede aprender e de continuar aprenden<strong>do</strong>, àcompreensão <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ciências, <strong>da</strong>s artese <strong>da</strong>s letras e ao uso <strong>da</strong>s linguagens comorecursos de aprendizagem. Também aqui aLDB não emprega o termo “matéria” ou “disciplina”,nem utiliza os nomes tradicionais <strong>da</strong>smesmas. Refere-se a “conteú<strong>do</strong>s curriculares”,“componentes” ou “estu<strong>do</strong>s”.Referencial Curricular 4.indd 15 25/8/2009 11:10:16


16A lei nacional <strong>da</strong> educação brasileiracumpre o papel que lhe cabe num paísfederativo. Dá início a um processo deconstrução curricular que deverá serconcluí<strong>do</strong> pelos sistemas de ensino estaduaise municipais, para ser coloca<strong>do</strong>em ação pelas suas escolas. Indica, noentanto, as diretrizes segun<strong>do</strong> as quaisos sistemas e escolas deverão pautar afinalização desse processo. Essas indicaçõesfazem to<strong>da</strong> a diferença.Se a lei a<strong>do</strong>tasse um paradigma curriculardisciplinarista, a cooperação entre asesferas de governo seria concretiza<strong>da</strong> naelaboração, pela União, de uma lista dedisciplinas ou matérias obrigatórias que secomplementaria com listas de disciplinas adicionaiselabora<strong>da</strong>s pelas diversas instânciasde definição curricular. Esse foi de fato o procedimentoa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no passa<strong>do</strong>.A verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>da</strong>s disposiçõescurriculares legais, no caso <strong>do</strong> paradigmapor disciplinas, é feita pelo controle <strong>do</strong>comparecimento destas últimas nos currículospropostos. Daí a necessi<strong>da</strong>de de listar disciplinasobrigatórias, impon<strong>do</strong> que to<strong>da</strong> escoladeveria elaborar sua “grade” curricular,isto é, a lista de disciplinas que constituíamseu currículo, em duas partes: a base nacionalcomum e a parte diversifica<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> queem ca<strong>da</strong> uma dessas partes havia disciplinasobrigatórias. Esse modelo, que ain<strong>da</strong> é a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>em muitas escolas públicas e priva<strong>da</strong>s, érealmente uma grade no senti<strong>do</strong> de barreiraque impede a passagem e a comunicação.Com o paradigma curricular estabeleci<strong>do</strong>pela LDB, o cumprimento <strong>da</strong>s diretrizesimpõe que tanto a base nacional comumcomo a parte diversifica<strong>da</strong> prestem contas<strong>da</strong>s competências que os alunos deverãoconstituir. E essas competências não sãoaderentes a uma disciplina ou conteú<strong>do</strong>específico, mas deverão estar presentes emto<strong>do</strong> o currículo. São competências transversais.Além disso, o cumprimento <strong>da</strong>sdisposições legais curriculares, neste caso,não se realiza pela verificação de uma listade matérias. Para viabilizá-la, é preciso obterevidências <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong>s alunose constatar até que ponto constituíram ascompetências previstas.As disposições curriculares <strong>da</strong> LDB foramfun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s pelo Conselho Nacional deEducação, num trabalho <strong>do</strong> qual resultaramas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)para os diferentes níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>da</strong>educação básica. Foram também consubstancia<strong>da</strong>snos Parâmetros Curriculares Nacionaisque o MEC elaborou como recomen<strong>da</strong>çãoaos sistemas de ensino.Paradigmas, diretrizes e parâmetros, ain<strong>da</strong>que bem fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s pe<strong>da</strong>gogicamente,não promovem a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>ensino. Para não relegá-los a peças formais eburocráticas, é preciso criar as condições necessáriasa sua implementação. E a condiçãode implementação mais importante é a tradução<strong>da</strong> lei, <strong>da</strong>s normas e <strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong>çõescurriculares nacionais em currículos quepossam ser coloca<strong>do</strong>s em ação nas escolas,adequa<strong>do</strong>s às reali<strong>da</strong>des diversas de esta<strong>do</strong>s,regiões, municípios ou comuni<strong>da</strong>de; detalha<strong>do</strong>so suficiente para servirem de guia de açãoàs equipes escolares; abrangentes o bastantepara <strong>da</strong>r alinhamento e orientação ao conjunto<strong>do</strong>s insumos <strong>do</strong> ensino-aprendizagem: asativi<strong>da</strong>des de alunos e professores, os recursosdidáticos, a capacitação <strong>do</strong>s professores paraimplementar o currículo utilizan<strong>do</strong> os recursosdidáticos e os procedimentos de avaliação.Essa tradução <strong>do</strong> currículo <strong>do</strong> plano propositivopara o plano <strong>da</strong> ação é uma tarefaintransferível <strong>do</strong>s sistemas de ensino e desuas instituições escolares. É para cumprir asua parte que a SEDUC-RS entrega às escolaspúblicas estaduais os presentes ReferenciaisCurriculares, cujos princípios nortea<strong>do</strong>ressão apresenta<strong>do</strong>s a seguir, reconhecen<strong>do</strong>que caberá às escolas, em suas propostaspe<strong>da</strong>gógicas, transformá-los em currículosem ação, orienta<strong>da</strong>s por estes referenciais eancora<strong>da</strong>s nos contextos específicos em queca<strong>da</strong> escola está inseri<strong>da</strong>.Referencial Curricular 4.indd 16 25/8/2009 11:10:16


III - Desafios educacionais no Brasil contemporâneoA socie<strong>da</strong>de pós-industrial está mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>a organização <strong>do</strong> trabalho, a produçãoe disseminação <strong>da</strong> informação e as formasde exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Essas mu<strong>da</strong>nçasestão impon<strong>do</strong> revisões <strong>do</strong>s currículos e <strong>da</strong>organização <strong>da</strong>s instituições escolares namaioria <strong>do</strong>s países. Aqueles cujos sistemaseducacionais estão consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>s, que promoverama universalização e democratização<strong>da</strong> educação básica na primeira metade<strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, estão empenha<strong>do</strong>s emvencer os obstáculos culturais e políticos aotrânsito <strong>da</strong> escola para o século 21.Os emergentes como o Brasil, que ain<strong>da</strong>estão concluin<strong>do</strong> o ciclo de expansãoquantitativa e universalização <strong>da</strong> educaçãobásica, deparam-se com um duplo desafio.Herdeiro de uma tradição ibérica que destinavaa escolari<strong>da</strong>de longa apenas a umaseleta minoria, há pouco tempo – cerca detrês déca<strong>da</strong>s –, nosso país ain<strong>da</strong> devia essedireito básico a quase metade <strong>da</strong>s criançasem i<strong>da</strong>de escolar.Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s chegaram à escola e, pormecanismos diversos, aí permaneceram, ficouvisível nossa incapaci<strong>da</strong>de de criar, paraa maioria <strong>da</strong>s crianças e jovens brasileiros,situações de aprendizagem eficazes parasuas características e estilos cognitivos. É,portanto, um país que precisa urgentementereinventar a escola para trabalhar com umaluna<strong>do</strong> diversifica<strong>do</strong> culturalmente e desigualsocialmente. E deve <strong>da</strong>r conta desse desafioao mesmo tempo em que transforma aeducação básica para fazer frente às deman<strong>da</strong>s<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> conhecimento.O século 21 chegou, e com ele a globalizaçãoeconômica, o aquecimento global,a despolarização <strong>da</strong> política internacional,a urgência de <strong>da</strong>r sustentabili<strong>da</strong>de ao desenvolvimentoeconômico, a valorização <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de, as novas fronteiras científicas, aacessibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação a um númeroca<strong>da</strong> vez maior de pessoas, o aparecimentode novas formas de comunicação. É nessetempo que os estu<strong>da</strong>ntes brasileiros estão viven<strong>do</strong>,qualquer que seja sua origem social.Mas é na escola pública que estão chegan<strong>do</strong>as maiorias pobres e, portanto, é a quali<strong>da</strong>de<strong>do</strong> ensino público que se torna estratégicapara nosso destino como nação.O acesso é requisito para democratização<strong>do</strong> ensino básico. Mas, para que esseprocesso seja plenamente consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>, é urgentegarantir que a permanência na escolaresulte em aprendizagens de conhecimentospertinentes. Conhecimentos que os ci<strong>da</strong>dãose ci<strong>da</strong>dãs sejam capazes de aplicar no entendimentode seu mun<strong>do</strong>, na construção deum projeto de vi<strong>da</strong> pessoal e profissional, naconvivência respeitosa e solidária com seusiguais e com seus diferentes, no exercício desua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia política e civil para escolherseus governantes e participar <strong>da</strong> solução <strong>do</strong>sproblemas <strong>do</strong> país.Este é um tempo em que os meios de comunicaçãoconstroem senti<strong>do</strong>s e disputam aatenção e a devoção <strong>da</strong> juventude, a escolaprecisa ser o lugar em que se aprende aanalisar, criticar, pesar argumentos e fazer escolhas.Isso requer que os conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> currículosejam trata<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> a fazer senti<strong>do</strong>para o aluno. Esse senti<strong>do</strong> nem sempredepende <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de imediata e cotidiana,pode e deve, também, ser referi<strong>do</strong> à reali<strong>da</strong>demais ampla, remota, virtual ou imaginária<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo. Mas terá de seracessível à experiência <strong>do</strong> aluno de algumaforma, imediata e direta ou mediata e alusiva.Esse é o ponto de parti<strong>da</strong> para acederaos significa<strong>do</strong>s delibera<strong>do</strong>s e sistemáticos,constituí<strong>do</strong>s pela cultura científica, artística elinguística <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.Em nosso país, a escolari<strong>da</strong>de básica de12 anos está sen<strong>do</strong> conquista<strong>da</strong> agora pelascama<strong>da</strong>s mais pobres, inseri<strong>da</strong>s em processosde ascensão social. Milhões de jovensserão mais escolariza<strong>do</strong>s que seus pais e,diferentemente destes, querem se incorporarao merca<strong>do</strong> de trabalho não para sobrevivere seguir reproduzin<strong>do</strong> os padrões de geraçõesanteriores. Trabalhar para estes jovens1717Referencial Curricular 4.indd 17 25/8/2009 11:10:16


18é, antes de mais na<strong>da</strong>, uma estratégia paracontinuar estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e melhorar de vi<strong>da</strong>. Sãojovens que vivem num tempo em que a a<strong>do</strong>lescênciaé tardia e o preparo para trabalharmais longo e que, contraditoriamente,por sua origem social, precisam trabalharprecocemente para melhorar de vi<strong>da</strong> nolongo prazo. O currículo precisa identificare propor às escolas conhecimentos e competênciasque podem ser relevantes para osucesso desse projeto complexo, envolven<strong>do</strong>o trabalho precoce e a constituição <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>dede continuar aprenden<strong>do</strong> para, nofuturo, inserir-se nesse mesmo merca<strong>do</strong> commais flexibili<strong>da</strong>de.Nesse projeto, o fortalecimento <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<strong>da</strong> própria língua é indispensável paraorganizar cognitivamente a reali<strong>da</strong>de, exercera ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e comunicar-se com os outros.Além disso, a competência de leitura e escritaé condição para o <strong>do</strong>mínio de outras linguagensque precisam <strong>da</strong> língua materna comosuporte – literatura, teatro, entre outras.O mun<strong>do</strong> contemporâneo disputa o universosimbólico de crianças e a<strong>do</strong>lescentes,lançan<strong>do</strong> mão de suportes os mais varia<strong>do</strong>s– imagens, infográficos, fotografia, sons, música,corpo –, veicula<strong>do</strong>s de forma tambémvaria<strong>da</strong> – a internet, a TV, a comunicaçãovisual de ambientes públicos, a publici<strong>da</strong>de,o celular. A escola precisa focalizar a competênciapara ler e produzir na própria língua eabrir oportuni<strong>da</strong>des para que os alunos acessemoutros tipos de suportes e veículos, como objetivo de selecionar, organizar e analisarcriticamente a informação aí presente.O currículo é um recorte <strong>da</strong> cultura científica,linguística e artística <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,ou seja, o currículo é cultura. Os frequentesesforços de sair <strong>da</strong> escola, buscan<strong>do</strong> a“ver<strong>da</strong>deira cultura”, têm efeitos devasta<strong>do</strong>res:estiola e resseca o currículo, tira-lhea vitali<strong>da</strong>de, torna-o aborreci<strong>do</strong> e desmotiva<strong>do</strong>r,um ver<strong>da</strong>deiro “zumbi” pe<strong>da</strong>gógico.Em vez de perseguir a cultura é premente<strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> à cultura presente no currículo, situan<strong>do</strong>os conteú<strong>do</strong>s escolares no contextocultural significativo para seus alunos. Emnosso País, de diversi<strong>da</strong>de cultural marcante,revitalizar a cultura recorta<strong>da</strong> no currículoé condição para a construção de umaescola para a maioria. Onde se aprende acultura universal sistematiza<strong>da</strong> nas linguagens,nas ciências e nas artes sem perdera aderência à cultura local que dá senti<strong>do</strong>à universal.Finalmente, o grande desafio, diante <strong>da</strong>mu<strong>da</strong>nça curricular que o Brasil está promoven<strong>do</strong>,é a capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor paraoperar o currículo. Também aqui é importantedesfazer-se de concepções passa<strong>da</strong>sque orientaram a definição de cursos decapacitação sem uma proposta curricular,qualquer que fosse ela, para identificar asnecessi<strong>da</strong>des de aprendizagem <strong>do</strong> professor.Cursos de capacitação, geralmentecontrata<strong>do</strong>s de agências externas à educaçãobásica, seguiram os padrões e objetivosconsidera<strong>do</strong>s valiosos para os gestores eforma<strong>do</strong>res dessas agências. Independentemente<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica dessescursos ou programas de capacitação, a ver<strong>da</strong>deé que, sem que o sistema tivesse umcurrículo, ca<strong>da</strong> professor teve acesso a conteú<strong>do</strong>se ativi<strong>da</strong>des diferentes, muitas vezesdescola<strong>da</strong>s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola na qualesse professor trabalhava.Venci<strong>da</strong> quase uma déca<strong>da</strong> no novo século,a Secretaria de Educação <strong>do</strong> RS tem clarezade que a melhor capacitação em serviçopara os professores é aquela que faz parte integrante<strong>do</strong> próprio currículo, organicamentearticula<strong>da</strong> com o <strong>do</strong>mínio, pelo professor, <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s curriculares a serem aprendi<strong>do</strong>spor seus alunos e <strong>da</strong> organização de situaçõesde aprendizagem compatíveis.Este <strong>do</strong>cumento, ao explicar os fun<strong>da</strong>mentos<strong>do</strong>s Referenciais Curriculares,inaugura essa nova perspectiva <strong>da</strong> capacitaçãoem serviço.Referencial Curricular 4.indd 18 25/8/2009 11:10:16


IV - Princípios e fun<strong>da</strong>mentos <strong>do</strong>s Referenciais CurricularesImportância <strong>da</strong> aprendizagemde quem ensinaQuem ensina é quem mais precisa aprender.Esse é o primeiro princípio destes Referenciais.Os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s avaliações externasrealiza<strong>da</strong>s na última déca<strong>da</strong>, entre asquais o SAEB, a PROVA BRASIL, o ENEM eagora o SAERS, indicam que os esforços e recursosaplica<strong>do</strong>s na capacitação em serviço<strong>do</strong>s professores não têm impacta<strong>do</strong> positivamenteo desempenho <strong>do</strong>s alunos. Essa faltade relação entre educação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>professor e desempenho <strong>do</strong>s alunos explicasepelo fato de que os conteú<strong>do</strong>s e formatos<strong>da</strong> capacitação nem sempre têm referêncianaquilo que os alunos desses professoresprecisam aprender e na transposição didáticasdesses conteú<strong>do</strong>s.Dessa forma, estes Referenciais têm como princípiodemarcar não só o que o professor vai ensinar,mas também o que ele precisa saber paradesincumbir-se a contento <strong>da</strong> implementação <strong>do</strong>currículo e, se não sabe, como vai aprender.É por esta razão que, diferentemente demuitos materiais didáticos que começam peloslivros, cadernos ou apostilas destina<strong>da</strong>saos alunos, estes Referenciais começam commateriais destina<strong>do</strong>s aos professores. Tratasenão de repetir os acertos ou desacertos<strong>da</strong> formação inicial em nível superior, mas depromover a aderência <strong>da</strong> capacitação <strong>do</strong>sprofessores aos conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logiasindica<strong>do</strong>s nos Referenciais.E como devem aprender os que ensinam? Aresposta está <strong>da</strong><strong>da</strong> nos próprios Referenciais:em contexto, por áreas e com vinculação àprática. Se a importância <strong>da</strong> aprendizagemde quem ensina for observa<strong>da</strong> no trabalhoescolar, os Referenciais devem ser base paradecidir ações de capacitação em serviço paraa equipe como um to<strong>do</strong> e para os professoresde distintas etapas e disciplinas <strong>da</strong> educaçãobásica. E os princípios <strong>do</strong>s Referenciais devemorientar as estratégias de capacitação em nívelescolar, regional ou central.Aprendizagem comoprocesso coletivoNa escola, a aprendizagem de quem ensinanão é um processo individual. Mesmono merca<strong>do</strong> de trabalho corporativo, as instituiçõesestão valorizan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais acapaci<strong>da</strong>de de trabalhar em equipe. A vantagem<strong>da</strong> educação é que poucas ativi<strong>da</strong>deshumanas submetem-se menos à lógica <strong>da</strong>competitivi<strong>da</strong>de quanto a educação escolar,particularmente a <strong>do</strong>cência. O produto <strong>da</strong>escola é obrigatoriamente coletivo, mesmoquan<strong>do</strong> o trabalho coletivo não é uma estratégiavaloriza<strong>da</strong>.Diante <strong>do</strong> fracasso <strong>do</strong> aluno, a responsabili<strong>da</strong>derecai em algum coletivo – o governo,a educação em geral ou a escola, dificilmentesobre um professor em particular. Na <strong>do</strong>cência,o sucesso profissional depende menos<strong>do</strong> exercício individual <strong>do</strong> que em outrasativi<strong>da</strong>des, como, por exemplo, as artísticas,a medicina, sem falar em outras mais óbvias,como a publici<strong>da</strong>de, ven<strong>da</strong>s ou gestão <strong>do</strong> setorprodutivo priva<strong>do</strong>. Os professores atuamem equipe mesmo que não reconheçam.Esse caráter coletivista (no bom senti<strong>do</strong>)<strong>da</strong> prática escolar quase nunca é aproveita<strong>do</strong>satisfatoriamente. Ao contrário, muitasvezes, serve de escu<strong>do</strong> para uma responsabilizaçãoanônima e diluí<strong>da</strong>, porque, emborato<strong>do</strong>s sejam responsabiliza<strong>do</strong>s pelo fracasso,poucos se empenham coletivamentepara o sucesso. Espera-se que estes Referenciaisajudem a reverter essa situação,servin<strong>do</strong> como base comum sobre a qualestabelecer, coletivamente, metas a seremalcança<strong>da</strong>s e indica<strong>do</strong>res para julgar se o foramou não e o porquê. Sua organização poráreas já é um primeiro passo nesse senti<strong>do</strong>.1919Referencial Curricular 4.indd 19 25/8/2009 11:10:16


20As competências como referência 2O currículo por competências constitui hojeum paradigma <strong>do</strong>minante na educação escolar,no Brasil e em quase to<strong>do</strong>s os demais países<strong>da</strong> América, <strong>da</strong> Europa e até países asiáticos.Na África, também vem sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> comoorganiza<strong>do</strong>r de várias propostas de reformaeducacional e curricular. Nestes Referenciais,as competências são entendi<strong>da</strong>s como organiza<strong>do</strong>res<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares a seremtrabalha<strong>do</strong>s nas escolas públicas estaduais.Essa onipresença <strong>da</strong>s competências no discursoe nas propostas educacionais, nem semprese faz acompanhar de explicações para tornaro conceito mais claro no nível <strong>da</strong>s escolas, oque motiva estes Referenciais a estenderem-seno exame <strong>da</strong> questão.Como a maior parte <strong>do</strong>s conceitos usa<strong>do</strong>sem pe<strong>da</strong>gogia, o de competênciasresponde a uma necessi<strong>da</strong>de e uma característicade nossos tempos. Na ver<strong>da</strong>de,surge como resposta à crise <strong>da</strong> escola nasegun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século 20 provoca<strong>da</strong>,entre outros fenômenos, pela então incipienterevolução tecnológica e pela crescenteheterogenei<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos. Essacrise levou a uma forte crítica <strong>do</strong>s currículosvolta<strong>do</strong>s para objetivos operacionaliza<strong>do</strong>se observáveis, que fragmentava oprocesso pe<strong>da</strong>gógico.As competências são introduzi<strong>da</strong>s comoum conjunto de operações mentais, que sãoresulta<strong>do</strong>s a serem alcança<strong>do</strong>s nos aspectosmais gerais <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> aluno.Em outras palavras, caracterizaram-se, noinício, pela sua generali<strong>da</strong>de e transversali<strong>da</strong>de,não relaciona<strong>da</strong>s com nenhum conteú<strong>do</strong>curricular específico, mas entendi<strong>da</strong>scomo indispensáveis à aquisição de qualquerconhecimento.O exame <strong>da</strong>s muitas definições de competênciapermite destacar o que está presenteem to<strong>da</strong>s elas. A competência, nasvárias definições, se refere a:• um conjunto de elementos....• que o sujeito pode mobilizar....• para resolver uma situação....• com êxito.Existem diferenças não substantivas quantoao que se entende de ca<strong>da</strong> uma dessaspalavras, o que não é incomum quan<strong>do</strong>se trata de descrever aspectos psicológicoscognitivos ou emotivos. Em uma definiçãoos elementos são designa<strong>do</strong>s como recursos,em outras, como conhecimentos, emoutras, como saber. Mobilizar para uns significacolocar em ação, para outros colocaresquemas em operação e ain<strong>da</strong> selecionare coordenar. Situação é caracteriza<strong>da</strong> comouma ativi<strong>da</strong>de complexa, como um problemae sua solução, como uma representação<strong>da</strong> situação, pelo sujeito. O êxito é entendi<strong>do</strong>como exercício conveniente de um papel,função ou ativi<strong>da</strong>de, ou como realizar umaação eficaz, ou responder de mo<strong>do</strong> pertinenteàs deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> situação ou ain<strong>da</strong> comoação responsável, realiza<strong>da</strong> com conhecimentode causa.Analisan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s diversos termosutiliza<strong>do</strong>s para caracterizar o conceitode competência, pode-se afirmar que não hápolissemia, isto é, diferentes significa<strong>do</strong>s decompetência, e apesar <strong>da</strong>s diferenças terminológicasto<strong>do</strong>s têm em comum uma abor<strong>da</strong>gemque entende a competência comoalgo que acontece, existe e é aciona<strong>do</strong> desdeprocessos internos ao sujeito. Este aspectoessencial, ou seja, de que a competência nãoestá na situação, nem em conhecimentos ousaberes <strong>do</strong> currículo, e sim naquilo que asituação de aprendizagem e esses saberesconstituíram no aluno, é o que importa parafins pe<strong>da</strong>gógicos por duas razões.A primeira é a de que, se esses processosinternos <strong>do</strong> aluno são constituí<strong>do</strong>s, eles podeme devem ser aprendi<strong>do</strong>s. A segun<strong>da</strong> éa de que um currículo por competências se expressa,manifesta e vali<strong>da</strong> pelas aprendizagens2Deste ponto em diante este <strong>do</strong>cumento incorpora algumas ideias <strong>da</strong>s discussões e <strong>do</strong>s textos de trabalho <strong>do</strong> grupo responsável pela concepção <strong>do</strong> currículona Secretaria <strong>da</strong> Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo.Referencial Curricular 4.indd 20 25/8/2009 11:10:17


que constituiu no aluno e que este coloca emação de determina<strong>da</strong> maneira em determina<strong>da</strong>situação. Os objetivos de ensino podem ser expressosnaquilo que o professor faz, nos materiaisque manipula, nos contú<strong>do</strong>s que selecionae nas operações que realiza para explicar.Mas o que vali<strong>da</strong> o currículo não são osobjetivos de ensino e sim os processos que seconstituíram no aluno e se expressam pela competênciade saber, de saber fazer e de saber porquesabe.Um currículo que tem as competênciascomo referência, organiza-se por opera<strong>do</strong>rescurriculares transversais, que se referemàs competências gerais que devem ser persegui<strong>da</strong>sem to<strong>da</strong>s as áreas ou disciplinas,porque são competências indispensáveis paraaprender qualquer conteú<strong>do</strong> curricular. EstesReferenciais a<strong>do</strong>tam como competênciaspara aprender as cinco grandes competências<strong>do</strong> ENEM, que podem ser considera<strong>da</strong>s seusopera<strong>do</strong>res transversais:•Dominar a norma culta e fazer uso <strong>da</strong>s linguagensmatemática, artística e científica;•Construir e aplicar conceitos <strong>da</strong>s váriasáreas <strong>do</strong> conhecimento para a compreensãode fenômenos naturais, de processoshistórico-geográficos, <strong>da</strong> produção tecnológicae <strong>da</strong>s manifestações artísticas;•Selecionar, organizar, relacionar, interpretar<strong>da</strong><strong>do</strong>s e informações representa<strong>do</strong>sem diferentes formas, para tomar decisõese enfrentar situações-problema;•Relacionar informações, representa<strong>da</strong>sde diferentes formas, e conhecimentosdisponíveis em situações concretas, paraconstruir argumentação consistente;•Recorrer aos conhecimentos desenvolvi<strong>do</strong>sna escola para elaborar propostas deintervenção solidária na reali<strong>da</strong>de, respeitan<strong>do</strong>os valores humanos e consideran<strong>do</strong>a diversi<strong>da</strong>de sociocultural.Mas um currículo é constituí<strong>do</strong> por conteú<strong>do</strong>se é preciso que as competências transversais paraaprender, como as <strong>do</strong> ENEM, sejam articula<strong>da</strong>scom as competências a serem constituí<strong>da</strong>s emca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s áreas ou disciplinas. Na ausênciadessa articulação instaura-se uma aparenteruptura entre competências e conteú<strong>do</strong>s curriculares,que tem leva<strong>do</strong> ao entendimento equivoca<strong>do</strong>de que a abor<strong>da</strong>gem por competênciasnão valoriza os conteú<strong>do</strong>s curriculares, quan<strong>do</strong>na ver<strong>da</strong>de eles são nucleares e imprescindíveispara a constituição de competências.A inseparabili<strong>da</strong>de entrecompetência e conhecimentoUm currículo por competências não eliminanem secun<strong>da</strong>riza os conteú<strong>do</strong>s. Sem conteú<strong>do</strong>s,recursos intelectuais, saberes ou conhecimentos,não há o que possa ser mobiliza<strong>do</strong> pelosujeito para agir pertinentemente numa situação<strong>da</strong><strong>da</strong>, portanto não se constituem competências.Os conteú<strong>do</strong>s são a substância <strong>do</strong> currículoe para tanto se organizam em áreas <strong>do</strong>conhecimento ou disciplinas. É preciso, portanto,construir um currículo que não se limite apenasàs disciplinas, mas inclua necessariamenteas situações em que esses conteú<strong>do</strong>s devemser aprendi<strong>do</strong>s para que sejam constituintes decompetências transversais.2121Isso significa que um currículo referi<strong>do</strong> a competênciassó tem coerência interna se conteú<strong>do</strong>sdisciplinares e procedimentos de promover, orientare avaliar a aprendizagem sejam inseparáveis.Para isso é preciso identificar, em ca<strong>da</strong>conteú<strong>do</strong> ou disciplina, os conceitos mais importantese as situações nas quais eles devemser aprendi<strong>do</strong>s de forma a constituírem competênciastransversais como as <strong>do</strong> ENEM. Aausência desse trabalho resultou, no Brasil, naanomia curricular instala<strong>da</strong> nos anos recentes,de currículos em ação nas escolas que são divorcia<strong>do</strong>s<strong>da</strong>s normas curriculares mais geraise <strong>do</strong>s pressupostos teóricos que as orientam.Referencial Curricular 4.indd 21 25/8/2009 11:10:17


V - Competências e conteú<strong>do</strong>s nos currículos brasileiros22O espaço de articulação <strong>da</strong>scompetências com os conteú<strong>do</strong>sNo processo de definição curricular jáanalisa<strong>do</strong> nestes Referenciais, o paradigmacurricular que poderia ser chama<strong>do</strong> de “mestre”está na Lei 9394/1996 – LDB, que foisegui<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais(DCNs) e <strong>do</strong>s Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs). As DCNs, obrigatórias, apresentamdisciplinas ou áreas de conhecimento eas competências que devem ser constituí<strong>da</strong>s.Quanto aos conteú<strong>do</strong>s, são bastante gerais,porque supõem uma etapa intermediária dedesenvolvimento curricular para adequar asdiretrizes nacionais às distintas reali<strong>da</strong>des regionais,locais e escolares, tarefa que cabeaos mantene<strong>do</strong>res e gestores <strong>da</strong>s redes públicase priva<strong>da</strong>s. Os PCNs e qualquer orientaçãoemana<strong>da</strong> <strong>do</strong> MEC não têm caráterobrigatório. São recomen<strong>da</strong>ções e assistênciatécnica aos sistemas de ensino.Tanto os PCNs como as DCNs não constituemum currículo pronto para ser coloca<strong>do</strong>em ação. Não são pontos de chega<strong>da</strong> e simde parti<strong>da</strong> para um caminho que se inicianas normas nacionais e só consegue alcançaro chão <strong>da</strong> escola de mo<strong>do</strong> eficaz, se ossistemas de ensino completarem o percurso,desenvolven<strong>do</strong> seus próprios currículos.Estes currículos, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s competênciastransversais e de indicações genéricas de conteú<strong>do</strong>sestabeleci<strong>da</strong>s no âmbito nacional, devemincluir: um recorte <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>; sugestãode meto<strong>do</strong>logia de ensino e de materiais deapoio didático e situações de aprendizagem;procedimentos de avaliação; e as necessi<strong>da</strong>desde formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s professores.No Brasil, em função <strong>do</strong> regime federativoe <strong>do</strong> regime de colaboração entre União,Esta<strong>do</strong>s e Municípios, a mediação entre oâmbito nacional e o estadual, municipal ouescolar demarca o espaço de articulação entreas competências transversais ou competênciaspara aprender e os conteú<strong>do</strong>s curriculares.Nesse marco institucional, portanto,esse trabalho articula<strong>do</strong>r é de responsabili<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, Municípios ou escolas.A aprendizagem em contextoA passagem <strong>da</strong>s competências transversaispara aprender para as competências a constituirem ca<strong>da</strong> área ou conteú<strong>do</strong> curricular ea passagem <strong>da</strong> representação, investigação eabstração para a comunicação, compreensãoe contextualização, são facilita<strong>da</strong>s por meiode duas estratégias: a aprendizagem em contextoe a interdisciplinari<strong>da</strong>de.A contextualização é a abor<strong>da</strong>gem para realizara já menciona<strong>da</strong>, indispensável e difícil tarefade cruzar a lógica <strong>da</strong>s competências com alógica <strong>do</strong>s objetos de aprendizagem. Para queo conhecimento constitua competência e sejamobiliza<strong>do</strong> na compreensão de uma situaçãoou na solução de um problema, é preciso quesua aprendizagem esteja referi<strong>da</strong> a fatos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><strong>do</strong> aluno, a seu mun<strong>do</strong> imediato, ao mun<strong>do</strong> remotoque a comunicação tornou próximo ouao mun<strong>do</strong> virtual cujos avatares têm existênciareal para quem participa de sua lógica.Quan<strong>do</strong> a lei indica, entre as finali<strong>da</strong>des<strong>do</strong> ensino médio, etapa final <strong>da</strong> educaçãobásica, “a compreensão <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentoscientífico-tecnológicos <strong>do</strong>s processos produtivos,relacionan<strong>do</strong> a teoria com a prática, noensino de ca<strong>da</strong> disciplina” (Art. 35 inciso IV);ou quan<strong>do</strong>, no Art. 36, afirma que o currículo<strong>do</strong> ensino médio “destacará [...] a compreensão<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong>s letrase <strong>da</strong>s artes” (grifo nosso), está estabelecen<strong>do</strong>a aprendizagem em contexto como imperativope<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> educação básica. Maisain<strong>da</strong>, ao vincular os conteú<strong>do</strong>s curricularesReferencial Curricular 4.indd 22 25/8/2009 11:10:17


com os processos produtivos caracteriza umcontexto não apenas relevante, mas man<strong>da</strong>tóriopara tratar os conteú<strong>do</strong>s curriculares: omun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e <strong>da</strong> produção.O destaque <strong>da</strong> relação entre teoria e práticaem ca<strong>da</strong> disciplina, lembra que a dimensão<strong>da</strong> prática deve estar presente em to<strong>do</strong>sos conteú<strong>do</strong>s. A prática não se reduz a açõesobserváveis, experiências de laboratório ouelaboração de objetos materiais. A práticacomparece sempre que um conhecimentopode ser mobiliza<strong>do</strong> para entender fatos <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de social ou física, sempre que umconhecimento passa <strong>do</strong> plano <strong>da</strong>s abstraçõesconceituais para o <strong>da</strong> relação com areali<strong>da</strong>de. A aprendizagem em contexto é aabor<strong>da</strong>gem por excelência para estabelecera relação <strong>da</strong> teoria com a prática.As Diretrizes Curriculares Nacionais para oensino médio assim explicam a aprendizagemem contexto: “O tratamento contextualiza<strong>do</strong><strong>do</strong> conhecimento é o recurso que a escola tempara retirar o aluno <strong>da</strong> condição de especta<strong>do</strong>rpassivo. Se bem trabalha<strong>do</strong>, permite que,ao longo <strong>da</strong> transposição didática, o conteú<strong>do</strong><strong>do</strong> ensino provoque aprendizagens significativasque mobilizem o aluno e estabeleçamentre ele e o objeto <strong>do</strong> conhecimento umarelação de reciproci<strong>da</strong>de. A contextualizaçãoevoca por isso áreas, âmbitos ou dimensõespresentes na vi<strong>da</strong> pessoal, social e cultural, emobiliza competências cognitivas já adquiri<strong>da</strong>s”(Parecer 15/98 <strong>da</strong> Câmara de EducaçãoBásica <strong>do</strong> Conselho Nacional de Educação).Organizar situações de aprendizagem nasquais os conteú<strong>do</strong>s sejam trata<strong>do</strong>s em contextorequer relacionar o conhecimento científico,por exemplo, a questões reais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> aluno,ou a fatos que o cercam e lhe fazem senti<strong>do</strong>.A Biologia ou a Química precisam fazersenti<strong>do</strong> como recursos para entender opróprio corpo e gerenciar sua saúde, paraidentificar os problemas envolvi<strong>do</strong>s no uso dedrogas, na a<strong>do</strong>ção de dietas radicais, ou naagressão ao meio ambiente.Mas a contextualização não pode ser umfim em si mesma. Se a transposição didáticase limitar ao contexto, o conhecimento constituí<strong>do</strong>pode ficar refém <strong>do</strong> imediato, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>particular <strong>da</strong>quele contexto, e essa não éa finali<strong>da</strong>de última <strong>do</strong> currículo. Como recorte<strong>da</strong> cultura humanista, científica e artística,que se sistematiza e organiza em nível maisuniversal e abstrato, o currículo quer, em últimainstância, tornar o aluno participantedessa cultura sistematiza<strong>da</strong>.Partir <strong>do</strong> que é próximo significativo e presenteno mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno é uma estratégia.Seu propósito final é propiciar apropriação<strong>da</strong>quilo que, mesmo sen<strong>do</strong> longínquo, sistemáticoe planetário, também é intelectual eemocionalmente significativo. A contextualização,portanto, não elimina, ao contrário,requer um fechamento pela sistematizaçãoe pela abstração. Não queremos ci<strong>da</strong>dãosaprisiona<strong>do</strong>s em seu mun<strong>do</strong> cultural e afetivopróximo, queremos ci<strong>da</strong>dãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nosenti<strong>do</strong> mais generoso dessa expressão.Interdisciplinari<strong>da</strong>decomo prática permanenteA interdisciplinari<strong>da</strong>de acontece como umcaso particular de contextualização. Como oscontextos são quase sempre multidisciplinares,quan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> de uma determina<strong>da</strong> áreaou disciplina é em contexto, é quase inevitávela presença de outras áreas de conhecimento.Um conteú<strong>do</strong> de história, por exemplo, no contextode um lugar, instituição ou tempo específico,depara-se com questões de geografia, demeio ambiente, de política ou de cultura. Nessaaprendizagem em contexto trata-se não apenasde aprender fatos históricos, mas de entenderrelações <strong>do</strong> tipo: como os recursos naturais determinarama história <strong>do</strong>s povos e o que aconteceuquan<strong>do</strong> esses recursos se esgotaram; oucomo a história de um lugar foi determina<strong>da</strong>por seu relevo ou bacia hidrográfica. Esse entendimentoinevitavelmente requer conhecimentosde biologia e geografia para aprender o quesão os recursos naturais e entender o territóriocomo determinante desses recursos.2323Referencial Curricular 4.indd 23 25/8/2009 11:10:17


24A interdisciplinari<strong>da</strong>de acontece naturalmentese houver sensibili<strong>da</strong>de para o contexto,mas sua prática e sistematização deman<strong>da</strong>mtrabalho didático de um ou mais professores.Por falta de tempo, interesse ou preparo, oexercício <strong>do</strong>cente na maioria <strong>da</strong>s vezes ignoraa intervenção de outras disciplinas na reali<strong>da</strong>deou fato que está trabalhan<strong>do</strong> com os alunos.Há inúmeras formas de realizar ativi<strong>da</strong>des outrabalhos interdisciplinares. Muitos professores<strong>do</strong>s anos iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental trabalhamde mo<strong>do</strong> interdisciplinar. Mesmo o professordisciplinarista pode realizar a “interdisciplinari<strong>da</strong>dede um professor só”, identifican<strong>do</strong>e fazen<strong>do</strong> relações entre o conteú<strong>do</strong> de suadisciplina e o de outras, existentes no currículoou não. Numa mesma área de conhecimentoas possibili<strong>da</strong>des de abor<strong>da</strong>gem interdisciplinarsão ain<strong>da</strong> mais amplas, seja pelo fato de umprofessor assumir mais de uma disciplina <strong>da</strong>área, seja pela proximi<strong>da</strong>de entre elas que permiteestabelecer conexões entre os conteú<strong>do</strong>s.A interdisciplinari<strong>da</strong>de, portanto, não precisa,necessariamente, de um projeto específico.Pode ser incorpora<strong>da</strong> no plano de trabalho <strong>do</strong>professor de mo<strong>do</strong> contínuo; pode ser realiza<strong>da</strong>por um professor que atua em uma sódisciplina ou por aquele que dá mais de uma,dentro <strong>da</strong> mesma área ou não; e pode, finalmente,ser objeto de um projeto, com um planejamentoespecífico, envolven<strong>do</strong> <strong>do</strong>is ou maisprofessores, com tempos e espaços próprios.Ao tratarmos <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mentallevar em conta que, como o próprionome indica, ela implica a existência de disciplinas.Sem <strong>do</strong>mínios disciplinares não há relaçõesa estabelecer. Por esta razão, é convenientelembrar que a melhor interdisciplinari<strong>da</strong>de éa que se dá por transbor<strong>da</strong>mento, ou seja, é o<strong>do</strong>mínio profun<strong>do</strong> e consoli<strong>da</strong><strong>do</strong> de uma disciplinaque torna claras suas fronteiras e suas “incursões”nas fronteiras de outras disciplinas ousaberes. Dessa forma, o trabalho interdisciplinarnão impede e, ao contrário, pode requerer queuma vez trata<strong>do</strong> o objeto de perspectivas disciplinaresdistintas, se promova o movimento aocontrário, sistematizan<strong>do</strong> em nível disciplinar osconhecimentos constituí<strong>do</strong>s interdisciplinarmente.Duas observações para concluir.A interdisciplinari<strong>da</strong>de pode ser simples,parte <strong>da</strong> prática cotidiana <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong> currículona escola e <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong> ensino na salade aula. Para isso, mais <strong>do</strong> que um projeto específico,é preciso que o currículo seja conheci<strong>do</strong>e entendi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, que os planos <strong>do</strong>sprofessores sejam articula<strong>do</strong>s, que as reuniõeslevantem continuamente os conteú<strong>do</strong>s queestão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s e as possibili<strong>da</strong>desde conexão entre eles, que exista aberturapara aprender um com o outro.Segun<strong>do</strong>, a interdisciplinari<strong>da</strong>de requer generosi<strong>da</strong>de,humil<strong>da</strong>de e segurança. Humil<strong>da</strong>depara reconhecer nossas limitações diante <strong>da</strong>ousa<strong>da</strong> tarefa de conhecer e levar os alunos aconhecerem o mun<strong>do</strong> que nos cerca. Generosi<strong>da</strong>depara admitir que a “minha” disciplinanão é a única e, talvez, nem a mais importantenum determina<strong>do</strong> contexto e momento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>de uma escola. E segurança, porque só quemconhece profun<strong>da</strong>mente sua disciplina pode<strong>da</strong>r-se ao luxo didático de abrir para os alunosoutras formas de entender o mesmo fenômenoou de buscar em outros o auxílio para isso.Referências:ETTAYEBI, Moussa<strong>da</strong>k; OPERTTI, Renato; JONNAERT,Philippe. Logique de compétences et dévelopment curriculaire:débats, perspectives et alternative pour lessystèmes éducatifs. Paris: Harmattan, 2008.DENYER, Monique; FURNÉMONT, Jacques; POU-LAIN, Roger; VANLOUBBEECK, Georges. Las competenciasem éducación: un balance. Mexico: Fon<strong>do</strong>de Cultura Económica, 2007.Referencial Curricular 4.indd 24 25/8/2009 11:10:17


Por que competências ehabili<strong>da</strong>des na educação básica?2525Lino de Mace<strong>do</strong>Instituto de Psicologia, USP 2009O objetivo de nossa reflexão é analisar oproblema <strong>da</strong> aprendizagem relaciona<strong>da</strong> aodesenvolvimento de competências e habili<strong>da</strong>desna educação básica. Em outras palavras,trata-se de pensar a questão – quaissão os argumentos para a defesa de um currículocomprometi<strong>do</strong> com o desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des na educaçãobásica? Sabemos que elas sempre foramuma condição para a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> exercíciode profissões qualifica<strong>da</strong>s e socialmentevaloriza<strong>da</strong>s. Mas, hoje, temos duas alteraçõesfun<strong>da</strong>mentais, que expressam conquistasde direitos humanos e superação de desigual<strong>da</strong>dessociais. Primeira, competênciase habili<strong>da</strong>des são julga<strong>da</strong>s necessárias parato<strong>da</strong>s as profissões e ocupações. Segun<strong>da</strong>,mais que isto, são essenciais para uma boagestão e cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>, na formacomplexa que assume, hoje.O melhor momento e lugar para formarcompetências profissionais é na escola superiorou em cursos de habilitação. O melhormomento e lugar para formar competênciase habili<strong>da</strong>des váli<strong>da</strong>s para qualquer profissãoe que têm valor para a vi<strong>da</strong> como um to<strong>do</strong> éna educação básica, ou seja, no sistema deensino que a compõe (Escola de Educação Infantil,Escola Fun<strong>da</strong>mental e Escola de EnsinoMédio). E se os conteú<strong>do</strong>s e os procedimentosrelativos às competências e habili<strong>da</strong>des profissionaissão necessariamente especializa<strong>do</strong>s,as competências e habili<strong>da</strong>des básicas só podemser gerais e considera<strong>da</strong>s nas diferentesdisciplinas que compõem o currículo <strong>da</strong> educaçãobásica. Daí nossa opção pelas competênciasvaloriza<strong>da</strong>s no Exame Nacional <strong>do</strong>ensino médio (ENEM) como referência.Consideremos, agora, o problema <strong>da</strong>aprendizagem em si mesma. Aprender semprefoi e será uma necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser humano.É que os recursos biológicos (esquemasinatos ou reflexos) de que dispomos aonascer não são suficientes, ocorren<strong>do</strong> o mesmocom os valores e condições socioculturaisque lhes são complementares, expressoscomo cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s adultos. Por exemplo, acriança nasce saben<strong>do</strong> mamar, isto é, nascecom esquema reflexo de sucção. Mas nestereflexo não estão previstos, nem poderiamestar, as características (físicas, psicológicas,sociais, culturais, etc.) <strong>da</strong> mama e <strong>da</strong> mamãe,que a amamentará. Da parte <strong>da</strong> mamãe é amesma coisa. Mesmo que ter um filho sejaum projeto queri<strong>do</strong>, sua mama cheia de leitee seu coração cheio de disponibili<strong>da</strong>de nãosubstituem os esforços de sucção de seu filho,deste filho em particular, com suas característicase condições singulares, não previsíveispara a pessoa que cui<strong>da</strong>rá dele. Paraque esta interação entre <strong>do</strong>is particularesseja bem sucedi<strong>da</strong>, mesmo que apoia<strong>da</strong> em<strong>do</strong>is gerais (uma criança e uma mãe), ambosterão de aprender continuamente, terão dereformular, corrigir, estender, aprofun<strong>da</strong>r osaspectos adquiri<strong>do</strong>s.Aprender é uma necessi<strong>da</strong>de constante <strong>do</strong>ser humano, necessi<strong>da</strong>de que encerra muitosconflitos e problemas, apesar de sua importância.Nem sempre reunimos ou <strong>do</strong>minamosos diferentes elementos que envolvem umaaprendizagem. Cometemos erros. Calculamosmal, não sabemos observar os aspectospositivos e negativos que compreendemuma mesma coisa, nem sempre sabemosponderar os diferentes la<strong>do</strong>s de um mesmoproblema. Daí a necessi<strong>da</strong>de de fazer regulações,de prestar atenção, aperfeiçoar, orientaras ações em favor <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> busca<strong>do</strong>.Este processo é sustenta<strong>do</strong> pelo interesse deReferencial Curricular 4.indd 25 25/8/2009 11:10:17


26aprender. As crianças desde ce<strong>do</strong> descobremo prazer funcional de realizar uma mesmaativi<strong>da</strong>de, de repeti-la pelo gosto de repetir,pelo gosto de explorar ou investigar mo<strong>do</strong>sde compreender e realizar, de enfrentar e resolverproblemas que elas mesmas se colocam.Gosto de aprender, não só pelas consequências,não só como um meio para outrofim, mas como um fim em si mesmo. Comoconservar na escola este mo<strong>do</strong> de se relacionarcom os processos de aprendizagem? Ummo<strong>do</strong> que a reconhece como solução paraum problema interessante? Que valoriza aaprendizagem não apenas por suas consequênciasfuturas (algo difícil de ser entendi<strong>do</strong>por uma criança), mas pelo prazer funcionalde realizá-la em um contexto de problemas,tarefas ou desafios que comportam significaçõespresentes, atuais, para os alunos?Uma característica de certas formas deaprendizagem é que, em sen<strong>do</strong> adquiri<strong>da</strong>s,se estabelecem como hábitos ou padrõescondiciona<strong>do</strong>s. Funcionam como mo<strong>do</strong>sde respostas que, uma vez adquiri<strong>da</strong>s, nospossibilitam responder de mo<strong>do</strong> pronto, imediatoaos problemas <strong>do</strong> cotidiano. Mesmoque seus processos de formação tenhamsi<strong>do</strong> ativos, presentes, pouco a pouco vãose tornan<strong>do</strong> habituais. Se estas respostas sãosuficientes, tu<strong>do</strong> bem. Se não, muitas vezestemos desistências, desinteresses, ocorrênciasde padrões emocionais negativos. Alémdisso, nelas o interesse é sustenta<strong>do</strong> porconsequências (ameaças, reforços) externasque substituem, agora, o prazer funcional <strong>da</strong>própria ação. Fazemos porque é necessáriofazer, porque deve ser feito.Há outras formas de aprendizagem quesempre deverão conservar o sabor e o desafiode seus mo<strong>do</strong>s de construção. Sempre terãoalgo original, novo como forma ou conteú<strong>do</strong>,que nunca será suficiente repetir ou aplicaro já conheci<strong>do</strong>. Não é assim, por exemplo,em uma situação de jogo? Por mais que seusobjetivos e regras sejam conheci<strong>do</strong>s, por maisque a estrutura (sistema de normas e valores)se mantenha, ca<strong>da</strong> parti<strong>da</strong> tem sua especifici<strong>da</strong>de,tem problemas e desafios cuja resoluçãonão se reduz a um conheci<strong>do</strong> ou controlável.Ou seja, não basta repetir ou seguir umhábito ou resposta aprendi<strong>da</strong>. É necessárioestar presente, sensível, atento aos diferentesaspectos que caracterizam o desenrolarde uma parti<strong>da</strong>. É necessário manter o foco(concentração), saber planejar, antecipar, fazerboas inferências, tornar-se um observa<strong>do</strong>rde si mesmo, <strong>do</strong> oponente e <strong>do</strong> próprio jogo.Além disso, nesta situação o sujeito deve semanter ativo, não passivo nem distraí<strong>do</strong>, conscientede que suas ações têm consequênciase que supõem boa capaci<strong>da</strong>de de leitura e detoma<strong>da</strong> de decisão. Esta forma de aprendizagem– como se pôde observar – tem to<strong>da</strong>sas características que qualificam uma pessoacompetente e habili<strong>do</strong>sa.Aprender é muito importante, dentro e fora<strong>da</strong> escola. Qual a diferença entre estes <strong>do</strong>isambientes? Na escola, a aprendizagem se referea <strong>do</strong>mínios que só ela pode melhor prover.São aprendizagens que supõem professorese gestores, intencionali<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica,projeto curricular, materiais e recursos didáticos,to<strong>do</strong> um complexo e caro sistema deensino e avaliação que sustenta e legitima osconhecimentos pelos quais a escola é socialmenteresponsável por sua transmissão e valorização.Fora <strong>da</strong> escola, to<strong>do</strong>s estes aspectosnão estão presentes, só o ter de aprender éque se mantém. Seja por exigências externas(<strong>do</strong>s pais, por exemplo) ou por exigências internas(a criança quer brincar ou usar um objetoe o que já sabe não é suficiente para isso).Necessi<strong>da</strong>de constante de aprender combinacom características de nossa socie<strong>da</strong>de atual:tecnológica, consumista, globaliza<strong>da</strong> e influencia<strong>da</strong>pelo conhecimento científico. Sãomuitos interesses, problemas, informações,novi<strong>da</strong>des a serem adquiri<strong>do</strong>s, consumi<strong>do</strong>s.E não basta poder comprar ou possuir umatecnologia, é preciso aprender a usá-la e, depreferência, a usá-la bem.Como oferecer na escola as bases paraas aprendizagens fora dela? Como reconhecere assumir que em uma cultura tecnológicaderiva<strong>da</strong> <strong>do</strong> conhecimento científico, emuma socie<strong>da</strong>de de consumo, globaliza<strong>da</strong>, osReferencial Curricular 4.indd 26 25/8/2009 11:10:17


conhecimentos e seus mo<strong>do</strong>s de produção,os valores e suas orientações positivas e negativas,são ca<strong>da</strong> vez mais uma decisão pessoale coletiva ao mesmo tempo? No âmbito<strong>da</strong> escola, a aprendizagem é geri<strong>da</strong> pelosprofissionais <strong>da</strong> educaçã. Fora dela, trata-sede uma gestão de pessoas sobre algo, cujacomplexi<strong>da</strong>de e importância requerem habili<strong>da</strong>dese competências aplicáveis ao contextoprofissional, mas igualmente para as formasde conduzir a própria vi<strong>da</strong> e suas implicaçõesambientais e coletivas.O que significa competência? Consideremosos principais significa<strong>do</strong>s propostos nodicionário (Aurélio Eletrônico, por exemplo):1. Facul<strong>da</strong>de concedi<strong>da</strong> por lei a um funcionário,juiz ou tribunal para apreciare julgar pleitos ou questões.2. Quali<strong>da</strong>de de quem é capaz de apreciare resolver certo assunto, fazer determina<strong>da</strong>coisa; capaci<strong>da</strong>de, habili<strong>da</strong>de,aptidão, i<strong>do</strong>nei<strong>da</strong>de.3. Oposição, conflito, luta.O significa<strong>do</strong> 1 indica que se trata de umpoder atribuí<strong>do</strong> a alguém para fazer julgamentos,tomar decisões. Destaquemos aqui<strong>do</strong>is aspectos: competência requer uma instituiçãoou órgão com legitimi<strong>da</strong>de para estaatribuição e que confere ou transfere aos seuspossui<strong>do</strong>res um poder para. O significa<strong>do</strong> 2qualifica estes poderes em termos de capaci<strong>da</strong>de,habili<strong>da</strong>de, i<strong>do</strong>nei<strong>da</strong>de de uma pessoa.O significa<strong>do</strong> 3 caracteriza o contexto( situações de oposição, conflito ou luta) emque a competência se aplica. Depreende-se<strong>da</strong> proposição <strong>do</strong> dicionário que o melhorexemplo de competência é aquela que se verifica,ou que deveria se verificar, no sistemajurídico. Depreende-se, também, pelo significa<strong>do</strong>3, que competência se refere a situaçõesnas quais as pessoas envolvi<strong>da</strong>s em umasituação de conflito ou oposição não podemou não sabem elas mesmas <strong>da</strong>rem conta <strong>do</strong>problema, recorren<strong>do</strong> à justiça para que sedeci<strong>da</strong> pela melhor solução para o conflito.Como transpor estas significações para ocampo educacional, sobretu<strong>do</strong> para a escolafun<strong>da</strong>mental? Por que fazer isto? O quese conserva, o que se modifica em relaçãoao que está proposto no dicionário? O quese conserva é que uma instituição – a escola– mantém o direito e a obrigação de legitimaro ensino que transmite aos alunos. Esteensino corresponde a competências e habili<strong>da</strong>des,não profissionais no senti<strong>do</strong> estrito,mas fun<strong>da</strong>mentais seja para a aprendizagemde uma profissão ou, principalmente, para ocui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>. Vi<strong>da</strong> cuja naturezacomplexa, interdependente, exige toma<strong>da</strong>sde decisão e enfrentamentos em contexto demuitas oposições, conflitos, oportuni<strong>da</strong>desdiversas ou impedimentos e dificul<strong>da</strong>des quese expressam de muitas formas.Na educação básica, como menciona<strong>do</strong>,as competências a serem desenvolvi<strong>da</strong>s nãosão relativas a profissões em sua especifici<strong>da</strong>de.Como se viu no dicionário, a significaçãotradicional de competência refere-se à capaci<strong>da</strong>deou habili<strong>da</strong>de de um profissional, legitima<strong>do</strong>por uma instituição, para apreciar,julgar ou decidir situações que envolvem conflito,luta, oposição. Por exemplo, uma pessoaque está <strong>do</strong>ente recorre a um médico para sertrata<strong>da</strong>. Do ponto de vista <strong>do</strong>s gestores e <strong>do</strong>sprofessores, ou seja, <strong>do</strong>s profissionais <strong>da</strong> educação(ou <strong>da</strong> aprendizagem), o mesmo acontece;espera-se que eles sejam competentespara cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais<strong>da</strong>s crianças (aprender a ler e a escrever, etc.),pois nenhuma delas pode fazer isto por simesma. Seus recursos são insuficientes e emcaso de conflito relacional, brigas, disputas,nem sempre podem chegar por si mesmas auma boa solução destes impasses. Nestes <strong>do</strong>isexemplo, limites para a aprendizagem escolare dificul<strong>da</strong>des ou problemas relacionais, gestorese professores são profissionais qualifica<strong>do</strong>s,ou devem ser, para transformarem estaslimitações em oportuni<strong>da</strong>des de construçãode conhecimento.Defender no currículo <strong>da</strong> educação básicao desenvolvimento de competências e habili<strong>da</strong>dessignifica ampliar sua função tradicional– relaciona<strong>da</strong> especificamente ao âmbitoprofissional, consideran<strong>do</strong>-as também na2727Referencial Curricular 4.indd 27 25/8/2009 11:10:17


28perspectiva <strong>do</strong>s alunos, incluin<strong>do</strong> por istomesmo conhecimentos e valores que envolvema vi<strong>da</strong> pessoal e social como um to<strong>do</strong>.E isto se faz através <strong>da</strong>s disciplinas escolares,<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, méto<strong>do</strong>s e recursos necessáriosao ensino <strong>da</strong>s matérias que compõema grade curricular. Trata-se, então, de criarsituações de aprendizagem organiza<strong>da</strong>s paradesenvolver competências e habili<strong>da</strong>des nocontexto <strong>da</strong>s disciplinas. Nestas situações,como propusemos, as competências de referênciasão as <strong>do</strong> ENEM e as habili<strong>da</strong>dessão as que possibilitam aprender os conteú<strong>do</strong>sdisciplinares, ou seja, observar, identificar,comparar, reconhecer, calcular, discutir,definir a ideia principal, desenhar, respeitar,consentir, etc. Assim, o aluno, pouco a pouco,vai se tornan<strong>do</strong> uma pessoa habili<strong>do</strong>sa, que fazbem feito, que tem destreza mental ou física,que valoriza, porque aprendeu a fazer bem, acompreender bem, a viver e conviver bem.Estamos sonhan<strong>do</strong>? Quem sabe, mas sãoestes tipos de sonhos que justificam o nossopresente como profissionais <strong>da</strong> educação,que nos dão esperança para um futuro melhore mais digno para nossos alunos. Queos professores <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul se sintambem qualifica<strong>do</strong>s hoje, para esta imensatarefa de construir em seus alunos as basespara um melhor amanhã!Referencial Curricular 4.indd 28 25/8/2009 11:10:17


A gestão <strong>da</strong> escola comprometi<strong>da</strong>com a aprendizagem2929Sonia Balzano eSônia BierNos últimos anos, a socie<strong>da</strong>de brasileiravem toman<strong>do</strong> consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de demelhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino ofereci<strong>do</strong> àmaioria <strong>da</strong> população, por meio <strong>do</strong> fortalecimentoe <strong>da</strong> qualificação <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong> escola.A gestão escolar deve mobilizar e articular ascondições materiais e humanas necessárias àpromoção <strong>da</strong> efetiva aprendizagem <strong>do</strong>s alunos,tornan<strong>do</strong>-os capazes de enfrentar os desafios<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> século XXI.A partir <strong>da</strong> LDB (art.15), a escola passou ater maior autonomia nas áreas administrativa,pe<strong>da</strong>gógica e financeira, e a sua gestão tornou-semais complexa, o que passou a exigir<strong>da</strong> equipe gestora, além de uma visão global,a capaci<strong>da</strong>de de reconhecer que na socie<strong>da</strong>de<strong>do</strong> conhecimento, a dimensão pe<strong>da</strong>gógica<strong>da</strong> gestão é a mais importante. Assim, o foco<strong>da</strong> gestão passa a ser pe<strong>da</strong>gógico e as dimensõesadministrativa e financeira são meiospara alcançar as finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> educação.Para responder às exigências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<strong>do</strong> conhecimento, o Movimento To<strong>do</strong>s pelaEducação estabeleceu 5 metas para a educaçãobrasileira, que devem ser cumpri<strong>da</strong>s até2022. Entre elas, a de número três prevê que“to<strong>do</strong> aluno apren<strong>da</strong> o que é adequa<strong>do</strong> à suasérie”. Mas, o que é adequa<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> série?Hoje, na rede estadual, ca<strong>da</strong> escola fixa oque entende ser o adequa<strong>do</strong>. Pois não há referênciasque definam as aprendizagens necessáriasem ca<strong>da</strong> momento <strong>da</strong> educação básica,o que abre espaço para os livros didáticos fazeremesse papel. Os parâmetros e as diretrizescurriculares nacionais têm caráter geral, nãosuprem essa necessi<strong>da</strong>de. Apenas as matrizesde competência <strong>da</strong>s avaliações externas, comoo SAEB e a PROVA BRASIL, estabelecem umpatamar de aprendizagens a serem atingi<strong>da</strong>sao final <strong>da</strong> 4ª série/5º ano e <strong>da</strong> 8ª série/9ºano <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e <strong>do</strong> 3º ano <strong>do</strong> ensinomédio. O SAERS avalia aprendizagens deséries intermediárias, utilizan<strong>do</strong> a mesma matriz<strong>do</strong> SAEB. Embora tenham finali<strong>da</strong>de diversa,essas avaliações tornam-se, em muitos casos,referência para as aprendizagens na escola,desempenhan<strong>do</strong> outro papel além <strong>da</strong>quelepara o qual foram cria<strong>do</strong>s.Com a intenção de suprir essa lacuna, apresentamosàs escolas <strong>da</strong> rede estadual <strong>do</strong> RSestes Referenciais Curriculares que fixam, porárea de conhecimentos e disciplinas, aprendizagensque devem ocorrer em ca<strong>da</strong> momento<strong>da</strong> educação básica, a partir <strong>da</strong> 5ª série <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental, indican<strong>do</strong> a uni<strong>da</strong>de mínimaque deve ser comum a uma rede de ensino.Em consonância com as mais atualiza<strong>da</strong>sconcepções de currículo, este Referencial deslocao foco <strong>do</strong> ensino para a aprendizagem,o que significa organizar o processo educativopara o desenvolvimento de competências básicasque a socie<strong>da</strong>de deman<strong>da</strong>.Por isso, o planejamento <strong>da</strong>s situações deaprendizagem em to<strong>da</strong>s as áreas <strong>do</strong> conhecimento,respeita<strong>da</strong>s suas especifici<strong>da</strong>des, tem afinali<strong>da</strong>de de levar o aluno a: expressar idéiascom clareza, oralmente e por escrito; analisarinformações e proposições de formacontextualiza<strong>da</strong>; ser capaz de tomar decisõese argumentar; e resolver problemas/conflitos. Essas competências estão previstasna LDB em objetivos <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental(artigo 32), como “o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>dede aprender, ten<strong>do</strong> como meios básicoso pleno <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita e <strong>do</strong> cálculo”,e <strong>do</strong> ensino médio, (artigo 35), em especial,“a preparação básica para o trabalho e aci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, para continuar aprenden<strong>do</strong>,de mo<strong>do</strong> a ser capaz de se a<strong>da</strong>ptar comReferencial Curricular 4.indd 29 25/8/2009 11:10:17


30flexibili<strong>da</strong>de a novas condições de ocupaçãoou aperfeiçoamento posteriores”.Orienta<strong>do</strong>s por este Referencial Curricular, aproposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola, os planos de estu<strong>do</strong>e os planos de trabalho de ca<strong>da</strong> professor,terão que responder à deman<strong>da</strong> de construção deuma escola capaz de superar uma concepção tradicionalde educação apoia<strong>da</strong> na memorizaçãode fatos, fórmulas e informações.A escola interativa que se idealiza deverápromover o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>dede aprender e a autonomia intelectual<strong>do</strong>s alunos, por meio de estratégiaspe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s, ações efetivas deinterdisciplinari<strong>da</strong>de e de contextualização<strong>do</strong> conhecimento que se tornam aqui princípiosorganiza<strong>do</strong>res.Para isso, em ca<strong>da</strong> área <strong>do</strong> conhecimento,nível e série, são propostas ações de intervençãope<strong>da</strong>gógica com foco no desenvolvimentode competências gerais e habili<strong>da</strong>des específicasque, no seu conjunto, estabelecemas aprendizagens básicas para os alunos <strong>do</strong>ensino fun<strong>da</strong>mental e médio.A proposta pe<strong>da</strong>gógicae o Referencial CurricularPara compreender o significa<strong>do</strong> e a responsabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> implantação <strong>do</strong> Referencial Curricularnas escolas <strong>da</strong> rede estadual, é precisoconhecer o tamanho <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça que deveráocorrer. Com essa finali<strong>da</strong>de, é apresenta<strong>do</strong>um quadro comparativo de alguns aspectos <strong>da</strong>escola que se tem com a escola que se deveconstruir, sem ignorar que ca<strong>da</strong> escola é umareali<strong>da</strong>de e os esforços para a mu<strong>da</strong>nça serãode diferentes dimensões.PrincípiosConteú<strong>do</strong>CurrículoEscola de século XIX e XXDireito ao ensinoUm fim em si mesmoFragmenta<strong>do</strong> por disciplinasPrivilegia a memória e apadronizaçãoLinear e estáticoEscola <strong>do</strong> Século XXIDireito de aprenderUm meio para desenvolver competências e habili<strong>da</strong>desInterdisciplinar e contextualiza<strong>do</strong>Construção e sistematização de conceitos emrede, articula<strong>do</strong> com processos de aprendizagemOrganiza<strong>do</strong> por áreas <strong>do</strong> conhecimento, uni<strong>da</strong>destemáticas e conjunto de competênciasMeto<strong>do</strong>logia<strong>Professor</strong>Centra<strong>da</strong> no ensinoTransmissão e recepção deconhecimentoAtivi<strong>da</strong>des rotineiras e padroniza<strong>da</strong>sLivro didático como nortea<strong>do</strong>r <strong>do</strong>currículoApoio ao ensinoTransmissor de informaçãoResistência à mu<strong>da</strong>nçaCentra<strong>da</strong> na aprendizagemConstrução <strong>do</strong> conhecimento orienta<strong>do</strong> peloprofessorAtivi<strong>da</strong>des diversifica<strong>da</strong>s com foco no desenvolvimentode habili<strong>da</strong>des e competênciasLivro como recurso didático e a tecnologiaeducacionalApoio à aprendizagemOrienta<strong>do</strong>r e media<strong>do</strong>rAberto às mu<strong>da</strong>nças legais e pe<strong>da</strong>gógicasAlunoGestãoPassivoCentraliza<strong>da</strong> com foco noadministrativo e burocráticoProtagonista e ativoEspaço e Tempo Sala de Aula/Aula Diversifica<strong>do</strong> e flexívelDemocrática e participativa com pre<strong>do</strong>minâ cia<strong>da</strong> dimensão pe<strong>da</strong>gógica que tem o aluno e aaprendizagem como focoFonte: Educação Escolar Brasileira: O que trouxemos <strong>do</strong> século XX ?, Guiomar Namo de Mello, 2004, com a<strong>da</strong>ptações.Referencial Curricular 4.indd 30 25/8/2009 11:10:18


A concretização dessa mu<strong>da</strong>nça é desafioàs escolas públicas estaduais <strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul, que deve ser enfrenta<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>publicação deste Referencial Curricular.Uma <strong>da</strong>s primeiras tarefas <strong>da</strong> escola,após conhecer os Referenciais, é a revisão<strong>da</strong> sua proposta pe<strong>da</strong>gógica. Essa tarefa seimpõe como um processo de reconstruçãocoletiva, lidera<strong>do</strong> pela equipe gestora, <strong>da</strong>qual devem participar to<strong>do</strong>s os professorese também representantes <strong>do</strong>s segmentos<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar. Para isso, é necessárioconsiderar alguns pressupostos basilares<strong>da</strong> proposta:• O aluno como sujeito de sua aprendizagem.• A construção <strong>do</strong> conhecimento decorrede processo progressivo de aprendizagem.• A superação <strong>da</strong> fragmentação <strong>do</strong> conhecimentoé estimula<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong>interdisciplinari<strong>da</strong>de.• A contextualização <strong>do</strong> conhecimento sedá a partir <strong>da</strong>s vivências e experiências<strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> aluno.• A organização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escolarestem como objetivo a motivação e mobilização<strong>do</strong>s alunos para o desejo deconhecer, descobrir e realizar, estimulan<strong>do</strong>o aprender a aprender.• O respeito às diferenças <strong>do</strong>s alunos sefaz por meio de trabalho diversifica<strong>do</strong>que tem a equi<strong>da</strong>de como princípioeducativo.• O estímulo à autonomia e o incentivoao trabalho em equipe e à aprendizagemcooperativa estão presentes nameto<strong>do</strong>logia sugeri<strong>da</strong>.Duas questões se impõem como fun<strong>da</strong>mentaispara efetivar essa mu<strong>da</strong>nça: a capaci<strong>da</strong>de<strong>da</strong> escola de concretizar na prática osprincípios de interdisciplinari<strong>da</strong>de e de contextualização<strong>do</strong> currículo e a organização eaproveitamento <strong>do</strong> tempo escolar.Interdisciplinari<strong>da</strong>de econtextualização <strong>do</strong> currículoComo se observa no quadro comparativo,ao contrário <strong>da</strong> escola tradicional, organiza<strong>da</strong>por disciplinas, que privilegiava a memóriaem detrimento <strong>da</strong> compreensão de conceitos,a escola contemporânea visa a construçãode aprendizagens significativas, mais permanentes.Esta escola, organiza<strong>da</strong> por áreas <strong>do</strong>conhecimento e que tem por finali<strong>da</strong>de o desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des,rompe o isolamento <strong>da</strong>s disciplinas, e propõeum trabalho interdisciplinar, “numa outra concepçãode divisão <strong>do</strong> saber, marca<strong>da</strong> pelainterdependência, interação e comunicaçãoentre as disciplinas volta<strong>da</strong>s para a integração<strong>do</strong> conhecimento em áreas significativas”(PORTELA e ATTA, 2001, p. 101).Essa cooperação ocorre a partir de uni<strong>da</strong>destemáticas e conceitos estruturantescomuns, que mobilizam diferentes conhecimentosescolares e/ou saberes oriun<strong>do</strong>sde experiências pessoais <strong>do</strong>s alunos, parareconstituição ou construção <strong>do</strong> objeto outema em estu<strong>do</strong>. A partir dessa premissa,o plano de trabalho <strong>do</strong> professor não deveser elabora<strong>do</strong> individualmente. Deve ser oresulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> construção coletiva pela equipede professores de determina<strong>da</strong> área <strong>do</strong>conhecimento.Por sua vez, a contextualização <strong>do</strong>s conhecimentosprecisa levar em conta a reali<strong>da</strong>dee as experiências de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> aluno e oque é relevante em relação aos conteú<strong>do</strong>sescolares. A primeira é um elemento naturalde mobilização cognitiva, afetiva e deinclusão <strong>do</strong> aluno. A segun<strong>da</strong> deve ser umelemento motiva<strong>do</strong>r para que o aluno seconstitua protagonista <strong>do</strong> seu processo deaprendizagem. Isso ocorre quan<strong>do</strong> as es-3131A interdisciplinari<strong>da</strong>de começa pelo planejamentoconjunto, por área <strong>do</strong> conhecimento, e seconcretiza pela cooperação entre as disciplinas.Referencial Curricular 4.indd 31 25/8/2009 11:10:18


32tratégias didáticas utiliza<strong>da</strong>s pelo professorsão capazes de despertar a curiosi<strong>da</strong>de, oprazer <strong>da</strong> descoberta e a satisfação <strong>do</strong> alunona solução de problemas.Embora a meto<strong>do</strong>logia de projetos sejaa forma mais indica<strong>da</strong> para desenvolver osprincípios de interdisciplinari<strong>da</strong>de e de contextualização<strong>do</strong> currículo, é preciso garantirque estes <strong>do</strong>is princípios estejam sempre presentesno cotidiano <strong>da</strong> sala de aula. No referencialcurricular de ca<strong>da</strong> área <strong>do</strong> conhecimento,o professor encontrará subsídios paraplanejar a intervenção didática adequa<strong>da</strong> aesses princípios.Outro aspecto fun<strong>da</strong>mental à gestão <strong>da</strong>aprendizagem refere-se à utilização <strong>do</strong> tempona escola. Por isso, esse tema precisa ser efetivamentediscuti<strong>do</strong> pela comuni<strong>da</strong>de escolar,para garantir as condições necessárias a implementaçãoe apropriação <strong>do</strong> novo ReferencialCurricular na proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola.Organização <strong>do</strong> tempo escolarA forma como o tempo escolar é organiza<strong>do</strong>reflete a concepção curricular e meto<strong>do</strong>lógicaa<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pela escola. O uso efetivo <strong>do</strong> tempo,a escolha <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des temáticas significativaspara os alunos e a oportuni<strong>da</strong>de de trocas einterações são características de escolas eficazes.Ninguém duvi<strong>da</strong> que é preciso tempo paraaprender, bem como para o aluno desenvolvercompetências relativas à organização e aocontrole de seu próprio tempo.Pesquisas realiza<strong>da</strong>s na última déca<strong>da</strong>no Brasil 1 , indicam que as escolas de ensinofun<strong>da</strong>mental funcionam em um tempo menorque o mínimo previsto na LDB, isto é, menosde 4 horas letivas diárias e consequentementeem menos de 800 horas anuais em 200dias. No RS, escolas <strong>da</strong> rede estadual trabalhamquatro horas letivas diárias nos anosfinais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, incluí<strong>do</strong> o recreio,o que, embora aceito pelas normas <strong>do</strong>Conselho Estadual de Educação – CEED (Pa-recer 705/97), se compara<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong>diário, de em média seis horas de aula, <strong>da</strong>maioria <strong>do</strong>s países <strong>da</strong> América Latina, é umtempo muito reduzi<strong>do</strong>.Embora a permanência na escola, por si sónão garanta a aprendizagem, a organização eo bom aproveitamento <strong>do</strong> tempo são elementosfun<strong>da</strong>mentais para o sucesso <strong>do</strong> aluno.Já existem estu<strong>do</strong>s que indicam estreitarelação entre o desempenho e o tempo detrabalho pe<strong>da</strong>gógico efetivo necessário aodesenvolvimento <strong>da</strong>s competências básicas.O aumento <strong>do</strong> tempo de permanência deprofessores e alunos na escola é uma metade qualificação <strong>da</strong> aprendizagem, que osgestores educacionais e as equipes escolaresprecisam alcançar. A ampliação dessetempo escolar é um compromisso que o RioGrande <strong>do</strong> Sul e o Brasil devem assumir.Por isso, entre as condições necessáriaspara a implementação <strong>do</strong> presente ReferencialCurricular está, sem dúvi<strong>da</strong>, o horárioescolar e seu aproveitamento. Assim, sugerem-sealternativas de distribuição <strong>da</strong> cargahorária semanal, no currículo <strong>do</strong>s ensinosfun<strong>da</strong>mental e médio, por áreas <strong>do</strong> conhecimento,uma com uma carga horária de 25horas-aula semanais e outra com 30 horasaulapor semana.A proposta de distribuição de maior númerode aulas para Língua Portuguesa e Matemáticajustifica-se por serem componentes fun<strong>da</strong>mentaispara a compreensão e sistematização<strong>do</strong>s conhecimentos <strong>do</strong> conjunto <strong>da</strong>s áreas <strong>do</strong>currículo. Além disso, concorrem originalmentepara o desenvolvimento <strong>da</strong>s competênciastransversais básicas de leitura, elaboração detexto e resolução de problemas, que orientameste Referencial Curricular.Nessas alternativas, com distribuição <strong>da</strong>carga horária por área <strong>do</strong> conhecimento,excetuam-se alguns componentes, como é o1Portela ´et alii´, 1997 e 1998; Fuller ´et alii´, 1999; Santiago, 1990 p. 47-60.Referencial Curricular 4.indd 32 25/8/2009 11:10:18


caso <strong>da</strong> Matemática, que é ao mesmo tempoárea e disciplina, <strong>da</strong>s Ciências, que no ensinofun<strong>da</strong>mental é uma síntese <strong>da</strong> área, e <strong>da</strong> Artee Educação Física, que, por suas especifici<strong>da</strong>-des, devem ser trata<strong>da</strong>s de forma disciplinar.Além <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong> carga horária entreas áreas <strong>do</strong> conhecimento, a organização<strong>do</strong> horário escolar deve orientar-se a partir3333Sugestão 1 - Ensino Fun<strong>da</strong>mental - anos finaisÁreas <strong>do</strong> Conhecimento Distribuição <strong>da</strong> carga horária – 25 h/semLinguagens e Códigos LPL/LEM - 7 h/a Arte e EF - 4 h/aMatemáticaCiências <strong>da</strong> NaturezaCiências HumanasE.Religioso5441Sugestão 2 - Ensino MédioÁreas <strong>do</strong> Conhecimento Distribuição <strong>da</strong> carga horária – 25 h/semLinguagens e Códigos LPL/LEM - 6 h/a Arte e EF - 3 h/aMatemáticaCiências <strong>da</strong> NaturezaCiências HumanasE.Religioso4651Sugestão 3 - Ensino Fun<strong>da</strong>mental - anos finaisÁreas <strong>do</strong> Conhecimento Distribuição <strong>da</strong> carga horária – 30 h/semLinguagens e Códigos LPL/LEM - 9 h/a Arte e EF - 4 h/aMatemáticaCiências <strong>da</strong> NaturezaCiências HumanasE.Religioso6551Sugestão 4 - Ensino MédioÁreas <strong>do</strong> Conhecimento Distribuição <strong>da</strong> carga horária – 30 h/semLinguagens e Códigos LPL/LEM - 8 h/a Arte e EF - 4 h/aMatemática6Ciências <strong>da</strong> Natureza6Ciências Humanas5E.Religioso1Referencial Curricular 4.indd 33 25/8/2009 11:10:18


pondem desde as ações internas <strong>da</strong> escola,desenvolvi<strong>da</strong>s por suas próprias equipes,até aquelas promovi<strong>da</strong>s pela SE/CRE, envolven<strong>do</strong>to<strong>da</strong> ou parte <strong>da</strong> rede de ensino.Nas horas-ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s professores devemser realiza<strong>da</strong>s reuniões, oficinas pe<strong>da</strong>gógicas,planejamento e troca de experiênciasentre professores <strong>da</strong> mesma escola, de maisde uma uni<strong>da</strong>de escolar, e entre os mais novose os mais experientes.3535MatemáticaMatemáticaHorário escolar semanalSegun<strong>da</strong> Terça Quarta Quinta SextaLinguagense CódigosLinguagense CódigosLinguagense CódigosLinguagense CódigosCiênciasHumanasEnsinoReligiosoCiências <strong>da</strong>NaturezaLinguagense CódigosMatemáticaCiênciasHumanasCiências <strong>da</strong>NaturezaHorário de reúniões semanais por áreaSegun<strong>da</strong> Terça Quarta Quinta SextaReuniãoCiências <strong>da</strong>NaturezaReuniãoCiênciasHumanas eEnsino ReligiosoReuniãoLinguagense CódigosReuniãoMatemáticaConsiderações finaisA implementação <strong>do</strong> Referencial Curricularna rede estadual de ensino é uma tarefadesafia<strong>do</strong>ra que não pode ser de responsabili<strong>da</strong>deexclusiva <strong>da</strong> escola. Exige a constituiçãode uma rede de cooperação entreescolas e CREs, Secretaria <strong>da</strong> Educação (SE)e outras instituições, pois a apropriação <strong>do</strong>Referencial Curricular pela equipe gestora,<strong>do</strong>centes e demais membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deescolar, deve ser processual e sistemática.Nesta perspectiva, a SE disponibilizaráespaço virtual no seu site para apoioReferencial Curricular 4.indd 35 25/8/2009 11:10:18


36pe<strong>da</strong>gógico e divulgação de práticas <strong>do</strong>centesexitosas. A CRE deverá assessorar o processode estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Referencial, a revisão <strong>da</strong> propostape<strong>da</strong>gógica, <strong>do</strong>s planos de estu<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s planosde trabalho <strong>do</strong>s professores, viabilizan<strong>do</strong> eotimizan<strong>do</strong> as orientações <strong>do</strong>s Referenciais.Para complementar a formação <strong>do</strong>s professores,as Instituições de Ensino Superior (IES)<strong>da</strong> região poderão ser chama<strong>da</strong>s a integraressa rede, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> continui<strong>da</strong>de, em sintoniacom o Referencial Curricular, à formação inicia<strong>da</strong>no curso Lições <strong>do</strong> Rio Grande que visaa capacitação <strong>do</strong>s professores, de to<strong>da</strong>s asáreas e disciplinas <strong>da</strong>s séries finais <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental e ensino médio, para implementaro currículo escolar com foco no desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des.À equipe diretiva <strong>da</strong> escola, cabe garantiras condições para que essas ações se efetivem,a partir:• <strong>da</strong> divulgação <strong>do</strong> Referencial Curricular àcomuni<strong>da</strong>de escolar;• <strong>do</strong> planejamento <strong>da</strong>s reuniões pe<strong>da</strong>gógicas,envolven<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os professores;• <strong>da</strong> implementação de medi<strong>da</strong>s administrativo-pe<strong>da</strong>gógicas,que visam a melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino e <strong>da</strong> aprendizagem <strong>do</strong>salunos, tais como as sugeri<strong>da</strong>s neste texto.Assim, será possível fazer, de mo<strong>do</strong> mais seguro,a transição entre a escola volta<strong>da</strong> para amemorização de conteú<strong>do</strong>s para a escola interativa,que atende aos princípios <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>dee contextualização <strong>do</strong> currículo no desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des.Cumpre reafirmar que a essência <strong>do</strong> trabalho<strong>da</strong> escola é o ensino e a aprendizagem.A autonomia <strong>da</strong> escola será tão ou maisefetiva, na medi<strong>da</strong> em que reconhecer o seupapel social, tiver clareza de seus fins e queseus professores <strong>do</strong>minem os conhecimentose a meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> sua área de atuação, e,principalmente, que assumam o compromissode que ca<strong>da</strong> aluno apren<strong>da</strong> o que é adequa<strong>do</strong>para a sua série, conforme a meta <strong>do</strong> MovimentoTo<strong>do</strong>s pela Educação.Para concluir, cabe referir Guiomar Namode Mello (2004), quan<strong>do</strong> diz: “As normas,vale lembrar, não mu<strong>da</strong>m a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>educação. Elas apenas criam as condiçõespara que as mu<strong>da</strong>nças sejam feitas pelosúnicos protagonistas em condições de fazê-las:as escolas e seus professores.”ReferênciasMELLO, Guiomar Namo de. Educação Escolar Brasileira: oque trouxemos <strong>do</strong> século XX?. Porto Alegre: Artmed, 2004.PIMENTA.Selma Garri<strong>do</strong>. Questões sobre a organização<strong>do</strong> trabalho na escola. Disponínel em www.srmariocovas.sp.gov.bracesso em 19 julho 2009.PORTELLA, Adélia e ATTA, Dilza. Dimensão Pe<strong>da</strong>gógica<strong>da</strong> Gestão <strong>da</strong> Educação. Guia de Consultapara o programa de Apoio aos Secretários Municipaisde Educação – PRASEM II. Brasília: FUNDES-COLA/MEC, 1999, p. 77-114.Referencial Curricular 4.indd 36 25/8/2009 11:10:20


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Referencial <strong>da</strong> Área de Ciências <strong>da</strong>Natureza: Ciências, Biologia,Física e Química3939Nos Parâmetros Curriculares Nacionais(BRASIL, 1998), as áreas <strong>do</strong> conhecimentosão integra<strong>da</strong>s por meio de três eixos fun<strong>da</strong>mentais:representação e comunicação; investigaçãoe compreensão; e contextualizaçãosociocultural. O aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo deconhecimentos <strong>da</strong> área de Ciências <strong>da</strong> Natureza,engloban<strong>do</strong> Ciências no ensino fun<strong>da</strong>mental,e Biologia, Física e Química no ensinomédio, deve ser planeja<strong>do</strong> levan<strong>do</strong>-se emconta esses três eixos, também chama<strong>do</strong>s decompetências gerais, a fim de garantir o processodesencadea<strong>do</strong>. A partir deles, pretendesedesenvolver prioritariamente as competênciasbásicas de leitura, produção de textos eresolução de problemas, considera<strong>da</strong>s prioritáriasna elaboração <strong>do</strong>s Referenciais Curriculares<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Ain<strong>da</strong> é importanteconsiderar, como reconheci<strong>do</strong> nos PCNs,que as Ciências Naturais, incluin<strong>do</strong> inúmerosramos <strong>da</strong> Ciência, tais como a Astronomia,a Biologia, a Física, a Química e as Geociências,abor<strong>da</strong>m diferentes conjuntos de fenômenosnaturais e geram representações<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ao buscar explicar a estrutura <strong>do</strong>Universo, a organização espacial, o tempo, avi<strong>da</strong> em geral e <strong>do</strong> ser humano, em particular,nos seus diferentes processos de organizaçãoe transformações; a energia e os movimentosmicro, meso e macroscópicos; a constituição<strong>da</strong> matéria. Na presente área, uma propostade estruturação curricular que considere ostrês eixos temáticos e prepare para a compreensãoqualifica<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em que se viveseria:• Representaçãoe comunicaçãoa. Leitura e produção de textos: énecessário a<strong>do</strong>tar um ensino mais conceitual,que amplie a compreensão <strong>do</strong>s problemas aserem soluciona<strong>do</strong>s, sem que as fórmulas <strong>da</strong>física e <strong>da</strong> química e os sistemas de classificação<strong>da</strong> biologia sejam ignora<strong>do</strong>s na aprendizagemdesencadea<strong>da</strong>, mas que se tornem instrumentospara facilitá-la e não o único aspectoa ser aprendi<strong>do</strong>, sob pena de serem cristaliza<strong>da</strong>sabor<strong>da</strong>gens repetitivas que dificultam aautonomia <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte. A área de Ciências<strong>da</strong> Natureza promove pouco a leitura e produçãode textos mais elabora<strong>do</strong>s e reflexivossobre os conteú<strong>do</strong>s escolares e os temas científicosatuais, aten<strong>do</strong>-se muitas vezes a escritasextremamente simplifica<strong>da</strong>s, quase telegráficas,o que parece dificultar a aprendizagem.Segun<strong>do</strong> Mario Osório Marques (MARQUES,1997), “escrever é preciso”, para organizar opensamento e as reflexões, de mo<strong>do</strong> que aescrita desencadeia novos pensamentos que,por sua vez, resultam em novas escritas, que,num contínuo pensar, escrever, pensar e reescrever,propicia o desenvolvimento de umconhecimento científico sistematiza<strong>do</strong> maisapropria<strong>do</strong>. Para estu<strong>da</strong>r a cinemática na disciplinade Física, por exemplo, manipular umgrande conjunto de fórmulas não colaborapara a compreensão <strong>do</strong>s movimentos e <strong>do</strong>sconceitos envolvi<strong>do</strong>s, como veloci<strong>da</strong>de ouaceleração. A construção de conhecimentosé favoreci<strong>da</strong> se tais conceitos forem abor<strong>da</strong><strong>do</strong>sa partir de situações, reais ou idealiza<strong>da</strong>s,que envolvam análise qualitativa, leitura eprodução de textos, sem o uso excessivo defórmulas prontas. Isso está intimamente relaciona<strong>do</strong>à resolução de problemas, na qualos aspectos conceitual e qualitativo são essenciais.Para resolver um problema, não bastauma simples manipulação de fórmulas: é precisopossuir um bom <strong>do</strong>mínio conceitual <strong>da</strong>situação em jogo. A aplicação de fórmulas,exaustivamente cobra<strong>da</strong>s em muitas discipli-Referencial Curricular 4.indd 39 25/8/2009 11:10:23


40nas <strong>da</strong> área, frequentemente reduz a aprendizagemà situação de resolução de exercíciosque decorrem <strong>da</strong> imitação de um modelo, oque na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong> que um treinamento queprescinde de reflexão.Também na disciplina de Química, são inúmerosos cálculos de concentração de soluçõesque os estu<strong>da</strong>ntes realizam, mas é restritaa compreensão sobre os processos de formaçãode soluções e os modelos teóricos de ligaçõesquímicas que os fun<strong>da</strong>mentam. O entendimentosobre as condições que determinama ocorrência de uma transformação químicaem um esta<strong>do</strong> termodinâmico de equilíbrio éminimiza<strong>do</strong>, frente à utilização majoritária deequações matemáticas para cálculo de valoresde constantes de equilíbrio e concentraçãode reagentes e produtos no esta<strong>do</strong> de equilíbrioquímico, aspectos que não favorecem aconstrução de conhecimentos químicos.Na Biologia, a ênfase na classificação edesignação <strong>do</strong>s seres vivos, denominan<strong>do</strong>ospor nomes científicos, a partir <strong>da</strong>s suascaracterísticas, sem considerar os critérios dediferenciação, de organização e as interaçõesentre si e com o meio em que vivem, tornaári<strong>do</strong> e sem significa<strong>do</strong> esse conhecimento. Épreciso compreender a sistemática e a taxonomiacomo modelos para explicar os diferentesseres vivos, suas semelhanças, diferenças erelações.Na área de Ciências <strong>da</strong> Natureza, a leiturae a produção de textos não se limitam somentea materiais escritos. Aprender Ciências éaprender uma linguagem constituí<strong>da</strong> de símbolos,gráficos, tabelas, que se constituem emrepresentações que se valem de outras linguagensalém <strong>da</strong> verbal. Existem ain<strong>da</strong> os modeloscientíficos, que são metáforas e analogiasconstruí<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, muitas vezescomplexa demais e inacessível para ser trata<strong>da</strong>de forma exata. Se for toma<strong>do</strong> como exemploum objeto microscópico (um átomo, umvírus ou uma molécula), é possível detectá-loe realizar muitos experimentos que revelemalgumas de suas proprie<strong>da</strong>des. No entanto,por mais conhecimento que exista a respeitodessas estruturas, ele está fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> emum modelo teórico sempre limita<strong>do</strong>. A compreensãode que, na Ciência, o trabalho sefaz por meio de incertezas e é necessáriopropor modelos explicativos para os fenômenosem estu<strong>do</strong> é fun<strong>da</strong>mental para relativizarcertezas, especialmente quan<strong>do</strong> se apresentao conhecimento <strong>da</strong>s Ciências no currículoescolar. Desse mo<strong>do</strong>, a leitura e a escritade textos, que privilegiem uma sistematizaçãomais elabora<strong>da</strong>, permitirão aos estu<strong>da</strong>ntes aformação <strong>do</strong> pensamento e <strong>da</strong> consciência de“saber que sabe”, ou seja, de que conhecemais profun<strong>da</strong>mente o mun<strong>do</strong> na perspectiva<strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza.b. Resolução de problemas: é umacompetência que possibilita aos estu<strong>da</strong>ntesorganizarem e refletirem sobre suas práticas, apartir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des propostas pelos professores,de mo<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> e questiona<strong>do</strong>r,superan<strong>do</strong> as sequências presentes nos livrosdidáticos, que muitas vezes são coloca<strong>da</strong>scomo a única possibili<strong>da</strong>de de aprendizagem.Uma leitura menos fragmenta<strong>da</strong> e linear, quesupere a organização curricular escolar vigente,será possível pela opção <strong>do</strong>s professoresem mu<strong>da</strong>rem suas meto<strong>do</strong>logias, inter-relacionan<strong>do</strong>os conhecimentos e buscan<strong>do</strong> situaçõesreais, próximas à reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos eque possam ser problematiza<strong>da</strong>s, permitin<strong>do</strong>que suscitem aos estu<strong>da</strong>ntes uma análise <strong>da</strong>questão a partir <strong>do</strong>s conceitos <strong>da</strong>s Ciências<strong>da</strong> Natureza, para compreendê-la e proporsoluções. Dessa maneira, o ambiente escolarconstitui-se em um lugar para crescimento intelectual,por meio <strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> reflexãosobre a reali<strong>da</strong>de de to<strong>do</strong>s os sujeitos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deescolar, <strong>do</strong> local e <strong>do</strong> global, construin<strong>do</strong>situações de ensino que possam resultarem uma apropriação mais completa <strong>do</strong>sconceitos envolvi<strong>do</strong>s.Segun<strong>do</strong> Pozo (1998):Ensinar os alunos a resolver problemas supõe<strong>do</strong>tá-los <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de aprender a aprender,no senti<strong>do</strong> de habituá-los a encontrar por simesmos respostas às perguntas que os inquie-Referencial Curricular 4.indd 40 25/8/2009 11:10:23


tam ou que necessitam responder, em vez deesperar uma resposta já elabora<strong>da</strong> por outrose transmiti<strong>da</strong> pelo livro texto ou pelo professor(p. 9).A possibili<strong>da</strong>de de que os alunos desenvolvamhabili<strong>da</strong>des e competências, que os capacitema utilizar os seus conhecimentos anteriorespara a construção de novos, indica que,para resolver problemas, ocorre uma aprendizagemde conceitos mais ampla, em que osmesmos são busca<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> questão aser resolvi<strong>da</strong> e não apenas como eluci<strong>da</strong>ção<strong>da</strong> sequência de relações preestabeleci<strong>da</strong>spelo ordenamento <strong>do</strong>s livros didáticos. As informações,já disponibiliza<strong>da</strong>s pelas Ciênciase estrutura<strong>da</strong>s no conhecimento escolar a serdiscuti<strong>do</strong>, devem ser acessa<strong>da</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntespara que possam compreender melhor osproblemas encontra<strong>do</strong>s que exigem soluçõesde curto, médio e longo prazos, referencia<strong>da</strong>sno conhecimento disponível ou motiva<strong>do</strong>resde novas pesquisas. Assim, a participação <strong>da</strong>escola na construção de ci<strong>da</strong>dãos mais capazesde expor suas ideias e respeitar as <strong>do</strong>sdemais com quem convivem torna-se o foco<strong>da</strong>s ações, já que as discussões relativas asquestões socioambientais e sociocientíficotecnológicasnão serão mais desconheci<strong>da</strong>s<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, mas exigirão uma postura derespeito para com o outro e de toma<strong>da</strong> dedecisão qualifica<strong>da</strong> quanto ao que fazer frenteao problema enfrenta<strong>do</strong>.Nesta perspectiva, é essencial o <strong>do</strong>mínio<strong>da</strong> linguagem, <strong>do</strong>s símbolos <strong>da</strong>s diversasCiências e de outros tipos de representações(gráficos, tabelas, figuras, modelos, etc.). Resolverproblemas envolve, também, a comunicaçãoescrita, por meio de textos, símbolos erepresentações, e a interação social. Não hácomo resolver um problema sem leitura e semcomunicação, seja escrita ou oral.• Investigaçãoe compreensãoa. Leitura e produção de textos: investigaçãoé uma característica fun<strong>da</strong>mental<strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza e não existe sem leiturae escrita. Como já foi dito, a leitura, nestaárea, envolve compreensão de textos, símbolose representações gráficas sobre temas relativosà Ciência e Tecnologia. No âmbito <strong>da</strong>pe<strong>da</strong>gogia geral, as discussões sobre as relaçõesentre educação e socie<strong>da</strong>de se associarama tendências progressistas, que, no Brasil<strong>do</strong>s anos 80, organizaram-se em correntesimportantes que influenciaram o ensino deCiências Naturais, enfatizan<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>s socialmenterelevantes e processos de discussãocoletiva de temas e problemas de significa<strong>do</strong>e importância reais. Questionou-se tanto aabor<strong>da</strong>gem quanto a organização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s,identifican<strong>do</strong>-se a necessi<strong>da</strong>de de umensino que integrasse os diferentes conteú<strong>do</strong>s,com um caráter também interdisciplinar, o quetem representa<strong>do</strong> importante desafio para adidática <strong>da</strong> área que marca as escolhas apresenta<strong>da</strong>sneste Referencial.Esses temas podem ser veicula<strong>do</strong>s na mídia,livros didáticos, internet ou publicaçõesespecializa<strong>da</strong>s. Não é intenção formar pesquisa<strong>do</strong>resnesse nível de ensino, mas, sim,incentivar a ín<strong>do</strong>le investigativa, que faz comque os cientistas formulem perguntas e percorramum instrutivo e apaixonante caminhode aprendiza<strong>do</strong>. Os alunos, embora sem omesmo compromisso de serem produtores deconhecimento, devem ser estimula<strong>do</strong>s a desenvolverpostura investigativa diante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>em que vivem, ou seja, a perguntarem-secontinuamente quais são e como estão sen<strong>do</strong>disponibiliza<strong>do</strong>s os artefatos tecnológicosproduzi<strong>do</strong>s para a socie<strong>da</strong>de, e como podeminterferir ou não nesse processo. Essa atitudenão se resume apenas a uma questão deaprendizagem de conteú<strong>do</strong>s, mas de exercíciopleno de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.b. Resolução de problemas: como jáfoi dito, não é o mesmo que resolver exercícios;resolver problemas é a ativi<strong>da</strong>de primordial<strong>da</strong> Ciência (LAUDAN, 1986). Procurar estabelecerum problema e buscar suas soluçõesrequer uso de leitura, escrita, contextualizaçãoe investigação. Um problema supõe invenção4141Referencial Curricular 4.indd 41 25/8/2009 11:10:23


42e criativi<strong>da</strong>de, não possui solução conheci<strong>da</strong>,é desafio, que pode ter ou não solução. Porisso, os problemas são extremamente instrutivos.Ao propor a elaboração e resolução desituações-problema, é favoreci<strong>da</strong> a formulaçãode novas perguntas, muitas vezes maispreciosas <strong>do</strong> que as soluções apresenta<strong>da</strong>s.Como cita Pozo (1998), “os problemas deflagramum ciclo evolutivo, no qual é precisoaprender para resolvê-los e resolvê-los paraaprendê-los”.• Contextualizaçãosocioculturala. Leitura e produção de textos: énecessário perceber a Ciência também comoparte <strong>da</strong> cultura contemporânea, como resulta<strong>do</strong>de uma construção humana inseri<strong>da</strong> emum processo histórico e social (BRASIL, 2002).Além disso, é enriquece<strong>do</strong>r identificá-la em diferentesâmbitos e contextos culturais: literatura,artes plásticas, teatro, música, além de seruma forma de mostrar às pessoas o quantoelas estão imersas em um mun<strong>do</strong> permea<strong>do</strong>pela Ciência e pela Tecnologia. Esse reconhecimentose dá pela leitura de textos publica<strong>do</strong>sna mídia, ou em revistas especializa<strong>da</strong>s, oupela apreciação <strong>da</strong> arte, entre outros recursos.O papel social <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong> Tecnologia nomun<strong>do</strong> contemporâneo também deve ser problematiza<strong>do</strong>.Para isso, a produção de textosé uma competência fun<strong>da</strong>mental: por meiodela, os alunos podem emitir juízos de valor arespeito de notícias veicula<strong>da</strong>s pelas diferentesmídias relativas à Ciência e Tecnologia, argumentan<strong>do</strong>sobre o ponto de vista a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.As controvérsias científicas e questões éticassobre o uso de transgênicos, células-tronco,biocombustíveis, fontes alternativas de energiaou os volumosos recursos financeiros investi<strong>do</strong>sem equipamentos, como o Large HadronCollider – LHC (CERN, 2009) ou supertelescópiosespaciais como o Hubble (NASA,2009) são questões mobiliza<strong>do</strong>ras de problemasde base ética que merecem ocuparlugar na escola.b. Resolução de problemas: ninguémresolve um problema sozinho, mesmo quetrabalhe só. Os alunos vivem em um contextosociocultural, e seu conhecimento é construí<strong>do</strong>nas interações sociais. Ciência e Educaçãoem Ciências são modernamente vistascomo ativi<strong>da</strong>des sociais humanas inseri<strong>da</strong>snum sistema social, cultural e institucional, oque implica atribuir um peso teórico significativoao papel <strong>da</strong> interação social (VYGOTSKI,1984; 1989). Há sempre uma herança cultural,profun<strong>da</strong>mente vincula<strong>da</strong> às questõessociais e históricas <strong>da</strong> Ciência, que guiam otrabalho científico e devem também nortearo trabalho em sala de aula. To<strong>do</strong> aluno carregaconsigo uma bagagem cultural, seja <strong>da</strong>sua comuni<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como umto<strong>do</strong>. Problemas científicos devem ser identifica<strong>do</strong>slevan<strong>do</strong>-se em conta tal contexto, ejamais devem ser abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s a partir de umúnico méto<strong>do</strong> científico – sequência rígi<strong>da</strong> deetapas que começa na observação neutra eculmina na descoberta científica (MOREIRA;OSTERMANN, 1993). A visão de que existeum único méto<strong>do</strong> para a Ciência é tão ingênuaquanto pensar que exercício é o mesmoque problema. O exercício na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong>que aplicar méto<strong>do</strong>s. Problemas científicossão aqueles que uma comuni<strong>da</strong>de de cientistasreconhece como merece<strong>do</strong>res de umasolução e, como já foi dito, constituem-seem desafios. A tentativa de solução de umproblema segue sempre um caminho tortuoso,impossível de ser descrito por regras rígi<strong>da</strong>s,mas que vai sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>, questiona<strong>do</strong>,aponta<strong>do</strong> e sistematiza<strong>do</strong> na medi<strong>da</strong>em que vai se transforman<strong>do</strong> em aprendizagem.Para trabalhar em um problema, épreciso aprender a usar modelos teóricos,reconhecen<strong>do</strong>, utilizan<strong>do</strong>, interpretan<strong>do</strong> epropon<strong>do</strong> explicações para fenômenos ousistemas naturais (BRASIL, 2002). Antes disso,é fun<strong>da</strong>mental identificar informações ouvariáveis relevantes, estabelecer hipóteses,interpretar resulta<strong>do</strong>s, identificar regulari<strong>da</strong>dese invariantes, transformações que sejamcapazes de construir estratégias para resolvera situação-problema.Referencial Curricular 4.indd 42 25/8/2009 11:10:23


Integração entre as áreasA área de Ciências <strong>da</strong> Natureza é compostapor elos de integração entre as disciplinasque a compõem, asseguran<strong>do</strong> a uni<strong>da</strong>dede princípios em Ciências, Biologia, Física eQuímica. Os três eixos básicos anteriormentedescritos são elementos de comunicaçãoimportantes entre as disciplinas, pois estabelecemuma transversali<strong>da</strong>de com as competênciasbásicas de ler, escrever e resolver problemas,pois permitem o diálogo entre elasa partir de conceitos estruturantes. A área deCiências <strong>da</strong> Natureza faz uso de uma linguagemcomum, embora não ignore a especifici<strong>da</strong>dede ca<strong>da</strong> disciplina. Os conceitos estruturantes<strong>da</strong> área são: Origem e Evolução;Sistema; Interação; Invariantes; Regulari<strong>da</strong>des;Modelos Explicativos e Representativos;Simetrias. Eles favorecem a transversali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> área e são importantes para a alfabetizaçãocientífica. Segun<strong>do</strong> Brasil (2002):O conhecimento <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> investigaçãocientífica de seus procedimentos e méto<strong>do</strong>s,assim como a compreensão de queestão associa<strong>do</strong>s à continui<strong>da</strong>de entre elese os méto<strong>do</strong>s e produção tecnológicos, éalgo que se desenvolve em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>sdisciplinas <strong>da</strong> área e no seu conjunto. Issose traduz na realização de medi<strong>da</strong>s, naelaboração de escalas, na construção demodelos representativos e explicativos essenciaispara a compreensão de leis naturaise de sínteses teóricas. A distinção entremodelo e reali<strong>da</strong>de, entre interpretação efenômeno, e o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s conceitos deinteração e de função, de transformaçãoe conservação, de evolução e identi<strong>da</strong>de,de uni<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de, de equivalênciae complementari<strong>da</strong>de, não são prerrogativasdesta ou <strong>da</strong>quela Ciência, são instrumentosgerais, desenvolvi<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>o aprendiza<strong>do</strong> científico, que promovem,como atributo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, a competênciageral de investigação e compreensão(p. 24-25).O conceito de sistema, por exemplo, estende-sepor to<strong>da</strong>s as disciplinas <strong>da</strong> área etem fun<strong>da</strong>mental importância. Na Física, especificamentena Mecânica, o movimento <strong>da</strong>Terra em muitas circunstâncias não pode serpensa<strong>do</strong> como o movimento de um ponto noespaço (ponto, na Mecânica, é partícula –não possui dimensão espacial). A Terra temvolume. O movimento de um ponto é de tratamentorelativamente simples. Essa simplici<strong>da</strong>depode ser útil se a Terra for considera<strong>da</strong>como um conjunto de muitos pontos (porexemplo, átomos como pontos, nesse caso)uni<strong>do</strong>s entre si por interações, ou seja, a Terrapode ser vista como um sistema de partículas.Um sistema em geral pressupõe interação,outro conceito importante. Os sistemassão defini<strong>do</strong>s consideran<strong>do</strong>-se as interaçõesentre seus constituintes. Se os diversos átomosque constituem a Terra não se separamindividualmente, é porque interagem entre sie isso constitui o sistema de partículas Terra.O sistema nunca é estático: teve uma origeme sofre mu<strong>da</strong>nças no tempo, <strong>da</strong>í a importância<strong>do</strong>s conceitos de origem e evolução. Esseprocesso lança luz na construção <strong>do</strong>s modelosteóricos que explicam a origem e a evolução,ou seja, os modelos representativos eexplicativos. O sistema Terra não é simplesmenteum sistema de partículas. Há vi<strong>da</strong> naTerra, portanto, é possível pensar na origeme evolução <strong>do</strong>s seres vivos – um sistema Biológico.Na Terra, há uma atmosfera, com estruturacomplexa. A compreensão dessa estruturaenvolve conhecimento químico e tempapel decisivo na evolução <strong>do</strong> planeta e navi<strong>da</strong> nele constituí<strong>da</strong>.A Ciência como um to<strong>do</strong> busca regulari<strong>da</strong>dese invariâncias. Regulari<strong>da</strong>des foramdecisivas, por exemplo, na construção<strong>da</strong> Tabela Periódica por Mendeleev. Tambémsão importantes na Paleontologia, aopossibilitar que certos comportamentos deanimais extintos sejam supostos a partirde comportamento de descendentes vivos,4343Referencial Curricular 4.indd 43 25/8/2009 11:10:23


44mesmo que tenham parentesco longínquo.Invariantes podem ser entendi<strong>da</strong>s comograndezas que se conservam em processosnaturais (por exemplo, a conservação<strong>da</strong> energia no Universo) e, também, comoconstantes que unificam o comportamento<strong>do</strong>s sistemas em qualquer lugar desse mesmoUniverso. Por exemplo, uma massa atraioutra massa: isso vale para qualquer lugarno Universo (por isso, o nome GravitaçãoUniversal). Simetrias também desempenhampapel fun<strong>da</strong>mental na Ciência, sejapor valor estético ou não. Existe matéria noUniverso; existirá antimatéria? A respostaé sim. No século XIX, sabia-se que fluxomagnético variável no tempo gerava campoelétrico. Será que fluxo elétrico variávelno tempo gera campo magnético? JamesC. Maxwell, na segun<strong>da</strong> metade desse séculoe sem nenhuma evidência experimental,postulou que sim, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem a uma<strong>da</strong>s mais bem-sucedi<strong>da</strong>s teorias de to<strong>do</strong>sos tempos: o eletromagnetismo.A teoria <strong>da</strong> combustão, pela participação<strong>do</strong> gás oxigênio, formula<strong>da</strong> por Lavoisier(século XVIII), teve importante papel nasolução <strong>do</strong>s debates <strong>da</strong> época e é considera<strong>da</strong>a pedra angular <strong>da</strong> revolução <strong>do</strong>pensamento químico, auxilia<strong>do</strong> tambémpela introdução de uma linguagem simbólicacaracterística. A Química contemporânease constitui a partir <strong>da</strong> detecçãode partículas subatômicas, entre as quaiso elétron, no início <strong>do</strong> século XX. O pensamentoquímico sobre a matéria adquireentão novas dimensões e, com isso, outraspossibili<strong>da</strong>des de interação entre as substânciastornam-se possíveis. Isto permitiuao ser humano intervir mais intensamentena transformação e síntese de novas substâncias,como plásticos, fertilizantes, medicamentose aditivos alimentares, o queestá em íntima relação com os processosindustriais e os padrões de desenvolvimentoe consumo gera<strong>do</strong>s neste século.Lyell (século XIX) leva adiante a teorizaçãoacerca <strong>da</strong> crosta terrestre, entendi<strong>da</strong>como cama<strong>da</strong>s geológicas de diferentesi<strong>da</strong>des, contribuin<strong>do</strong> para a concepçãode que os ambientes <strong>da</strong> Terra se formarampor uma evolução contínua, atuan<strong>do</strong>por longos perío<strong>do</strong>s de tempo. Inspira<strong>do</strong>também pela Geologia de Lyell, CharlesDarwin elaborou uma teoria <strong>da</strong> evoluçãoque possibilitou uma interpretação geralpara o fenômeno <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> nos conceitos de a<strong>da</strong>ptaçãoe seleção natural. Sua teoria levavaem consideração conhecimentos de Geologia,Botânica, Zoologia, Paleontologiae Embriologia, e muitos <strong>da</strong><strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>sem diferentes regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ain<strong>da</strong>no século XIX, Pasteur faz avançar o conhecimentosobre a reprodução de microorganismosao desenvolver novas técnicasde conservação de bebi<strong>da</strong>s fermenta<strong>da</strong>s,atenden<strong>do</strong> a deman<strong>da</strong>s de produtores devinhos franceses. O desenvolvimento <strong>da</strong>Genética e <strong>da</strong> Biologia Molecular (séculoXX) des<strong>do</strong>bra-se na engenharia genética,que tem aplicações diretas na agricultura ena pecuária <strong>do</strong>s grandes produtores, bemcomo na saúde humana e na preservação<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A diminuição <strong>da</strong>s taxas de natali<strong>da</strong>dee de mortali<strong>da</strong>de por <strong>do</strong>enças infecto-contagiosascriou uma nova reali<strong>da</strong>depopulacional humana, em que cerca de13 por cento <strong>da</strong> população <strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul têm 60 anos ou mais. Para comporo quadro de uma população que envelhece,é preciso destacar a contribuição, paraa melhoria <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> humana,<strong>da</strong> identificação mais precisa de agentescausa<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças infecto-contagiosas,de medi<strong>da</strong>s preventivas de caráterambiental e <strong>da</strong> produção de vacinas ediversos tratamentos. É possível perceberque os conceitos estruturantes de fato caracterizamo mo<strong>do</strong> de pensar e organizar oconhecimento científico, em que ca<strong>da</strong> um,como exemplifica<strong>do</strong> acima, fun<strong>da</strong>menta asistematização proposta pelas Ciências naresolução <strong>do</strong>s problemas resultantes <strong>da</strong> relaçãoSocie<strong>da</strong>de Humana-Natureza.Referencial Curricular 4.indd 44 25/8/2009 11:10:23


Para uma visão ampla <strong>do</strong> que foi trata<strong>do</strong>aqui, elaborou-se o quadro síntese, quemostra o cruzamento <strong>da</strong>s competências básicasde ler e escrever e resolver problemascom os eixos (ou competências gerais) re-Quadro síntesepresentação e comunicação; investigação ecompreensão; e contextualização sociocultural,como proposto no presente texto. Osconceitos estruturantes valem ao longo deto<strong>do</strong>s os cruzamentos.Área Ciências <strong>da</strong> Natureza (Ciências, Biologia, Física e Química)4545Eixosfun<strong>da</strong>mentaisRepresentaçãoe comunicaçãoInvestigação ecompreensãoCompetências básicasLeitura e produção de textos Resolução de problemas•Compreender a linguagemcientífica, constituí<strong>da</strong> por símbolos,representações gráficase modelos explicativos sobretemas relativos à Ciência eTecnologia.•Fazer uso desta linguagemsobre situações reais ou idealiza<strong>da</strong>s,enfatizan<strong>do</strong> a análisequalitativa dessas situações,sem o uso excessivo de fórmulasprontas.• Identificar informações ou variáveisrelevantes, interpretarresulta<strong>do</strong>s, reconhecer regulari<strong>da</strong>des,invariantes e transformações,a fim de construirestratégias para resolver situações-problema.•Formular perguntas sobre conteú<strong>do</strong>ssocialmente relevantes,favorecen<strong>do</strong> uma posturainvestigativa e processos dediscussão coletiva sobre temase problemas de significa<strong>do</strong> eimportância reais para a construção<strong>do</strong> conhecimento.•Articular diversas formas derepresentação e comunicação(símbolos, fórmulase representações) para aanálise e toma<strong>da</strong> de decisãofrente a situações-problema.•Utilizar a linguagem paraparticipar de discussões epropor soluções, expon<strong>do</strong>e questionan<strong>do</strong> as própriasideias, compreenden<strong>do</strong> asideias <strong>do</strong>s outros e reconhecen<strong>do</strong>novas informaçõespara a construçãocoletiva de novos conhecimentos.•Estabelecer hipóteses e proporestratégias para li<strong>da</strong>rcom situações-problema,estimulan<strong>do</strong> a criativi<strong>da</strong>dee a imaginação para aproposição de soluções eformulação de novas perguntas.•Elaborar e propor problemasque podem ou não tersolução, li<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com asincertezas que os acompanhame com a diversi<strong>da</strong>dede informações e de ideiasque podem servir para solucioná-los.Conceitosestruturantes• Origem eEvolução;• Sistema;• Interação;• Invariantes;• Regulari<strong>da</strong>des;• Conservação eTransformação;• ModelosExplicativos eRepresentativos;• Simetrias.•Reconhecer a Ciência comoresulta<strong>do</strong> de uma construçãohumana inseri<strong>da</strong> em um processohistórico e social emdiferentes âmbitos e contextosculturais, através <strong>da</strong> leitura de•Considerar o contextosociocultural no qual a situação-problemase inseree sua vinculação às questõessociais e históricas <strong>da</strong>Ciência, de mo<strong>do</strong> a proporReferencial Curricular 4.indd 45 25/8/2009 11:10:23


46Eixosfun<strong>da</strong>mentaisContextualizaçãosocioculturalCompetências básicasLeitura eprodução de textos Resolução de problemastextos publica<strong>do</strong>s na mídia ouem revistas especializa<strong>da</strong>s, oude figuras ou expressões artísticase outras linguagens e representações.• Emitir juízos de valor, de formaoral ou escrita, a respeito <strong>do</strong>papel social <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong>Tecnologia no mun<strong>do</strong> contemporâneo,argumentan<strong>do</strong> sobreo ponto de vista a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.soluções coerentes.•Participar <strong>da</strong> construçãocoletiva de conhecimento,reconhecen<strong>do</strong> e respeitan<strong>do</strong>a diversi<strong>da</strong>de e a identi<strong>da</strong>desociocultural <strong>do</strong>s indivíduosenvolvi<strong>do</strong>s na situação e naresolução <strong>do</strong> problema.ConceitosestruturantesReferênciasBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretariade Educação Básica. Parâmetros curricularesnacionais (ensino médio). Brasília, 1998. Disponívelem: . Acesso em: 8jan. 2009. (Parte III - Ciências <strong>da</strong> Natureza,Matemática e suas Tecnologias)______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretariade Educação Básica. PCN+ (ensino médio).Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoBásica. Brasília, 2002. Disponível em:. Acesso em: 8jan. 2009 (Ciências <strong>da</strong> Natureza, Matemáticae suas Tecnologias).CERN. LHC_Homepage. Disponível em:. Acesso em: 8jan. 2009LAUDAN, L. El progreso y sus problemas: haciauna teoría del crecimiento científico. Madrid:Encuentro. 1986.MARQUES, M. O. Escrever é preciso: o princípio<strong>da</strong> pesquisa. Ijuí: Ed. Unijuí. 1997.MOREIRA, M. A.; OSTERMANN, F. Sobre oensino <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> científico. Caderno Brasileirode Ensino de Física, Florianópolis, v. 10,n. 2, p. 108-117, ago. 1993. Disponível em:.Acesso em: 8jan. 2009.NASA. HubbleSite. Out of the ordinary... out ofthis world. Disponível em: . Acesso em: 8 jan. 2009.POZO, J. I. Introdução. in: J.I. Pozo. (Org.).A solução de problemas: aprender a resolver,resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed,1998 p. 9-11.VYGOTSKI, L. S. A formação social <strong>da</strong> mente:o desenvolvimento <strong>do</strong>s processos psicológicossuperiores. São Paulo: Martins Fontes. 1984.______. Pensamento e linguagem. São Paulo:Martins Fontes. 1989.Referencial Curricular 4.indd 46 25/8/2009 11:10:24


Maria Cristina Pansera de AraújoPaulo CunhaReferencial Curricular 4.indd 47 25/8/2009 11:10:26


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Referencial Curricular para o ensino de Ciências1. Por que ensinar e aprender Ciências?4949Transformação é a marca <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>desmodernas. O mun<strong>do</strong> contemporâneo revelasepor sua inconstância e exige, ca<strong>da</strong> vezmais, pessoas com conhecimentos diversifica<strong>do</strong>se capazes de acompanhar e compreenderas contínuas e acelera<strong>da</strong>s alteraçõessociais, ambientais, econômicas e tecnológicas.Alterações que refletem diretamente oimpacto atual <strong>da</strong> ciência na tecnologia, destana natureza, na indústria, no comportamento,na saúde e, de mo<strong>do</strong> geral, na quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações.Nesse senti<strong>do</strong>, parafrasean<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>rErick Hobsbawm, ensinar Ciências devevincular-se a um objetivo maior que é a formaçãopara a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, a autonomia e oletramento científico-tecnológico, numa socie<strong>da</strong>deque solicita mais <strong>do</strong> que “aprendizes”,solicita “feiticeiros”. Para Hobsbawm,aprendizes e feiticeiros representam <strong>do</strong>isarquétipos de ci<strong>da</strong>dãos. Os primeiros sen<strong>do</strong>usuários e consumi<strong>do</strong>res de tecnologia,sem conhecer seus fun<strong>da</strong>mentos, princípiose efeitos. Os segun<strong>do</strong>s, ao contrário, conhecema Ciência e, assim, ao fazerem uso deseus des<strong>do</strong>bramentos tecnológicos, agem deforma autônoma, responsável, crítica e maisconsciente. Sen<strong>do</strong> esta uma característica<strong>da</strong>queles que têm acesso ao conhecimentocientífico. Por isso, consideramos que é papel<strong>da</strong> escola, enquanto instituição mobiliza<strong>do</strong>rade transformações sociais, formar ca<strong>da</strong> vezmais feiticeiros e menos aprendizes.Consideramos, portanto, que seja indispensávelque to<strong>da</strong>s as pessoas, e não apenascientistas, devam ser educa<strong>da</strong>s para seremconsumi<strong>do</strong>ras críticas de conhecimentoscientíficos, desenvolven<strong>do</strong> a habili<strong>da</strong>de deanalisar o tipo de conhecimento gera<strong>do</strong> e oseu mo<strong>do</strong> de produção pela ciência.Podemos observar que o conhecimento <strong>do</strong>dia a dia, aquele envolvi<strong>do</strong> com os acontecimentosque cercam a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes noseu cotidiano, estão, frequentemente, em desacor<strong>do</strong>com o conhecimento sistematiza<strong>do</strong>pela ciência. Portanto, torna-se emergente enecessário o desenvolvimento de ações quevisem ao letramento científico <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes,e a escola é um local privilegia<strong>do</strong> paraque isso ocorra.No ambiente escolar é possível o planejamentode situações de aprendizagem quevisem construir, junto aos alunos, novos entendimentos<strong>da</strong>s relações entre ciência, tecnologiae socie<strong>da</strong>de. A sala de aula é o ambientepropício para se explicitar e discutir diferentesnoções e conhecimentos cotidianose compará-los com noções e conhecimentosfun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s pela prática científica.Devemos, portanto, compreender que oensino de Ciências no ensino fun<strong>da</strong>mentaldeve servir à formação de pessoas que possamparticipar e usufruir <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des,<strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des e <strong>do</strong>s desafios inerentesa uma socie<strong>da</strong>de na qual a influência <strong>da</strong>C&T se torna ca<strong>da</strong> vez mais presente. Paraisso, deve-se construir base sóli<strong>da</strong> de noções,ideias, habili<strong>da</strong>des, conceitos e princípioscientíficos, garantin<strong>do</strong> que o aluno sefamiliarize com o mun<strong>do</strong> natural, reconheçasua diversi<strong>da</strong>de e sua uni<strong>da</strong>de e possaidentificar e analisar processos tecnológicosimplementa<strong>do</strong>s pela humani<strong>da</strong>de. Consideramosque tais fun<strong>da</strong>mentos favorecem atoma<strong>da</strong> de decisões, por parte <strong>do</strong>s alunos,que sejam subsidia<strong>da</strong>s em informações eanálises bem fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s, afetan<strong>do</strong> favoravelmentesuas vi<strong>da</strong>s e organizan<strong>do</strong> umconjunto de valores media<strong>do</strong> na consciência<strong>da</strong> importância de seu próprio aperfeiçoamentoe no aperfeiçoamento <strong>da</strong>s relaçõessociais e nas relações que travamos com anatureza e seus recursos.No entanto, a impressão de muitos pro-Referencial Curricular 4.indd 49 25/8/2009 11:10:26


50fessores e gestores e a análise de diferentespesquisas indicam que há um distanciamentoentre o que é ensina<strong>do</strong> na escola e as necessi<strong>da</strong>dese interesses <strong>do</strong>s alunos. Há uma perceptívelfragmentação, descontextualização efalta de integração entre os conhecimentos escolares,e entre estes e a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos.A análise <strong>do</strong>s currículos tradicionais deCiências, pratica<strong>do</strong>s nas escolas, reflete essecaráter e mostra uma prática <strong>do</strong>cente quetrata <strong>da</strong>s diferentes Ciências como compartimentosestanques. Devemos lembrar, noentanto, que o ensino de Ciências se disciplinarizoucom especial intensi<strong>da</strong>de a partir<strong>do</strong> século XX e, portanto, não deve ser considera<strong>do</strong>como algo “natural”, mas sim umaescolha que a escola – como instituição moderna– fez e sedimentou como tradição.As disciplinas escolares representam umaforma de organizar o currículo, procuran<strong>do</strong>garantir o tratamento de alguns conteú<strong>do</strong>sconsagra<strong>do</strong>s que compõem o nosso patrimôniocultural. Assim, podemos reconhecer naprática escolar certos conteú<strong>do</strong>s que foramseleciona<strong>do</strong>s e rotula<strong>do</strong>s como sen<strong>do</strong> relevantes,váli<strong>do</strong>s e legítimos para ensinar aos alunos.Cabe ressaltar que a escolha <strong>do</strong>s conhecimentosna escola é determina<strong>da</strong> por umaconjuntura histórica, cultural, social e política,portanto, não nasceram com a instituição escolar.Esta escolha precisa ser considera<strong>da</strong>como um recurso de senti<strong>do</strong> pe<strong>da</strong>gógico, quepriorize os interesses <strong>do</strong>s alunos e de sua formaçãogeral. Assim, a disciplina de Ciênciaspode se articular em um sistema mais amploque é o projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola.Este projeto deve estar em sintonia comos anseios e aspirações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de naqual a escola está inseri<strong>da</strong>, para torná-la umespaço democrático de reflexão e discussão<strong>do</strong>s temas e problemas atuais abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s cotidianamentena mídia. Dessa forma, os conhecimentoscientíficos podem proporcionaraos alunos a compreensão <strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong>divulga<strong>do</strong>, como, por exemplo, problemas relativosao aquecimento global, à obtenção e ouso de recursos naturais, ao desenvolvimentode terapias basea<strong>da</strong>s em células-tronco, à engenhariagenética, ao uso consciente de insumosagrícolas e de medicamentos, à questãoenergética e ao desenvolvimento de satélites,entre outros. Subsidian<strong>do</strong> os indivíduos comconhecimentos suficientes para acompanharcriticamente os debates sobre estes temas eenvolver-se com as questões coloca<strong>da</strong>s, tantono nível individual quanto social. Logo, é precisouma intervenção planeja<strong>da</strong> <strong>do</strong> professor,responsável pela sistematização <strong>do</strong> conhecimento,conforme a faixa etária e o nível deescolari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos.As Ciências Naturais são componente essencial<strong>da</strong> formação básica <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão, ealicerçam-se na pesquisa científica, que superao convencional ao abor<strong>da</strong>r temas atuaise de interesse <strong>do</strong>s alunos. Propiciam observações,análises, questionamentos e interpretaçãode opiniões e pontos de vista, valorizan<strong>do</strong>o desenvolvimento de competências ehabili<strong>da</strong>des de ler, escrever e resolver problemas,consideran<strong>do</strong> a linguagem, os códigose símbolos, o objeto e os procedimentos <strong>do</strong>conhecimento científico.O processo de ensino e de aprendizagem<strong>da</strong>s Ciências visa:a) a despertar a curiosi<strong>da</strong>de, o interessee o entusiasmo <strong>do</strong>s alunos em relação aosfenômenos <strong>da</strong> natureza;b) ao desenvolvimento <strong>do</strong> pensamentológico-científico;c) à compreensão ampla <strong>do</strong>s processosde investigação científica, na resolução deproblemas cotidianos, ambientais e tecnológicos;d) à reflexão sobre o uso adequa<strong>do</strong> eresponsável <strong>da</strong>s tecnologias com vistasao desenvolvimento de uma relação maisharmoniosa entre o homem e o meioambiente; ee) ao questionamento <strong>da</strong>s ações de intervenção<strong>do</strong> homem na natureza.É importante ain<strong>da</strong> que, ao longo <strong>da</strong> educaçãobásica, os alunos busquem entendero mun<strong>do</strong> e a si próprios, consideran<strong>do</strong> o conhecimentocientífico em constante evolução;a construção de argumentos a partir <strong>da</strong> análise,interpretação e avaliação <strong>da</strong>s evidênciasReferencial Curricular 4.indd 50 25/8/2009 11:10:26


observa<strong>da</strong>s; a discussão <strong>da</strong>s questões relativasà aplicação <strong>da</strong> Ciência aos problemasde preservação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na Terra; e a articulação<strong>da</strong>s diferentes áreas científicas no planejamentoe execução de projetos.Além disso, uma <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong>s Ciências,no âmbito escolar, é proporcionar o <strong>do</strong>míniode conhecimentos científicos para entender eparticipar <strong>do</strong>s debates contemporâneos, responderàs in<strong>da</strong>gações formula<strong>da</strong>s pelo homempara compreender a origem e a evolução<strong>do</strong> universo, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> própria humani<strong>da</strong>de.Ao estu<strong>da</strong>r Ciências, o aluno deveráapropriar-se <strong>do</strong>s meios para enfrentar problemas<strong>do</strong> cotidiano, visan<strong>do</strong> à manutenção desua própria existência, quanto à saúde, à produçãode alimentos, à produção tecnológica,enfim, ao mo<strong>do</strong> como o homem interage como ambiente para sobreviver enquanto indivíduoe espécie.Este Referencial Curricular desloca o foco<strong>do</strong> processo de ensino para a aprendizagem,contrapon<strong>do</strong>-se ao modelo tradicional, emque o conteú<strong>do</strong> é fim em si mesmo. O modelocontemporâneo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> visa ao desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des emque o conteú<strong>do</strong> é o recurso para alcançaresse objetivo.A descrição <strong>da</strong>s competências específicas,a serem desenvolvi<strong>da</strong>s, explicitará otratamento <strong>do</strong>s conhecimentos científicos e<strong>da</strong>s tecnologias a elas associa<strong>da</strong>s e suas relaçõescom a socie<strong>da</strong>de e o ambiente. Nestecontexto, cabe ao professor oportunizarsituações que possibilitem aos alunos:[...] questionar a reali<strong>da</strong>de, formulan<strong>do</strong> problemase tratan<strong>do</strong> de resolvê-los, utilizan<strong>do</strong> para issoo pensamento lógico, a criativi<strong>da</strong>de, a intuição, acapaci<strong>da</strong>de de análise crítica, selecionan<strong>do</strong> procedimentose verifican<strong>do</strong> sua adequação. (PCN– Meio Ambiente e Saúde, v. 9, 2001, p. 48 )O desenvolvimento de competências específicasem diferentes <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> conhecimento(substantivo, processual ou meto<strong>do</strong>lógicoe epistemológico), <strong>do</strong> raciocínio,<strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong>s atitudes é essencialpara a formação crítica <strong>do</strong> sujeito. E, exigeo envolvimento <strong>do</strong>s alunos no processo deensino e aprendizagem, por meio de váriasexperiências educativas proporciona<strong>da</strong>spela escola. A caracterização dessas competências,por parte <strong>do</strong>s alunos, amplia oentendimento que estes têm <strong>do</strong> processo efavorecem a toma<strong>da</strong> de consciência sobrecomo se aprende. No entanto, essa toma<strong>da</strong>de consciência requer outros questionamentospara que se consolide. É necessário, porexemplo, que alunos, professores e gestoresse questionem a respeito <strong>do</strong> que e quan<strong>do</strong>,efetivamente, se aprende, de qual a relevância<strong>da</strong> aprendizagem em Ciências, de quaissão os temas ou conteú<strong>do</strong>s essenciais e osperiféricos. Apresentam-se, a seguir, procedimentose estratégias que propiciam o desenvolvimentode competências específicas ou“competências essenciais”, com a<strong>da</strong>ptaçõesde texto <strong>do</strong> Currículo Nacional de Ensino Básico/Portugal1 .Conhecimento substantivo: sugere-sea análise e discussão de evidências emsituações-problema, que permitam ao alunoconstruir o conhecimento científico para interpretare compreender leis e modelos, reconhecen<strong>do</strong>as limitações e os avanços <strong>da</strong> Ciênciae <strong>da</strong>s Tecnologias (C&T) na resoluçãode problemas pessoais, sociais e ambientais.Conhecimento processual: por meio <strong>da</strong>realização de pesquisa bibliográfica, planejamento,observação, execução de experimentos,investigações, elaboração e interpretaçãode tabelas e gráficos, em que os alunosutilizem <strong>da</strong><strong>do</strong>s estatísticos ou matemáticos.Conhecimento epistemológico: a partir <strong>da</strong>análise e <strong>do</strong> debate de descobertas científicasque evidenciem êxitos e fracassos, mo<strong>do</strong>sde trabalho de diversos cientistas, bem comoinfluências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobre a ciência,possibilitan<strong>do</strong> ao aluno o confronto de explicaçõescientíficas com as <strong>do</strong> senso comum,<strong>da</strong> religião e <strong>da</strong> arte.Raciocínio: situações de aprendizagem cen-51511Currículo Nacional de Ensino Básico – Competências Essenciais/Portugal, p.132 e 133. www.min-edu.pt/programs/programas.aspReferencial Curricular 4.indd 51 25/8/2009 11:10:26


52tra<strong>da</strong>s na resolução de problemas – proposiçãode hipóteses, planejamento <strong>da</strong> investigação,definição <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia, coleta,tabulação, sistematização e interpretação <strong>do</strong>s<strong>da</strong><strong>do</strong>s, previsão e avaliação de resulta<strong>do</strong>s;comparações, inferências, generalizações ededuções. Assim, será possível desenvolver opensamento criativo e crítico e confrontar diferentesperspectivas e interpretações científicas,com estratégias cognitivas diversifica<strong>da</strong>s.Comunicação: uso de linguagem científica,mediante interpretação de fontes de informação,em que os alunos aprenderão a distinguiro essencial <strong>do</strong> acessório, representan<strong>do</strong>ode diversas formas, com debates argumentativos,analíticos ou sintéticos de mo<strong>do</strong> oralou escrito, fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> numa estruturatextual lógica.Atitudes: de curiosi<strong>da</strong>de, perseverança e serie<strong>da</strong>dena execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, respeitan<strong>do</strong>e questionan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s;de reflexão crítica, flexibili<strong>da</strong>de para aceitar oerro e a incerteza e a reformulação <strong>da</strong>s mesmas;atitudes ética, estética e com sensibili<strong>da</strong>depara trabalhar a Ciência, avalian<strong>do</strong> oseu impacto na socie<strong>da</strong>de e no ambiente.2. Competências gerais <strong>da</strong> área de Ciências <strong>da</strong> NaturezaO ensino por competências nos impõe umdesafio de organizar o conhecimento a partirde situações de aprendizagem que tenhamsenti<strong>do</strong> para o aluno e ofereçam os instrumentosnecessários para agir em diferentes contextos<strong>do</strong> ambiente e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de.As competências gerais <strong>da</strong> área, de representaçãoe comunicação, investigaçãoe compreensão e contextualizaçãosociocultural (PCN, 1998), relacionam earticulam a área de Ciências <strong>da</strong> Naturezacom as demais e também com as competênciasde ler, escrever e resolver problemas,defini<strong>da</strong>s como básicas nestes ReferenciaisCurriculares para to<strong>do</strong>s os componentes <strong>do</strong>currículo <strong>do</strong>s ensinos fun<strong>da</strong>mental e médio.A Representação e comunicação vincula-seao <strong>do</strong>mínio de linguagens e códigosespecíficos <strong>da</strong> nomenclatura <strong>da</strong>s Ciências,e compreende a capaci<strong>da</strong>de de ler, interpretare escrever textos, símbolos, modelose outras representações <strong>da</strong> área científicotecnológica.A Investigação e compreensão, originalmenterelaciona<strong>da</strong> à área <strong>da</strong>s Ciências,tanto Naturais quanto Humanas, expressa-sena insatisfação com as explicaçõesexistentes sobre determina<strong>do</strong>s fenômenosou fatos, o que gera a permanentebusca de novas respostas e de soluçõespara problemas relaciona<strong>do</strong>s a questõesambientais e/ou socioculturais contemporâneas.A Contextualização sociocultural relaciona-seoriginalmente à área de CiênciasHumanas e corresponde à inserção <strong>da</strong> Ciência<strong>da</strong> Natureza e <strong>da</strong> tecnologia no espaço<strong>da</strong> herança socio-histórico-cultural <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.Refere-se ao tratamento <strong>do</strong> conhecimentocientífico tecnológico em determina<strong>do</strong>contexto histórico ou atual.O ensino com foco no desenvolvimento decompetências deve ser planeja<strong>do</strong> de forma diversa<strong>da</strong>quele com foco no conteú<strong>do</strong>. A auladeverá ser prepara<strong>da</strong> pelo professor, preven<strong>do</strong>o aluno como protagonista <strong>da</strong> ação de suaaprendizagem. Assim, ler, escrever, resolverproblemas, esquematizar, argumentar, elaborarrelatórios, representar, interpretar são propostaspara o aluno realizar durante a aula.No Quadro 1, a seguir, apresentam-seas competências gerais <strong>da</strong> área de Ciências<strong>da</strong> Natureza e as competências básicastransversais deste Referencial, que oaluno deve desenvolver durante a escolari<strong>da</strong>debásica, articula<strong>da</strong> com os conteú<strong>do</strong>sseleciona<strong>do</strong>s para as séries finais <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental.Referencial Curricular 4.indd 52 25/8/2009 11:10:26


Quadro 1- Cruzamento entre as competências gerais e básicas<strong>da</strong>s Ciências Naturais no ensino fun<strong>da</strong>mentalCompetênciasbásicasCompetências geraisRepresentação e comunicação Investigação e compreensão Contextualização sociocultural5353Ler eescreverResolução deproblemas• Apropriar-se <strong>da</strong> linguagem<strong>da</strong>s Ciências para compreendero mun<strong>do</strong> natural e interpretarfenômenos <strong>da</strong> natureza, em observações<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de ou deexperimentos, e em leituras dediferentes fontes.• Utilizar a linguagem <strong>da</strong>s Ciênciasna formulação oral e escrita,para expressar a compreensão deconceitos e conhecimentos essenciais<strong>da</strong> área.• Identificar e descrever representaçõesde fenômenos científicosa partir de textos e imagens,fórmulas, gráficos, equações outabelas.• Elaborar perguntas e hipóteses,selecionan<strong>do</strong> e organizan<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>se explicações para resoluçãode problemas.• Expressar por escrito ou oralmente,usan<strong>do</strong> a linguagemespecífica <strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza,a solução de uma situação-problema,informan<strong>do</strong> as estratégiasa<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s e o raciocíniodesenvolvi<strong>do</strong>.• Identificar problemas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>devivencia<strong>da</strong>, apresentan<strong>do</strong>soluções lógicas e criativas, comoresulta<strong>do</strong> de análise crítica <strong>do</strong>sprocedimentos utiliza<strong>do</strong>s.• Caracterizar a vi<strong>da</strong> em sua diversi<strong>da</strong>dee relação com o ambienteno processo de transformaçãoe evolução <strong>da</strong> natureza.• Confrontar diferentes posiçõesindividuais ou coletivas parareelaborar ideias e interpretaçõesa respeito de fatos científicos ou<strong>do</strong> cotidiano.• Formular perguntas relevantes,utilizan<strong>do</strong> a linguagem própria<strong>da</strong>s Ciências.• Selecionar fontes de pesquisaem diferentes meios, identifican<strong>do</strong>o que é significativo e relevantepara justificar determina<strong>do</strong>fato, situação real ou idealiza<strong>da</strong>.• Compreender uma situaçãoproblemano contexto <strong>da</strong>sCiências, a partir de informaçõese conhecimentos básicos, quepossibilitem a proposição de soluçõesviáveis.• Investigar temas relevantes emfontes confiáveis na busca de soluçãoou modelos apropria<strong>do</strong>s àsituação-problema identifica<strong>da</strong>.• Confrontar diferentes interpretaçõesde um mesmo fato científico,posicionan<strong>do</strong>-se a respeitocom argumentos consistentes nadefesa de suas posições.• Reconhecer que a humani<strong>da</strong>deé parte <strong>da</strong> natureza e entenderessa relação de interdependênciae evolução no tempo histórico, apartir <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> conhecimentocientífico.• Confrontar conceitos <strong>do</strong> sensocomum com conhecimentoshistoricamente produzi<strong>do</strong>s pelahumani<strong>da</strong>de, reconhecen<strong>do</strong> edescreven<strong>do</strong> diferenças relativasao contexto sociocultural.• Problematizar, por meio <strong>da</strong>elaboração de texto, o papel <strong>da</strong>Ciência e <strong>da</strong> tecnologia no contextoatual.• Reconhecer tecnologias utiliza<strong>da</strong>spela humani<strong>da</strong>de no processode evolução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,identifican<strong>do</strong> consequências positivase negativas <strong>do</strong> desenvolvimentocientífico e tecnológico.• Identificar modelos que permitamcompreender situações concretasà luz de teorias científicas,reconhecen<strong>do</strong> como as Ciências<strong>da</strong> Natureza e suas tecnologiasinfluenciam ou não a resoluçãode problemas atuais.• Compreender as Ciências Naturaise as tecnologias a ela associa<strong>da</strong>scomo construção humana,relacionan<strong>do</strong> o desenvolvimentocientífico ao longo <strong>da</strong> história coma transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Nas diferentes áreas <strong>do</strong> currículo <strong>da</strong> educaçãobásica, existem conceitos que constituemuni<strong>da</strong>de conceitual que perpassa to<strong>da</strong> a áreanos seus diferentes componentes, sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>sconceitos estruturantes. Na área deCiências <strong>da</strong> Natureza procuramos eleger epriorizar um conjunto mínimo de conceitos estrutura<strong>do</strong>resque se relacionem de forma explícitacom diferentes ramificações <strong>da</strong>s ciências eque deem liber<strong>da</strong>de ao professor de estabelecera melhor abor<strong>da</strong>gem em face <strong>da</strong>s distintasreali<strong>da</strong>des que podem ser encontra<strong>da</strong>s no âmbito<strong>da</strong> sala de aula. Tais conceitos são:Origem e evolução – “momento inicial” e“modificações ocorri<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong> tempo”,no universo, nos materiais, nas substâncias, navi<strong>da</strong>, nos movimentos e na energia.Sistema – “organização e interação” de átomos,substâncias, materiais, organismos, órgãos,energia, populações e comuni<strong>da</strong>de.Interação – “relação entre” organismos, populações,comuni<strong>da</strong>des, elementos, átomos,substâncias, matéria, força, movimento, etc.Invariantes – “grandezas que se conservam”,como a energia e a matéria.Regulari<strong>da</strong>des – “características que se repetemde forma sistemática” e permitem comparações,descrições e projeções.Conservação – “manutenção de” um esta<strong>do</strong>físico ou proprie<strong>da</strong>de de organismos, substâncias,energia.Transformação – “mu<strong>da</strong>nça de” estrutura deReferencial Curricular 4.indd 53 25/8/2009 11:10:27


54substâncias, organismos, sistemas, energia.Modelos explicativos e representativos –“representação <strong>da</strong> estrutura e funcionamentode determina<strong>do</strong> sistema”, como a perspectivaheliocêntrica <strong>do</strong> movimento de translação <strong>do</strong>splanetas ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sol; a estrutura <strong>do</strong>s átomose moléculas; o funcionamento <strong>do</strong>s organismos,etc.Simetrias – “correspondência de posição de<strong>do</strong>is ou vários elementos em relação a umponto ou plano médio”.Fenômeno – “to<strong>da</strong> e qualquer modificação namatéria por agentes químicos ou físicos”; “tu<strong>do</strong>aquilo que é percebi<strong>do</strong> pelos senti<strong>do</strong>s ou pelaconsciência” e também,” tu<strong>do</strong> o que se observade extraordinário no céu e na Terra”.É importante reiterarmos que o conjunto deconteú<strong>do</strong>s e conceitos específicos e estrutura<strong>do</strong>resnão é suficiente para o desenvolvimentode competências, que se configuram emações e operações que utilizamos para nosrelacionar e estabelecer relações entre objetos,situações, fenômenos e pessoas. Tambémé necessário o desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des,que decorrem <strong>da</strong>s competências adquiri<strong>da</strong>s,porém referem-se ao plano imediato <strong>do</strong>saber fazer. Através de ações e operações,as habili<strong>da</strong>des aperfeiçoam-se e articulamse,possibilitan<strong>do</strong> nova reorganização <strong>da</strong>scompetências. Assim, é necessário um planejamentoarticula<strong>do</strong> de médio e longo prazos,que contemple a vivência <strong>do</strong>s alunos emrelação às Ciências <strong>da</strong> Natureza, <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental ao médio. Requer, também, umaatuação consciente <strong>do</strong> professor: a seleçãocriteriosa de conteú<strong>do</strong>s, a diversificação demeto<strong>do</strong>logias e a participação ativa <strong>do</strong>s alunos.Dessa forma, um currículo que promovecompetências tem o compromisso de articularas diferentes ativi<strong>da</strong>des escolares com o que,se espera, os alunos apren<strong>da</strong>m ao longo deto<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>. Como resulta<strong>do</strong>, pretendeseque esse processo conduza à mu<strong>da</strong>nça deatitude <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte em relação a sua formação,envolven<strong>do</strong>-o com responsabili<strong>da</strong>de noprocesso de construção de seus saberes. Paraque os conhecimentos científicos sejam compreendi<strong>do</strong>spelos alunos, é necessário desenvolveralgumas habili<strong>da</strong>des frequentementeassocia<strong>da</strong>s à área de Ciências <strong>da</strong> Natureza,tais como:• observar o ambiente com o planejamentode saí<strong>da</strong>s de campo – elaboração deroteiros, utilização de instrumentos deregistros de informações (grava<strong>do</strong>res,máquinas fotográficas, filma<strong>do</strong>ras, bússolas,lupas, cronômetros, termômetros, martelosgeológicos, etc.;• coletar e organizar material, classifican<strong>do</strong>-opor categorias ou temas;• planejar e executar pesquisas, a partirde situações-problema, que exijam maneirasdiversas de coletar, organizar e analisaras informações obti<strong>da</strong>s, nos moldes<strong>da</strong> Ciência;• elaborar projetos, consideran<strong>do</strong> a definição<strong>do</strong> problema, hipótese, objetivos, meto<strong>do</strong>logia,obtenção e análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s,conclusões, comunicação e intervenção,se for o caso;• realizar experiências e usar instrumentosde observação (microscópio) e de medi<strong>da</strong>(termômetro, balança, cronômetro, etc.),com registro <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s para posterioranálise e sistematização;• analisar criticamente notícias de jornais,revistas, rádio e televisão com base em conhecimentoscientíficos;• debater temas polêmicos e atuais, sobreos quais os alunos possam argumentare tomar decisões qualifica<strong>da</strong>s, bem comorespeitar as opiniões divergentes;• levantar hipóteses sobre determina<strong>do</strong>fato, fenômeno ou para a solução de umproblema;• apresentar os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s naspesquisas e projetos, expon<strong>do</strong> as ideiasindividuais ou <strong>do</strong> grupo, usan<strong>do</strong> recursosaudiovisuais, modelos, maquetes e informática;• generalizar, estender determina<strong>do</strong> conceitoa um conjunto de situações, ou “tornargeral o que era específico”. Na área <strong>do</strong>conhecimento é competência de nível cognitivoeleva<strong>do</strong>.• trabalhar cooperativa e soli<strong>da</strong>riamenteReferencial Curricular 4.indd 54 25/8/2009 11:10:27


nos diversos projetos e pesquisas que articulemvários conhecimentos, priman<strong>do</strong>pela execução individual <strong>da</strong>s tarefas e aorganização <strong>da</strong>s conclusões.A partir dessas considerações, é possívelestabelecer relações entre os conceitos estruturantese os conteú<strong>do</strong>s, com vistas à definiçãode objetivos que articulem competências gerais,básicas e específicas com os eixos temáticose respectivos blocos de conteú<strong>do</strong>s paraca<strong>da</strong> nível <strong>da</strong> educação básica. Assim, estrutura-seo Referencial Curricular para Ciênciasno ensino fun<strong>da</strong>mental, que ain<strong>da</strong> sugere estratégiasadequa<strong>da</strong>s ao desenvolvimento <strong>da</strong>scompetências e habili<strong>da</strong>des estabeleci<strong>da</strong>s.Em síntese, este Referencial Curricular é organiza<strong>do</strong>a partir <strong>da</strong>s competências gerais<strong>da</strong> área (representação e comunicação; investigaçãoe compreensão e contexto sociocultural),articula<strong>da</strong>s com as competências básicas(leitura, escrita e resolução de problemas),os eixos temáticos (Terra e Universo, Vi<strong>da</strong> eambiente, Ser humano e saúde e Tecnologia esocie<strong>da</strong>de) e os conceitos estruturantes <strong>da</strong>sdisciplinas de acor<strong>do</strong> com os PCNs (1998):Mostrar a Ciência como elaboração humanapara uma compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é uma metapara o ensino <strong>da</strong> área na escola fun<strong>da</strong>mental.Seus conceitos e procedimentos contribuem parao questionamento <strong>do</strong> que se vê e se ouve, parainterpretar os fenômenos <strong>da</strong> natureza, para compreendercomo a socie<strong>da</strong>de nela intervém, utilizan<strong>do</strong>seus recursos e crian<strong>do</strong> um novo meiosocial e tecnológico. É necessário favorecer o desenvolvimentode postura reflexiva e investigativa,de não aceitação, a priori, de ideias e informações,assim como a percepção <strong>do</strong>s limites <strong>da</strong>sexplicações, inclusive <strong>do</strong>s modelos científicos,colaboran<strong>do</strong> para a construção <strong>da</strong> autonomiade pensamento e de ação. [...] O estu<strong>da</strong>nte nãoé só ci<strong>da</strong>dão <strong>do</strong> futuro, mas já é ci<strong>da</strong>dão hoje,e, nesse senti<strong>do</strong>, conhecer Ciência é ampliar asua possibili<strong>da</strong>de presente de participação sociale desenvolvimento mental (p. 21).Ao final <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental espera-seque os alunos possam compreender as ciênciascomo uma forma de produção de conhecimentoarticula<strong>da</strong> com forte influência sobrea vi<strong>da</strong> individual e coletiva. Possam, também,reconhecer as possibili<strong>da</strong>des, limitações edecorrências dessa forma de conhecimentoe se utilizem dele para posicionar-se diante<strong>da</strong>s questões que cotidianamente os afetam.A compreensão significativa destas diferentesdimensões <strong>da</strong> ciência deve favorecer o aprofun<strong>da</strong>mentoconceitual nas três disciplinasbásicas no ensino médio (Física, Química eBiologia).55553. Eixos temáticos de Ciências: ensino fun<strong>da</strong>mentalAs concepções propostas nos PCN-CN(1998) quanto aos eixos temáticos constituemimportante fun<strong>da</strong>mento para a estruturação<strong>do</strong>s Referenciais Curriculares, relativamente àseleção de conteú<strong>do</strong>s significativos.Terra e universo: os seres humanos especulame desenvolvem ideias astronômicas desdea Antigui<strong>da</strong>de, com registros históricos hácerca de 7.000 anos na China, na Babilôniae no Egito. Conhecer e compreender o Universo,para além <strong>da</strong> Terra e <strong>do</strong> Sistema Solar,consideran<strong>do</strong> os corpos celestes e as dimensõesde espaço e de tempo, pode colocarnovo significa<strong>do</strong> aos limites <strong>do</strong> nosso planetae de nossa existência no Cosmos. As váriastransformações e relações estabeleci<strong>da</strong>s entreos componentes <strong>do</strong> ambiente terrestre podemevidenciar a nossa enorme responsabili<strong>da</strong>depela biosfera.Vi<strong>da</strong> e ambiente: o ambiente e suas múltiplasrelações e influências sobre a vi<strong>da</strong> desdesua origem, organização, diversi<strong>da</strong>de, relações,evolução e continui<strong>da</strong>de na Terra, comrepercussões no manejo <strong>do</strong>s ciclos naturais,numa perspectiva socioambiental, são tematiza<strong>do</strong>sneste eixo. Busca-se, ain<strong>da</strong>, reconhecera diversi<strong>da</strong>de de seres vivos e suas interações,nos ambientes naturais ou transforma<strong>do</strong>s peloser humano, e estu<strong>da</strong>r a dinâmica <strong>da</strong> naturezae <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em diferentes espaços e tempos.Uma reconstrução crítica <strong>da</strong> relação homem/natureza exige uma mu<strong>da</strong>nça de postura <strong>do</strong>ser humano, que deixa de ser o senhor <strong>da</strong>natureza, a ela externo, para aprofun<strong>da</strong>r oReferencial Curricular 4.indd 55 25/8/2009 11:10:27


56conhecimento e a inserção no conjunto de seresvivos que interagem e modificam-se numatroca dialética. Isso deman<strong>da</strong> a contínua construçãode conceitos, procedimentos e atitudesrelativos à temática ambiental, em etapas, quelevam em conta as possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos,de mo<strong>do</strong> que, ao longo <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de, o tratamento<strong>do</strong>s conhecimentos ganhe profundi<strong>da</strong>de.Articula os temas transversais Saúde, MeioAmbiente, Ética, Trabalho e Consumo.Ser humano e saúde: concepção de corpohumano como a integração de diversos sistemas,que interagem com o ambiente e refletema história de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> sujeito, que vai sen<strong>do</strong>aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental.Para que o aluno compreen<strong>da</strong> a integri<strong>da</strong>de<strong>do</strong> corpo, é importante estabelecer relaçõesentre os vários processos vitais e desses com oambiente, a cultura e a socie<strong>da</strong>de. Discernir aspartes <strong>do</strong> organismo humano é muitas vezesnecessário para entender suas particulari<strong>da</strong>des,mas sua abor<strong>da</strong>gem isola<strong>da</strong> não é suficientepara a compreensão <strong>do</strong> to<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> àsaúde, pelas dimensões orgânica, ambiental,psíquica, sociocultural, econômica e política desua comuni<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> nação. Articula, ain<strong>da</strong>,os temas transversais: saúde, orientação sexual,meio ambiente, ética e trabalho e consumoque ampliam as abor<strong>da</strong>gens propostas.Tecnologia e socie<strong>da</strong>de: o desenvolvimentoe a especialização <strong>da</strong>s culturas humanas, aolongo <strong>do</strong>s tempos, ocorreram em conjuntocom o desenvolvimento tecnológico, que nãoé homogêneo. A convivência entre técnicas antigase artesanais com aplicações tecnológicas<strong>da</strong>s criações <strong>da</strong>s ciências modernas e contemporâneasé contínua e acompanha<strong>da</strong> de problemassociais graves, como a desnutrição e amortali<strong>da</strong>de infantil, num momento em que odesenvolvimento científico e tecnológico é marcantena produção e estocagem de alimentos,na indústria farmacêutica e na medicina. Princípiosoperativos de equipamentos, aparelhos,sistemas e processos de natureza tecnológica,presentes na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>méstica e social <strong>do</strong>s alunos,de maneira mais ampla e elabora<strong>da</strong>, sãotematiza<strong>do</strong>s nesse estu<strong>do</strong>. Transformações demateriais e de energia necessárias a ativi<strong>da</strong>deshumanas essenciais, como a obtenção dealimentos, a manufatura (cerâmica, vestuário,construção, etc.), o transporte, a comunicaçãoe a saúde, resultam em aprendizagens significativasque fun<strong>da</strong>mentam as toma<strong>da</strong>s de decisãoqualifica<strong>da</strong>s e socialmente engaja<strong>da</strong>s frenteaos problemas contemporâneos.As afirmações acima permitem compreenderem que perspectivas os eixos temáticos <strong>do</strong>ensino fun<strong>da</strong>mental foram recoloca<strong>do</strong>s nestetexto e como eles apontam um conjunto deconteú<strong>do</strong>s e conceitos importantes, mas nãoexclusivos, para garantir a aprendizagem <strong>do</strong>sestu<strong>da</strong>ntes, por meio <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong>scompetências prioriza<strong>da</strong>s nos Referenciais Curriculares<strong>do</strong> RS.A curiosi<strong>da</strong>de move os sujeitos a conheceremo mun<strong>do</strong>, as pessoas e as coisas, buscan<strong>do</strong>descrevê-las, interpretá-las, registrá-lase compreendê-las de diferentes maneiras, segun<strong>do</strong>as meto<strong>do</strong>logias propostas pelas váriasáreas <strong>do</strong> conhecimento. São múltiplos os caminhosque precisam ser investiga<strong>do</strong>s até a escolha<strong>do</strong> melhor mo<strong>do</strong> de colocar-se diante <strong>do</strong>sproblemas, que exigem soluções. A identificação<strong>da</strong>s informações fun<strong>da</strong>mentais emana<strong>da</strong>s<strong>da</strong>s questões na busca <strong>da</strong>s respostas existentese <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de solução envolve processosreflexivos, em que a interação social eas competências se fortalecem.Além disso, conceitos estruturantes <strong>da</strong> áreadevem ser lembra<strong>do</strong>s e significa<strong>do</strong>s reitera<strong>da</strong>mentena articulação <strong>da</strong>s competências, eixostemáticos e blocos de conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s Ciências.Eixos temáticos, competências, habili<strong>da</strong>dese conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s CiênciasOs esquemas apresenta<strong>do</strong>s a seguir, quenão esgotam conteú<strong>do</strong>s nem competências aserem desenvolvi<strong>do</strong>s nas séries finais <strong>do</strong> ensinofun<strong>da</strong>mental em Ciências, consideram os eixostemáticos defini<strong>do</strong>s pelo PCN (1998) e sugeremblocos de conteú<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s a esseseixos, bem como apresentam estratégias deaprendizagem que visam ao desenvolvimentode competências básicas e habili<strong>da</strong>des específicasdessa área de conhecimento.Referencial Curricular 4.indd 56 25/8/2009 11:10:27


Quadro 2 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de CiênciasEnsino fun<strong>da</strong>mental 5ª e 6ª séries5757EixostemáticosCompetênciasespecíficasBlocos de conteú<strong>do</strong>sEstratégias de aprendizagemTerra euniverso- Compreender o SistemaSolar em sua configuraçãocósmica e a Terra em suaconstituição geológica eplanetária.- Analisar criticamente diferentesteorias sobre o Universo,a Terra e a vi<strong>da</strong>, argumentan<strong>do</strong>em defesa <strong>da</strong>sque considerar corretas.- Relacionar informaçõessobre as características <strong>da</strong>Terra (temperatura, atmosfera,ciclo <strong>da</strong> água) com osurgimento e a evolução <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> na Terra.- Formação <strong>do</strong> Universo e<strong>do</strong> Sistema Solar: galáxias,estrelas e satélites; Teoriasgeocêntrica e heliocêntrica.- Origem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na Terra.- Condições para a existência<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na Terra: solo,água e ar.1. Análise de esquemas, imagens e textos e/ou consulta a internet para conhecer e discutiras teorias sobre a formação <strong>da</strong> Terra e <strong>do</strong>Universo e <strong>da</strong> origem e evolução <strong>do</strong>s seresvivos.2. Observação <strong>do</strong> céu à noite para identificação<strong>do</strong>s corpos celestes, com sistematizaçãooral e escrita, sob a forma de texto, desenhosou maquetes.3. Pesquisa em livros, textos de divulgaçãocientífica, didáticos ou paradidáticos, ou nainternet, sobre os fenômenos celestes desde aPré-História até a atuali<strong>da</strong>de.Vi<strong>da</strong> eambiente- Entender a natureza comoum sistema dinâmico e oser humano, em socie<strong>da</strong>de,como um de seus agentesde transformações.- Reconhecer o fluxo deenergia e transferência dematéria em cadeias e teiasalimentares.- Reconhecer a importância<strong>da</strong> preservação <strong>do</strong> ambientepara a manutenção <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.- Reconhecer a célula comouni<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong>sseres vivos.- Identificar diferenças entrebactérias e fungos, e algase protozoários, e característicasque os classificam noreino animal ou vegetal.- Seres Vivos: diversi<strong>da</strong>de,características e interações.- Ecossistemas: habitat, cadeiase teias alimentares.- Problemas ambientais epreservação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.- Caracteristícas <strong>do</strong>s ecossistemasbrasileiros.- Ciclo <strong>do</strong> oxigênio.- A célula como uni<strong>da</strong>debásica <strong>do</strong>s seres vivos.- Bactérias, algas, protozoáriose fungos.4. Realização de consulta sobre dietas e consumosalimentares de diferentes seres vivos, erepresentação esquemática de cadeias e teiasalimentares em diferentes meios.5. Debates para a avaliação crítica de modelosexplicativos de diferentes épocas sobreo Universo, os seres vivos, o ser humano e aevolução tecnológica.6. Discussão sobre situações de desequilíbrionas teias alimentares em função de mu<strong>da</strong>nçasambientais, como: introdução ou extinção deespécies, aumento ou redução de água, diminuição<strong>do</strong> espaço disponível, poluição, eformulação de hipóteses ou alternativas paraminimizar ou solucionar o problema.7. Realização de experimento sobre o apodrecimentode alimentos ou de decomposiçãode restos de seres vivos para comprovação<strong>do</strong> conceito de decomposição <strong>da</strong> matériapor ação de bactérias.8. Observação em saí<strong>da</strong>s de campo, visita amuseus ou planetário, com roteiro específico<strong>do</strong> professor, e posterior relato <strong>do</strong> que foi observa<strong>do</strong>.9. Visualização de células, teci<strong>do</strong>s, bemcomo de seres unicelulares, com representação<strong>da</strong>s estruturas observa<strong>da</strong>s em desenho.Referencial Curricular 4.indd 57 25/8/2009 11:10:27


Quadro 2 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de Ciências58EixostemáticosCompetênciasespecíficasEnsino fun<strong>da</strong>mental 5ª e 6ª sériesBlocos de conteú<strong>do</strong>sEstratégias de aprendizagemTecnologiaesocie<strong>da</strong>deSerhumanoe saúde- Reconhecer consequências<strong>da</strong> poluição <strong>da</strong> água,<strong>do</strong> ar e <strong>do</strong> solo para a saúdehumana e meio ambiente,valorizan<strong>do</strong> medi<strong>da</strong>s desaneamento e de controle apoluição.- Identificar causas e consequências<strong>do</strong> aquecimentoglobal e <strong>do</strong> efeito estufa,bem como as medi<strong>da</strong>s parasolução <strong>do</strong> problema.- Identificar a importância<strong>da</strong>s redes de abastecimentode água.- Compreender as fases ecaracterísticas de tratamento<strong>da</strong> água e <strong>do</strong> esgoto emedi<strong>da</strong>s de racionalização<strong>da</strong> água potável.- Reconhecer as <strong>do</strong>ençastransmiti<strong>da</strong>s pela água, soloe ar e as formas de evitálas,relacionan<strong>do</strong>-as a hábitosde higiene.- Reconhecer os antibióticose problemas <strong>do</strong> seu usoprolonga<strong>do</strong>.- Identificar a natureza <strong>do</strong>svírus e as condições em quese multiplicam.- Poluição <strong>do</strong> ar, <strong>da</strong> águae <strong>do</strong> solo.- Aquecimento global eefeito estufa.- Água, um bem que precisaser preserva<strong>do</strong>.- Reaproveitamento, reciclageme coleta seletiva <strong>do</strong>lixo.- Doenças humanas virais,bacterianas e parasitárias.- Antibióticos e vacinas.10. Coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s e leitura de notíciassobre: poluição <strong>do</strong> meio ambiente e identificaçãode agentes causa<strong>do</strong>res e de medi<strong>da</strong>ssanea<strong>do</strong>ras; consequências <strong>do</strong> aquecimentoglobal e <strong>do</strong> efeito estufa para o meio ambientee a vi<strong>da</strong> na Terra; consumo excessivo <strong>da</strong> águapotável. Após apropriação <strong>do</strong> conhecimento,os alunos poderão debater os temas e planejarações de intervenção ou mu<strong>da</strong>nça de hábitospara melhorar as condições ambientais e devi<strong>da</strong> na Terra.11. Consulta à comuni<strong>da</strong>de escolar ou <strong>do</strong>bairro em que residem sobre a organização<strong>do</strong> lixo para coleta, bem como entrevista comagentes públicos responsáveis, para coletar<strong>da</strong><strong>do</strong>s e informações sobre o destino <strong>do</strong> lixona sua ci<strong>da</strong>de. Organização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>consulta, elaboração e interpretação de gráficos/tabelase formulação de diagnóstico porescrito, bem como planejamento de ação deconscientização sobre a importância <strong>da</strong> coletaseletiva, reaproveitamento e reciclagem <strong>do</strong> lixono Município.12. Organização e realização em equipes decampanhas de esclarecimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>desobre prevenção <strong>da</strong> saúde, com produção dematerial visual, como cartazes, panfletos, cartas,etc., para divulgação.13. Visita a: estação de tratamento <strong>da</strong> águae elaboração de texto narrativo ou representaçãoem maquete sobre o que observou,caracterizan<strong>do</strong> as etapas <strong>do</strong> processo; postode saúde para conhecer e divulgar formas deatendimento à população.14. Realização de pesquisa em jornais, revistase na internet sobre a ocorrência de viroses noBrasil e em vários países nos últimos anos, quetêm se torna<strong>do</strong> um problema de saúde pública,tais como: a dengue, a febre amarela e agripe H1N1, identifica<strong>do</strong> formas de prevençãoe de tratamento.Referencial Curricular 4.indd 58 25/8/2009 11:10:27


Quadro 2 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de CiênciasEnsino fun<strong>da</strong>mental 7ª e 8ª séries5959EixostemáticosVi<strong>da</strong> eambienteTecnologiaesocie<strong>da</strong>deCompetênciasespecíficas- Compreender a Ciênciacomo ativi<strong>da</strong>de humana, histórica,associa<strong>da</strong> a aspectosde ordem social, econômica,política e cultural.- Utilizar a linguagem e códigospróprios para descrever substânciase reações químicas.- Caracterizar e diferenciar transformaçõesfísicas e químicas.- Conceituar, reconhecer e <strong>da</strong>rexemplos de misturas e substânciaspuras.- Identificar reações químicaspor meio de evidências aparentes.- Reconhecer elementos químicose aplicá-los para representarfórmulas de substânciascomuns simples e compostas.- Relacionar as ideias de espaçoe tempo e as uni<strong>da</strong>desde medi<strong>da</strong> para compreensão<strong>do</strong>s conceitos de veloci<strong>da</strong>de eaceleração.- Resolver problemas, utilizan<strong>do</strong>os conceitos de veloci<strong>da</strong>dee aceleração.- Conhecer os modelos atômicos,a evolução <strong>da</strong>s teorias eas contribuições para o avançotecnológico.- Relacionar as cores <strong>do</strong> arcoíriscom a decomposição <strong>da</strong>luz por refração.- Conhecer diferentes equipamentosde uso cotidiano suasfinali<strong>da</strong>des, funcionamento,fontes e transformação e consumode energia.- Identificar os diferentes combustíveis,sua forma de obtençãoe utilização, consideran<strong>do</strong>fatores de ordem econômica eambiental.- Reconhecer o uso de máquinassimples para facilitação <strong>do</strong>trabalho.- Reconhecer eletrici<strong>da</strong>de,magnetismo, som e luz comoformas de energia.Blocosde conteú<strong>do</strong>sFenômenos <strong>da</strong> natureza:físicos e químicos.Estrutura e proprie<strong>da</strong>des<strong>da</strong> matéria.Substâncias, misturase soluções.Funções e reaçõesquímicas.Gravi<strong>da</strong>de.Força e movimento.Modelo atômico eavanço tecnológico.Fontes, formastransformaçãoenergia.edeUso adequa<strong>do</strong> eeconômico <strong>da</strong> energia.Tipos de combustíveis:eficiência econsequências parao meio ambiente.História <strong>da</strong>s máquinase evolução <strong>do</strong>trabalho.Estratégias de aprendizagem1. Observação de transformações químicas em processos<strong>do</strong> cotidiano ou experimentais, identifican<strong>do</strong> asalterações ocorri<strong>da</strong>s, como, por exemplo: alteração <strong>da</strong>cor por ação de um reagente (ação <strong>da</strong> água sanitáriaem roupa colori<strong>da</strong>); ação <strong>do</strong> calor no cozimento <strong>do</strong>salimentos; oxi<strong>da</strong>ção de superfícies metálicas (ferrugem).2. Observação e identificação de processos de transformaçãode energia em equipamentos ou máquinasconheci<strong>da</strong>s: aparelhos de som, de imagens (TV), luminárias,automóveis; ou na produção de energia elétrica,como, usinas hidrelétricas, termoelétricas, eólicas e nucleares.Indicação de consulta bibliográfica ou internetpode ampliar conhecimentos e atender curiosi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>salunos.3. Realização de trabalhos práticos de campo oude laboratório, coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s e informações comregistro de observações; elaboração de relatórios,sínteses <strong>da</strong>s observações em tabelas, gráficos, esquemas,usan<strong>do</strong> a linguagem <strong>da</strong>s Ciências Naturais,referentes aos temas estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s.4. Elaboração e interpretação de gráficos, tabelas, esquemase sínteses sobre sistemas, textos informativose dissertativos, que abordem o tema Vi<strong>da</strong> e ambiente.5. Realização de trabalhos práticos de campo ou delaboratório e elaboração de textos, coletan<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s,registran<strong>do</strong> as sínteses em tabelas, gráficos, esquemas,textos ou maquetes, usan<strong>do</strong> os símbolos e a linguagem<strong>da</strong>s Ciências Naturais, referentes aos temas estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s.6. Investigação por meio de consulta, entrevista ou pesquisasobre tecnologias tradicionais e contemporâneasde mesma finali<strong>da</strong>de, comparan<strong>do</strong>-as quanto à quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s soluções obti<strong>da</strong>s e outras vantagens ou problemasliga<strong>do</strong>s ao ambiente e ao conforto, valorizan<strong>do</strong>os direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.7. Pesquisa sobre tipos de combustíveis, consideran<strong>do</strong>sua eficiência, obtenção, rendimento e impacto ambiental,discutin<strong>do</strong> em grupo o resulta<strong>do</strong> e posicionan<strong>do</strong>-sea respeito.8. Construção em equipe de maquetes com materialsimples, para representar possíveis transformações deenergia numa ci<strong>da</strong>de.9. Pesquisa sobre temas relaciona<strong>do</strong>s a evolução tecnológicae a mu<strong>da</strong>nça no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho em perío<strong>do</strong>shistóricos bem defini<strong>do</strong>s como por exemplo, a 1ªe a 2ª revolução industrial e a perspectiva de trabalhopara a socie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> conhecimento no século XXI.Referencial Curricular 4.indd 59 25/8/2009 11:10:27


Quadro 2 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de Ciências60Ensino fun<strong>da</strong>mental 7ª e 8ª sériesEixostemáticosCompetênciasespecíficasBlocosde conteú<strong>do</strong>sEstratégias de aprendizagemSerhumano esaúde- Reconhecer os componentesbásicos <strong>da</strong> célula e suas funções.- Reconhecer tipos de teci<strong>do</strong>s,órgãos e sistemas e suas funções.- Classificar alimentos segun<strong>do</strong>sua composição: proteínas,carboidratos, lipídios, vitaminas,sais minerais, etc.- Identificar alimentos e seuvalor nutricional, bem comocausas e consequências decarências nutricionais.- Reconhecer ativi<strong>da</strong>des e posturasfísicas adequa<strong>da</strong>s à promoção<strong>da</strong> saúde.- Reconhecer a estrutura e ofuncionamento <strong>do</strong>s órgãos genitaismasculino e feminino.- Reconhecer os principais méto<strong>do</strong>santiconcepcionais e osprincípios corretos para suaprescrição, inclusive na prevençãode DST/AIDS.- Interpretar <strong>da</strong><strong>do</strong>s e informaçõessobre a disseminação de<strong>do</strong>enças infectocontagiosas eidentificar formas de prevençãoe tratamento.- Estrutura e funções<strong>do</strong> organismo: células,teci<strong>do</strong>s, órgãose sistemas <strong>do</strong> corpohumano.- Alimentos e suacomposição.- Nutrição, práticasdesportivas e saúde.- A<strong>do</strong>lescência e sexuali<strong>da</strong>de.- Doenças sexualmentetransmissíveisgravidez precoce eméto<strong>do</strong>s contraceptivos.- Sistema endócrinoe hormônios.10. Visualização, em microscópio, de células e teci<strong>do</strong>s,animais e vegetais, representan<strong>do</strong> essas estruturaspor meio de desenhos com legen<strong>da</strong>.11. Pesquisa sobre alimentos, sua composição evalor nutritivo, organizan<strong>do</strong> cardápio com equilíbrionutricional indica<strong>do</strong> para a faixa etária <strong>do</strong>s alunos<strong>da</strong> turma.12. Seleção e proposição de dieta equilibra<strong>da</strong> a partirde listagem de alimentos com respectivos valoresenergéticos e nutricionais.13. Realização e/ou participação em campanhascomo o “mexa-se”, envolven<strong>do</strong> pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deem programas de ativi<strong>da</strong>des físicas, que contribuempara a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população.14. Leitura e interpretação de bulas de remédio, rótulode alimentos para a avaliação <strong>da</strong> clareza dessestextos, inclusive reescreven<strong>do</strong> aqueles que consideraremde difícil compreensão.15. Debates sobre notícias de jornais e revistasque tratem de: <strong>do</strong>enças causa<strong>da</strong>s por vírus, formasde transmissão e medi<strong>da</strong>s de prevenção; <strong>do</strong>ençassexualmente transmissíveis, gravidez precoce e méto<strong>do</strong>scontraceptivos.16. Observação, em situações <strong>do</strong> cotidiano, decondutas adequa<strong>da</strong>s à promoção <strong>da</strong> saúde, bemcomo fatores que interferem nas condições de saúdede indivíduos e populações, com destaque para ofuncionamento <strong>do</strong> sistema imunológico, nervoso eendócrino.ReferênciasBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoFun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais:ciências naturais. Brasília, 1998.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de educaçãoFun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais:meio ambiente e saúde. Brasília, 2000. v. 9.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoBásica. Parâmetros curriculares nacionais: ensinomédio. Brasília, 2002.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoBásica. Orientações curriculares nacionais <strong>do</strong> en-sino médio: ciências <strong>da</strong> natureza, matemática e suastecnologias. Brasília, 2006.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoBásica. Parâmetros curriculares nacionais <strong>do</strong>ensino médio – PCN + . Brasília, 2002. Disponível em:, Acesso em 8 fev. 2008.CARVALHO, Anna M. P. de. Habili<strong>da</strong>des de professorespara promover a enculturação científica. Contexto& Educação, Ijuí, Ed. Unijuí, ano 22, n. 77, p. 25-49.CHAVES, Silvia N. Por que ensinar ciências para as novasgerações? Uma questão central para a formaçãoReferencial Curricular 4.indd 60 25/8/2009 11:10:27


<strong>do</strong>cente. Contexto & Educação. Ijuí, Ed. Unijuí, ano22, n. 77, jan/jun 2007 p. 11-24.EL-HANI, Charbel; VIDEIRA, Antonio Augusto P. O queé vi<strong>da</strong>? Para entender a biologia <strong>do</strong> século XXI. SãoPaulo: Relume Dumará, 2000.HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismos desde1780. São Paulo: Paz e Terra, 1991.______. A era <strong>do</strong>s extremos. São Paulo: Cia. <strong>da</strong>s Letras,1995.MACEDO, Elizabeth; LOPES, Alice C. (Org.). Currículo:debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002.MALDANER, Otávio; ZANON, Lenir B. Situação deEstu<strong>do</strong>: uma organização <strong>do</strong> ensino que extrapolaa formação disciplinar em ciências. In: MORAES, R.;MANCUSO, R. Educação em ciências: produção decurrículos e formação de professores. Ijuí, Ed. Unijuí,2004, p. 43-64.MARANDINO, Martha et al. (Org.). Ensino de biologia:conhecimentos e valores em disputa. Niterói, Eduff,2005.MARQUES, Mário O. Escrever é preciso: o princípio<strong>da</strong> pesquisa; Ijuí: Ed. Unijuí, 2006. MOREIRA, M. A.;OSTERMANN, F. Sobre o ensino <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> científico.Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 10, n. 2,ago. 1993, p. 108-117.PANSERA-DE-ARAÚJO, Maria Cristina. Articulaçãoentre a formação inicial e continua<strong>da</strong> de professoresde biologia: outro contexto de ação. EREBIO-NOR-DESTE, 3. Anais... Recife, 26 a 30 abril 2008.______. AUTH, M. A.; MALDANER, O. A. Situaçõesde Estu<strong>do</strong> como forma de inovação curricular em ciênciasnaturais. In: GALIAZZI, M.C. et al Construçãocurricular em rede na educação em ciências: umaaposta de pesquisa na sala de aula. Ijuí : Ed. Unijuí,2007, p. 161-172.POZO, Juan Ignácio. A solução de problemas: aprendera resolver, resolver para aprender. Porto Alegre:Artmed, 1998.SELLES, Sandra E.; FERREIRA, Márcia S. Disciplina escolarbiologia: entre a retórica unifica<strong>do</strong>ra e as questõessociais. In: MARANDINO, M. et al. Ensino de biologia:conhecimentos e valores em disputa. Niteroi:EDuff, 2005.SILVA, Janete M. P. et al. Água, fator determinantepara a vi<strong>da</strong>: uma possibili<strong>da</strong>de de articulação <strong>da</strong> Biologiae Química no ensino médio. In: GALIAZZI, M.C.et al. Construção curricular em rede na educação emciências: uma aposta de pesquisa na sala de aula. Ijuí,Ed. Unijuí, 2007.VYGOTSKY, Lev. S. A formação social <strong>da</strong> mente. SãoPaulo: Martins Fontes, 1984.______. Pensamento e linguagem. São Paulo: MartinsFontes, 1989.YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? Educaçãoe Socie<strong>da</strong>de, Campinas, v. 28, n. 101 set./dez.2007. Acesso em 10 de maio de 2008.6161Referencial Curricular 4.indd 61 25/8/2009 11:10:27


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Maria Cristina Pansera de AraújoPaulo CunhaReferencial Curricular 4.indd 63 25/8/2009 11:10:30


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Referencial Curricular para o ensino de Biologia65651. Por que ensinar e aprenderBiologia?Para responder a esta pergunta podemosinicialmente apontar que a segun<strong>da</strong> metade<strong>do</strong> século XX e as primeiras déca<strong>da</strong>s <strong>do</strong> atualséculo podem ser considera<strong>da</strong>s como a era<strong>da</strong> Biologia.Biologia, a ciência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vivo, é umcampo de investigação em pleno florescimento.Esta passou de uma ciência descritiva<strong>do</strong> patrimônio natural, botânico e zoológico,no início <strong>do</strong> século XIX, para uma ciênciapauta<strong>da</strong> por teorias unifica<strong>do</strong>ras (Teoriacelular, evolutiva e <strong>da</strong> herança) em mea<strong>do</strong>s<strong>do</strong> século XX. Com essa mu<strong>da</strong>nça, muitoswconteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s ciências biológicas tomaramnovas e promissoras direções, produzin<strong>do</strong> revoluçõessem precedentes na compreensão<strong>do</strong>s mecanismos de herança, na biologiacelular, na fisiologia e na neurociência, bemcomo avanços espetaculares no entendimento<strong>da</strong> origem e evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, na antropologiafísica e na dinâmica <strong>do</strong>s ecossistemas e<strong>da</strong>s relações entre os seres vivos. Nas últimasdéca<strong>da</strong>s, observamos o desenvolvimento denovas tecnologias, basea<strong>da</strong>s em pesquisasmoleculares, e seus reflexos já podem ser nota<strong>do</strong>sna medicina, passan<strong>do</strong> pela agricultura,a produção de alimentos e medicamentose até na reprodução humana.Esse desenvolvimento <strong>da</strong> Biologia segueuma tendência no século XX de influênciaca<strong>da</strong> vez mais acentua<strong>da</strong> <strong>da</strong> ciência no desenvolvimentode novas tecnologias, e destasno desenvolvimento econômico de diferentespaíses e com forte impacto no mo<strong>do</strong>e no padrão de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas. Comosalientou o economista Robert Solow (1924– atual), o desenvolvimento econômico esustenta<strong>do</strong> de um país depende de diversosfatores, entretanto, o progresso científicotecnológicopromovi<strong>do</strong> pela educação temcontribuí<strong>do</strong> mais para o crescimento econômico<strong>do</strong> que o aumento <strong>do</strong>s capitais ou <strong>da</strong>força de trabalho.Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> extraordinário progressoadvin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s pesquisas dessa nova Biologia,ocorrem inúmeros problemas gera<strong>do</strong>spelo mau uso <strong>do</strong>s recursos naturais. Issose torna particularmente grave em um paíscomo o Brasil, onde coexistem tecnologiassofistica<strong>da</strong>s, às quais poucos têm acesso, eproblemas básicos não resolvi<strong>do</strong>s (saneamento,educação e emprego) que atingemparte significativa <strong>da</strong> população. Esse desenvolvimentoaflorou, também, questõeséticas e legais cujos des<strong>do</strong>bramentos extrapolama esfera <strong>da</strong> ciência e a ação direta<strong>do</strong>s cientistas. Tais situações clamam poruma participação mais efetiva <strong>do</strong> públiconos debates, nas toma<strong>da</strong>s de decisão ena busca de soluções, visan<strong>do</strong> reconduzirao equilíbrio o progresso tecnológico e aquali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Entretanto, entendemosque para isso é necessário que as pessoasse apropriem de conceitos fun<strong>da</strong>mentais<strong>da</strong> Biologia e de outros campos <strong>da</strong> ciênciacom os quais possam compreender comautonomia e proprie<strong>da</strong>de temas complexos,como: aquecimento global, transgenia,terapias gênicas, clonagem, entre outros,sen<strong>do</strong> capazes de opinar e se posicionarcom responsabili<strong>da</strong>de.2 Escola: lugar de encontroA escola é o espaço privilegia<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong>destes conceitos e questões e precisa estarem sintonia com as temáticas atuais abor<strong>da</strong><strong>da</strong>scotidianamente na mídia para que osalunos consigam compreender o que estásen<strong>do</strong> divulga<strong>do</strong> e quais são as temáticassignificativas para a socie<strong>da</strong>de na qual estãoinseri<strong>do</strong>s.A escola é um lugar central na inter-rela-Referencial Curricular 4.indd 65 25/8/2009 11:10:30


66ção entre o estu<strong>da</strong>nte e as diferentes esferas<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Ela se configura como um espaçode coordenação, de regulação e simultaneamentede inovação e de mu<strong>da</strong>nça. Paraos alunos, é mais <strong>do</strong> que a instituição ondese aprende a ler, escrever, fazer contas, raciocinar.Nela os estu<strong>da</strong>ntes podem, efetivamente,experimentar relações de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,estabelecen<strong>do</strong> pactos, contratos e diferentesrelações sociais.Neste contexto, é preciso uma intervençãoplaneja<strong>da</strong> <strong>do</strong> professor, responsável pela sistematização<strong>do</strong> conhecimento conforme a faixaetária, o nível de escolari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunose o contexto sóciocultural no qual estão inseri<strong>do</strong>s.Isso com o intuito de propiciar situaçõesde aprendizagem significativa, nas quaisos alunos possam realizar experimentações,observações, análises, questionamentos e interpretaropiniões e pontos de vista distintos,valorizan<strong>do</strong> o desenvolvimento de competênciase habili<strong>da</strong>des de ler, escrever e resolverproblemas, consideran<strong>do</strong> a linguagem, os códigose símbolos, o objeto e os procedimentoscaracterísticos deste campo <strong>da</strong> ciência.O processo de ensino e de aprendizagemem Biologia visam:a) a despertar a curiosi<strong>da</strong>de, o interesse eo entusiasmo <strong>do</strong>s alunos em relação aos fenômenos<strong>da</strong> natureza, particularmente aquelesenvolven<strong>do</strong> os seres vivos, sua diversi<strong>da</strong>de,distribuição e interações;b) ao desenvolvimento <strong>do</strong> pensamento lógico-científico,acompanha<strong>do</strong> de fun<strong>da</strong>mentosque possibilitem uma maior reflexão sobreproblemas ambientais e tecnológicos atuais;c) à compreensão ampla <strong>do</strong>s processos eméto<strong>do</strong>s de investigação científica na resoluçãode problemas cotidianos, ambientais etecnológicos;d) ao questionamento <strong>da</strong>s ações de intervenção<strong>do</strong> homem na natureza; ee) ao desenvolvimento de uma visão sistêmicaque reconheça a vi<strong>da</strong> como processodinâmico, evolutivo, e o ser humano comoparte integrante deste processo.É importante ain<strong>da</strong> que, ao longo <strong>do</strong>ensino médio, os alunos busquem entendero mun<strong>do</strong> e a si próprios, consideran<strong>do</strong>o conhecimento científico em constanteevolução; a construção de argumentos apartir <strong>da</strong> análise, interpretação e avaliação<strong>da</strong>s evidências observa<strong>da</strong>s; a discussão <strong>da</strong>squestões relativas à aplicação <strong>da</strong>s teorias etecnologias advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Biologia aos problemasde preservação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na Terra;e a articulação de diferentes estratégias,abor<strong>da</strong>gens e conceitos biológicos no planejamento,desenvolvimento e execuçãode projetos que visem alterar a reali<strong>da</strong>devivencia<strong>da</strong> em prol <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Este Referencial Curricular procura deslocaro foco <strong>do</strong> processo de ensino para aaprendizagem, contrapon<strong>do</strong>-se ao modelotradicional, em que o conteú<strong>do</strong> é fim em simesmo. O modelo contemporâneo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>visa ao desenvolvimento de competênciase habili<strong>da</strong>des em que o conteú<strong>do</strong> é o meiopara alcançar esse objetivo.A descrição <strong>da</strong>s competências específicas,a serem desenvolvi<strong>da</strong>s, explicitará otratamento <strong>do</strong>s conhecimentos biológicose <strong>da</strong>s tecnologias a eles associa<strong>do</strong>s e suasrelações com a socie<strong>da</strong>de e o ambiente.Neste contexto, cabe ao professor oportunizarsituações que possibilitem aos alunosobservar a reali<strong>da</strong>de, identifican<strong>do</strong> problemase elaboran<strong>do</strong> questões cujas respostaspossam encaminhar soluções inova<strong>do</strong>ras econdizentes com seus contextos.O desenvolvimento de competências específicasem diferentes <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> conhecimento(substantivo, processual ou meto<strong>do</strong>lógicoe epistemológico), <strong>do</strong> raciocínio, <strong>da</strong>comunicação e <strong>da</strong>s atitudes é essencial paraa formação crítica <strong>do</strong> sujeito. E exige o envolvimento<strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte no processo de ensino eaprendizagem que, por meio de experiênciaseducativas varia<strong>da</strong>s e devi<strong>da</strong>mente planeja<strong>da</strong>s,podem apropriar-se com maior autonomiade seu processo de aprendizagem.Referencial Curricular 4.indd 66 25/8/2009 11:10:30


Quadro 1 - Competências essenciais 11. Conhecimento substantivo: análise e discussão de evidências em situações-problema,que permitam ao aluno construir o conhecimento científico, de mo<strong>do</strong> a interpretare compreender suas leis e modelos, reconhecen<strong>do</strong> as limitações e as novas criações <strong>da</strong>Ciência e <strong>da</strong>s Tecnologias na resolução de problemas pessoais, sociais e ambientais.2. Conhecimento processual: realização de pesquisa bibliográfica, planejamento, observação,execução de experimentos, investigações, elaboração e interpretação de tabelase gráficos, como resulta<strong>do</strong> de análises estatísticas.3. Conhecimento epistemológico: análise e debate de descobertas científicas, comseus êxitos, fracassos, persistência, obstinação e mo<strong>do</strong>s de trabalhar de diversos cientistas,bem como as influências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobre a ciência, propician<strong>do</strong> ao alunoconfrontar as explicações científicas com aquelas <strong>do</strong> senso comum, <strong>da</strong> religião e <strong>da</strong> arte.4. Raciocínio: situações de aprendizagem centra<strong>da</strong>s na resolução de problemas – proposiçãode hipóteses, planejamento <strong>da</strong> investigação, definição <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia, coleta,tabulação, sistematização e interpretação <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, previsão e avaliação de resulta<strong>do</strong>s;comparações, inferências, generalizações e deduções. Assim, será possível desenvolver opensamento criativo e crítico e confrontar diferentes perspectivas e interpretações científicascom estratégias cognitivas diversifica<strong>da</strong>s.5. Comunicação: uso de linguagem científica, mediante interpretação de fontes de informaçãodiversas, em que os alunos aprenderão a distinguir o essencial <strong>do</strong> acessório,representan<strong>do</strong>-o de diversas formas, com debates argumentativos, analíticos ou sintéticosde mo<strong>do</strong> oral ou escrito, fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> numa estrutura textual lógica.6. Atitudes: de curiosi<strong>da</strong>de, perseverança e serie<strong>da</strong>de na execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, respeitan<strong>do</strong>e questionan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s; de reflexão crítica, flexibili<strong>da</strong>de para aceitaro erro e a incerteza e a reformulação <strong>da</strong>s mesmas; ética, estética e com sensibili<strong>da</strong>depara trabalhar a ciência, avalian<strong>do</strong> o seu impacto na socie<strong>da</strong>de e no ambiente.6767Há algumas questões que nos acompanharamdurante a elaboração deste Referenciale que gostaríamos de compartilharcom os professores: i) o que se aprende?ii) qual a relevância <strong>da</strong> aprendizagem emBiologia? iii) quan<strong>do</strong> se aprende? iv) quaissão os temas ou conteú<strong>do</strong>s essenciais e osperiféricos?Algumas destas questões foram parcialmenterespondi<strong>da</strong>s e evidenciam nossa concepção<strong>do</strong> processo de ensino e aprendizagem.No entanto, sabemos que estas sãoquestões que continuamente retornam àsnossas mentes em decorrência <strong>da</strong> práticae <strong>da</strong>s vivências com diferentes alunos, emdiferentes momentos e contextos. São questõesque, apesar de inquietantes, tornampossível nossa reflexão sobre o que pensamose o que queremos com o ensino deBiologia.1PORTUGAL. Currículo Nacional de Ensino Básico: competências essenciais. Lisboa: Ministério de Educação. Disponível em: www.min-edu.pt/programs/programas.asp p.132-133.Referencial Curricular 4.indd 67 25/8/2009 11:10:30


683 Competências gerais <strong>da</strong> área de Ciências <strong>da</strong> Natureza e seusdes<strong>do</strong>bramentos para o ensino e a aprendizagem <strong>da</strong> Biologia no ensino médioO ensino por competências nos impõeum desafio de organizar o conhecimento apartir de situações de aprendizagem que tenhamsenti<strong>do</strong> para o aluno e ofereçam osinstrumentos necessários para agir em diferentescontextos <strong>do</strong> ambiente e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> emsocie<strong>da</strong>de.As competências gerais <strong>da</strong> área, de representaçãoe comunicação, investigaçãoe compreensão e contextualizaçãosociocultural (PCN, 1998), relacionam earticulam a área de Ciências <strong>da</strong> Naturezacom as demais, e também com as competênciasde ler, escrever e resolver problemas,defini<strong>da</strong>s como básicas nestes ReferenciaisCurriculares para to<strong>do</strong>s os componentes <strong>do</strong>currículo <strong>do</strong>s ensinos fun<strong>da</strong>mental e médio.A Representação e comunicação vincula-seao <strong>do</strong>mínio de linguagens e códigosespecíficos <strong>da</strong> nomenclatura <strong>da</strong>s Ciências,e compreendem a capaci<strong>da</strong>de de ler, interpretare escrever textos, símbolos, modelose outras representações <strong>da</strong> área científicotecnológica.A Investigação e compreensão, originalmenterelaciona<strong>da</strong> à área <strong>da</strong>s Ciências,tanto Naturais quanto Humanas, expressasena insatisfação com as explicações existentessobre determina<strong>do</strong>s fenômenos oufatos, o que gera a permanente busca denovas respostas e de soluções para problemasrelaciona<strong>do</strong>s a questões ambientais e/ou socioculturais contemporâneas.A Contextualização sociocultural relaciona-seoriginalmente à área de CiênciasHumanas, e corresponde à inserção<strong>da</strong> Ciência <strong>da</strong> Natureza e <strong>da</strong> tecnologiano espaço <strong>da</strong> herança sócio-histórico-cultural<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Refere-se ao tratamento<strong>do</strong> conhecimento científico-tecnológicoem determina<strong>do</strong> contexto históricoou atual.O ensino com foco no desenvolvimentode competências deve ser planeja<strong>do</strong> de formadiversa <strong>da</strong>quele com foco no conteú<strong>do</strong>.A aula deverá ser prepara<strong>da</strong> pelo professor,preven<strong>do</strong> o aluno como protagonista <strong>da</strong> açãode sua aprendizagem. Assim, ler, escrever, resolverproblemas, esquematizar, argumentar,elaborar relatórios, representar, interpretar,são propostas para o aluno realizar.No quadro a seguir, apresentam-se ascompetências gerais <strong>da</strong> área de Ciências <strong>da</strong>Natureza e as competências básicas transversaisdeste Referencial, que o aluno devedesenvolver durante a escolari<strong>da</strong>de básica,articula<strong>da</strong>s com os conteú<strong>do</strong>s significativospara o ensino médio em Biologia.Referencial Curricular 4.indd 68 25/8/2009 11:10:30


Quadro 2 - Cruzamento entre as competências gerais ebásicas (transversais) para a Biologia no ensino médioCompetênciasbásicasCompetências geraisRepresentação comunicação Investigação e compreensão Contextualização sociocultural6969Ler eescreverResolução deproblemas1. Apropriar-se <strong>da</strong> linguagem e<strong>do</strong>s conceitos <strong>da</strong> Biologia paracompreender o mun<strong>do</strong> natural einterpretar fenômenos <strong>da</strong> naturezarelaciona<strong>do</strong>s a origem e diversi<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s seres vivos através <strong>da</strong>observação direta <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,de situações experimentais, simulaçõese diferentes fontes deinformação.2. Utilizar a linguagem <strong>da</strong>s Ciênciasna formulação oral e escrita,para expressar a compreensão deconceitos e conhecimentos essenciais<strong>da</strong> área.3. Identificar e descrever representaçõesde fenômenos biológicosa partir de textos e imagens,fórmulas, gráficos, equações outabelas.1. Elaborar perguntas e hipóteses,selecionan<strong>do</strong> e organizan<strong>do</strong><strong>da</strong><strong>do</strong>s e explicações para resoluçãode problemas.2. Expressar por escrito ou oralmente,usan<strong>do</strong> linguagem específicana solução de uma situaçãoproblema, informan<strong>do</strong> as estratégiasa<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s e o raciocínio desenvolvi<strong>do</strong>.3. Identificar problemas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>devivencia<strong>da</strong>, apresentan<strong>do</strong>soluções lógicas e criativas, comoresulta<strong>do</strong> de análise crítica <strong>do</strong>sprocedimentos utiliza<strong>do</strong>s.1. Caracterizar a vi<strong>da</strong> em suadiversi<strong>da</strong>de e relação com o ambienteno processo de transformaçãoe evolução <strong>da</strong> natureza.2. Confrontar diferentes posiçõesindividuais ou coletivas para reelaboraridéias e interpretações arespeito de fatos científicos ou <strong>do</strong>cotidiano.3. Formular perguntas relevantesutilizan<strong>do</strong> a linguagem própria<strong>da</strong> Biologia.4. Selecionar fontes de pesquisaem diferentes meios, identifican<strong>do</strong>o que é significativo e relevantepara justificar determina<strong>do</strong>fato, situação real ou idealiza<strong>da</strong>.1. Compreender uma situaçãoproblema no contexto <strong>da</strong>s CiênciasBiológicas, a partir de informaçõese conhecimentos básicos,que possibilitem a proposição desoluções viáveis.2. Investigar temas relevantes emfontes confiáveis na busca de soluçãoou modelos apropria<strong>do</strong>s àsituação-problema identifica<strong>da</strong>.3. Confrontar diferentes interpretaçõesde um mesmo fato científico,posicionan<strong>do</strong>-se a respeitocom argumentos consistentes nadefesa de suas posições.1. Reconhecer que a humani<strong>da</strong>deé parte <strong>da</strong> natureza e entenderessa relação de interdependênciae evolução no tempo histórico egeológico, a partir <strong>do</strong> desenvolvimentogera<strong>do</strong> pela Biologia.2. Confrontar conceitos <strong>do</strong> sensocomum com conhecimentos científicoshistoricamente produzi<strong>do</strong>se reconheci<strong>do</strong>s pela humani<strong>da</strong>de,identifican<strong>do</strong> e descreven<strong>do</strong>diferenças relativas ao contextosociocultural.3. Problematizar, por meio <strong>da</strong>elaboração de texto, o papel <strong>da</strong>Biologia e Biotecnologia no contextoatual.1. Reconhecer tecnologias desenvolvi<strong>da</strong>sa partir de conhecimentos<strong>da</strong> Biologia e utiliza<strong>da</strong>s pelahumani<strong>da</strong>de, identifican<strong>do</strong> consequênciaspositivas e negativasde suas aplicações.2. Identificar modelos que permitamcompreender situações concretasà luz de teorias e conceitos<strong>da</strong> Biologia.3. Compreender as Ciências Naturaise suas tecnologias, em particular<strong>da</strong> Biologia, como construçãohumana, relacionan<strong>do</strong>o desenvolvimento científico aolongo <strong>da</strong> história com a transformação<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.4 Habili<strong>da</strong>des específicas e conceitos estruturantespara a aprendizagem de Biologia no ensino médioAs competências, básicas e gerais, se configuramem ações e operações que utilizamospara nos relacionar com outras pessoas e estabelecerrelações entre objetos, situações efenômenos. Sua manifestação se dá atravésde habili<strong>da</strong>des específicas que na práticademonstram as competências adquiri<strong>da</strong>s pelosindivíduos. Sen<strong>do</strong> assim, tais habili<strong>da</strong>desrelacionam-se com as capaci<strong>da</strong>des no planoimediato <strong>do</strong> saber fazer. Por outro la<strong>do</strong>,através de ações e operações rotineiras econcatena<strong>da</strong>s as habili<strong>da</strong>des aperfeiçoam-see articulam-se, possibilitan<strong>do</strong> nova reorganização<strong>da</strong>s competências. Assim, a atuaçãoconsciente <strong>do</strong> professor alia<strong>da</strong> a seleção criteriosade conteú<strong>do</strong>s, a diversificação de meto<strong>do</strong>logiase a participação ativa <strong>do</strong>s alunospodem possibilitar uma aprendizagem maissignificativa, com reflexos sobre sua vi<strong>da</strong>, seucomportamento e sua inserção na socie<strong>da</strong>de.Referencial Curricular 4.indd 69 25/8/2009 11:10:30


Quadro 3 - Habili<strong>da</strong>des e práticas em Biologia70• observar o ambiente, planejan<strong>do</strong> saí<strong>da</strong>s de campo, por meio de: elaboração de roteiros,seleção e utilização de instrumentos, registros de informações (grava<strong>do</strong>res,máquinas fotográficas, filma<strong>do</strong>ras, bússolas, lupas, cronômetros, termômetros, martelosgeológicos, etc.);• ler e interpretar adequa<strong>da</strong>mente informações expressas em imagens, gráficos e tabelasusualmente veicula<strong>da</strong>s nas diferentes mídias;• coletar e organizar o material, e classificar por categorias ou temas;• planejar e executar pesquisas, a partir de situações-problema, que exijam maneirasdiversas de coletar, organizar e analisar as informações obti<strong>da</strong>s, nos moldes <strong>da</strong>ciência;• elaborar projetos, consideran<strong>do</strong> a definição <strong>do</strong> problema, hipótese, objetivos, meto<strong>do</strong>logia,obtenção e análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, conclusões, comunicação e intervenção, sefor o caso;• realizar experiências e usar instrumentos de observação (microscópio) e de medi<strong>da</strong>(termômetro, balança, cronômetro, etc.), com registro <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s para posterior análise esistematização;• analisar criticamente notícias de jornais, revistas, rádio e televisão com base em conhecimentoscientíficos;• debater temas polêmicos e atuais, sobre os quais os alunos possam argumentar etomar decisões qualifica<strong>da</strong>s, bem como respeitar as opiniões divergentes;• levantar hipóteses sobre determina<strong>do</strong> fato, fenômeno ou para a solução de um problema;• apresentar resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas pesquisas e projetos, expon<strong>do</strong> as ideias individuaisou <strong>do</strong> grupo, usan<strong>do</strong> recursos audiovisuais, modelos, maquetes e informática;• generalizar e estender determina<strong>do</strong> conceito a um conjunto de situações, ou “tornargeral o que era específico”. Na área <strong>do</strong> conhecimento é competência de nível cognitivoeleva<strong>do</strong>;• trabalhar cooperativa e soli<strong>da</strong>riamente nos diversos projetos e pesquisas que articulemvários conhecimentos, priman<strong>do</strong> pela execução individual <strong>da</strong>s tarefas e a organização<strong>da</strong>s conclusões.5 Conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Biologia e sua seleção no ensino médioUm desafio que se coloca aos educa<strong>do</strong>ressistematicamente é a seleção de conteú<strong>do</strong>s<strong>da</strong> educação básica, frente à quanti<strong>da</strong>de deinformações já sistematiza<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> disciplina.No ensino médio, este fato é, particularmente,marcante, consideran<strong>do</strong> que umde seus objetivos é preparar para o vestibularque tem como prerrogativa a avaliação deconteú<strong>do</strong>s. A partir de 2009, as mu<strong>da</strong>nçasno ENEM (Exame Nacional <strong>do</strong> Ensino Médio),devem interferir fortemente em relação às expectativasde aprendizagem e de avaliaçãodeste processo no ensino médio. Por exemplo,em relação à quanti<strong>da</strong>de de conteú<strong>do</strong>sfrente às competências e habili<strong>da</strong>des a seremdesenvolvi<strong>da</strong>s. Nesse senti<strong>do</strong>, a organizaçãodestes Referenciais Curriculares busca incorporaressa concepção sobre aprendizagenssignificativas e mais permanentes.A partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de em que o ENEM seráconsidera<strong>do</strong> como possibili<strong>da</strong>de de ingressono ensino superior, entende-se que a escoladeve ter clareza sobre a escolha a ser feita,consideran<strong>do</strong>: a) é quase impossível ensinarReferencial Curricular 4.indd 70 25/8/2009 11:10:30


to<strong>do</strong> o conhecimento de Biologia produzi<strong>do</strong>pela humani<strong>da</strong>de, no espaço e no tempo <strong>da</strong>escolari<strong>da</strong>de média; b) mesmo que se compacteo conteú<strong>do</strong> e sejam transmiti<strong>da</strong>s informaçõescomo ver<strong>da</strong>des inquestionáveis, a aprendizagemnão estará garanti<strong>da</strong>; c) não basta maiso aluno ter uma grande bagagem de informações,sem saber o que fazer com ela.Por isso, os conteú<strong>do</strong>s procedimentais dehabili<strong>da</strong>des, competências e conceitos, e asestratégias apresenta<strong>da</strong>s como sugestão visamlevar o aluno a entender tanto a suareali<strong>da</strong>de quanto o contexto maior em queestá inseri<strong>do</strong>. A vi<strong>da</strong> escolar deve tambémoferecer instrumentos aos alunos para umaatuação consciente na vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de.Nessa perspectiva educacional, não é maispossível considerar listas fixas de conteú<strong>do</strong>sconceituais em que a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunosé apenas uma ilustração. As situações deaprendizagem devem desenvolver-se a partirde experiências significativas vivi<strong>da</strong>s por eles,na escola ou fora dela, que os levam a construir,mais facilmente, ideias a respeito <strong>do</strong>sfenômenos observa<strong>do</strong>s.A partir dessas considerações, é possívelestabelecer relações entre os conceitos estruturantese os conteú<strong>do</strong>s, com vistas à definiçãode objetivos que articulem competênciasgerais, básicas e específicas com os eixostemáticos e respectivos blocos de conteú<strong>do</strong>spara ca<strong>da</strong> série. Assim, estrutura-se a propostade Referencial Curricular para Biologiano ensino médio, que ain<strong>da</strong> sugere estratégiasadequa<strong>da</strong>s ao desenvolvimento <strong>da</strong>scompetências e habili<strong>da</strong>des estabeleci<strong>da</strong>s.71716 Temas estruturantes e sua organização no ensino de BiologiaEspecialmente no ensino médio, o aprendiza<strong>do</strong>precisa ser instrumento para a vi<strong>da</strong>e para o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho. Os conhecimentos,competências e habili<strong>da</strong>des, atitudese valores devem favorecer percepçõesqualifica<strong>da</strong>s, julgamentos, atuações, desenvolvimentopessoal e estu<strong>do</strong> permanente detemas significativos no contexto atual e comrepercussões futuras. Assim, contextualizar oconhecimento é essencial neste ReferencialCurricular, que considera a aprendizagem eo protagonismo <strong>do</strong> aluno como um de seusfun<strong>da</strong>mentos básicos. Nesse senti<strong>do</strong>, a comuni<strong>da</strong>deescolar precisa organizar-se emtorno <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica, que articularáas disciplinas <strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Naturezae demais áreas, como a Matemática, Linguagense Códigos e Ciências Humanas,de mo<strong>do</strong> a proporcionar diálogos, que ampliema reflexão <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes em formaçãoe propiciem condições para a interdisciplinari<strong>da</strong>de.Reconhecen<strong>do</strong> que os principais temas<strong>da</strong> Biologia referem-se à compreensão <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> na Terra, as consequências <strong>do</strong>s avançostecnológicos e a intervenção humana nanatureza, os PCN+ (Brasil, 2002, p. 49) privilegiamseis temas estruturantes com abrangênciapara organizar o ensino de Biologia,e que são fun<strong>da</strong>mentos desses ReferenciaisCurriculares. São eles:• Interação entre os seres vivos;• Quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações humanas;• Identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seres vivos;• Diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>;• Transmissão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ética e manipulaçãogênica;• Origem e evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.Os temas lista<strong>do</strong>s, ao serem explicita<strong>do</strong>s ecaracteriza<strong>do</strong>s, permitem o reconhecimento<strong>do</strong>s conceitos estruturantes <strong>da</strong> área de Ciências<strong>da</strong> Natureza, evidencia<strong>do</strong>s em negrito,dentro <strong>do</strong> texto ou no final de ca<strong>da</strong> item, chaman<strong>do</strong>a atenção para seu papel no contexto<strong>do</strong> conhecimento científico escolar.Referencial Curricular 4.indd 71 25/8/2009 11:10:31


Quadro 4 - Temas estruturantes, conteú<strong>do</strong>s e conceitos estruturantes72 Temas estruturantes Conteú<strong>do</strong>s e conceitos estruturantes1. Interação entre os seres vivos2. Quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populaçõeshumanas3. Diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>4. Identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seres vivos5. Transmissão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ética emanipulação gênica6. Origem e evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Vi<strong>da</strong> e ambiente interagem, resultan<strong>do</strong> em estruturas organiza<strong>da</strong>s (sistemas),que se transformam e interferem umas nas outras, desorganizan<strong>do</strong>-se, reorganizan<strong>do</strong>-see evoluin<strong>do</strong>. A visão sistêmica coloca o ser humano como agente epaciente <strong>da</strong>s transformações que influenciam a permanência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no planetae o desenvolvimento sustentável (modelo explicativo).Saúde relaciona-se não só à ausência de <strong>do</strong>enças, mas também às condições devi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações: ren<strong>da</strong>, educação, trabalho, habitação, saneamento e saúdeambiental, transporte, lazer, alimentação, longevi<strong>da</strong>de, liber<strong>da</strong>de de expressãoe participação democrática. Distribuição desigual de saúde e atendimento àsdiversas populações humanas, em termos mundiais e brasileiro, é evidencia<strong>da</strong>pelos indica<strong>do</strong>res sociais, econômicos e de saúde pública (regulari<strong>da</strong>des, invariâncias,transformações, sistemas).Caracterizar a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e sua distribuição nos diferentes ambientese compreender os mecanismos que favoreceram a varie<strong>da</strong>de de seres vivos, écondição para perceber os desequilíbrios ambientais, intensifica<strong>do</strong>s pela intervençãohumana, a redução dessa diversi<strong>da</strong>de, o que ameaça a sobrevivência <strong>da</strong>própria vi<strong>da</strong> no planeta (transformações, sistemas, simetrias, regulari<strong>da</strong>des,interações, invariantes).Características <strong>do</strong>s sistemas vivos: ativi<strong>da</strong>des vitais controla<strong>da</strong>s pelo programagenético no interior de célula. Familiarização com tecnologias de manipulação<strong>do</strong> material genético (transgênicos e clonagem), e com o debate ético e ecológicoa elas associa<strong>da</strong>s, que contribuem para o desenvolvimento de competências, deavaliar riscos e benefícios dessas manipulações à saúde humana e ambiental efornecer elementos para toma<strong>da</strong> de posição diante dessas questões (transformações,sistemas, simetrias, regulari<strong>da</strong>des, interações, invariantes).Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> hereditarie<strong>da</strong>de e transmissão <strong>do</strong>s caracteres em humanos, paraconhecer, compreender e avaliar o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aplicações de conhecimentosgenéticos no diagnóstico e tratamento de <strong>do</strong>enças, na identificação de paterni<strong>da</strong>deou de indivíduos, em investigações criminais ou acidentais. Introdução nodebate de implicações éticas, morais, políticas e econômicas de manipulaçõesgenéticas, analisan<strong>do</strong>-as e avalian<strong>do</strong> os riscos e benefícios para a humani<strong>da</strong>de eo planeta. Por exemplo, uso de células-tronco em pesquisa (Caderno <strong>do</strong> Aluno,2º e 3º ano EM); produção de vitaminas em plantas por transgenia. (transformações,sistemas, simetrias, regulari<strong>da</strong>des, interações, invariantes, modelos,origem e evolução).Origens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> Terra, <strong>do</strong> Universo e <strong>do</strong> próprio ser humano são discuti<strong>da</strong>s,sob o ponto de vista científico e filosófico, envolven<strong>do</strong> interpretações sobre ahistória <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como por exemplo, a de que seu surgimento decorreu de acidenteou projeto inscrito na constituição <strong>da</strong> matéria. Tratamento dessas questõespermite confrontar diferentes explicações sobre o assunto, de natureza científica,religiosa ou mitológica, elabora<strong>da</strong>s, em diferentes épocas. Evidencia-se atransitorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s conhecimentos científicos, estimula-se o posicionamento emrelação a questões polêmicas e dimensiona processos vitais em diferentes escalasde tempo, além de favorecer a familiarização com mecanismos básicos, quepropiciam a evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>do</strong> ser humano (transformações, sistemas,simetrias, regulari<strong>da</strong>des, interações, invariantes, modelos).A seguir, são apresenta<strong>do</strong>s exemplos de algumasdessas relações, que visam a facilitara organização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des a serem desenvolvi<strong>da</strong>sem sala de aula, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s nostemas estrutrantes, nas competências e habili<strong>da</strong>desaponta<strong>da</strong>s anteriormente e que investemem uma postura de responsabili<strong>da</strong>de peloaprender entre os alunos envolvi<strong>do</strong>s no processo.O pressuposto orienta<strong>do</strong>r é que o objetode estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> Biologia é o fenômeno <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>em to<strong>da</strong> a sua diversi<strong>da</strong>de de manifestações.O aprendiza<strong>do</strong> deverá permitir a compreen-Referencial Curricular 4.indd 72 25/8/2009 11:10:31


são <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong>s diferentes sistemas explicativose de que a ciência não tem respostasdefinitivas, como indicam os PCNEM (2002).Os seres vivos são identifica<strong>do</strong>s e classifica<strong>do</strong>ssegun<strong>do</strong> critérios, que consideram suaorigem e evolução: interações, regulari<strong>da</strong>descomo manifestações de sistemas organiza<strong>do</strong>s,integra<strong>do</strong>s e em determina<strong>do</strong>s momentos invariantes,e constitutivos de modelos explicativose representativos, tais como a Taxonomia ea Sistemática, que os dividem em cinco Reinos(Monera, Protozoa, Fungi, Plantae e Animmalia).À medi<strong>da</strong> que os conceitos estruturantessão evidencia<strong>do</strong>s, é possível constituir novossignifica<strong>do</strong>s e inter-relacionar as disciplinas <strong>da</strong>área. Também é fun<strong>da</strong>mental identificar os aspectosa serem trata<strong>do</strong>s na escola como espaçoresponsável pelo acesso ao “conhecimentopoderoso e científico” (Michael Young, 2007),além de reconhecer a importância <strong>da</strong> contextualizaçãosócio-histórico-cultural na organização<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.Dentre as tantas questões que chamamatenção e precisam ser trata<strong>da</strong>s com maiscui<strong>da</strong><strong>do</strong>, a enorme diversi<strong>da</strong>de de seres vivosexistente no Brasil merece atenção especial.No entanto, parece vir acompanha<strong>da</strong> de umaquase inexistência de estu<strong>do</strong>s adequa<strong>do</strong>s sobresuas características e interações, na escolae em outros espaços institucionais. Isto evidenciauma contradição que precisa ser considera<strong>da</strong>.Nos diferentes ecossistemas brasileiros,são encontra<strong>do</strong>s inúmeros animais, plantas,fungos, bactérias e protozoários, visualiza<strong>do</strong>sou não a olho nu. Entretanto, muitas revistas,livros didáticos e paradidáticos e internet mostram,quase que exclusivamente, exemplos deseres vivos existentes em outros continentese países, desconhecen<strong>do</strong> as peculiari<strong>da</strong>deslocais. Além <strong>da</strong>s florestas, são encontra<strong>da</strong>sregiões ribeirinhas, campos, cerra<strong>do</strong>, lagos,entre outros ecossistemas, muitos <strong>do</strong>s quaiscom fungos, plantas medicinais e aromáticas eanimais, que são utiliza<strong>do</strong>s pela humani<strong>da</strong>de,para os mais diversos fins (alimentares, medicinais,aromáticos, obtenção de fermenta<strong>do</strong>s,etc.), desde os primórdios de sua organizaçãosocial. Algumas populações, que ain<strong>da</strong> sobrevivemem condições de interação estreita como ambiente e outros seres vivos, são considera<strong>da</strong>stradicionais (por exemplo, indígenas equilombolas) e possuem um conhecimentosobre as contribuições dessa biodiversi<strong>da</strong>depara a vi<strong>da</strong> no planeta. Atualmente, as indústriasfarmacêuticas estão procuran<strong>do</strong> identificaros seres vivos que fornecem substânciasa serem manipula<strong>da</strong>s e disponibiliza<strong>da</strong>s paraoutras populações humanas, na forma de medicamentos,cosméticos, conservantes, etc.Percebe-se aqui uma possibili<strong>da</strong>de de novos esignificativos estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza,já que ocorre o resgate, a compreensão ea vali<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> conhecimento tradicional numnovo diálogo. Evidenciam-se também diferentespossibili<strong>da</strong>des de tratamento e abor<strong>da</strong>genspe<strong>da</strong>gógicas destas questões, o que podepermitir uma maior interação <strong>do</strong>s alunos como ensino de Biologia.A necessi<strong>da</strong>de de preservar o conhecimentotradicional, transmiti<strong>do</strong> oralmente pelosi<strong>do</strong>sos aos mais jovens, implica, essencialmente,numa nova maneira de ver o mun<strong>do</strong>e trabalhar os conhecimentos no desenvolvimento<strong>da</strong>s competências de leitura, escrita eresolução de problemas. Desse mo<strong>do</strong>, possibilita-seà humani<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong>, enão apenas àqueles com acesso irrestrito aoconhecimento científico ocidental, o direitoà voz e à vez, disponibilizan<strong>do</strong> um conhecimentoadquiri<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> experiência numanova perspectiva de sistematização. Entre aspopulações tradicionais <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul, estão os indígenas (Kaigangues, Guaranis,Minuanos e Charruas) e quilombolas.Outras etnias, como as europeias coloniza<strong>do</strong>ras<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (italiana, alemã,polonesa, sueca, espanhola, portuguesa, romena,húngara, austríaca, leta e russa), asasiáticas (japonesa, coreana, chinesas), e as<strong>do</strong> Oriente Médio (libanesa, palestina, síria,iraquiana, iraniana), compõem a diversi<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s alunos de nossas escolas, que têm seusconhecimentos e culturas tradicionais no quese refere, por exemplo, ao uso <strong>da</strong>s plantas,estratégias de sobrevivência, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s comos recém-nasci<strong>do</strong>s, mo<strong>do</strong> de preparar os ali-7373Referencial Curricular 4.indd 73 25/8/2009 11:10:31


74mentos, os quais são transmiti<strong>do</strong>s de geraçãoa geração, oralmente ou por registrosescritos e, por vezes, considera<strong>do</strong>s mais importantesou de maior valor. No entanto, oresgate de outras formas de ver e explicar omun<strong>do</strong> pode trazer novas contribuições aosestu<strong>do</strong>s científicos escolares, pois apresentanovos problemas a serem soluciona<strong>do</strong>s. Ouseja, se uma determina<strong>da</strong> planta (por exemplo,a macela) é usa<strong>da</strong> para <strong>do</strong>r de cabeçae problemas estomacais pelas populaçõestradicionais, pela botânica é reconheci<strong>da</strong>como pertencente à determina<strong>da</strong> família(sistema de organização) e pelos farmacologistas,que identificaram os princípios ativosque a caracterizam como porta<strong>do</strong>ra destasproprie<strong>da</strong>des, então estaremos amplian<strong>do</strong>os conhecimentos existentes e crian<strong>do</strong> novos.Portanto, é preciso estar atento a estasquestões para que o ler, escrever e resolverproblemas não fique restrito ao estabeleci<strong>do</strong>,mas permitam outras explicações eentendimentos no desenvolvimento <strong>da</strong> autonomia<strong>do</strong>s sujeitos, ao compreenderem aimportância de conhecer o mun<strong>do</strong> consideran<strong>do</strong>e valorizan<strong>do</strong> tanto os conhecimentostradicionais como aqueles oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong>Ciência e <strong>da</strong> Biologia.Os temas estruturantes <strong>da</strong> Biologia podemser ordena<strong>do</strong>s em diversas sequências, noensino médio. Indicamos a proposta de organização<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s expressa nos PCN+/MEC (p. 52 e 53), por julgar mais lógica.Esta proposta rompe com a organização normalmenteencontra<strong>da</strong> nos livros didáticos deBiologia <strong>do</strong> ensino médio.Quadro 5 - Uma sequência <strong>do</strong>s temas estruturantes <strong>da</strong> BiologiaPerío<strong>do</strong>s1º ano2º ano3º ano1 o semestre1. Interação entre os seresvivos3. Identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seres vivos5. Transmissão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, manipulaçãogênica e ética2 o semestre2. Quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>spopulações humanas4. A diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>6. Origem e evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Na primeiro ano <strong>do</strong> ensino médio, o temaestruturante parte <strong>do</strong> cenário atual <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>no planeta. Os alunos, no primeiro semestre,têm a oportuni<strong>da</strong>de de trabalhar com as seguintesuni<strong>da</strong>des temáticas: interações entre ascomuni<strong>da</strong>des biológicas e os fatores físicos equímicos que compõem um ecossistema; relaçõesde convivência e conflito entre as váriasespécies; interações alimentares; ciclos biogeoquímicos;consequências <strong>da</strong> poluição; responsabili<strong>da</strong>decompartilha<strong>da</strong> e uso sustentável <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de. As populações humanas e suasinterações com o ambiente e outros seres vivose a influência mútua na garantia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> noplaneta Terra são o foco <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre,que tem como uni<strong>da</strong>des temáticas: saúde<strong>da</strong>s populações humanas, que permite avaliara reali<strong>da</strong>de brasileira em relação à distribuiçãodesigual de ren<strong>da</strong> e as consequências para asaúde <strong>da</strong> população; as <strong>do</strong>enças e as suasdiversas formas de contágio e transmissão; aidentificação <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s mais efetivas paraprofilaxia, tratamento ou erradicação de algumasdelas. Esse tema sugere reflexões sobre aquali<strong>da</strong>de de oferta de saúde pública no Brasil,as taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil, os índices deanalfabetismo e a relação que esse quadro temcom a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população.No primeiro semestre <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ano, aênfase é coloca<strong>da</strong> na organização e no funcionamento<strong>da</strong>s estruturas celulares comuns ato<strong>do</strong>s os seres vivos. No segun<strong>do</strong> semestre, adiversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seres vivos, <strong>da</strong> sua naturezae organização, <strong>do</strong>s processos vitais e <strong>da</strong>s diferentesestratégias fisiológicas utiliza<strong>da</strong>s pararesolver as necessi<strong>da</strong>des básicas <strong>do</strong>s seres vivos,bem como <strong>do</strong>s processos de a<strong>da</strong>ptação.Já no primeiro semestre <strong>do</strong> terceiro ano,o tema trata <strong>da</strong> hereditarie<strong>da</strong>de, transmissãode características, com destaque paraa biotecnologia, a engenharia genética, emespecial o uso terapêutico <strong>da</strong>s células-troncoReferencial Curricular 4.indd 74 25/8/2009 11:10:31


e as implicações éticas, legais e sociais quepermitem aos alunos ao final <strong>do</strong> ensino médiotratar de questões polêmicas sobre temascontemporâneos, levan<strong>do</strong>-os a posicionar-see a argumentar em defesa de suas posições,o que favorece o desenvolvimento de competênciasque os qualifiquem como ci<strong>da</strong>dãoscríticos para viver na socie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> conhecimento.E, por fim, no segun<strong>do</strong> semestre, momentoem que o aluno já deve ter <strong>do</strong>mínio deconhecimentos científicos suficientes sobre avi<strong>da</strong> e os seres vivos, cabe a discussão <strong>da</strong>steorias a respeito <strong>da</strong> origem e evolução <strong>do</strong>sseres vivos, matéria <strong>da</strong>s ciências com profun<strong>do</strong>teor filosófico e articula<strong>do</strong>r de to<strong>da</strong> aciência <strong>da</strong> biologia. Esse momento é muitorico, pois os temas trata<strong>do</strong>s buscam explicarcomo surgiu a vi<strong>da</strong> na Terra, sugerin<strong>do</strong> questionamentose investigações. Muitas questõesserão respondi<strong>da</strong>s e nem sempre há umaúnica resposta. Por exemplo, quais seriam asrespostas sobre: Como eram os primeiros seresvivos? Qual o impacto <strong>da</strong> produção e <strong>do</strong>consumo de gás oxigênio para a atmosferaprimitiva? Qual a história <strong>da</strong> ancestrali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> espécie humana? Qual o papel <strong>da</strong> evoluçãocultural, <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong> inteligênciae <strong>da</strong> aprendizagem sobre a sobrevivência<strong>da</strong> espécie humana?No quadro a seguir, apresenta-se umapossibili<strong>da</strong>de de articulação entre os temasestrutrantes, as competências específicas <strong>da</strong>Biologia e os blocos de conteú<strong>do</strong>, organiza<strong>do</strong>spor ano <strong>do</strong> ensino médio, com sugestõesde algumas estratégias didáticas, quecontemplem a finali<strong>da</strong>de de desenvolvimento<strong>da</strong>s competências e habili<strong>da</strong>des previstaspara esse nível de ensino.7575Quadro 6 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de BiologiaEnsino médio 1º anoTemasestruturantesCompetênciasespecíficasBlocos deconteú<strong>do</strong>sEstratégiasInteraçõesentre os seresvivos1. Reconhecer, interpretar e compreenderem diferentes tipos de representaçãoe comunicação, símbolos, códigos enomenclatura própria <strong>da</strong> Biologia e <strong>da</strong>Biotecnologia, empregan<strong>do</strong>-os na expressãooral e escrita.2. Interpretar imagens, esquemas, desenhos,tabelas, gráficos e outras formasde representação de fenômenos ou processosbiológicos.3. Identificar em experimentos ou observações<strong>do</strong> meio, como algumas variáveisde tempo, espaço, temperatura,etc. interferem ou influenciam fenômenosbiológicos, como o crescimento <strong>da</strong>splantas, o metabolismo <strong>do</strong>s seres vivos, epropor formas de controle dessasvariáveis.Interdependência<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Fluxo de materiaise energia nanatureza• Observação e análise de ambientesconheci<strong>do</strong>s (jardim, parque,terreno baldio, mata), identifican<strong>do</strong>as características dessesecossistemas e descreven<strong>do</strong> osseres vivos encontra<strong>do</strong>s nesse ambientee as relações de convivênciaevidencia<strong>da</strong>s.• Levantamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, pesquisade registros, realização de experimentosreferentes às condiçõesambientais (luminosi<strong>da</strong>de, umi<strong>da</strong>de,temperatura, chuvas, solo,água) e a influência dessas variáveisna constituição e equilíbrio dedetermina<strong>do</strong> ecossistema.• Comparação de exemplos de utilizaçãode tecnologia em diferentessituações culturais com avaliação <strong>do</strong>papel <strong>da</strong> tecnologia no processo dedesenvolvimento social.• Interpretação de esquemas <strong>do</strong>sciclos biogeoquímicos e <strong>do</strong> fluxode energia para a vi<strong>da</strong>, ou <strong>da</strong>ação de agentes ou fenômenosque podem causar alterações nessesprocessos.Referencial Curricular 4.indd 75 25/8/2009 11:10:31


Quadro 6 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de Biologia76TemasestruturantesCompetênciasespecíficasEnsino médio 1º anoBlocos deconteú<strong>do</strong>sEstratégiasInteraçõesentre os seresvivos4. Identificar regulari<strong>da</strong>des em fenômenose processos biológicos para construirgeneralizações como: a estabili<strong>da</strong>de deum ecossistema depende <strong>da</strong> perfeitainteração entre os seus componentes eprocessos; alterações nesse equilíbriopodem ser irreversíveis.Problemasambientaisbrasileiros edesenvolvimentosustentável• Análise de propostas de intervençãono ambiente, consideran<strong>do</strong> asdinâmicas <strong>da</strong>s populações e associan<strong>do</strong>garantia de estabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>sambientes e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>humana a medi<strong>da</strong>s de conservação,recuperação e utilização autosustentável<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.• Elaboração de textos interpretativosde situações <strong>do</strong> cotidiano observa<strong>da</strong>s,que permitam a utilização determinologia científica adequa<strong>da</strong>.• Desenvolvimento de projetos interdisciplinaresna área ou entreáreas, especialmente sobre o tema:problemas brasileiros e desenvolvimentosustentável.Quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>spopulaçõeshumanas1. Avaliar a procedência <strong>da</strong> fonte de informaçãopara analisar a pertinência ea precisão <strong>do</strong>s conhecimentos científicosveicula<strong>do</strong>s no rádio, TV, jornais, revistase livros que se destinam a informar o ci<strong>da</strong>dão,ou induzi-lo ao consumo.2. Compreender e fazer uso apropria<strong>do</strong>de escalas ao medir ou elaborar gráficos,desenhos e tabelas relativos à saúde<strong>da</strong> população.3. Articular, integrar e sistematizar oconhecimento biológico e o de outrasáreas no enfrentamento de situaçõesproblema.4. Perceber a complexa relação entreciência, tecnologia e ambiente, ao longo<strong>da</strong> história, sob o ponto de vista ético e<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia responsável.Saúde e <strong>do</strong>ençaDistribuiçãodesigual <strong>da</strong> saúdepelas populaçõesAgressões à saúde<strong>da</strong>s populações• Elaboração de tabelas ou gráficosmostran<strong>do</strong> a correlação entreindica<strong>do</strong>res, como taxa de mortali<strong>da</strong>deinfantil e escolari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>spais, níveis de ren<strong>da</strong> e incidênciade <strong>do</strong>enças infectocontagiosas, porexemplo.• Levantamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s e informaçõespor meio de consulta aórgãos e instituições responsáveis,para identificar a disponibili<strong>da</strong>de deserviços e equipamentos volta<strong>do</strong>s àpromoção e recuperação <strong>da</strong> saúde.• Interpretação de indica<strong>do</strong>res desaúde pública e de desenvolvimentohumano publica<strong>do</strong>s na mídia, paracompreender seu significa<strong>do</strong> e a ascondições de desigual<strong>da</strong>de <strong>do</strong> nívelde vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações humanas.• Pesquisa sobre os avanços científico-tecnológicos<strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>se a repercussão na melhoriade vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população, como porexemplo: o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> descobertae uso de vacinas, inclusive <strong>da</strong>s campanhase programas sistemáticos.• Elaboração de textos argumentativossobre temas relevantes comobiodiversi<strong>da</strong>de e biotecnologia entreoutras questões relativas à vi<strong>da</strong> eao ambiente.Referencial Curricular 4.indd 76 25/8/2009 11:10:31


Quadro 6 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de BiologiaTemasestruturantesCompetênciasespecíficasEnsino médio 1º anoBlocos deconteú<strong>do</strong>sEstratégias7777Quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>spopulaçõeshumanas5. Avaliar propostas ou políticas públicasem que conhecimentos científicos ou tecnológicosestejam a serviço <strong>da</strong> melhoria<strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população e<strong>da</strong> superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais.Saúde ambiental• Consulta e avaliação de programas/políticasgovernamentais paraa área <strong>da</strong> saúde que visem ao enfrentamentode problemas <strong>da</strong> populaçãono âmbito <strong>do</strong> Município, Esta<strong>do</strong>ou País. O trabalho pode ser emgrupo e apresenta<strong>do</strong> em um painel,que poderá ocorrer em uma turmaou entre turmas. Para orientar o trabalho,pode-se apresentar notícias<strong>da</strong> mídia sobre problemas de saúdee ambiente.Ensino médio 2º anoIdenti<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s seresvivos1. Fazer uso apropria<strong>do</strong> de várias linguagense escalas para representar organismos,sistemas e estruturas celulares.2. Reconhecer os componentes celularese relacioná-los às funções vitais <strong>da</strong> célula.3. Comparar processos celulares em quehá liberação de energia, como: respiraçãocelular, fermentação e quimiossíntese.4. Associar as divisões celulares aos processosde reprodução, crescimento e regeneração.5. Reconhecer a molécula de DNA comoa molécula <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o papel <strong>do</strong>s cromossomosna transmissão <strong>da</strong>s característicashereditárias.Organizaçãocelular <strong>do</strong>s seresvivosFunções vitaisbásicasDNA: a receita<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o seucódigo• Observação de estruturas de diferentesseres vivos, quanto à organizaçãocelular, característica fun<strong>da</strong>mentalde to<strong>da</strong>s as formas vivas,por meio de instrumentos óticos e/ou visualização de fotos, gravuras eoutras representações.• Comparação de diferentes tiposde células quanto à estrutura, organizaçãoe funcionamento paraidentificação de semelhanças e diferençasentre elas.• Realização de experimentos quedemonstrem o fluxo de substâncias<strong>do</strong> meio externo para o interior <strong>da</strong>scélulas e vice-versa, por meio deobservação ao microscópio ou outrasformas que permitam percebera constante interação entre o meioambiente e o interior <strong>da</strong> célula, evidencian<strong>do</strong>a permeabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> envoltóriocelular (membrana).• Análise <strong>da</strong> estrutura química <strong>da</strong>molécula de DNA, identifican<strong>do</strong> anatureza <strong>do</strong> material hereditário <strong>do</strong>sseres vivos e a linguagem <strong>do</strong> códigogenético.A diversi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>1. Construir o conceito de mutação,analisan<strong>do</strong> os efeitos de determina<strong>do</strong>sagentes químicos e radioativos sobre omaterial hereditário.2. Reconhecer o papel <strong>da</strong>s mutaçõescomo fonte primária <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de genética,analisan<strong>do</strong> possíveis efeitos sobreo código genético provoca<strong>do</strong>s pelos errosna molécula <strong>do</strong> DNA.Origem <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>deSeres vivosdiversificamprocessos vitais• Observação de processos de reproduçãocelular (mitose e meiose)com identificação <strong>da</strong>s etapas e <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s para, por comparação,estabelecer diferenças e semelhançasentre ambas e concluir sobre acapaci<strong>da</strong>de de multiplicação <strong>do</strong>sseres vivos e a origem <strong>da</strong> sua diversi<strong>da</strong>de.Referencial Curricular 4.indd 77 25/8/2009 11:10:31


Quadro 6 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de Biologia78TemasestruturantesCompetênciasespecíficasEnsino médio 2º anoBlocos deconteú<strong>do</strong>sEstratégiasA diversi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>3. Reconhecer a reprodução sexua<strong>da</strong> e oprocesso meiótico como fonte de variabili<strong>da</strong>degenética.4. Associar características gerais e a<strong>da</strong>ptações<strong>do</strong>s grandes grupos de animaise plantas com seu mo<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong> e seuslimites de distribuição em diferentes ambientes,em especial em ambientes brasileiros.5. Reconhecer fatores ambientais queameaçam a diversi<strong>da</strong>de de seres vivos naTerra.Organizan<strong>do</strong> adiversi<strong>da</strong>de deseres vivosDiversi<strong>da</strong>deameaça<strong>da</strong>• Descrição de fenômenos, proprie<strong>da</strong>des,características, eventosbiológicos, em linguagem científica,relacionan<strong>do</strong>-os à linguagemcorrente nos diferentes temas relativosà diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.• Realização de experimentos eobservações <strong>do</strong> ambiente, paraidentificação <strong>do</strong> efeito de determina<strong>da</strong>svariáveis (tempo, espaço,temperatura, umi<strong>da</strong>de, e outrascondições físicas) em fenômenosbiológicos.• Realização de consulta na internetou biblioteca sobre pesquisasreferentes à frequência de mutaçõese a sua relação com alteraçõesambientais e diversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>sseres vivos.• Análise de uma listagem de causase consequências <strong>do</strong>s principaisproblemas ambientais, tais comoefeito estufa, destruição <strong>da</strong> cama<strong>da</strong>de ozônio, desaparecimento deespécies animais e vegetais, alteraçãono regime <strong>da</strong>s chuvas, a poluição<strong>do</strong> ar, água e solo, e indicaçãode medi<strong>da</strong>s de intervenção parasolução ou minimização <strong>do</strong> processode destruição <strong>do</strong> equilíbrioambiental.Ensino médio 3º anoTransmissão<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, éticae manipulaçãogênica1. Listar características humanas, de animaise plantas, distinguin<strong>do</strong> as hereditárias<strong>da</strong>s congênitas e adquiri<strong>da</strong>s.2. Analisar aspectos éticos, vantagens edesvantagens <strong>da</strong> biotecnologia transgênicos,clones, melhoramento genético,cultura de células, fertilização in vitro,etc., consideran<strong>do</strong> as estruturas e processosbiotecnológicos neles envolvi<strong>do</strong>s.Tecnologias demanipulação <strong>do</strong>DNAFun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong>hereditarie<strong>da</strong>deGenética humanae saúdeAplicações <strong>da</strong>engenhariagenética• Identificação, a partir <strong>da</strong> análisede resulta<strong>do</strong>s de cruzamentos,<strong>do</strong>s princípios básicos que regem atransmissão de características hereditáriase aplicá-los para interpretaro aparecimento delas.• Construção de here<strong>do</strong>gramasa partir de <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s pelosalunos (junto a familiares ou conheci<strong>do</strong>s)sobre a transmissão dedetermina<strong>da</strong>s características humanas.• Sistematização de comunicaçõesdescritivas, analíticas e argumentativaspertinentes a eventos biológicosrelevantes atuais e/ou polêmicossobre manipulação gênica.Referencial Curricular 4.indd 78 25/8/2009 11:10:31


Quadro 6 - Sugestões para organização <strong>do</strong> currículo de BiologiaTemasestruturantesCompetênciasespecíficasEnsino médio 3º anoBlocos deconteú<strong>do</strong>sEstratégias7979Transmissão<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, éticae manipulaçãogênica3. Reconhecer mecanismos de transmissão<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e prever a manifestação decaracterísticas <strong>do</strong>s seres vivos, em especial<strong>do</strong> ser humano.Benefícios eperigos <strong>da</strong>manipulaçãogênica: um debateético• Descrição de fenômenos biológicosa partir <strong>da</strong> interpretação detextos, imagens, outras representaçõesgráficas ou experimentais.• Análise de situações-problemaenvolven<strong>do</strong> aplicações <strong>da</strong> engenhariagenética.Origem eevolução <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>1. Reconhecer e compreender a ciênciae tecnologia biológicas como criaçõeshumanas, inseri<strong>da</strong>s na história e na socie<strong>da</strong>deem diferentes épocas.2. Reconhecer a seleção feita pelo serhumano, como mecanismo de alteração<strong>da</strong>s características <strong>da</strong>s espécies sob intervenção.3. Avaliar impactos <strong>da</strong> medicina, agriculturae farmacologia no aumento <strong>da</strong> expectativade vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população humana,sobrevivência de genótipos com varia<strong>da</strong>sfunções e no processo evolutivo <strong>da</strong> espécie.4. Elaborar, utilizar e alterar modeloscientíficos que modifiquem as explicações<strong>do</strong> senso comum, reconhecen<strong>do</strong>suas limitações.Hipóteses sobreorigem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> evi<strong>da</strong> primitivaIdeiasevolucionistas eevolução biológicaOrigem <strong>do</strong> serhumano e aevolução biológicae culturalEvolução sobintervençãohumana• Análise e discussão em grupos dediferentes explicações sobre a origem<strong>do</strong>s seres vivos, confrontan<strong>do</strong>concepções religiosas, mitológicase científicas, elabora<strong>da</strong>s em váriosmomentos <strong>da</strong> história, posiciona<strong>do</strong>-see argumentan<strong>do</strong> a respeito.• Análise e interpretação de textoshistóricos sobre as teorias de Darwin-Wallace,Lamarck e <strong>da</strong> teoriasintética <strong>da</strong> evolução.• Realização de debates, seminários,painéis sobre a evolução <strong>da</strong>sespécies, consideran<strong>do</strong> os mecanismosde mutação, recombinaçãogênica e seleção natural, a partirde pesquisa sobre o assunto, comidentificação <strong>da</strong>s fontes.• Consulta a diferentes fontes deinformação para propor alternativasde solução a problemas relaciona<strong>do</strong>sà Biologia e outras ciências,argumentan<strong>do</strong> e justifican<strong>do</strong>as proposições por escrito.É premente o estímulo aos estu<strong>da</strong>ntes paraavaliarem as vantagens e desvantagens <strong>do</strong>savanços <strong>da</strong>s pesquisas biológicas e suas consequênciaspara a vi<strong>da</strong>, como, por exemplo,as técnicas de clonagem e de manipulação <strong>do</strong>DNA, <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações humanas,consideran<strong>do</strong> valores éticos, morais, religiosos,socioculturais, ecológicos e econômicos.A socie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> acúmulo de informações,transmiti<strong>da</strong>s pelos meios de comunicação epela rede mundial de computa<strong>do</strong>res, quaseimediatamente após os fatos ou pesquisas teremocorri<strong>do</strong>, exige um professor conscientede que sua função ultrapassa o patamar detransmissor <strong>da</strong>s novi<strong>da</strong>des. É essencial projetarcom o estu<strong>da</strong>nte as condições de ler, decodificar,interpretar, emitir julgamentos fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>se expressar, de maneira escrita ou oral,as reflexões e reconstruções que transformamas informações em conhecimentos. Informaçõessem relação com os conhecimentos anteriores,seja no senti<strong>do</strong> de reforçá-los ou negá-los,tornam-se vazias de significa<strong>do</strong>, vistoque permanecem como estruturas estanques,cristaliza<strong>da</strong>s e fragmenta<strong>da</strong>s, sem conexãocom o cotidiano <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.Sugestões de trabalhos a serem realiza<strong>do</strong>spara garantir a aprendizagem serão facilmenteidentifica<strong>do</strong>s, pois contextualizar nãoé meramente exemplificar com situações vivi<strong>da</strong>spor eles, apenas como acessórias semReferencial Curricular 4.indd 79 25/8/2009 11:10:31


80significa<strong>do</strong>, mas referir-se ao uso <strong>do</strong>s conceitos<strong>da</strong> Ciência para explicar, compreender,avaliar e tomar posição frente às questõesemergi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de analisa<strong>da</strong>.É fun<strong>da</strong>mental, ain<strong>da</strong>, estabelecer a articulaçãoentre os diferentes componentescurriculares, consideran<strong>do</strong> a experiência e oconhecimento anterior <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, parasuperar a fragmentação e o isolamento <strong>do</strong>ssaberes científicos, cuja visão reducionistae simplifica<strong>da</strong> impede a compreensão <strong>da</strong>complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> real. Ao refletir sobre essesaspectos, a apropriação <strong>da</strong> linguagem científicapelos educan<strong>do</strong>s, no seu senti<strong>do</strong> gerale particular, constitui-se uma questão quepermite a construção de conceitos científicosespecíficos e interdisciplinares, a serem sistematiza<strong>do</strong>se significa<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong>s situaçõese temas propostos.A avaliação é um aspecto <strong>do</strong> processo deensino e aprendizagem em associação diretacom os demais, pois informa ao professor oque foi aprendi<strong>do</strong> pelo estu<strong>da</strong>nte e a este quaisseus avanços, dificul<strong>da</strong>des e possibili<strong>da</strong>des.Considera<strong>da</strong> de forma processual, a avaliaçãotorna-se um valioso instrumento de intermediaçãono desenvolvimento <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte. A identificaçãodessas questões encaminha o professorpara a reflexão sobre a eficácia de sua práticaeducativa e, desse mo<strong>do</strong>, orienta o ajuste desua intervenção pe<strong>da</strong>gógica para que o alunoapren<strong>da</strong> de forma mais significativa. Possibilitatambém à equipe escolar definir priori<strong>da</strong>desem suas áreas educativas. A avaliação não éa meta final <strong>do</strong> processo de ensino, e se iniciaquan<strong>do</strong> os estu<strong>da</strong>ntes põem em jogo seusconhecimentos anteriores. E continua a evidenciar-sedurante to<strong>do</strong> o processo de aprender.Logo, resulta tanto de um acompanhamentocontínuo e sistemático pelo professor como demomentos específicos de formalização <strong>do</strong> processona escrita de textos, no uso adequa<strong>do</strong><strong>do</strong>s gráficos, tabelas, modelos, <strong>da</strong> expressãooral e <strong>da</strong> defesa fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> cientificamentede algum ponto de vista, na resolução deproblemas identifica<strong>do</strong>s no dia a dia, com argumentosconstruí<strong>do</strong>s durante a execução <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des propostas em sala de aula.O processo avaliativo, ain<strong>da</strong>, pressupõeque enfrentar as dificul<strong>da</strong>des e facili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>ato de aprender é fun<strong>da</strong>mental para compreenderque não se trata de <strong>da</strong>r um veredictopositivo ou negativo sobre as habili<strong>da</strong>des ecompetências desenvolvi<strong>da</strong>s pelo estu<strong>da</strong>nte naescola (Silva et al, 2007), quanto ao conhecimentoque o levará ao empoderamento culturale social. Nesse contexto, avaliação torna-seuma etapa essencial para garantir a efetivi<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s objetivos de aprendizagem descritos noplano de trabalho <strong>do</strong> professor e verificar o quefoi aprendi<strong>do</strong> pelos alunos. Por isso, é precisorevelar fragili<strong>da</strong>des e lacunas, no processoconduzi<strong>do</strong> pelo professor e nas competênciasdesenvolvi<strong>da</strong>s pelos alunos, a serem verifica<strong>do</strong>spor meio <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> expressão oral e escrita<strong>do</strong>s mesmos, na resolução <strong>do</strong>s problemaspropostos. Consideran<strong>do</strong> que:Num ensino por competências, o processo deavaliação não se limita a instrumentos comperguntas, que exigem apenas operações cognitivassimples como a memorização, pois odesenvolvimento de ci<strong>da</strong>dãos, socialmente inseri<strong>do</strong>se com espírito crítico aguça<strong>do</strong>, precisaconsiderar a resolução de problemas, cujassoluções nem sempre estão facilmente disponíveis.Em especial, quatro parâmetros podemservir como critérios no processo de avaliação:a) apropriação <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>sno ensino fun<strong>da</strong>mental, que deverão estar disponíveisem novos momentos; b) relação entrea teoria e a prática; c) preparação <strong>do</strong> alunopara o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia;d) formação ética e desenvolvimentode uma personali<strong>da</strong>de autônoma e crítica.(PCN+, 2003, p.138)Entre os diversos instrumentos a serem utiliza<strong>do</strong>spara avaliar o processo desencadea<strong>do</strong>,a elaboração de uma prova com questõesdissertativas, por exemplo, precisa privilegiarsituações em que o aluno seja leva<strong>do</strong> à reflexão,análise e resolução de problemas enão apenas escrever uma resposta, previamentedecora<strong>da</strong>. Outros instrumentos, comoa apresentação de seminários sobre temasatuais, debates, simulações de júri, jogos interativos,permitem observar as competências eReferencial Curricular 4.indd 80 25/8/2009 11:10:31


habili<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntes, ecomo inter-relacionam os conteú<strong>do</strong>s conceituais,procedimentais e atitudinais. A avaliaçãopode ser realiza<strong>da</strong> sob a forma de um estu<strong>do</strong>de caso ou de um debate sobre diversosassuntos, exploran<strong>do</strong> uma multiplici<strong>da</strong>de deações que possibilitem averiguar os conhecimentosconstruí<strong>do</strong>s e se o aluno desenvolveuplenamente a competência de correlacionarteoria e prática. Com isso, avaliam-se processoe resulta<strong>do</strong>. É interessante perceber quea meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> para desenvolver osconteú<strong>do</strong>s procedimentais, atitudinais, e conceituaise organizar o processo de aprendizagem<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, direciona a maneira deavaliar as competências e habili<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s,bem como os conceitos significa<strong>do</strong>s.Coerentemente com a concepção de conteú<strong>do</strong>sconceituais, procedimentais e atitudinaise com os objetivos propostos, a avaliaçãodeve considerar o desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes com relação à aprendizagemde procedimentos, atitudes, competências,habili<strong>da</strong>des e conceitos. É fun<strong>da</strong>mental autilização de diversos instrumentos e situaçõespara poder avaliar diferentes aprendizagens,consideran<strong>do</strong> os critérios previamente determina<strong>do</strong>s,ou seja, as competências de ler, escrevere resolver problemas, na representaçãoe comunicação, investigação e compreensão<strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza, que são produzi<strong>da</strong>se cria<strong>da</strong>s num contexto sociocultural.8181ReferênciasBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoFun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais: ciênciasnaturais. Brasília, 1998.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoFun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais: meioambiente e saúde. Brasília, 2000. v. 9.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EducaçãoBásica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio.Brasília, 2002.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria deEducação Básica. Orientações curriculares nacionais <strong>do</strong>ensino médio: ciências <strong>da</strong> natureza, matemática e suastecnologias. Brasília, 2006.CARVALHO, Anna M. P. de. Habili<strong>da</strong>des de professorespara promover a enculturação científica. Contexto &Educação. Ijuí, Ed. Unijuí, ano. 22, n. 77, p. 25-49.EL-HANI, Charbel; VIDEIRA, Antonio Augusto P. O que évi<strong>da</strong>? Para entender a biologia <strong>do</strong> século XXI. São Paulo:Relume Dumará, 2000.MACEDO, Elizabeth; LOPES, Alice C. (Org.). Currículo:debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002.MALDANER, Otávio; ZANON, Lenir B. Situação deEstu<strong>do</strong>: uma organização <strong>do</strong> ensino que extrapola aformação disciplinar em Ciências. In: MORAES, R.;MANCUSO, R. Educação em ciências: produção decurrículos e formação de professores. Ijuí: Ed. Unijuí,2004, p. 43-64.MARANDINO, Martha; et al. (Org.). 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Cláudio José de Holan<strong>da</strong> CavalcanteFernan<strong>da</strong> OstermannReferencial Curricular 4.indd 83 25/8/2009 11:10:36


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Referencial Curricular para o ensino de FísicaPor que ensinar e aprender Física?Antes de apresentar competências e habili<strong>da</strong>desa serem desenvolvi<strong>da</strong>s na disciplinade Física, convém refletir sobre por que ensinarFísica. É interessante ensinar aos jovensa cinemática, simplesmente pela cinemática?Com certeza, é mais interessante tratar <strong>da</strong> cinemáticaem um contexto mais amplo, queenvolva o cotidiano e sua história (mostran<strong>do</strong>qual foi seu papel na elaboração <strong>da</strong>s teoriasque hoje explicam os movimentos).Na<strong>da</strong> na Física tem um fim em si mesmo.Por isso, to<strong>do</strong>s os tópicos devem serintegra<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> de levar os alunosa uma viagem pelo conhecimento. Dificilmente,encontramos alguém que nuncatenha pensa<strong>do</strong> em questões metafísicas,como: “O que é o Universo, qualsua origem?”; “Como a vi<strong>da</strong> surgiu?”;“Será que a vi<strong>da</strong> existe apenas na Terra?”;“A Terra desaparecerá? Haverá ofim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>?”;“A vi<strong>da</strong> vai acabar?”.Essas e outras questões, com certeza, habitamos pensamentos <strong>da</strong>s pessoas desde aAntigui<strong>da</strong>de e, em grande parte, constituemo motivo <strong>do</strong> esforço humano em construiras teorias científicas, muitas vezes erran<strong>do</strong>,voltan<strong>do</strong> atrás e refinan<strong>do</strong>-as. A Física sozinhanão responde completamente essasquestões. A Ciência como um to<strong>do</strong> tambémain<strong>da</strong> não tem respostas conclusivas, mas asbusca incessantemente. Os cientistas que trabalhamcom a Física carregam consigo essasperguntas, com certeza. Trazê-las para a salade aula, além de possivelmente incentivar ointeresse <strong>do</strong>s alunos, mostra que aprenderFísica é uma forma de buscar compreendernossas origens e tu<strong>do</strong> o que nos cerca. Asteorias que os físicos constroem para explicaros fenômenos naturais são sempre elabora<strong>da</strong>scriticamente: os modelos teóricos sãocompartilha<strong>do</strong>s pela comuni<strong>da</strong>de, sofremcríticas, refinamentos, enfim, não há espaçopara <strong>do</strong>gmas. Essa consciência crítica tambémdeve ser incentiva<strong>da</strong> nos alunos, porexemplo, na solução de situações-problema.Isso é extremamente importante, pois quemé crítico para elaborar um modelo teórico,para propor soluções a uma situação-problema,pode ser crítico para avaliar outrassituações, no campo social, político, econômicoou cultural.Outra questão refere-se ao desenvolvimentotecnológico. A tecnologia se faz presente navi<strong>da</strong> diária e, com certeza, muito disso se relacionaprofun<strong>da</strong>mente ao desenvolvimento deteorias dentro <strong>da</strong> Física. Conceber o aprendiza<strong>do</strong>de Física apenas para entender o funcionamentode equipamentos usa<strong>do</strong>s no cotidiano(muitas vezes demasia<strong>da</strong>mente sofistica<strong>do</strong>s)seria ingênuo. Reduzir o ensino de Física a issopode trazer uma visão extremamente utilitaristae pobre <strong>da</strong> disciplina (e <strong>da</strong> Ciência) como umto<strong>do</strong>, pois não leva em conta o impacto histórico,político, cultural e social que a Física tevedesde a Antigui<strong>da</strong>de, o que pode ser bastanteenriquece<strong>do</strong>r na sala de aula. Quan<strong>do</strong> se usaa tecnologia como mote inicial para uma aulaou uma ativi<strong>da</strong>de, por exemplo, abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> ouso de equipamentos ou instrumentos, não éadequa<strong>do</strong> simplesmente se ater à descrição deseu funcionamento. Tomemos, por exemplo,uma geladeira: é possível aprender Física Térmicaestu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os princípios de seu funcionamento,mas se a aula ou a ativi<strong>da</strong>de ficar restritaapenas a isso, esse aprendiza<strong>do</strong> pode sermuito pobre. Já a exploração <strong>do</strong> consumo deenergia <strong>da</strong> geladeira, de como a geladeira foiinventa<strong>da</strong>, <strong>do</strong> problema com o CFC e o efeitoestufa, <strong>da</strong> modernização <strong>da</strong>s geladeiras, decomo economizar energia com ela, <strong>do</strong> impactodesse consumo de energia, ou o conhecimento<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de usar o selo PROCEL tornaesse aprendiza<strong>do</strong> bem mais rico e interessante,ten<strong>do</strong> potencial de estimular a consciênciacrítica nos alunos a respeito <strong>da</strong> tecnologia eseu reflexo social. A postura crítica, que levaos físicos a proporem e refinarem teorias, deveser emprega<strong>da</strong> na análise <strong>do</strong> impacto <strong>da</strong>s tecnologiasna socie<strong>da</strong>de.8585Referencial Curricular 4.indd 85 25/8/2009 11:10:36


86Em outro exemplo, é possível aprendermuito de Física Moderna estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o funcionamentode uma bomba atômica (muitosalunos demonstram interesse nisso quan<strong>do</strong>são ministra<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s de Física Moderna).Fazer esse estu<strong>do</strong> minucioso apenas paraaprender Física, omitin<strong>do</strong> questões éticas emorais que se relacionam com esse equipamento,é uma prática perigosa, que pode atéparecer um aval ao uso <strong>do</strong> armamento. Nãose deve esquecer que os <strong>do</strong>is únicos ataquesque foram realiza<strong>do</strong>s com armas nucleares,até o presente momento, aconteceram em 6e 9 de agosto de 1945, respectivamente, nasci<strong>da</strong>des de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.Ambos foram feitos pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong>América e deixaram um sal<strong>do</strong> de mortos estima<strong>do</strong>entre 140 mil e 220 mil. Nesse dia,o mun<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u: a partir <strong>da</strong>í, armas nuclearesmuito mais potentes e sofistica<strong>da</strong>s foramdesenvolvi<strong>da</strong>s e essa tecnologia logo foi desenvolvi<strong>da</strong>por outros países, além <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s (França, China e a antiga UniãoSoviética, por exemplo). Não pode ser negligencia<strong>do</strong>o impacto <strong>da</strong> tecnologia na socie<strong>da</strong>de,seja ele destrutivo ou não. O estu<strong>do</strong><strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s núcleos e o conhecimentode que matéria pode se converter emenergia levaram à bomba atômica. No entanto,o conhecimento <strong>do</strong>s núcleos tambémpossibilitou o desenvolvimento <strong>da</strong> medicinanuclear. Os bons e maus reflexos <strong>da</strong> tecnologiana socie<strong>da</strong>de são elementos importantese dão senti<strong>do</strong> e riqueza às aulas de Física.Explicar fenômenos naturais sem apelarpara os misticismos e superstições característicosde algumas culturas foi um grandeavanço para a época. Na I<strong>da</strong>de Moderna,é estabeleci<strong>da</strong> uma visão mecânica <strong>da</strong> natureza,na qual as pessoas a<strong>do</strong>tam uma posturautilitarista. A contemplação dá lugar auma ânsia pelo <strong>do</strong>mínio de tecnologias, nosenti<strong>do</strong> de melhor aproveitar os recursos naturais.O papel <strong>da</strong> Física e <strong>da</strong> Ciência vaialém de simplesmente aproveitar recursos:reside também na reflexão, na proposiçãode teorias e, muitas vezes, não acarreta umaaplicação prática imediata (por exemplo,a teoria <strong>do</strong> Big Bang e outras que buscamentender as nossas origens e responder algumas<strong>da</strong>s questões metafísicas cita<strong>da</strong>s noinício desse texto).Essa paixão pelo conhecimento e a contemplação<strong>da</strong> natureza podem nos guiar nouso consciente <strong>da</strong>s tecnologias. Elas devemser emprega<strong>da</strong>s no senti<strong>do</strong> de melhorar aquali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> ser humano, respeitaro meio ambiente e devem estar a serviço <strong>da</strong>humani<strong>da</strong>de, na medi<strong>da</strong> em que o acesso aessas tecnologias esteja ao alcance <strong>do</strong> maiornúmero possível de pessoas.Uma coisa é certa: a paixão pelo conhecimentoe o decorrente uso consciente <strong>da</strong> tecnologiapodem ser um elemento importantena complexa luta para a redução <strong>do</strong> espaçoocupa<strong>do</strong> pelas drogas, violência e outrasmazelas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de atual. Essa paixão incentivao exercício pleno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e éprincipalmente aí que reside o encanto deensinar Física.A paixão pelo conhecimento e o prazerde ter contato com ele impulsionarama Ciência no passa<strong>do</strong>. Na Grécia antiga,para citar um exemplo, a Ciência se baseavaem uma contemplação <strong>da</strong> natureza,levan<strong>do</strong> os cientistas <strong>da</strong> época a sededicarem ao seu estu<strong>do</strong>, movi<strong>do</strong>s porpaixão pelo conhecimento e investin<strong>do</strong>longo tempo na busca de explicações racionaispara os fenômenos naturais.Como ensinar Física?Ingenuamente, muitos pensam que essapergunta possui resposta simples. Não existeuma sequência de passos, uma receita mágicaou qualquer procedimento que mostrecomo ensinar, de forma ampla e bem-sucedi<strong>da</strong>,uma disciplina. Ensinar é uma tarefacomplexa, pois li<strong>da</strong> com muitos aspectos(afetivo, intelectual, cultural, social, político)e não há receita mágica para isso.Referencial Curricular 4.indd 86 25/8/2009 11:10:36


Os Parâmetros Curriculares Nacionaisdestacam os conceitos de competências ehabili<strong>da</strong>des que, pensa<strong>da</strong>s em relação aoensino de Física, devem permitir a percepçãoe o tratamento <strong>do</strong>s fenômenos naturaise tecnológicos, presentes tanto no cotidianomais imediato quanto na compreensão <strong>do</strong>universo distante, a partir de princípios, leis emodelos construí<strong>do</strong>s pela Física.Aprender Física envolve aprender a falarde Física, ou seja, envolve enculturarseem uma comuni<strong>da</strong>de, apropriar-se deuma linguagem.Nessa concepção, os critérios que orientama prática <strong>do</strong> professor deixam de tomarcomo referência primeira “o que ensinar deFísica”, passan<strong>do</strong> a centrar-se sobre “paraque ensinar Física”, explicitan<strong>do</strong> a preocupaçãoem atribuir ao conhecimento um significa<strong>do</strong>no momento mesmo de seu aprendiza<strong>do</strong>(BRASIL, 1998). Outro aspecto decorrente <strong>da</strong>noção de competências é a possibili<strong>da</strong>de decolocar a relação didática em perspectiva, nosenti<strong>do</strong> de expor os alunos a problemas queexijam a elaboração de hipóteses e a construçãode modelos.Como identificar quais competências sãoessenciais para a compreensão em Física?Não é possível esgotar uma lista detalha<strong>da</strong>.Para compreendê-las, propomos discuti-lasno âmbito <strong>do</strong>s três eixos – representação ecomunicação; investigação e compreensão;contextualização sociocultural – e em termos<strong>da</strong>s competências básicas de ler, escrever eresolver problemas, sem com isso deixar dereconhecer que essas competências podemse sobrepor (não é tão simples compartimentá-las– não é essa nossa intenção –, elasaparecem separa<strong>da</strong>s apenas por questõesde clareza e organização). Para proporcionaruma visão ampla dessa proposta, foi elabora<strong>do</strong>o Quadro 1, que deve ser entendi<strong>do</strong><strong>da</strong> seguinte maneira: a sigla CB indica ascompetências básicas (ler e escrever, resolverproblemas), enquanto que a sigla E indica oseixos (representação e comunicação, investigaçãoe compreensão e contextualizaçãosociocultural). Em ca<strong>da</strong> cruzamento <strong>da</strong>s competênciasbásicas com os eixos, são descritastrês competências específicas. Por exemplo, asigla CB1E2-2 indica a segun<strong>da</strong> competênciaespecífica (“Formular perguntas relevantessobre tais tópicos de Física...”), necessáriapara desenvolver a competência básica 1 (lere escrever), que também atua no senti<strong>do</strong> dedesenvolver a competência geral 2, ou eixo2 (investigação e compreensão). Em linguagemmais resumi<strong>da</strong>, tal competência específicaaju<strong>da</strong> a desenvolver a leitura e a escritano âmbito <strong>da</strong> competência investigativa e decompreensão.Essa situação trabalha em mais de umcruzamento <strong>do</strong> quadro, quan<strong>do</strong> se pede queos alunos argumentem sobre a resposta escolhi<strong>da</strong>.Ao mesmo tempo, essa situação éclaramente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em um fato cotidiano.De início, ela trabalha nos cruzamentosCB1E1-1; CB1E1-2. Ao discutirem suasconclusões por escrito, automaticamenteessa situação também atua no cruzamentoCB1E1-3, CB2E1-1, CB2E1-2 e CB2E1-3.Ela trabalha ain<strong>da</strong> no cruzamento CB2E2-2, já que estimula que o aluno concebamodelos teóricos e explicativos para suasolução. Mais sutilmente, ela trabalha tambémno cruzamento CB1E3-1. Este quadroestá muito longe de ser uma receita mágicapara ensinar Física, pois ele está longede ser completo. Mesmo assim, pode servircomo um guia que auxilia o professor. Nessamesma ativi<strong>da</strong>de, é natural que os alunosbusquem a resposta diretamente com seusprofessores. Em vez de responder com oclássico “pensa”, o que é demasia<strong>da</strong>mentesucinto, é possível olhar o quadro e dizer,por exemplo, “primeiro enten<strong>da</strong> a situação”(CB1E1-1 e CB1E1-2), “onde está o pontocentral <strong>do</strong> problema?” (CB2E1-1 e CB2E1-2), atuan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de incentivar o alunoa desenvolver as competências específicas<strong>do</strong> quadro.8787Referencial Curricular 4.indd 87 25/8/2009 11:10:36


Quadro 1- Relacionan<strong>do</strong> os eixos às competências básicas88Representação ecomunicação (E1)Eixos (E)Investigação ecompreensão (E2)Contextualizaçãosociocultural (E3)Competências básicas (CB)Ler e escrever(CB1)Resolverproblemas(CB2)1. Apropriar-se <strong>da</strong> linguagem<strong>da</strong> Física, reconhecen<strong>do</strong>conceitos físicos,a partir de leituras sobresituações reais ou idealiza<strong>da</strong>s,envolven<strong>do</strong> análisequalitativa dessassituações, sem uso excessivode fórmulas prontas.2. Reconhecer a linguagem<strong>da</strong> Física como constituí<strong>da</strong>de símbolos, figuras,gráficos, equações ou tabelas,reconhecen<strong>do</strong> nessasrepresentações nãotextuais as informaçõesessenciais nelas conti<strong>da</strong>se vinculan<strong>do</strong> tais informaçõesaos conceitosfísicos relevantes embuti<strong>do</strong>snessas informações.3. Expressar, sempre que solicita<strong>do</strong>,escrita ou oralmente,suas conclusões e juízosrelativos à análise e interpretaçãode textos e outrasrepresentações não textuais,argumentan<strong>do</strong> cientificamentee de forma clara sobreseu ponto de vista.1. Representar a situaçãoproblemana linguagemtextual e simbólica <strong>da</strong>Física, reconhecen<strong>do</strong> osconceitos físicos centraisenvolvi<strong>do</strong>s.2. Elaborar hipóteses e estratégiasna resolução desituações-problema, naforma escrita e/ou oral,argumentan<strong>do</strong> com clarezasobre seu ponto devista.3. Expressar escrita ou oralmentesua solução deuma situação-problema,comunican<strong>do</strong> clara econcisamente as estratégiasa<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s e justifican<strong>do</strong>seus raciocínioscom o uso correto <strong>da</strong> linguagem<strong>da</strong> Física.1. Selecionar fontes depesquisa confiáveis,junto com notícias sobreFísica veicula<strong>da</strong>spela mídia ou tópicosde Física publica<strong>do</strong>s emrevistas especializa<strong>da</strong>s.2. Formular perguntas relevantessobre tais tópicosde Física, expressan<strong>do</strong>-asclaramente ecom a linguagem apropria<strong>da</strong>,reconhecen<strong>do</strong>os conceitos centraisenvolvi<strong>do</strong>s e fenômenosa serem investiga<strong>do</strong>s.3. Elaborar textos comunican<strong>do</strong>resulta<strong>do</strong>s depesquisa, detalhan<strong>do</strong>claramente objetivos,desenvolvimento e conclusõese fazen<strong>do</strong> usocorreto <strong>da</strong> linguagem ede representações nãotextuais.1. Compreender o contexto<strong>da</strong> situação-problema eser capaz de buscar criteriosamenteinformaçõesem revistas, periódicosou internet, que auxiliemna sua resolução.2. Investigar na situaçãoproblemaos aspectosmais importantes para suaabor<strong>da</strong>gem, conceben<strong>do</strong>modelos teóricos e explicativospara sua solução.3. Extrapolar, sempre quepossível, a solução<strong>da</strong> situação-problemapara casos mais gerais<strong>do</strong> que o proposto, reconhecen<strong>do</strong>ain<strong>da</strong> osnovos problemas quesurgem na análise <strong>da</strong>situação original.1. Perceber que a Física constituiparte <strong>da</strong> cultura contemporânea,sen<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>de uma construçãohumana inseri<strong>da</strong> em umprocesso histórico e social,discutin<strong>do</strong> criticamente aspectos<strong>do</strong> senso comum,veicula<strong>do</strong>s pela produçãoliterária e artística.2. Identificar a Física em diferentesâmbitos e contextosculturais: literatura, artesplásticas, teatro, música,reconhecen<strong>do</strong> que essaCiência permeia o mun<strong>do</strong>em que vivemos.3. Problematizar, por meiode elaboração de textos,o papel social <strong>da</strong> Ciênciae <strong>da</strong> tecnologia nomun<strong>do</strong> contemporâneo.1. Modelar situações concretase reais à luz de teorias físicas,reconhecen<strong>do</strong> comoa Física e a tecnologiainfluenciam nossa interpretação<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> atual.2. Resolver situações-problema,reconhecen<strong>do</strong> que autilização <strong>do</strong>s produtos <strong>da</strong>Física e <strong>da</strong> tecnologia nemsempre são democráticosna busca de soluções alternativase acessíveis.3. Reconhecer que há sempreuma herança cultural, profun<strong>da</strong>mentevincula<strong>da</strong> àsquestões sociais e históricas<strong>da</strong> Ciência, que guiam otrabalho científico e que tambémnorteiam a construçãode modelos e a busca <strong>da</strong> soluçãode situações-problema.Referencial Curricular 4.indd 88 25/8/2009 11:10:37


Tomemos como exemplo a seguinte situação-problema:A figura refere-se a um pedreiro que lança com grande veloci<strong>da</strong>de um tijolo para seu companheiro (nãomostra<strong>do</strong> na figura), sobre um piso horizontal comatrito. Os pontos A e B são pontos <strong>da</strong> trajetória<strong>do</strong> tijolo após o lançamento, quan<strong>do</strong> ele jáestá deslizan<strong>do</strong>; no ponto C, o tijolo estáfinalmente em repouso. As setas nosdesenhos seguintes simbolizam as forçashorizontais sobre o tijolo nos pontosA, B e C. Qual <strong>do</strong>s desenhos melhorrepresenta essa(s) força(s)?8989a)(iguais)b)c)d)e)Em outro exemplo, pode-se usar a éticaambiental e a incidência de raios para desenvolveras competências requeri<strong>da</strong>s:Tema para debate: leia atenta e silenciosamenteos textos abaixo e discuta com o grande grupo e como professor as seguintes questões:• O desenvolvimento científico e tecnológico, nassocie<strong>da</strong>des industriais, pode influir no aumento <strong>da</strong>incidência <strong>do</strong>s raios nas ci<strong>da</strong>des?• As pessoas que lutam pela preservação ambientalfalam muito sobre as graves consequências <strong>do</strong>s<strong>da</strong>nos ambientais para o planeta, alertan<strong>do</strong> parao perigo que to<strong>do</strong>s os seres vivos correm se o homemnão mu<strong>da</strong>r de atitude a respeito disso. Essaspessoas são exagera<strong>da</strong>s ou têm argumentos quemostram que corremos mesmo esse perigo?Boletim n. 212, de 19 de jun. 2008(www.inpe.br/webelat/homepage/)O Dr. Osmar Pinto Junior, coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Grupode Eletrici<strong>da</strong>de Atmosférica (ELAT) <strong>do</strong> Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais (INPE), realizou, naúltima terça-feira, 17/6, uma palestra na Câmara<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, em Brasília (DF). Com o tema“Raios: o impacto em energia e meio ambientenum cenário de aquecimento”, o evento fez parte<strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> EcoCâmara, com apoio <strong>do</strong> Detec,<strong>da</strong> Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimentoe <strong>da</strong> Frente Parlamentar Ambientalista, para omês <strong>do</strong> Meio Ambiente.A palestra tratou <strong>da</strong> influência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticasna incidência de raios sobre a Terra. Nessecontexto, o pesquisa<strong>do</strong>r abor<strong>do</strong>u o aumento <strong>da</strong>temperatura média <strong>do</strong> planeta. “A estimativa é deque o número de raios seja em torno de 30% maiorpara ca<strong>da</strong> grau de aumento <strong>da</strong> temperatura <strong>do</strong> planeta”,disse Dr. Osmar durante as explicações sobreo tema.Super-raios podem estar liga<strong>do</strong>s a queima<strong>da</strong>s:(Jornal Valeparaibano, de 3 de maio 2008 - jornal.valeparaibano.com.br/2008/05/03/sjc/raios1.html)Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> INPE (Instituto Nacional de PesquisasEspaciais), em São José <strong>do</strong>s Campos, tentarãodescobrir se o fenômeno <strong>do</strong>s super-raios – descargasatmosféricas até dez vezes mais intensas que os raioscomuns – está associa<strong>do</strong> à ocorrência de queima<strong>da</strong>s.Referencial Curricular 4.indd 89 25/8/2009 11:10:37


90Estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelo ELAT (Grupo de Eletrici<strong>da</strong>deAtmosférica) <strong>do</strong> INPE no Sudeste <strong>do</strong> Brasil revelouque os super-raios estão concentra<strong>do</strong>s na regiãooeste de São Paulo e Minas Gerais. “Observamosque o fenômeno ocorre nas áreas mais afasta<strong>da</strong>s <strong>do</strong>oceano e que são também as regiões onde as queima<strong>da</strong>ssão mais frequentes”, disse o coordena<strong>do</strong>r<strong>do</strong> grupo, Osmar Pinto Júnior.Segun<strong>do</strong> o pesquisa<strong>do</strong>r, a associação com as queima<strong>da</strong>sé uma hipótese que será avalia<strong>da</strong>. Para isso,o próximo passo será estender a pesquisa para oEsta<strong>do</strong> de Goiás, região sobre a qual os pesquisa<strong>do</strong>resjá têm algumas informações e que tambémconcentra um grande número de queima<strong>da</strong>s to<strong>do</strong>sos anos.Pinto Júnior disse que a pesquisa permitiu identificarque regiões com alta concentração de raios comuns,entre elas o Vale <strong>do</strong> Paraíba, são justamenteas menos afeta<strong>da</strong>s pelos super-raios.A incidência média na região Sudeste é de cercade 50 super-raios por ano. Pinto Júnior disse queespera dispor de novos <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre o fenômeno atéo final <strong>do</strong> ano.O ELAT detectou um total de 500super-raios no Sudeste <strong>do</strong> Brasil nos últimos oitoanos. Como os <strong>da</strong><strong>do</strong>s são recentes, ain<strong>da</strong> não épossível saber se houve um aumento na incidência<strong>da</strong>s megadescargas ou se elas estão associa<strong>da</strong>s aofenômeno <strong>do</strong> aquecimento global.Além <strong>da</strong>s competências específicas CB1E1-1 a CB1E1-3, são trabalha<strong>da</strong>s nessa ativi<strong>da</strong>deprincipalmente as competências CB2E3-1 e aCB2E3-3, já que a discussão está no contextoCTS (Ciência, Tecnologia e Socie<strong>da</strong>de). A ativi<strong>da</strong>deproposta não é um problema com umenuncia<strong>do</strong> explícito, mas implícito: é o alunoquem deve formular o enuncia<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> leitura<strong>da</strong> situação problema. Ela trabalha, portanto,também no cruzamento CB2E1-1.Muitas outras ativi<strong>da</strong>des podem ser cria<strong>da</strong>snortean<strong>do</strong>-se pelos cruzamentos propostos noquadro 1.Temas estruturantesOs PCN+ Ciências <strong>da</strong> Natureza (BRASIL,2002) privilegiam seis temas estrutura<strong>do</strong>rescom abrangência para organizar o ensino deFísica:1. Movimentos: variações e conservações2. Calor, ambiente e usos de energia3. Som, imagem e informação4. Equipamentos elétricos e telecomunicações5. Matéria e radiação6. Universo, Terra e vi<strong>da</strong>De acor<strong>do</strong> com esse <strong>do</strong>cumento, “os temas,na ver<strong>da</strong>de, exemplificam e sinalizamenfoques com que o conhecimento físicodeve ser trabalha<strong>do</strong> para que seja possívelpromover as competências deseja<strong>da</strong>s, indican<strong>do</strong>uma forma de organização para otrabalho em sala de aula no ensino médio”(BRASIL, 2002, p. 79). São sugeri<strong>da</strong>s três sequênciaspara desenvolvimento <strong>do</strong>s temasestrutura<strong>do</strong>res e a de número três será ilustra<strong>da</strong>,exploran<strong>do</strong> seu potencial de promovermaior integração entre as disciplinas <strong>da</strong>sCiências <strong>da</strong> Natureza. Essa sequência estáreproduzi<strong>da</strong> no quadro a seguir.Quadro 2 - Uma possível sequência para desenvolver os temas estrutura<strong>do</strong>res1º ano 2º ano 3º anoPrimeirosemestre6. Universo, Terra evi<strong>da</strong>3. Som, imagem einformação4. Equipamentos elétricos etelecomunicaçõesSegun<strong>do</strong>semestre1. Movimentos: variaçõese conservações2. Calor, ambiente eusos de energia5. Matéria e RadiaçãoFonte: (BRASIL, 2002).Referencial Curricular 4.indd 90 25/8/2009 11:10:37


A sequência escolhi<strong>da</strong> é a mais amigável,capaz de entusiasmar os estu<strong>da</strong>ntes. Comojá foi dito, as questões metafísicas volta<strong>da</strong>sàs nossas origens podem ser trabalha<strong>da</strong>s notema estrutura<strong>do</strong>r 6 (Universo, Terra e vi<strong>da</strong>),como uma introdução à Física. To<strong>da</strong> a Físicaestá conti<strong>da</strong> neste tema e na<strong>da</strong> melhor<strong>do</strong> que ele para mostrar aos estu<strong>da</strong>ntes oquão fascinante é a Física. A abor<strong>da</strong>gempode e deve ser qualitativa, sen<strong>do</strong> possíveltratar desde o movimento <strong>do</strong>s corpos atéos tópicos vincula<strong>do</strong>s à Física Moderna eContemporânea. Depois dessa introdução àFísica, inicia-se um estu<strong>do</strong> mais detalha<strong>do</strong>,começan<strong>do</strong> pelos movimentos <strong>do</strong>s corpos.Pode-se, inclusive, manter o contexto Universo,Terra e vi<strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong>s três anos,como pano de fun<strong>do</strong>, ou seja, pode-se falarem movimentos de astros, força gravitacional,termodinâmica nas estrelas, on<strong>da</strong>seletromagnéticas emiti<strong>da</strong>s pelo Sol, campomagnético terrestre, fusão nuclear e evoluçãoestelar, entre outros. Não que seja proibi<strong>do</strong>sair <strong>do</strong> contexto Universo, Terra e vi<strong>da</strong>:é importante estu<strong>da</strong>r aplicações práticas <strong>da</strong>Física. É inegável, no entanto, que, no contexto<strong>do</strong> tema estrutura<strong>do</strong>r 6, a Física podeparecer muito mais interessante.Outro ponto importante é a integraçãoque esse tema pode propiciar entre as disciplinas<strong>da</strong> área <strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong> Natureza.Tanto a Biologia quanto a Químicatêm muito a oferecer quan<strong>do</strong> se pensana origem <strong>da</strong>s coisas e aju<strong>da</strong>m em muitona compreensão cosmológica, permitin<strong>do</strong>ao jovem refletir sobre a presença eseu “lugar” na história <strong>do</strong> Universo, tantono tempo como no espaço, <strong>do</strong> pontode vista <strong>da</strong> Ciência.9191Conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentaisOs conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentais podem serdesenvolvi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com as uni<strong>da</strong>des temáticas<strong>do</strong>s temas estrutura<strong>do</strong>res, cita<strong>da</strong>s nosPCN+ (BRASIL, 2002, p. 79). Para o temaestrutura<strong>do</strong>r Universo, Terra e vi<strong>da</strong>, são asseguintes: Terra e Sistema Solar, O Universoe sua Origem e Compreensão Humana <strong>do</strong>Universo. Para um maior detalhamento dessasuni<strong>da</strong>des temáticas, é importante a leitura<strong>do</strong>s PCN+, na parte referente à Física. Osconteú<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> o ensino médio podemfacilmente se relacionar com essas uni<strong>da</strong>destemáticas, que podem ser interessante passoinicial na aprendizagem de Física. Comoexemplo, a mecânica pode ser ensina<strong>da</strong> nocontexto <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de Terra e Sistema Solar;física moderna e contemporânea, termodinâmicaou eletromagnetismo podem ser contextualiza<strong>do</strong>sna uni<strong>da</strong>de O Universo e suaOrigem e a contextualização sociocultural <strong>da</strong>ciência, sua natureza e diversos outros debatespodem ocorrer no contexto <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>deCompreensão Humana <strong>do</strong> Universo.Em uma linha mais tradicional, to<strong>do</strong>s ostemas estrutura<strong>do</strong>res podem ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong>susan<strong>do</strong>, por exemplo, a sequência apresenta<strong>da</strong>no Quadro 2. É o que ilustra o quadroa seguir, ao mostrar algumas competênciasespecíficas a serem desenvolvi<strong>da</strong>s para ca<strong>da</strong>tema estrutura<strong>do</strong>r, bem como para as uni<strong>da</strong>destemáticas, bloco de conteú<strong>do</strong>s e sugestõesde estratégias.Referencial Curricular 4.indd 91 25/8/2009 11:10:38


92Quadro 3 - Algumas competências específicas esugestões de estratégias para ca<strong>da</strong> tema estrutura<strong>do</strong>rAno1ºTemasestruturantesUniverso, Terra evi<strong>da</strong>Competênciasespecíficas1. Compreender de formaatualiza<strong>da</strong> as hipóteses,modelos e formasde investigação sobre aorigem e evolução <strong>do</strong>Universo, além <strong>do</strong>s limitespara o conhecimentodessas questões.2. Construir sínteses <strong>da</strong>compreensão física, sistematizan<strong>do</strong>interações emodelos microscópicos.3. Reconhecer a presença<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana no Universocomo uma in<strong>da</strong>gaçãofilosófica e também<strong>da</strong>s condições físicas,químicas e biológicaspara sua existência, evidencian<strong>do</strong>as relaçõesentre ciência e filosofiaao longo <strong>da</strong> história humana.1. Compreender leis e princípiosde regulari<strong>da</strong>de.2. Associar os movimentosàs suas causas, às interaçõesque os originam, àssuas variações e transformações.Bloco deconteú<strong>do</strong>O Universo e sua origemCompreensão humana <strong>do</strong>UniversoTerra e Sistema SolarFenomenologia cotidianaVariação e conservação <strong>da</strong>quanti<strong>da</strong>de de movimentoEnergia e potência associa<strong>da</strong>saos movimentosSugestão deestratégias• Usar o tema origem <strong>do</strong>Universo para contextualizare introduzir o estu<strong>do</strong><strong>da</strong> Física, sua naturezahumana e seu funcionamentopor meio de modelosque tentam explicaros fenômenos, sem, contu<strong>do</strong>,recorrer a um méto<strong>do</strong>único.• Promover uma visão geral<strong>da</strong>s áreas de abrangência<strong>da</strong> física (mecânica,termodinâmica, ótica eeletromagnetismo), assimcomo <strong>da</strong> Química e Biologia,relacionan<strong>do</strong>-asao tema Origem e Evolução<strong>do</strong> Universo.• Lançar desafios aos alunos,tanto intelectuais comoexperimentais, envolven<strong>do</strong>os fenômenos mecânicos;usá-los tambémpara eluci<strong>da</strong>r as concepçõesprévias <strong>do</strong>s alunose desenvolver estratégiasde ensino que as levemem conta.Movimentos:variações econservações3. Usar as leis de conservação,através <strong>da</strong> compreensão<strong>do</strong> seu senti<strong>do</strong>,para fazer previsões e estimativas.Equilíbrios e desequilíbrios• Usar a história <strong>da</strong> Ciênciapara contextualizar eaprofun<strong>da</strong>r a compreensão<strong>do</strong>s fenômenos mecânicose regatar a evolução<strong>do</strong>s desenvolvimentoscientíficos e tecnológicos.4. Compreender a evoluçãotecnológica relaciona<strong>da</strong>às máquinas mecânicase suas transformações aolongo <strong>do</strong>s tempos.Referencial Curricular 4.indd 92 25/8/2009 11:10:38


AnoTemasestruturantesCompetênciasespecíficasBloco deconteú<strong>do</strong>Sugestão deestratégias2ºSom, imagem einformação1. Compreender a natureza<strong>da</strong> luz e <strong>do</strong> som.2. Compreender a imageme o som como formas detransmissão de informação.3. Perceber a dimensão<strong>do</strong> papel <strong>da</strong> informaçãopara a vi<strong>da</strong> social,acompanhan<strong>do</strong> as transformaçõessociais queresultaram no <strong>do</strong>míniotecnológico <strong>do</strong> registro,reprodução e veloci<strong>da</strong>dede transmissão de informaçõesao longo <strong>da</strong> história.Fontes sonorasFormação e detecção deimagensGravação e reprodução desons e imagensTransmissão de sons e imagem• Relacionar o conceito deon<strong>da</strong> com fenômenoscotidianos, vincula<strong>do</strong>s aosom, à imagem e à informação.• Aproveitar as habili<strong>da</strong>desde vários alunos com relaçãoà música para ilustrar,ampliar e aprofun<strong>da</strong>ro estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> som.• A partir <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>luz e <strong>da</strong>s controvérsiashistóricas, pode-se trabalhara duali<strong>da</strong>de on<strong>da</strong>-partículapara a luz esuas implicações filosóficas.9393Calor, ambiente eusos de energia1. Compreender as fontesde energia, os processosenvolvi<strong>do</strong>s e proprie<strong>da</strong>destérmicas de diferentesmateriais.2. Compreender a utilização<strong>do</strong> calor para a obtençãode outras formasde energia, identifican<strong>do</strong>os diferentes sistemase processos envolvi<strong>do</strong>s,seu uso social e os impactosambientais deledecorrentes.Fontes e trocas de calorTecnologias que usamcalor: motores e refrigera<strong>do</strong>resO calor na vi<strong>da</strong> e no ambienteEnergia: produção para usosocial• O conhecimento <strong>da</strong>sconcepções prévias <strong>do</strong>salunos sobre as noçõesde calor e temperaturaé fun<strong>da</strong>mental para queas estratégias de ensinopossam promover umacorreta diferenciação deconceitos que são fun<strong>da</strong>mentaisnesse tema.A história <strong>da</strong> Ciência ébastante rica nesse contexto.Ativi<strong>da</strong>des experimentaistambém sãoimportantes nessa etapa.3. Analisar os problemasrelaciona<strong>do</strong>s aos recursose fontes de energiano mun<strong>do</strong> contemporâneo,desde o consumo<strong>do</strong>méstico ao quadrode produção e utilizaçãonacional, avalian<strong>do</strong>necessi<strong>da</strong>des, impactosambientais e fornecen<strong>do</strong>elementos para avaliar aintervenção <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>dehumana sobre essas variações.• Usar textos e materialproduzi<strong>do</strong> pela mídiapara debater a naturezae os impactos sociaise ambientais <strong>da</strong>matriz energética brasileira,comparan<strong>do</strong>-acom as estrangeiras.Referencial Curricular 4.indd 93 25/8/2009 11:10:38


94Ano3ºTemasestruturantesEquipamentoselétricos etelecomunicaçõesCompetênciasespecíficas1. Compreender os equipamentoselétricos quepovoam o cotidiano,proven<strong>do</strong> competênciaspara utilizá-los, dimensioná-losou analisarcondições de sua utilização.2. Compreender a fenomenologia<strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong>deem situações reais, emmotores elétricos e nosdesenvolvimentos tecnológicosassocia<strong>do</strong>s à suaintrodução no mun<strong>do</strong>produtivo, assim como<strong>da</strong>s transformações produzi<strong>da</strong>spelos modernosmeios de telecomunicações.Bloco deconteú<strong>do</strong>Aparelhos elétricosMotores elétricosGera<strong>do</strong>resEmissores e receptoresSugestão deestratégias• Usar a eletrostática eseus fenômenos simplespara resgatar concepções<strong>do</strong>s alunos epara introduzir os fenômenoselétricos e suasaplicações.• Brincar com ímãs paraintroduzir o magnetismoe suas inter-relaçõescom a eletrici<strong>da</strong>de.• Retomar os temas sobreevolução <strong>do</strong> universo,calor, som, luze movimentos, paraaprofundá-los sob aótica <strong>do</strong> eletromagnetismoe suas aplicações.Matéria eradiação1. Compreender o mun<strong>do</strong>microscópico e suas peculiari<strong>da</strong>des.2. Conceber de forma maisabrangente o universofísico, os fenômenos,processos de interação etecnologias basea<strong>da</strong>s nautilização de radiações enos avanços na área <strong>da</strong>nanotecnologia.3. Avaliar os efeitos biológicose ambientais <strong>do</strong>uso de radiações, radioativi<strong>da</strong>dee energianuclear em situações <strong>do</strong>cotidiano e suas aplicaçõestecnológicas.Matéria e suas proprie<strong>da</strong>desRadiações e suasinteraçõesEnergia nuclear e radioativi<strong>da</strong>deEletrônica e informática• O estu<strong>do</strong> de física departículas pode serusa<strong>do</strong> para introduziro estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> estrutura<strong>da</strong> matéria e <strong>da</strong>s radiações.• Uma discussão sobre aproibição <strong>do</strong> uso de telefonecelular nos postosde gasolina podedesencadear to<strong>do</strong> umestu<strong>do</strong> sobre os efeitosbiológicos <strong>da</strong>s radiações.Referencial Curricular 4.indd 94 25/8/2009 11:10:38


Estratégias para açãoComo desenvolver habili<strong>da</strong>dese competências?O desenvolvimento de competênciase habili<strong>da</strong>des específicas nos alunos exigea utilização de estratégias de ensino eaprendizagem também específicas e varia<strong>da</strong>s,cuja essência deve sempre estar relaciona<strong>da</strong>com os objetivos específicos <strong>do</strong>professor e com as necessi<strong>da</strong>des e a reali<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s alunos e <strong>da</strong> escola.Para promover a integração entre as disciplinas<strong>da</strong> área de Ciências e iniciar o estu<strong>do</strong><strong>da</strong> Física de uma maneira abrangente, propician<strong>do</strong>o desenvolvimento de varia<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>dese competências nos alunos, pode-seusar um texto sobre a origem <strong>do</strong> universo (emanexo), enfocan<strong>do</strong> a teoria <strong>do</strong> Big Bang, queabor<strong>da</strong> também uma introdução à natureza<strong>da</strong> Ciência liga<strong>da</strong> ao seu contexto socioculturale à linguagem <strong>da</strong> Física. Sugere-setambém, mais a seguir, diversas maneiras deencaminhar o trabalho escolar na sala deaula a partir desse texto, para que sirvam deexemplo e funcionem como fonte de inspiraçãoao professor no seu trabalho diário.Para que o potencial pe<strong>da</strong>gógico e o desenvolvimentode competências por parte<strong>do</strong>s alunos possam ser otimiza<strong>do</strong>s, a leiturae a compreensão <strong>do</strong> texto devem proporaprofun<strong>da</strong>mento gradual <strong>do</strong> conhecimentoem processo de construção, culminan<strong>do</strong> emdiscussões, ativi<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s e produçãode diversos textos pelos alunos. A Figura 1ilustra uma possível abor<strong>da</strong>gem sobre a teoria<strong>do</strong> Big Bang, de maneira a contemplaras uni<strong>da</strong>des temáticas/bloco de conteú<strong>do</strong><strong>do</strong> assunto em questão: “Universo e suaorigem”, “Compreensão humana <strong>do</strong> Universo”,culminan<strong>do</strong> em “Terra e o SistemaSolar”, que pode servir de introdução parao estu<strong>do</strong> de “movimentos: variações e conservações”.Com essa abor<strong>da</strong>gem, fica exemplifica<strong>do</strong>,também, um ensino de Física mais conceituale menos formulístico, e consequentementemais significativo para o aluno e promotor <strong>do</strong>desenvolvimento <strong>da</strong>s competências e habili<strong>da</strong>desque precisam ser adquiri<strong>da</strong>s por ele.9595Universo, Terra e Vi<strong>da</strong>O Universo e sua origempré-ciência: misticismo, religião e mitosBig Bang/singulari<strong>da</strong>de quebra de simetria“Sopa de partículas”: partículas elementares“Sopa de partículas”: elétrons, prótons e nêutronsInterações:Forte:Fraca:EletromagnéticaGavitacionalFísicaCompreensão humana <strong>do</strong> UniversoFormação de átomos simples e matériaNuvens e gasesTerra e Sistema SolarFormação <strong>da</strong>s estrelasfusãoExplosão de grandes estrelas antigasFormaçãoelementospesa<strong>do</strong>sMovimentos: variações e conservaçõesSistema solar/planeta TerraResfriamento <strong>da</strong> Terra, solidificação e formação de oceanosFigura 1: Sugestão de abor<strong>da</strong>gempara o tema estrutura<strong>do</strong>rUniverso, Terra e vi<strong>da</strong>.Referencial Curricular 4.indd 95 25/8/2009 11:10:38


96Concepções préviasAntes de iniciar a leitura e a discussão<strong>do</strong> texto sobre a origem <strong>do</strong> Universo, o professorpode aproveitar as questões iniciais:“O Universo sempre existiu ou teve um início?Se ele teve um início, quan<strong>do</strong> e comoocorreu? O que existia antes <strong>do</strong> Universo?Ele tem um tamanho ou é infinito?”, paraconhecer as concepções prévias <strong>do</strong>s alunossobre o assunto e retomá-las mais tarde,confrontan<strong>do</strong>-as com as científicas sempreque possível e necessário ao longo <strong>da</strong>aprendizagem <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.Pode-se também pedir aos alunos querealizem, em grupos, uma enquete comamigos e parentes sobre a opinião destesúltimos sobre a origem <strong>do</strong> Universo (seriainteressante variar bastante a faixa etária<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s). Os alunos podem entãoorganizar esses <strong>da</strong><strong>do</strong>s e apresentá-losà classe. Para explorar ain<strong>da</strong> mais os potenciais<strong>do</strong>s alunos, pode-se propor queredijam individualmente uma espécie desíntese <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s e discussões a seremretoma<strong>do</strong>s depois, confrontan<strong>do</strong> as concepçõesprévias observa<strong>da</strong>s com aquelaspresentes nos mitos antigos, religião e naprópria Ciência. A partir dessas sugestões,além de serem explora<strong>da</strong>s as competênciasde leitura e produção de textos, são abarca<strong>da</strong>stambém as competências gerais, já queos alunos representam suas ideias e as comunicam,investigan<strong>do</strong> e compreenden<strong>do</strong>as concepções prévias <strong>da</strong>s pessoas, dentro<strong>do</strong> contexto sociocultural em que vivem.Perguntas e enquetes não são os únicosrecursos para conhecer as concepções prévias<strong>do</strong>s alunos com relação aos fenômenose conteú<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s pela Física. Pode-setambém usar situações cotidianas varia<strong>da</strong>spara compreender o pensamento <strong>do</strong>s alunossobre a natureza física. Também ao seutilizar imagens, representações e símbolosnessas situações, o professor pode perceberse os alunos estão interpretan<strong>do</strong>-os de maneiraadequa<strong>da</strong>, o que pode indicar a necessi<strong>da</strong>dede desenvolver outras estratégiasde leitura.É preciso também estar atento ao fato deque não basta apenas conhecer as concepçõesprévias, se elas não forem utiliza<strong>da</strong>s nasestratégias de ensino/aprendizagem, de maneiraque é necessário sempre discutir e retomaressas concepções ao longo <strong>do</strong> processoeducativo.Estratégiasdiversifica<strong>da</strong>s de leituraA leitura em classe de um texto a serdiscuti<strong>do</strong> pode acontecer de diversas maneiras.Quan<strong>do</strong> é pequeno e de grandeimportância dentro <strong>do</strong>s objetivos pe<strong>da</strong>gógicos<strong>do</strong> professor, convém que a leitura<strong>do</strong> texto seja feita junto com os alunos: emvoz alta e com o destaque <strong>do</strong> professorpara os pontos fun<strong>da</strong>mentais e focos <strong>da</strong>discussão. O professor pode também pedirpara que ca<strong>da</strong> aluno leia em voz altauma parte pequena. Textos mais longosou mais densos podem ser dividi<strong>do</strong>s emseções e trabalha<strong>do</strong>s com questões e ativi<strong>da</strong>descomplementares.É importante também que existam momentosde leitura coletiva em pequenosgrupos e leituras individuais. Nesse caso,é necessário programar ativi<strong>da</strong>des específicase fugir ao esquema de respostasóbvias e copia<strong>da</strong>s <strong>do</strong> texto. As questõesdevem remeter o aluno a reler e se aprofun<strong>da</strong>rmais no texto, ou mesmo extrapolá-loao procurar outras fontes e fazercomparações.Dessa maneira, a ativi<strong>da</strong>de de leitura ea resposta às questões propostas podemser muito mais significativas para a aprendizagem.Uma abor<strong>da</strong>gem mais conceitual per-Referencial Curricular 4.indd 96 25/8/2009 11:10:38


mite também que se recorra a exercíciosricos em textos e informações para seremmanipula<strong>do</strong>s e trabalha<strong>do</strong>s com os alunos(como pode ser nota<strong>do</strong> nas questõespropostas no texto “A Origem <strong>do</strong> Universo”).Uma estratégia de leitura muito útiltambém é a utilização de textos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samenteescolhi<strong>do</strong>s pelo professor (oupesquisa<strong>do</strong>s pelos alunos) para fomentardebates na sala de aula.Representação matemática,símbolos, gráficos e tabelasMesmo numa abor<strong>da</strong>gem mais conceitual,a Física não se pode furtar <strong>da</strong> sua linguagemespecífica. Assim, qualquer queseja o conteú<strong>do</strong> abor<strong>da</strong><strong>do</strong>, é sempre possívelexplorar as grandezas físicas e suasuni<strong>da</strong>des e se utilizar de tabelas e gráficospara organizar e explorar os conteú<strong>do</strong>s.Por exemplo, no texto introdutório sobre aorigem <strong>do</strong> universo, muitas grandezas físicase suas uni<strong>da</strong>des (além <strong>da</strong>s transformaçõesentre elas) já podem ser explora<strong>da</strong>s,como a temperatura em Kelvin (K), o tempoem segun<strong>do</strong>s (s), noções sobre calor,radiação eletromagnética e gravi<strong>da</strong>de. Oprofessor pode ain<strong>da</strong> propor o desafio depensar e pesquisar outras grandezas físicasrelaciona<strong>da</strong>s, assim como suas uni<strong>da</strong>dese transformações.O trabalho com gráficos e tabelas podeser simples, mas deve sempre exigir queo aluno interprete o gráfico e saiba fazeranálises, comparações e manipulaçõesdiversas com essas representações. Porexemplo, no texto sobre a origem <strong>do</strong> Universo,está descrito que o Universo esfriouconforme se expandiu. Essa afirmaçãopode ser forneci<strong>da</strong> também ao aluno naforma de gráfico e, nesse caso, é precisoinstigá-lo a compreender essa mesmainformação no gráfico, analisan<strong>do</strong>-o, obten<strong>do</strong>informações dele e confrontan<strong>do</strong>-ascom outras fontes, como o próprio textoou uma equação matemática.Natureza sociocultural<strong>da</strong> FísicaA to<strong>do</strong> momento, o professor de Físicapode contextualizar os conteú<strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong> e destacan<strong>do</strong>,sempre que possível, a Ciência comoconstrução humana e, portanto, diferente<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de absoluta.As teorias sobre a origem <strong>do</strong> Universo,por exemplo, perfazem um campo ricopara o professor explorar as transformaçõesque o pensamento humano sofreu aolongo de sua existência.Com a pesquisa e o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mitossobre a origem <strong>do</strong> Universo, como os indígenas,a Gênesis <strong>da</strong> Bíblia e a teoriacientífica <strong>do</strong> Big Bang, o aluno começa acompreender a natureza mutável e evolutiva<strong>do</strong> pensamento humano e científico,distinguin<strong>do</strong>-o entre as concepções míticas,místicas e religiosas. Um texto bemelabora<strong>do</strong> sobre o Big Bang permite discutircom os alunos a natureza <strong>do</strong>s modelose teorias científicas e seus limites.O professor pode até mesmo pedir paraos alunos pesquisarem essas informaçõese procurarem por textos para leitura eaprendiza<strong>do</strong>s conjuntos.Ain<strong>da</strong> falan<strong>do</strong> sobre o enfoque sociocultural,é possível compreender e apresentaraos alunos a Física como cultura earte. No caso sobre a origem <strong>do</strong> Universo,pode-se atingir esse intento ao pedir quecomparem a obra de arte “Gênesis”, pinta<strong>da</strong>por Michelangelo na Capela Sistina,no Vaticano, que sintetiza a compreensãobíblica sobre o assunto, com a compreensãocientífica atual para a criação <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong> homem. Dessa maneira, apartir <strong>da</strong> Física, são instiga<strong>do</strong>s a respeitaras ideias alheias e os tesouros artísticos eculturais <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.Esse mesmo texto pode fomentar ain<strong>da</strong>mais a natureza socio-histórica <strong>da</strong> Física,9797Referencial Curricular 4.indd 97 25/8/2009 11:10:38


lução desse conceito na Ciência.Também é importante, sempre que possível,contrapor a visão embuti<strong>da</strong> nos livrosdidáticos de que a Física está prontae acaba<strong>da</strong> e é produto de gênios queparecem resolver tu<strong>do</strong> facilmente. Qualo estu<strong>da</strong>nte que não se perguntou: o queum físico faz, se já está tu<strong>do</strong> descobertoe pronto? Posso realmente ser um físico,se não sou um gênio? Comentários, discussõese até mesmo frases pontuais emtextos, ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> escolar, aju<strong>da</strong>ma ampliar a visão de mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunossobre o assunto.Contextualizar a Física em seus aspectosculturais e sociais é também fornecersubsídios para os alunos compreenderemos fenômenos físicos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong>-osagir, refletir e viver de maneira maisqualifica<strong>da</strong>. Por isso, é sempre importantemostrar como o conhecimento <strong>da</strong> Físicapode ser útil e até mesmo livrá-los de perigos,pois conhecer Física é conhecer anatureza <strong>do</strong>s raios, sua periculosi<strong>da</strong>de eformas de se proteger, ou a eletrici<strong>da</strong>de,que causa muitos acidentes, entre outrosriscos. Conhecer fenômenos como marésou tsunamis pode também salvar vi<strong>da</strong>s,como foi o caso <strong>da</strong> menina britânicaTilly Smith que, lembran<strong>do</strong> de uma aulasobre tsunamis, salvou em torno de cempessoas <strong>do</strong> tsunami ocorri<strong>do</strong> no final de2004 na Tailândia e que vitimou quase300.000 pessoas (NATIONAL GEOGRA-PHIC, 2005).ExperimentaçãoEm contraparti<strong>da</strong> à experimentação noensino de Física, como aplicação e comprovaçãode fórmulas e leis usan<strong>do</strong> méto<strong>do</strong>súnicos, ver<strong>da</strong>deiros e imutáveis, o trabalhocom a experimentação na sala deaula pode ser muito mais significativo sesua perspectiva for amplia<strong>da</strong> e fomentarnos alunos o desenvolvimento <strong>da</strong>s competênciasbásicas e gerais desta proposta.É importante fazer demonstrações, quepodem ser investigativas, se o professor asapresentar questionan<strong>do</strong> os alunos sobrefenômenos envolvi<strong>do</strong>s e promoven<strong>do</strong> umdebate sobre o conteú<strong>do</strong> físico.Também é possível usar analogias quemelhorem a compreensão <strong>do</strong>s alunos,como no caso <strong>da</strong> expansão <strong>do</strong> Universoe o afastamento <strong>da</strong>s galáxias entre si, quepode ser ilustra<strong>do</strong> com o uso de um balãode festa que, ao ser infla<strong>do</strong>, promove oafastamento <strong>do</strong>s pontos entre si.Sempre que possível, a experimentaçãodeve ser realiza<strong>da</strong> pelos próprios alunos ealia<strong>da</strong> a desafios que necessitem de raciocínio,leituras e produção de textos para resolução<strong>do</strong> problema apresenta<strong>do</strong>. Nessecaso, em to<strong>da</strong>s as etapas <strong>da</strong> experimentação(observação de fenômenos, coleta de<strong>da</strong><strong>do</strong>s, organização <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, apresentação<strong>do</strong>s mesmos, procedimentos para resolveros desafios, conclusões e relatos <strong>do</strong>processo), os alunos devem ler e escrever.Conforme é especifica<strong>do</strong> nos PCN+,a experimentação deve privilegiar o “fazer,manusear, operar, agir, em diferentesformas e níveis”. A inexistência de materiaisespecíficos não impede a construção<strong>do</strong> conhecimento em Física, pois é possívelrecorrer a materiais de baixo custo,arranja<strong>do</strong>s ou construí<strong>do</strong>s pelos própriosalunos. Mais <strong>do</strong> que a preocupação comaparatos experimentais e materiais, é precisose concentrar nas competências a seremdesenvolvi<strong>da</strong>s.Estratégias diversifica<strong>da</strong>sde produção de textoEm to<strong>do</strong> o processo educativo, é imprescindívelque o aluno esteja sempre escreven<strong>do</strong>.Isso não significa copiar <strong>da</strong> lousa ourepetir frases <strong>do</strong> livro, mas criar, discutir, resumir,analisar, comparar e aplicar, amplian<strong>do</strong>conhecimentos.Assim, sempre que possível, o professordeve recolher trabalhos escritos <strong>do</strong>s alunos,tanto individuais como em grupo, estimulan<strong>do</strong>,neste último caso, o trabalho coletivo, a9999Referencial Curricular 4.indd 99 25/8/2009 11:10:38


100troca e o respeito pelas ideias alheiasEstas produções podem se configurar emresposta a questões, desafios, relato de aulas,de discussões, síntese de conclusões,resulta<strong>do</strong>s, processos. Para acompanhar oprocesso de construção de conhecimento,o professor pode usar estratégias varia<strong>da</strong>s,como pedir que os alunos escrevam cartaspara amigos, explican<strong>do</strong> o que aprenderamsobre determina<strong>do</strong> assunto, contar históriasque englobem a explicação de algum conhecimentode física, criar charges que envolvamconceitos físicos, músicas, enfim, é precisoque os alunos escrevam para desenvolveresta competência, mas é preciso criativi<strong>da</strong>dee varie<strong>da</strong>de para que a escrita não se torneenfa<strong>do</strong>nha e superficial, tanto para o professorcomo para o aluno.Quadro 4 - Sugestões de estratégias para o desenvolvimento de competências básicase gerais 1Competências básicasLer e escreverRepresentação ecomunicação1. Enfatizar um ensino maisconceitual, em detrimento<strong>do</strong> formulístico.2. Usar textos diversos, pararealizar maneiras diferentesde leitura em classe e/ou individualmente, como objetivo de fomentardiscussões, ativi<strong>da</strong>des ere<strong>da</strong>ções diversas.3. Usar e explorar nos textosa representação matemática,símbolos, uni<strong>da</strong>des,gráficos e tabelas.4. Explorar os modelos eteorias científicas.5. Engajar os alunos na organizaçãode <strong>da</strong><strong>do</strong>s deativi<strong>da</strong>des ou desafios.6. Proporcionar que os alunosapresentem, para aclasse e por escrito, <strong>da</strong><strong>do</strong>se resulta<strong>do</strong>s de ativi<strong>da</strong>desou soluções de desafios.7. Promover a discussão entrealunos e com a classeto<strong>da</strong> sobre as ativi<strong>da</strong>dese seus resulta<strong>do</strong>s.8. Instigar, de maneiras diversase criativas, o alunoa escrever, tanto individualmentecomo em grupo.EixosInvestigação ecompreensão1. Levantar concepçõesprévias <strong>do</strong>s alunos,confrontan<strong>do</strong>-as comas cientificamente aceitas,incentivan<strong>do</strong> osalunos a produziremtextos sobre tópicos deFísica que permitamuma explicitação detais concepções. Após,confrontá-las com ascientificamente aceitasa partir de leituras detextos didáticos.2. Proporcionar condiçõespara o aluno aprendera formular perguntasa respeito de fenômenosfísicos, que sirvamcomo ponto de parti<strong>da</strong>para o processo de investigaçãoacerca dessesfenômenos.3. Fomentar a ín<strong>do</strong>le científica,promoven<strong>do</strong> ouso de leitura e produçãode textos em to<strong>do</strong>o processo de investigação,com vistas afavorecer que o alunorespon<strong>da</strong> a suas in<strong>da</strong>gações.4. Problematizar a visãoingênua de que o conhecimentoé alcança<strong>do</strong>por meio de umasequência rígi<strong>da</strong> depassos (méto<strong>do</strong> científicotradicionalmenteveicula<strong>do</strong> em muitos livrosdidáticos), a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>estratégias didáticasque ajudem os alunosa romper com essa visão.5. Apresentar os limites<strong>da</strong>s teorias e modelos.Contextualizaçãosociocultural1. Destacar, sempre quepossível, a Ciência comoconstrução humana, e,portanto, diferente <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deabsoluta e sem umméto<strong>do</strong> único e fecha<strong>do</strong>.2. Valorizar a produção cultural,artística e histórica<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de através desua relação com a Ciência.3. Discutir temas e conteú<strong>do</strong>sno contexto atual esuas implicações sociais.4. Fomentar a formação dejuízos de valor relaciona<strong>do</strong>sà Ciência, seu funcionamentoe seu papel nasocie<strong>da</strong>de, e propiciar aexpressão deste, principalmentede maneira escrita.5. Discutir a questão ética <strong>da</strong>Ciência e <strong>da</strong> tecnologia nomun<strong>do</strong> atual.6. Enfatizar o desenvolvimentohistórico <strong>da</strong>s teorias <strong>da</strong>Física, pela leitura e escritade textos com enfoque históricoe filosófico.1Observe que aqui as estratégias não guar<strong>da</strong>m necessariamente uma correspondência com as competências específicas <strong>do</strong> Quadro 1.Referencial Curricular 4.indd 100 25/8/2009 11:10:39


EixosRepresentação ecomunicaçãoInvestigação ecompreensãoContextualizaçãosociocultural101 101Competências básicasResolverproblemas1. Promover interação entreos alunos para a resoluçãode um problema.2. Usar outras representaçõesou outras grandezasfísicas e suas uni<strong>da</strong>des.3. Descrever relatos de fenômenosou fatos que envolvamconhecimentos físicos.1. Promover desafios instigantesvolta<strong>do</strong>s para ainvestigação <strong>do</strong>s fenômenosfísicos que sejam significativospara os alunos.2. Orientar os alunos no senti<strong>do</strong>de buscar informaçõesem fontes idôneas.3. Responder às perguntas<strong>do</strong>s alunos de forma acriar novos desafios.1. Promover questões instigantese curiosas sobre acompreensão <strong>do</strong>s fenômenosfísicos em épocasdiferentes e em contextossociais diversos.2. Problematizar o papel <strong>da</strong>Física e <strong>da</strong> tecnologia nasocie<strong>da</strong>de atual.3. Promover debates 2 .ReferênciasBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EnsinoBásico. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio.Brasília,1998. Disponível em: . Acesso em: 8jan. 2009.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EnsinoBásico. PCN + : ensino médio. Brasília, 2002. Disponívelem: . Acesso em: 8 jan. 2009.NATIONAL GEOGRAPHIC. Tsunami Family Savedby Schoolgirl’s Geography Lesson. Disponívelem: . Acesso em: 8 jan. 2009.2Colaborou na elaboração <strong>do</strong> presente Referencial Curricular a professora Érica Regina Mozena.Referencial Curricular 4.indd 101 25/8/2009 11:10:39


Anexo102A origem <strong>do</strong> UniversoUma <strong>da</strong>s questões que intrigam a humani<strong>da</strong>deé explicar suas origens, que remontamao início <strong>do</strong> Universo como o conhecemoshoje: ele sempre existiu ou teve um início?Se teve um início, quan<strong>do</strong> e como ocorreu?O que existia antes <strong>do</strong> Universo? Ele tem umtamanho mensurável ou é infinito?Essas dúvi<strong>da</strong>s sempre foram respondi<strong>da</strong>s demaneiras diferentes em to<strong>do</strong>s os povos e nosmais diversos perío<strong>do</strong>s de nossa existência. Aquestão <strong>do</strong> início <strong>do</strong> Universo é bastante complexa,afinal, não estávamos presentes nessepossível acontecimento e só nos resta imaginá-loe inventar modelos e teorias que tentemexplicá-lo. Também não é possível realizar experiênciasque comprovem essas teorias, temosapenas indícios que permitem considerar algumasmais prováveis em relação a outras.Uma <strong>da</strong>s teorias científicas modernaspara o início <strong>do</strong> Universo mais conheci<strong>da</strong>se aceitas é a teoria <strong>do</strong> Big Bang 1 , propostainicialmente por George Gamow, em 1947.Essa teoria, que admitiu um modelo relativísticopara o Universo alia<strong>do</strong> aos conhecimentos<strong>da</strong> Física Nuclear <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1940,propõe que o Universo, inicialmente, era umponto minúsculo (singulari<strong>da</strong>de) de grandedensi<strong>da</strong>de e temperatura extremamente alta.Temperatura (K)Densi<strong>da</strong>de (G/Cm 3 )10 1210 1110 1010 910 810 710 610 510 41.000100101Temperatura<strong>do</strong> centro<strong>do</strong> SolTemperatura<strong>da</strong> superfície<strong>do</strong> SolTemperaturaambiente(Terra)Síntesenucelar1minutoRadiaçãopre<strong>do</strong>minasobre matéria1hora1dia1mês1ano1séc.10 4anosFormação de átomos e nêutronsFormação de galáxias10 6anos10 8anos10 10anos10 1610 1210 810 4110 -410 -810 -1210 -1610 -2010 -2410 -2810 -320,00010,01 1 100 10 4 10 6 10 8 10 10 10 12 10 14 10 16 10 18Tempo(s)HojeTemperatura e densi<strong>da</strong>de médias <strong>do</strong> Universo em relação ao tempo. Fonte: MARTINS, 1994, p.159.1Que em inglês significa Grande Explosão.Referencial Curricular 4.indd 102 25/8/2009 11:10:39


Essa explosão criou a matéria que observamosno Universo e deu início à sua expansão,que julgamos perdurar ain<strong>da</strong> hoje. Aoanalisar a luz <strong>da</strong>s galáxias, os cientistas observaramexatamente este fenômeno: quaseto<strong>da</strong>s estão se afastan<strong>do</strong> de nós. Essa foi aprincipal evidência que deu credibili<strong>da</strong>de àteoria <strong>do</strong> Big Bang.Na teoria <strong>do</strong> Big Bang, Gamow utilizouequações para prever que, à medi<strong>da</strong> que oUniverso foi se expandin<strong>do</strong>, sua temperaturamédia (T) foi diminuin<strong>do</strong>:T = (1,52´10 10 K) / √t, onde t correspondeao tempo em segun<strong>do</strong>s.Imagina-se que, um segun<strong>do</strong> após a explosão,a temperatura <strong>do</strong> Universo seria debilhões de graus. Nesse estágio, o Universoseria uma espécie de sopa de partículas (jáque a temperatura era tão alta que os elétrons,prótons e nêutrons não conseguiam seunir para formar os átomos) e radiação eletromagnéticade alta energia.Com a diminuição <strong>da</strong> temperatura, nêutronse prótons começaram a se combinar e aproduzir os núcleos <strong>do</strong>s átomos mais simples,como hidrogênio e hélio. Mesmo após 700mil anos <strong>da</strong> explosão, a temperatura <strong>do</strong> Universoseria de aproxima<strong>da</strong>mente 3 mil kelvins.Com o esfriamento gra<strong>da</strong>tivo <strong>da</strong> matéria,os elétrons se combinaram com os prótonse os outros núcleos, forman<strong>do</strong> os primeirosátomos. A matéria então, pela força <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de,lentamente começou a se aglomerare a formar imensas nuvens de gases.Essas imensas nuvens de gases, forma<strong>da</strong>sà medi<strong>da</strong> que a matéria se esfriou, erammais densas em alguns pontos. Assim, devi<strong>do</strong>à força gravitacional, algumas partes <strong>da</strong>snuvens começaram a se contrair, forman<strong>do</strong>então as galáxias que observamos hoje noUniverso. No interior de ca<strong>da</strong> galáxia, as regiõesmais densas se contraíram ain<strong>da</strong> mais,forman<strong>do</strong> as estrelas.Conforme a nuvem se contraía para formaruma estrela, sua temperatura ia aumentan<strong>do</strong>.Quan<strong>do</strong> a temperatura é <strong>da</strong> ordemde milhares de graus, os elétrons são arranca<strong>do</strong>spelos choques entre os átomos. Agravi<strong>da</strong>de faz essa matéria se contrair ain<strong>da</strong>mais, até o ponto em que os prótons colideme formam núcleos mais complexos, como onúcleo de hélio, carbono, oxigênio e nitrogênio.Esse processo é conheci<strong>do</strong> como fusãonuclear, e libera uma quanti<strong>da</strong>de enorme deenergia. Por isso as estrelas brilham, emitin<strong>do</strong>luz para o espaço.Ativi<strong>da</strong>des1. a) Faça uma enquete com amigos, conheci<strong>do</strong>se parentes sobre suas concepçõessobre as questões <strong>do</strong> texto: o Universo sempreexistiu ou teve um início? Se ele teve uminício, quan<strong>do</strong> e como ocorreu? O que existiaantes <strong>do</strong> Universo? Ele tem um tamanhomensurável ou é infinito?b) Organize seus <strong>da</strong><strong>do</strong>s para apresentálospara a classe.c) Escreva uma síntese sobre seus resulta<strong>do</strong>s.d) Compare-os com as explicações científicasatualmente aceitas.2. O quadro Gênesis foi pinta<strong>do</strong> duranteos anos de 1508 a 1512 por Michelangelodi Lu<strong>do</strong>vico Buonarroti Simoni (1475-1564),por encomen<strong>da</strong> <strong>do</strong> papa Juliano II (GiulianoDella Rovere, papa de 1503 a 1513), e seencontra no teto <strong>da</strong> Capela Sistina, no Vaticano.Ele expressa uma explicação religiosasobre a origem <strong>do</strong> Universo.a) Em que aspectos essa explicação bíblicadifere <strong>da</strong> científica?Gênesis, de Michelangelo.103 103Referencial Curricular 4.indd 103 25/8/2009 11:10:39


104b) Compare a explicação bíblica com osresulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua enquete.3. a) Einstein era defensor <strong>da</strong> ideia de umUniverso estático. Qual evidência experimentalmostrou problemas com sua concepção?b) Pesquise sobre outras evidências favoráveisà teoria <strong>do</strong> Big Bang.4. a) Calcule a temperatura <strong>do</strong> Universono tempo 1 s.b) Usan<strong>do</strong> o gráfico, obtém-se o mesmoresulta<strong>do</strong>? Justifique.c) A temperatura média <strong>do</strong> Universo aumentaou diminui com o passar <strong>do</strong> tempo?Use o gráfico e a equação matemática parajustificar sua resposta.5. O nosso Sol é uma estrela típica, talcomo as observa<strong>da</strong>s no céu noturno. A únicadiferença é que ele está muito próximo denós, enquanto que as outras, de tão longe,parecem que são muito pequenas e estáticas.As estrelas que inicialmente surgiram na nossagaláxia eram forma<strong>da</strong>s apenas por átomossimples, como o hidrogênio. Além disso,a fusão nuclear no seu interior também nãotinha energia suficiente para formar to<strong>do</strong>s oselementos que conhecemos. Então, se nemo Big Bang, nem as estrelas em ativi<strong>da</strong>denormal produzem elementos muito pesa<strong>do</strong>s,como surgiu o urânio e outros metais que observamosna Terra?6. Por que alguns cientistas afirmam quesomos “poeira de estrelas”?7. A maneira como interpretamos as observações<strong>da</strong> natureza depende muito <strong>do</strong> conhecimentocientífico <strong>da</strong> época em que vivemos.Leia com atenção algumas <strong>da</strong>s afirmaçõesfeitas por George Gamow, o cientistaque desenvolveu a teoria <strong>do</strong> Big Bang:“... podemos afirmar que as regiões mais escurasde Marte são na reali<strong>da</strong>de planícies cobertas degrama, arbustos ou árvores.”“Está prova<strong>do</strong> existir vegetação em Marte...”Aponte os equívocos de Gamow.8. Pesquise como a teoria <strong>do</strong> Big Bang éaceita atualmente, enfatizan<strong>do</strong> suas transformações,correções e evidências coleta<strong>da</strong>s.9. Leia com atenção essa notícia veicula<strong>da</strong>na mídia:LHC, a máquina que vai recriaro Big Bang, começa a ser testa<strong>da</strong>O maior acelera<strong>do</strong>r de partículas <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> completou seu primeiro grandeteste nesta quarta-feira (10/9/2008),disparan<strong>do</strong> um feixe de prótons por umtúnel de 27 quilômetros, informou aAgência Associated Press.Segun<strong>do</strong> a AP, depois de uma série detestes, <strong>do</strong>is pontos brancos apareceramna tela <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, indican<strong>do</strong> queos prótons viajaram to<strong>da</strong> a distância <strong>do</strong>túnel.A máquina, que custou 3,8 bilhõesde dólares, deve aju<strong>da</strong>r os cientistas acompreender a criação <strong>do</strong> Universo,recrian<strong>do</strong> em laboratório as condições<strong>do</strong> Big Bang.(Re<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> IDG Now!, 10-9-2008, Fonte:pcworld.uol.com.br/noticias/2008/09/10/lhc-a-maquina-que-vai-recriar-o-big-bangcomeca-a-ser-testa<strong>da</strong>/acessa<strong>do</strong> em janeiro de 2009.a) Pesquise o que é um acelera<strong>do</strong>r de partículas.b) Descubra como o LHC pode recriar oBig Bang.c) Avalie o investimento financeiro <strong>do</strong>projeto em relação aos benefícios à socie<strong>da</strong>de.10. a) Descubra o que é Big Crunche o que esta teoria tem a ver com o Universo.b) Pesquise e relate com suas palavrasquais os possíveis destinos para o nosso Universo.11. a) Escreva uma carta para um amigoseu contan<strong>do</strong> com suas palavras como oUniverso surgiu.b) Escreva uma história de ficção contan<strong>do</strong>como será um provável fim para oUniverso.Referencial Curricular 4.indd 104 25/8/2009 11:10:39


ReferênciasABDALLA, M. C. B. O discreto charme <strong>da</strong>spartículas elementares. São Paulo: Editora <strong>da</strong>UNESP, 2006.______. Sobre o discreto charme <strong>da</strong>s partículaselementares. A Física na Escola, São Paulo, v.6, n. 1, p. 38-44, maio 2005. Disponível em:. Acesso em: 8 jan. 2009.GAMOW, George. O incrível mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> físicamoderna. São Paulo: IBRASA, 1980.______. Biografia <strong>da</strong> Terra: seu passa<strong>do</strong>, presentee futuro. Porto Alegre: Globo, 1961.HAWKING, Stephan W. Uma breve história <strong>do</strong>tempo: <strong>do</strong> Big Bang aos buracos negros. Rio deJaneiro: Rocco, 1988.MARTINS, Roberto de Andrade. O universo: teoriassobre sua origem e evolução. São Paulo:Moderna, 1994.MÁXIMO, A.; ALVARENGA, B. Curso de física.São Paulo: Scipione, 2007. v. 3.OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. de H. Umpôster para ensinar Física de Partículas. A Físicana Escola, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 13-18, maio2001. Disponível em: . Acessoem: 8 jan. 2009.105 105Referencial Curricular 4.indd 105 25/8/2009 11:10:39


106Referencial Curricular 4.indd 106 25/8/2009 11:10:41


José Cláudio Del PinoMichelle Câmara PizzatoReferencial Curricular 4.indd 107 25/8/2009 11:10:44


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Referenciais Curriculares para o ensino de QuímicaPor que ensinar e aprenderQuímica?O desenvolvimento de competências ehabili<strong>da</strong>des necessárias ao exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niae <strong>do</strong> trabalho está entre as finali<strong>da</strong>des<strong>do</strong> ensino médio. Como ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niarefere-se à participação <strong>do</strong>s indivíduos nasocie<strong>da</strong>de, torna-se claro que, para umaefetiva participação comunitária, é necessárioque o ci<strong>da</strong>dão disponha de competênciasbásicas, como a leitura, a escrita e a resoluçãode problemas, que lhe possibilitemutilizar e articular múltiplos conhecimentos.Neste senti<strong>do</strong>, a Química constitui-seem um valioso instrumento educativo paraa formação de ci<strong>da</strong>dãos, habilitan<strong>do</strong>-os atomar decisões e participar <strong>da</strong> resolução deproblemas que têm surgi<strong>do</strong> nas socie<strong>da</strong>desatuais como consequência <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s tecnologiase <strong>do</strong>s conhecimentos científicos.O conhecimento químico, visto de formamais ampla associa<strong>do</strong> a habili<strong>da</strong>des, competênciase valores, pode contribuir para acompreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> natureza,para o reconhecimento <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>dese <strong>da</strong>s limitações <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Ciência,para a melhoria <strong>do</strong> bem-estar humano epara a toma<strong>da</strong> de consciência <strong>da</strong>s complexasrelações entre Ciência e socie<strong>da</strong>de,através <strong>da</strong> análise crítica e <strong>do</strong> posicionamentofrente a questões sociais, ambientais,tecnológicas, políticas, éticas e econômicas.Dessa forma, a Química possibilita aosalunos desenvolver conhecimentos, atitudese valores que concretizam a formaçãointegral <strong>do</strong> ser humano. Situa<strong>do</strong> em umcontexto escolar que pretende o desenvolvimento<strong>do</strong> pensamento crítico, o conhecimentoquímico associa-se com um “saberser” que se articula com posturas e atitudescoletivas e eticamente considera<strong>da</strong>s, aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong>nos julgamentos quanto à pertinênciade práticas/ações, à convivência participativae solidária, à iniciativa, à criativi<strong>da</strong>dee a outros atributos humanos (BRASIL,2006, p. 116).A leitura e a produção detextos em QuímicaA linguagem é o conhecimento básico quepermite a relação entre professor, aluno emateriais educativos através <strong>do</strong> compartilhamentode significa<strong>do</strong>s. Assim, aprender Químicaé aprender a linguagem <strong>da</strong> Química,que é uma <strong>da</strong>s formas de ver o mun<strong>do</strong>.A compreensão e a produção oral e escrita<strong>do</strong>s alunos em Química envolvem o desenvolvimentode uma linguagem que não seresume ao reconhecimento de nomenclatura,grandezas, uni<strong>da</strong>des e códigos próprios <strong>da</strong>disciplina. Frequentemente, os alunos utilizampalavras e símbolos característicos <strong>da</strong>linguagem química, mas que não compreendem,elaboran<strong>do</strong> textos que eles mesmosnão conseguem explicar.Como competências, ler e escrever sãomais abrangentes e dinâmicas. Ou seja,elas se constituem na articulação de diversasações destina<strong>da</strong>s à construção significativade novas maneiras de pensar, falar, sentir eatuar para explicar e transformar o mun<strong>do</strong>que nos rodeia. De acor<strong>do</strong> com Pozo e Crespo(2000), uma pessoa aprende quan<strong>do</strong> écapaz de <strong>do</strong>tar de significa<strong>do</strong> um materialou informação que é apresenta<strong>do</strong> a ela, istoé, quan<strong>do</strong> o compreende, tornan<strong>do</strong>-se capazde traduzi-lo com suas próprias palavras.Para compreender é preciso pôr em marchaprocessos cognitivos mais complexos <strong>do</strong> querepetir.Ler em Química, neste senti<strong>do</strong>, supõe acapaci<strong>da</strong>de não só de identificar, mas tambémde interpretar informações apresenta<strong>da</strong>ssob diferentes formas, como gráficos, tabelas,símbolos, fórmulas e equações químicas, rela-109 109Referencial Curricular 4.indd 109 25/8/2009 11:10:44


110cionan<strong>do</strong>-as com conhecimentos oriun<strong>do</strong>s deoutras áreas. Isso envolve reconhecer desdea utilização diária de materiais naturais e sintéticosaté os inúmeros impactos <strong>da</strong> Químicano desenvolvimento mundial, nos problemasreferentes à quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas,nos efeitos ambientais <strong>da</strong>s aplicações tecnológicas<strong>da</strong> Química e nas decisões solicita<strong>da</strong>saos indivíduos quanto ao emprego de tais tecnologias(SANTOS e SCHNETZLER, 1996).A identificação de regulari<strong>da</strong>des e mu<strong>da</strong>nçasna natureza <strong>do</strong>s materiais ou <strong>da</strong> energia,associan<strong>do</strong>-as a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> escala de tempo,também está relaciona<strong>da</strong> à leitura no senti<strong>do</strong>de reconhecer e compreender fenômenosque envolvem interações e transformaçõesquímicas. Uma <strong>da</strong>s ideias estrutura<strong>do</strong>ras<strong>do</strong> pensamento químico, por exemplo, é acompreensão de que os materiais forma<strong>do</strong>snuma transformação química têm fórmulasdiferentes, mas os elementos se mantêm osmesmos (LIMA e BARBOZA, 2005).Além disso, a competência de leitura envolvea percepção <strong>do</strong> conhecimento químicona cultura humana passa<strong>da</strong> e contemporânea,bem como a compreensão <strong>do</strong> mo<strong>do</strong>como este conhecimento influencia uma interpretação<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em diferentes épocas.A a<strong>do</strong>ção de modelos explicativos sobre aconstituição <strong>da</strong> matéria em distintos perío<strong>do</strong>shistóricos, por exemplo, foi determinanteno desenvolvimento científico e tecnológico.Portanto, seu reconhecimento possibilita umacompreensão social e temporal <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e<strong>do</strong> papel <strong>da</strong> Química na resolução de problemase na interpretação <strong>do</strong>s fenômenosque podem ser descritos por seus conceitose modelos.Já a competência de escrita em Químicaimplica descrever fenômenos, substâncias,materiais, proprie<strong>da</strong>des e eventos químicos,através de uma linguagem química, não nosenti<strong>do</strong> de utilizar apenas códigos pertencentesao <strong>do</strong>mínio explicativo <strong>da</strong> disciplina,mas de explicar fenômenos com as própriaspalavras usan<strong>do</strong> conceitos e modelos própriosdeste <strong>do</strong>mínio. Logo, faz-se necessárioselecionar e fazer uso apropria<strong>do</strong> de diferenteslinguagens e formas de representação,como esquemas, diagramas, tabelas, gráfico,traduzin<strong>do</strong> umas nas outras. Para isso, éimportante estimular os alunos a expressaremsuas ideias desde seu próprio entendimento,mesmo que isso incorra no uso de uma linguagemmais cotidiana ou simples <strong>do</strong> que aespera<strong>da</strong> inicialmente pelo professor.A resolução de problemas emQuímicaO ato de conhecer exige uma atitudecuriosa <strong>do</strong> sujeito em face <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, alémde uma atitude flexível e tolerante frente àsincertezas e ambigui<strong>da</strong>des que surgem nosmúltiplos caminhos que nosso tempo apresenta.Investigar implica colocar em interaçãosignifica<strong>do</strong>s procedentes <strong>do</strong> sujeito queinvestiga e de outras pessoas com novasinformações, para abor<strong>da</strong>r problemas necessáriosou interessantes. Isso envolve processosreflexivos, onde a interação social ea capaci<strong>da</strong>de de “aprender a aprender” sefortalecem.Por isso, a competência de resolverproblemas em Química promove o desenvolvimentode uma atitude investigativa,cooperativa e autônoma através <strong>da</strong> articulação<strong>do</strong> conhecimento químico e o deoutras áreas no enfrentamento de situações-problemae para a toma<strong>da</strong> de decisões,o que se traduz nas capaci<strong>da</strong>des dereconhecer um problema, formular hipóteses,identificar informações relevantes,consultar diferentes fontes e selecionarmateriais, equipamentos, procedimentos eestratégias adequa<strong>da</strong>s.Para tanto, é importante que o ensino deQuímica seja contextualiza<strong>do</strong>, isto é, que osconhecimentos químicos sejam estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s,desde o princípio, no contexto de uma situaçãoconcreta que pode ser reconheci<strong>da</strong>como relevante e interessante. Tal procedimentonão desconsidera a abstração no processode aprendizagem <strong>da</strong> Química, mas enfatizaa importância <strong>da</strong> contextualização nodesenvolvimento reflexivo <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte paraReferencial Curricular 4.indd 110 25/8/2009 11:10:44


alcançar a abstração de conceitos químicos.A reflexão é essencial para o desenvolvimento<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de,uma vez que leva à percepção de que omun<strong>do</strong> em que vivemos depende de nossasescolhas, e de que somos livres para decidirse queremos mantê-las ou mudá-las. Alémdisso, o ato de refletir pode estimular processosrelaciona<strong>do</strong>s à natureza criativa humana,como a imaginação, essencial para aconstrução <strong>do</strong> pensamento químico – afinal,aprender Química supõe abstrair, algo indissociável<strong>do</strong> imaginar.Por fim, a delimitação <strong>do</strong> problema, aformulação de hipóteses e a comparaçãode ideias e informações, entre outras açõescomuns à prática investigativa, envolve o desenvolvimento<strong>da</strong>s competências comunicativas<strong>do</strong> aluno, com as quais ele será capaz dereconhecer informações, sistematizar ideiase propor alternativas para as situações estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.Sen<strong>do</strong> assim, a competência de resoluçãode problemas em Química se constituino entrelaçamento <strong>da</strong>s competências deleitura e escrita, possibilitan<strong>do</strong> ao estu<strong>da</strong>ntecompreender e avaliar a Ciência e a tecnologiaquímica para exercer a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia comliber<strong>da</strong>de, responsabili<strong>da</strong>de, integri<strong>da</strong>de erespeito.O Quadro 1 apresenta uma síntese <strong>da</strong>scompetências básicas a serem desenvolvi<strong>da</strong>sna Química <strong>do</strong> ensino médio.111 111CompetênciasbásicasLerCompetências básicas e específicas de QuímicaCompetências específicasL1. Reconhecer e compreender símbolos, códigos e nomenclatura própria <strong>da</strong> Química e<strong>da</strong> tecnologia química.L2. Identificar e relacionar uni<strong>da</strong>des de medi<strong>da</strong> usa<strong>da</strong>s para diferentes grandezas, comomassa, energia, tempo, volume, densi<strong>da</strong>de e concentração de soluções.L3. Ler e interpretar informações e <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s com diferentes linguagens ou formasde representação – como símbolos, fórmulas e equações químicas, tabelas, gráficos,esquemas e equações.L4. Analisar e interpretar diferentes tipos de textos e comunicações referentes ao conhecimentocientífico e tecnológico químico.L5. Reconhecer e compreender fenômenos, envolven<strong>do</strong> interações e transformações químicas,identifican<strong>do</strong> regulari<strong>da</strong>des e invariantes.L6. Compreender que as interações entre matéria e energia, em um certo tempo, resultamem modificações <strong>da</strong> forma ou natureza <strong>da</strong> matéria, consideran<strong>do</strong> os aspectos qualitativose macroscópicos.L7. Identificar transformações químicas pela percepção de mu<strong>da</strong>nças na natureza <strong>do</strong>smateriais ou <strong>da</strong> energia, associan<strong>do</strong>-as a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> escala de tempo.L8. Compreender e fazer uso apropria<strong>do</strong> de escalas, ao realizar, medir ou fazer representações.L9. Reconhecer modelos explicativos de diferentes épocas sobre a natureza <strong>do</strong>s materiaise suas transformações.L10. Construir uma visão sistematiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s diferentes linguagens e campos de estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>Química, estabelecen<strong>do</strong> conexões entre seus diferentes temas e conteú<strong>do</strong>s.L11. Adquirir uma compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> qual a Química é parte integrante, através<strong>do</strong>s problemas que ela consegue resolver e <strong>do</strong>s fenômenos que podem ser descritos porseus conceitos e modelos.L12. Identificar a presença <strong>do</strong> conhecimento químico na cultura humana contemporânea,em diferentes âmbitos e setores.Referencial Curricular 4.indd 111 25/8/2009 11:10:44


112CompetênciasbásicasEscreverResolverProblemasCompetências específicasE1. Descrever fenômenos, substâncias, materiais, proprie<strong>da</strong>des e eventos químicos, emlinguagem científica, relacionan<strong>do</strong>-os a descrições na linguagem corrente.E2. Elaborar e sistematizar comunicações descritivas e analíticas pertinentes a eventosquímicos, utilizan<strong>do</strong> linguagem científica.E3. Articular, integrar e sistematizar o conhecimento químico e o de outras áreas no enfrentamentode situações-problema.E4. Selecionar e fazer uso apropria<strong>do</strong> de diferentes linguagens e formas de representação,como esquemas, diagramas, tabelas, gráfico, traduzin<strong>do</strong> umas nas outras.RP1. Consultar e pesquisar diferentes fontes de informação para propor alternativas de soluçãode problemas que tenham relação com a Química, argumentan<strong>do</strong> e apresentan<strong>do</strong>razões e justificativas, por exemplo: em uma discussão sobre o lixo, apresentar argumentoscontra ou a favor <strong>da</strong> incineração, acumulação em aterro e reciclagem.RP2. Da<strong>da</strong> uma situação-problema, envolven<strong>do</strong> diferentes <strong>da</strong><strong>do</strong>s de natureza química,identificar as informações relevantes e os procedimentos e estratégias adequa<strong>da</strong>s parasolucioná-la (por exemplo, avaliar a viabili<strong>da</strong>de de uma fonte de água para consumo<strong>do</strong>méstico, como recurso hidromineral, e refrigeração na indústria).RP3. Selecionar e utilizar materiais e equipamentos adequa<strong>do</strong>s para fazer medi<strong>da</strong>s, cálculose realizar experimentos. Fazer previsões e estimativas de quanti<strong>da</strong>des e suas variaçõespara os resulta<strong>do</strong>s de medi<strong>da</strong>s.RP4. Elaborar e utilizar modelos científicos que modifiquem as explicações <strong>do</strong> senso comum.Reconhecer, nas limitações de um modelo explicativo, a necessi<strong>da</strong>de de alterá-lo.RP5. Reconhecer e compreender a Ciência e a tecnologia química como criação humana,portanto inseri<strong>da</strong>s na história e na socie<strong>da</strong>de em diferentes épocas. Perceber a complexarelação entre Ciência, tecnologia e ambiente ao longo <strong>da</strong> história.RP6. Compreender e avaliar a Ciência e tecnologia química sob o ponto de vista éticopara exercer a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia com responsabili<strong>da</strong>de, integri<strong>da</strong>de e respeito.Temas estrutura<strong>do</strong>resA Química estrutura-se como um conhecimentoque se estabelece mediante relaçõescomplexas e dinâmicas que envolvem umtripé bastante específico, em seus três eixosconstitutivos fun<strong>da</strong>mentais: Constituição,Proprie<strong>da</strong>des e Transformações <strong>da</strong> Matéria.Com relação a estes temas, o objetivo a seralcança<strong>do</strong> no ensino médio, através <strong>da</strong> educaçãoem Química é construir uma ponteentre o percebi<strong>do</strong> e o imagina<strong>do</strong>. Portanto,a Química deveria subsidiar entendimentosuficiente <strong>da</strong> estrutura química e <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>desquímicas para capacitar o estu<strong>da</strong>ntea entender a constituição material presentenas coisas vivas e nas inanima<strong>da</strong>s. Segun<strong>do</strong>,Mortimer e colabora<strong>do</strong>res (2000),O conhecimento <strong>da</strong>s substâncias e <strong>do</strong>s materiaisdiz respeito a suas proprie<strong>da</strong>des, tais como dureza,ductibili<strong>da</strong>de, temperaturas de fusão e ebulição,solubili<strong>da</strong>de, densi<strong>da</strong>de e outras passíveis de seremmedi<strong>da</strong>s e que possuem uma relação direta com ouso que se faz <strong>do</strong>s materiais. No senti<strong>do</strong> de compreenderos comportamentos <strong>do</strong>s materiais, algunsconhecimentos químicos são fun<strong>da</strong>mentais: aquelesque envolvem os diversos modelos que constituemo mun<strong>do</strong> atômico-molecular, as propostaspara conceber a organização e as interações entreátomos, íons e moléculas. Esses conhecimentosoferecem subsídios importantes para a compreensão,o planejamento, a execução <strong>da</strong>s transformações<strong>do</strong>s materiais. Estabelecer inter-relaçõesentre esses três aspectos nos parece fun<strong>da</strong>mentalpara que se possa compreender vários tópicos deconteú<strong>do</strong> químico. (p. 276)Os temas estrutura<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Química estãointegra<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se busca compreendera ocorrência de fenômenos que envolvemdiferentes sistemas materiais, caracteriza<strong>do</strong>se identifica<strong>do</strong>s por suas proprie<strong>da</strong>desfísicas e químicas, cuja regulari<strong>da</strong>de permitetal identificação, além de evidenciar as trans-Referencial Curricular 4.indd 112 25/8/2009 11:10:44


formações que ocorrem nestes sistemas, emtermos de massa e energia. Alguns estu<strong>do</strong>srealiza<strong>do</strong>s utilizam critérios de semelhança ediferença entre reagentes e produtos, entresubstâncias com fórmulas químicas identifica<strong>da</strong>s,ou conformação espacial. Há situaçõesnas quais o tipo de interação que ocorre naformação <strong>da</strong> substância e nas relações quese configuram entre elas é determinante <strong>da</strong>scaracterísticas <strong>do</strong> sistema, por exemplo, aágua ser um líqui<strong>do</strong> a temperatura ambientede 25ºC. Em qualquer situação, propomosmodelos explicativos para construir argumentosque permitam um entendimento sobre oque estamos vivencian<strong>do</strong>, pelo uso de nossossenti<strong>do</strong>s a nível macroscópico, numa dimensãosubmicroscópica ou atômico-molecular,exigin<strong>do</strong> para tal uma transposição <strong>do</strong> concretopara o abstrato, como no caso <strong>da</strong> águaque utiliza o modelo de ligação intermolecularpor pontes de hidrogênio para justificar aocorrência <strong>da</strong> água no esta<strong>do</strong> físico líqui<strong>do</strong> atemperatura ambiente.Conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentaisrelaciona<strong>do</strong>s aos temas econceitos estruturantesOs conteú<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentais possibilitamaos estu<strong>da</strong>ntes estabelecerem mais conexõesentre conceitos, ideias e fenômenos,funcionan<strong>do</strong> como organiza<strong>do</strong>res e sintentiza<strong>do</strong>resde saberes. Para a Química <strong>do</strong>ensino médio, os conceitos considera<strong>do</strong>scentrais e recomen<strong>da</strong><strong>do</strong>s como conteú<strong>do</strong>scurriculares são:- atomismo – uni<strong>da</strong>des constitutivas <strong>da</strong>matéria: átomos, moléculas e íons;- ligação química – como essas uni<strong>da</strong>desestão liga<strong>da</strong>s em materiais macroscópicos,como cristais e metais;- geometria molecular – a interpretaçãogeométrica <strong>do</strong> arranjo tridimensional dessasligações;- reações químicas – formação e transformação<strong>do</strong>s materiais;- teoria cinética – descrição <strong>do</strong>s movimentos<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des constituintes, incluin<strong>do</strong>os relaciona<strong>do</strong>s a sua formação;- termodinâmica – a energia é parteconstituinte necessária <strong>da</strong>s descrições e <strong>da</strong>sexplicações <strong>da</strong>s transformações químicas.Tais conteú<strong>do</strong>s não devem ser trabalha<strong>do</strong>sisola<strong>do</strong>s uns <strong>do</strong>s outros, mas sim relaciona<strong>do</strong>sentre si e com as competências básicasapresenta<strong>da</strong>s anteriormente. É claro que estainter-relação gera habili<strong>da</strong>des com níveis deformulação diferentes – algumas mais simplese fun<strong>da</strong>mentais, outras mais elabora<strong>da</strong>se complexas – por isso recomen<strong>da</strong>-se quesejam abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s em distintos momentos <strong>do</strong>ensino médio ou ao longo <strong>do</strong>s três anos. Osquadros a seguir apresentam uma síntesedestas habili<strong>da</strong>des que devem ser desenvolvi<strong>da</strong>sdurante to<strong>do</strong> o ensino médio (Quadro 2)e prioriza<strong>da</strong>s nos 1º, 2º e 3º anos (Quadros3, 4 e 5, respectivamente).113 113Referencial Curricular 4.indd 113 25/8/2009 11:10:44


114Competências / habili<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s aos temas estrutura<strong>do</strong>res no ensino de QuímicaTemasestrutura<strong>do</strong>resProprie<strong>da</strong>des1º, 2º e 3º anos <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L1) Classificar substâncias e misturas de substâncias pela análise de suas proprie<strong>da</strong>desfísicas e químicas.- (L2) Reconhecer uni<strong>da</strong>des de medi<strong>da</strong> usa<strong>da</strong>s para diferentes grandezas, como massa,energia, tempo, volume, densi<strong>da</strong>de, concentração de soluções.- (L3) Identificar proprie<strong>da</strong>des elétricas de substâncias pelo uso <strong>da</strong> tabela periódica e depotenciais de redução.- (L4) Analisar textos de revistas de divulgação científica, identifican<strong>do</strong> conceitos fun<strong>da</strong>mentais<strong>da</strong> Química.- (L7) Identificar as transformações químicas por meio <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s substâncias.- (L12) Reconhecer que as aplicações tecnológicas <strong>da</strong>s substâncias e materiais estãorelaciona<strong>da</strong>s às suas proprie<strong>da</strong>des.TransformaçõesConstituição- (L2) Identificar a ocorrência de uma transformação <strong>da</strong> matéria, pela análise <strong>da</strong> variaçãode suas proprie<strong>da</strong>des físicas e químicas.- (L4) Analisar textos de revistas científicas com vista a construir modelos de reaçõesquímicas.- (L5) Reconhecer e compreender as proprie<strong>da</strong>des químicas como efervescência, fermentação,combustão, oxi<strong>da</strong>ção, corrosão, toxidez, degra<strong>da</strong>bili<strong>da</strong>de, polimerização,acidez, neutrali<strong>da</strong>de e alcalini<strong>da</strong>de.- (L6) Compreender o conceito de calor e sua relação com as transformações químicas.- (L7) Identificar a produção de energia térmica e elétrica em transformações químicas enucleares (fissão e fusão).- (L9) Utilizar recortes de contextos históricos <strong>da</strong> Química para compreender o conceitode afini<strong>da</strong>de química.- (L9) Comparar o contexto histórico <strong>da</strong> alquimia com o <strong>da</strong> química moderna.- (L10) Sistematizar o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s reações químicas de compostos inorgânicos e orgânicos.- (L11) Analisar as contribuições <strong>do</strong> conhecimento químico para minimizar o impactoambiental de resíduos produzi<strong>do</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des humanas.- (L12) Identificar processos químicos em aplicações tecnológicas na produção de artefatosde uso <strong>do</strong>méstico.- (E2) Organizar uma apresentação oral sobre situações reais, como, por exemplo, aformação de chuva áci<strong>da</strong> e seus efeitos sobre o meio ambiente.- (E3) Avaliar informações em veículos de comunicação escrita sobre situações reais,como, por exemplo, a magnitude <strong>do</strong> problema aquecimento global.- (E4) Compreender e representar os códigos, os símbolos e as expressões próprios <strong>da</strong>stransformações químicas e nucleares (reversibili<strong>da</strong>de, catalisa<strong>do</strong>r, aquecimento, entalpia).- (RP5) Identificar e relacionar aspectos físicos, químicos e biológicos em estu<strong>do</strong>s sobrea composição, poluição e tratamento <strong>da</strong>s águas com aspectos sociais, econômicos eambientais.- (RP6) Analisar aspectos positivos e negativos <strong>da</strong> utilização de substâncias químicas,como CFCs, Insetici<strong>da</strong>s e agrotóxicos, aditivos nos alimentos, medicamentos.- (L1) Reconhecer a associação entre nomenclatura de substâncias com a organizaçãode seus constituintes.- (L2) Relacionar a identi<strong>da</strong>de atômico-molecular <strong>da</strong>s substâncias com suas proprie<strong>da</strong>desfísicas e químicas.- (L2) Identificar alterações na estrutura atômico-molecular <strong>da</strong>s substâncias em processode transformação.- (L3) Identificar e compreender o significa<strong>do</strong> de informações sobre os elementos naReferencial Curricular 4.indd 114 25/8/2009 11:10:45


Temasestrutura<strong>do</strong>resCompetências / habili<strong>da</strong>destabela periódica (grupo, família, classificação em metais, não metais e gases nobres,número atômico, massa atômica, configuração eletrônica).- (L3) Interpretar a linguagem simbólica <strong>da</strong> Química, compreenden<strong>do</strong> seu significa<strong>do</strong> emtermos microscópicos.- (L9) Compreender as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s substâncias e <strong>do</strong>s materiais em função <strong>da</strong>s interaçõesentre átomos, moléculas ou íons.- (E4) Construir modelos concretos para representar moléculas e fazer representações <strong>do</strong>tipo lápis-papel <strong>da</strong>s mesmas.- (RP1) Propor modelos para explicar as transformações químicas ocorri<strong>da</strong>s nas substâncias,durante o processamento <strong>do</strong> lixo nas três mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de tratamento quanto a:estrutura molecular, ligações intra e intermoleculares.115 115Temasestrutura<strong>do</strong>resProprie<strong>da</strong>desTransformações1º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L1) Identificar e classificar as substâncias por suas características macroscópicas (proprie<strong>da</strong>desfísicas).- (L2) Compreender o conceito de densi<strong>da</strong>de e solubili<strong>da</strong>de e a sua dependência com atemperatura e com a natureza <strong>do</strong> material.- (L2) Compreender o significa<strong>do</strong> matemático <strong>da</strong> composição de materiais e <strong>da</strong> concentraçãoem massa e em quanti<strong>da</strong>de de matéria de soluções.- (L5) Reconhecer a condutivi<strong>da</strong>de elétrica e térmica de substâncias e materiais.- (L6) Compreender a relação massa-energia em processos que envolvem mu<strong>da</strong>nça deesta<strong>do</strong> físico <strong>da</strong> matéria.- (L8) Determinar experimentalmente o comportamento <strong>da</strong> temperatura, de uma substânciasimples e de uma mistura de substâncias, em função <strong>do</strong> tempo de aquecimento.- (L11) Realizar um estu<strong>do</strong> comparativo entre as proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s materiais e sua utili<strong>da</strong>deno cotidiano.- (E1) Caracterizar substâncias pela descrição de algumas de suas proprie<strong>da</strong>des físicas.- (E1) Construir argumentos para diferenciar substâncias de materiais.- (E3) Verificar experimentalmente as especificações comerciais de massa, volume, elastici<strong>da</strong>de,porosi<strong>da</strong>de de preservativos.- (RP1) Utilizar as proprie<strong>da</strong>des físicas e químicas para propor processos de separaçãode substâncias constituintes de misturas de origem <strong>do</strong>méstica e industrial, por exemplo,realizar análises <strong>da</strong>s relações de quanti<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s diferentes constituintes <strong>do</strong> lixo.- (RP2) Determinar experimentalmente algumas proprie<strong>da</strong>des físicas <strong>da</strong>s amostras deágua, como cor, densi<strong>da</strong>de, PF e PE, pH; consultar tabelas com a composição químicae concentração de substâncias presentes nos diferentes tipos de água em função <strong>da</strong>procedência/fonte.- (RP3) Verificar em diferentes amostras de água se esta é uma substância ou uma misturade substâncias.- (RP4) Analisar as variações de densi<strong>da</strong>de em diferentes tipos de leite, integral, semiintegral,desnata<strong>do</strong>, com adição de cálcio.- (L9) Compreender a transformação química como resultante de “quebra” e formaçãode ligações químicas.- (E1) Identificar e descrever as modificações macroscópicas <strong>da</strong>s substâncias que permitamidentificar a ocorrência de uma reação química.- (RP2) Explicar as variações de pH em função <strong>da</strong> dissolução de substâncias nas amostrassob estu<strong>do</strong>; analisar os processos de tratamento de água potável e para fins de utilizaçãona indústria.Referencial Curricular 4.indd 115 25/8/2009 11:10:45


116Temasestrutura<strong>do</strong>resConstituição1º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (RP5) Explicar a ocorrência de uma reação química usan<strong>do</strong> conhecimentos provenientes<strong>da</strong> alquimia, <strong>da</strong> teoria <strong>do</strong> Flogisto, e de Lavoisier.- (L3) Interpretar a periodici<strong>da</strong>de de proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s átomos e de substâncias em termos<strong>da</strong>s configurações eletrônicas <strong>do</strong>s átomos <strong>do</strong>s elementos químicos.- (L3) Reconhecer a lei periódica para algumas proprie<strong>da</strong>des como raio atômico e eletronegativi<strong>da</strong>de.- (L5) Compreender a relação entre o calor envolvi<strong>do</strong> nas transformações químicas e asmassas de reagentes e produtos.- (L7) Elaborar um modelo atômico-molecular para explicar as leis <strong>da</strong>s combinações químicas.- (L9) Compreender a natureza elétrica e particula<strong>da</strong> <strong>da</strong> matéria.- (L9) Compreender o modelo atômico de Rutherford-Bohr.- (L9) Compreender as ligações químicas como resultantes <strong>da</strong>s interações eletrostáticas.que associam átomos e moléculas para <strong>da</strong>r às moléculas resultantes maior estabili<strong>da</strong>de.- (L9) Compreender a maior estabili<strong>da</strong>de de átomos de certos elementos químicos e <strong>da</strong>maior interativi<strong>da</strong>de de outros, em função <strong>da</strong> configuração eletrônica.- (L9) Compreender diferentes modelos para explicar o comportamento áci<strong>do</strong>-base <strong>da</strong>ssubstâncias.- (L10) Compreender os argumentos/conhecimentos que permitiram sustentar a explicação<strong>da</strong> proposição <strong>do</strong>s modelos atômicos de Dalton, Thomson, Rutherford e Bohr.- (E1) Comparar as semelhanças e diferenças nos modelos atômicos de Rutherford e Bohr- (E2) Construir modelos explicativos <strong>da</strong> formação de soluções iônicas e molecularesusan<strong>do</strong> lápis e papel.- (E3) Identificar as principais diferenças na composição química <strong>do</strong> leite e seus deriva<strong>do</strong>s- (RP2) Analisar a estrutura molecular <strong>da</strong> água, tipo de ligações e geometria, e justificaros valores de PF e PE e a solubilização de diferentes grupos de substâncias presentesnas amostras de água.Temasestrutura<strong>do</strong>resProprie<strong>da</strong>desTransformações2º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L2) Compreender o conceito de temperatura de ebulição e fusão e suas relações com a pressãoatmosférica, a natureza <strong>da</strong>s substâncias e a presença de solutos dispersos em seu meio.- (L10) Identificar e diferenciar compostos orgânicos pelo estu<strong>do</strong> comparativo de suasproprie<strong>da</strong>des físicas e químicas.- (E1) Construir argumentos para diferenciar solução, coloide e agrega<strong>do</strong>.- (E4) Cálculo de concentrações em massa de soluções prepara<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> massade um soluto e <strong>da</strong> diluição de soluções.- (RP6) Realizar debate sobre fontes de energia e suas implicações de ordem econômica,social e ambiental.- (L2) Realizar cálculos estequiométricos nos sistemas materiais em transformação.- (L3) Compreender o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> coeficiente estequiométrico.- (L6) Compreender de forma qualitativa o conceito de entalpia e entropia.- (L6) Compreender o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aplicações <strong>da</strong> primeira e segun<strong>da</strong> leis <strong>da</strong> termodinâmicano estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s transformações químicas.- (L7) Identificar formas de variação de energia nas transformações químicas.- (E3) Avaliar informações em veículos de comunicação escrita sobre a magnitude <strong>do</strong>problema aquecimento global.Referencial Curricular 4.indd 116 25/8/2009 11:10:45


Temasestrutura<strong>do</strong>resConstituição2º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L5) Compreender a entalpia de reação como resultante <strong>do</strong> balanço energético advin<strong>do</strong>de formação e ruptura de ligações químicas.- (L6) Propor um modelo cinético-molecular para explicar as variações de energia nosprocessos de dissolução de solutos em água, na ocorrência de reação en<strong>do</strong> e exotérmicas,e na formação de compostos iônicos.- (L7) Calcular o valor <strong>da</strong> variação de entalpia de uma reação a partir <strong>da</strong>s energiasde ligação.- (L9) Compreensão <strong>da</strong> energia envolvi<strong>da</strong> na formação e na “quebra” de ligações químicas.- (E1) Representar em gráficos as variações de energia em reações en<strong>do</strong> e exotérmicas.- (RP3) Obter e organizar informações sobre a composição química, entalpia de combustão,valor de ven<strong>da</strong>, produtos de combustão <strong>do</strong>s diversos combustíveis automotivos,e tomar decisão sobre preferência de utilização.- (RP4) Explicar a ocorrência de uma reação química utilizan<strong>do</strong> a teoria <strong>da</strong>s colisões e acinético-molecular.117 117Temasestrutura<strong>do</strong>resProprie<strong>da</strong>desTransformações3º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L3) Interpretar/analisar a representação gráfica <strong>do</strong> comportamento de sistemas materiaisem transformação quanto aos aspectos cinéticos e termodinâmicos.- (L3) Analisar a representação gráfica <strong>da</strong> variação <strong>da</strong> concentração de reagentes eprodutos em sistemas materiais em esta<strong>do</strong> de equilíbrio.- (RP6) Realizar debate sobre fontes de energia e suas implicações de ordem econômica,social e ambiental.- (L3) Compreender o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> expressão matemática de constante de equilíbrioquímico.- (L6) Identificar variáveis que podem modificar a rapidez de uma transformação química(concentração, temperatura, pressão, esta<strong>do</strong> de agregação, catalisa<strong>do</strong>r).- (L6) Compreender de forma qualitativa o conceito de potenciais-padrões de eletro<strong>do</strong>.- (L6) Reconhecer que, em certas transformações químicas, há coexistência de reagentese produtos (esta<strong>do</strong> de equilíbrio químico, extensão <strong>da</strong> transformação).- (L6) Identificar variáveis que perturbam o esta<strong>do</strong> de equilíbrio químico.- (L7) Reconhecer e identificar transformações químicas que ocorrem em diferentes intervalosde tempo.- (L8) Compreender o conceito de pH e interpretar sua representação/expressãoquantitativa.- (E1) Descrever transformações que ocorrem nas substâncias presentes em processoseletroquímicos.- (E3) Avaliar informações em veículos de comunicação escritas sobre a magnitude <strong>do</strong>problema aquecimento global.- (RP3) Determinar experimentalmente a influência de fatores como concentração, temperaturae superfície de contato, sobre a veloci<strong>da</strong>de de uma reação - de um comprimi<strong>do</strong>antiáci<strong>do</strong>, por exemplo.- (RP4) Escrever fórmulas químicas de substâncias, usan<strong>do</strong> o número de oxi<strong>da</strong>ção; escreverequações químicas, envolven<strong>do</strong> estas substâncias em processos de oxirredução.- (L5) Compreender a relação entre energia elétrica produzi<strong>da</strong> e consumi<strong>da</strong> na transformaçãoquímica e os processos de oxi<strong>da</strong>ção e redução.Referencial Curricular 4.indd 117 25/8/2009 11:10:45


118Temasestrutura<strong>do</strong>resConstituição3º ano <strong>do</strong> ensino médioCompetências / habili<strong>da</strong>des- (L8) Realizar a eletrólise <strong>da</strong> água, medin<strong>do</strong> o volume de gases produzi<strong>do</strong>s em função<strong>do</strong> tempo, e justificar a composição química estequiométrica <strong>da</strong> água.- (L9) Compreender os processos de oxi<strong>da</strong>ção e redução a partir <strong>da</strong>s ideias de estrutura<strong>da</strong> matéria.- (L9) Reconhecer o modelo quântico <strong>do</strong> átomo como interpretação <strong>do</strong> comportamento<strong>da</strong>s partículas atômicas a partir de leis <strong>da</strong> Física moderna fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s em princípiosdiferentes <strong>do</strong>s previstos pela Física clássica.- (RP4) Explicar a ocorrência de uma reação química, utilizan<strong>do</strong> a teoria <strong>da</strong>s colisões ea cinético-molecular.Estratégias para açãoA formação para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia requer nãoapenas a definição de competências e conteú<strong>do</strong>srelevantes, mas também uma orientaçãocom respeito à meto<strong>do</strong>logia de ensinoe ao processo avaliativo. De mo<strong>do</strong> coerentecom as propostas estabeleci<strong>da</strong>s neste e emoutros <strong>do</strong>cumentos de referência – comoos Parâmetros Curriculares Nacionais e asOrientações Curriculares Nacionais para oensino médio –, uma meto<strong>do</strong>logia de ensinode Química que tenha por objetivo a formaçãode ci<strong>da</strong>dãos deve propiciar ao alunoum espaço de convivência através <strong>do</strong> qualele possa se apropriar e utilizar o conhecimentoquímico no desenvolvimento de habili<strong>da</strong>desbásicas para viver em socie<strong>da</strong>de.Neste senti<strong>do</strong>, um <strong>do</strong>s aspectos que deveser considera<strong>do</strong> é a contextualização <strong>do</strong> conhecimentoquímico, que se traduz na vinculação<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s às dimensões social,política, econômica, cultural e ambiental.Como proposta nas Orientações CurricularesNacionais para o ensino médio (BRASIL:2006), esta contextualização:Poderá ser constituí<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gemde temas sociais e situações reais de formadinamicamente articula<strong>da</strong>, que possibilitem adiscussão, transversalmente aos conteú<strong>do</strong>s eaos conceitos de Química, de aspectos sociocientíficosconcernentes a questões ambientais,econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas.A discussão de aspectos sociocientíficosarticula<strong>da</strong>mente aos conteú<strong>do</strong>s químicos e aoscontextos é fun<strong>da</strong>mental, pois propicia que osalunos compreen<strong>da</strong>m o mun<strong>do</strong> social em queestão inseri<strong>do</strong>s e desenvolvam a capaci<strong>da</strong>dede toma<strong>da</strong> de decisão com maior responsabili<strong>da</strong>de,na quali<strong>da</strong>de de ci<strong>da</strong>dãos, sobre questõesrelativas à Química e à Tecnologia, e desenvolvamtambém atitudes e valores comprometi<strong>do</strong>scom a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia planetária em busca<strong>da</strong> preservação ambiental e <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des econômicas, sociais, culturais eétnicas. (p. 119)A abor<strong>da</strong>gem de temas sociais e desituações reais não deve ser trata<strong>da</strong> comoalgo desconecta<strong>do</strong> <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, usa<strong>da</strong>apenas com o intuito de exemplificá-lo oude motivar o aluno. Em vez de, os temas esituações, trazi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cotidiano ou cria<strong>do</strong>sna sala de aula por meio <strong>da</strong> experimentação,devem ser efetivamente articula<strong>do</strong>scom os conhecimentos químicos, de mo<strong>do</strong> a<strong>da</strong>r a perceber a relevância destes na compreensão<strong>do</strong>s fenômenos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana.Para tanto, é importante planejar uma sequênciade ativi<strong>da</strong>des, na qual o aluno partade questões concretas para estabelecerrelações abstratas entre os conceitos e osconteú<strong>do</strong>s presentes nas ativi<strong>da</strong>des.Para favorecer a construção <strong>do</strong> conhecimentoem Química, sugere-se partir <strong>da</strong>sexperiências e concepções <strong>do</strong>s alunos sobreo mun<strong>do</strong> macroscópico e <strong>da</strong>í seguir para aproposição de modelos explicativos em nívelmicroscópico. O estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ligações químicas,por exemplo, pode ser inicia<strong>do</strong> com aidentificação de proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s substâncias(como solubili<strong>da</strong>de, condutibili<strong>da</strong>deelétrica, pontos de fusão e ebulição, entreReferencial Curricular 4.indd 118 25/8/2009 11:10:45


outras) e agrupamento destas por semelhançase diferenças – as substâncias metálicasconduzem corrente elétrica em esta<strong>do</strong>sóli<strong>do</strong>, enquanto que as substâncias iônicasconduzem corrente somente quan<strong>do</strong> fundi<strong>da</strong>sou em solução aquosa. A partir disso,é possível analisar tais proprie<strong>da</strong>des e buscarmodelos de ligação que as expliquem– como o modelo <strong>da</strong> malha de elétronspara as substâncias metálicas e o modelode ligação iônica com formação de retículoscristalinos para as substâncias iônicas. Duranteeste processo, é importante o retornoconstante ao mun<strong>do</strong> macroscópico, a fim deque os alunos possam reconhecer as relaçõesabstratas estabeleci<strong>da</strong>s na situação departi<strong>da</strong>, e utilizá-las em novas e distintas situações.Vale lembrar, ain<strong>da</strong>, que esta sequêncianão deve ser rígi<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mentallevar em consideração os conhecimentosprévios e os interesses <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.A experimentação é essencial para o desenvolvimento<strong>do</strong> pensamento químico, poisé através dela que o aluno pode perceber asrelações entre reali<strong>da</strong>de e teoria, passan<strong>do</strong>a <strong>da</strong>r senti<strong>do</strong> à componente abstrata <strong>do</strong> conhecimentoquímico, reduzin<strong>do</strong> o risco de tomarpor “reais” as fórmulas <strong>da</strong>s substâncias,as equações químicas e os modelos para amatéria. Logo, como afirmam Mortimer e colabora<strong>do</strong>res(2000), nesta proposta:O conceito de fenômeno e de experimentoultrapassa a dimensão <strong>do</strong> laboratório. Ir aosupermerca<strong>do</strong>, fazer uma visita, investigar acorrosão <strong>do</strong> portão <strong>da</strong> garagem, também sãoativi<strong>da</strong>des que se caracterizam pela ação deexperienciar, vivenciar, em geral de forma sistematiza<strong>da</strong>(p. 277).Como já foi dito, o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niatambém envolve a capaci<strong>da</strong>de de toma<strong>da</strong>de decisões responsáveis diante desituações reais. Neste senti<strong>do</strong>, a resoluçãode problemas abertos favorece amplamenteo desenvolvimento <strong>da</strong>s competências básicasatravés <strong>da</strong> articulação de várias açõescomuns à prática científica, tais como adelimitação <strong>do</strong> problema, a formulação dehipóteses, entre outras.Os problemas abertos são situações relaciona<strong>da</strong>scom o cotidiano <strong>do</strong> aluno quegeram algum tipo de incerteza e para asquais não existe uma resposta única e rotineira.A questão <strong>do</strong> tipo de leite mais apropria<strong>do</strong>para crianças e adultos, a identificaçãode poluição em um arroio próximo <strong>da</strong>escola e o posicionamento frente a problemaseconômico-político-ambientais – comoo consumo de biocombustíveis em lugar decombustíveis fósseis – são alguns exemplosde problemas abertos.O trabalho com problemas abertos possibilitao desenvolvimento <strong>da</strong>s competênciasa partir <strong>da</strong> reflexão sobre os própriossaberes e <strong>da</strong> aplicação de aspectos teóricosa situações práticas específicas, aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong>o aluno a “aprender a aprender”. Em outraspalavras, a tentativa de resolver problemasabertos estimula o aluno a tomarconsciência e a refletir sobre as própriasideias, habili<strong>da</strong>des essenciais para o desenvolvimento<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de autorregulação<strong>da</strong> própria aprendizagem. Além disso,para a resolução deste tipo de problema,o aluno deverá considerar não só aspectostécnicos como também sociais, políticos,econômicos e ambientais, o que resultanuma deman<strong>da</strong> por abor<strong>da</strong>gens interdisciplinaresno ensino médio (MORTIMER e colabora<strong>do</strong>res,2000, p. 277)Na resolução de problemas abertos, ashabili<strong>da</strong>des de aceitar ambigui<strong>da</strong>des, convivercom as incertezas e refletir criticamentesobre suas ações desempenham um papelfun<strong>da</strong>mental nas toma<strong>da</strong>s de decisão, enão somente a situações liga<strong>da</strong>s à Química.A construção ativa de conhecimento ea autorregulação <strong>da</strong> aprendizagem estãoespecialmente associa<strong>da</strong>s à capaci<strong>da</strong>de deli<strong>da</strong>r com a incerteza (BOLHUIS e VOETEN,2004). Pessoas que conseguem convivercom as incertezas são motiva<strong>da</strong>s a aprendera partir de novas situações e informaçõesque sejam inconsistentes com seus conhecimentosprévios. Por outro la<strong>do</strong>, pessoasque não conseguem li<strong>da</strong>r com as incertezastendem a evitar e distorcer informações que119 119Referencial Curricular 4.indd 119 25/8/2009 11:10:45


120não coincidem com o que já conhecem.O papel <strong>do</strong> professor, dentro deste contexto,é de coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des quevão surgin<strong>do</strong> nas discussões, disponibilizan<strong>do</strong>recursos e favorecen<strong>do</strong> a participação,expressão e comunicação de to<strong>do</strong>s os alunos,fugin<strong>do</strong> assim de posturas <strong>do</strong>gmáticasque caracterizem um conhecimento absolutoe inquestionável. Desta forma, imaginaseque a tendência <strong>do</strong>s alunos à passivi<strong>da</strong>depode ser supera<strong>da</strong>, já que são livres paramanifestar-se em classe.Para favorecer a participação ativa <strong>do</strong>aluno, o professor precisa tomar consciência<strong>da</strong>s ideias <strong>do</strong>s alunos, o que significa escutá-las.Contu<strong>do</strong>, este escutar vai além decompreender a semântica de suas palavras;envolve tomar as ideias <strong>do</strong>s alunos comováli<strong>da</strong>s, isto é, considerá-las como coerentesdesde a compreensão deles. Quan<strong>do</strong> osescutamos assim, é gera<strong>do</strong> um espaço deconversação reflexiva e libera<strong>do</strong>ra, possibilitan<strong>do</strong>uma convivência respeitosa e colaborativa.Por isso, é importante criar espaços deconvivência nos quais os estu<strong>da</strong>ntes nãose sintam temerosos em ser nega<strong>do</strong>s pelasdificul<strong>da</strong>des ou pelas ideias que possam ter(mesmo que erra<strong>da</strong>s desde a compreensão<strong>do</strong> professor). Neste senti<strong>do</strong>, o ato decorrigir passa a ser não mais um apontar oerro <strong>do</strong> aluno, mas um questionar sua ideia,buscan<strong>do</strong> com que ele próprio perceba avali<strong>da</strong>de desta dentro <strong>do</strong> espaço reflexivono qual ele e o professor estão atuan<strong>do</strong>.Corrigir, portanto, passa a ser convi<strong>da</strong>r aum olhar que permite ver o fato e em qual<strong>do</strong>mínio o fato não é o espera<strong>do</strong> e por que éum erro (MATURANA, 2002, p. 142).Para melhor compreender o papel <strong>do</strong>professor na sala de aula, vale recorrera uma metáfora <strong>do</strong>s viajantes: Quan<strong>do</strong>saímos para conhecer algum lugar novo, econtamos com um parceiro de viagem maisexperiente, acompanhamos este amigo confiantes,mesmo que ele também não conheçao lugar a ser visita<strong>do</strong>. O amigo mais “viaja<strong>do</strong>”,por ser mais experiente, a<strong>da</strong>pta-se aocaminho e nos leva com ele, mas não nosguia, porque, afinal, também não conheceo caminho. Do mesmo mo<strong>do</strong>, o professorque se propõe a trabalhar com problemasabertos atua não como um guia, com umplano predetermina<strong>do</strong> sobre o caminho porele escolhi<strong>do</strong>, mas como um parceiro deviagem que convi<strong>da</strong> o estu<strong>da</strong>nte a conhecerum <strong>do</strong>mínio explicativo diferente – o <strong>da</strong>Química –, e o acompanha em um caminhoque eles vão trilhan<strong>do</strong> juntos, com a diferençaque o professor tem mais experiência em“viagens”.Um processo avaliativo coerente com aproposta apresenta<strong>da</strong> até o momento deveser processual e formativo. Para Ibañes eGómez (2005), a avaliação formativa objetivaque a regulação <strong>da</strong> aprendizagem seja,de forma progressiva, responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>salunos. A autorregulação <strong>da</strong> aprendizagemimplica que o aluno aceite e perceba os próprioserros como oportuni<strong>da</strong>des legítimas demu<strong>da</strong>nça, ou seja, de aprendizagem. Uma<strong>da</strong>s estratégias possíveis de ensinar os alunosa se autorregularem é propor uma autoavaliaçãoatravés <strong>da</strong> comparação <strong>da</strong>s própriasproduções em várias etapas <strong>da</strong> formação.Esta comparação também pode ser utiliza<strong>da</strong>pelo professor para identificar a evolução<strong>da</strong>s ideias <strong>do</strong>s alunos (avaliação processual),reconhecen<strong>do</strong> avanços e obstáculos noprocesso de aprendizagem, como forma derealizar uma avaliação diagnóstica.A autorregulação <strong>da</strong> aprendizagem podeser estimula<strong>da</strong>, também, através de umaproposta de avaliação entre iguais, através<strong>da</strong> qual o estu<strong>da</strong>nte compara sua produçãoindividual com as de seus companheiros ereconhece mais facilmente seus erros. Alémdisso, a comparação <strong>da</strong>s produções individuaisentre os alunos (que pode ser realiza<strong>da</strong>em pequenos grupos) promove a discussão,o questionamento e a explicitação,propician<strong>do</strong> o conhecimento <strong>da</strong>s diferentesformas possíveis de ver, explicar e entenderum determina<strong>do</strong> fenômeno.O quadro a seguir resume as sugestõesde estratégias apresenta<strong>da</strong>s acima:Referencial Curricular 4.indd 120 25/8/2009 11:10:45


Estratégias para ação – Química – ensino médio- Contextualização <strong>do</strong> conhecimento químico, através <strong>da</strong> vinculação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s às dimensõessocial, política, econômica, cultural e ambiental.- Elaboração de ativi<strong>da</strong>des em uma sequência flexível que considere as ideias e os interesses <strong>do</strong>salunos.- Partir <strong>da</strong>s experiências e concepções <strong>do</strong>s alunos sobre o mun<strong>do</strong> macroscópico, para entãoseguir para a proposição de modelos explicativos em nível microscópico.- Retorno constante ao mun<strong>do</strong> macroscópico, a fim de que os alunos possam reconhecer as relaçõesabstratas estabeleci<strong>da</strong>s na situação de parti<strong>da</strong> e utilizá-las em novas e distintas situações.- A experimentação é essencial para o desenvolvimento <strong>do</strong> pensamento químico, e não se restringe aoespaço <strong>do</strong> laboratório.- Resolução de problemas abertos: situações relaciona<strong>da</strong>s com o cotidiano <strong>do</strong> aluno que geram algumtipo de incerteza e para as quais não existe uma resposta única e rotineira.- O papel <strong>do</strong> professor é de coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que vão surgin<strong>do</strong> nas discussões, disponibilizan<strong>do</strong>recursos e favorecen<strong>do</strong> a participação, expressão e comunicação de to<strong>do</strong>s os alunos.- Criar espaços de convivência nos quais os estu<strong>da</strong>ntes se sintam seguros para expressar as própriasideias e dúvi<strong>da</strong>s.- Corrigir passa a ser entendi<strong>do</strong> como questionar a ideia <strong>do</strong> aluno, buscan<strong>do</strong> com que ele próprioperceba a vali<strong>da</strong>de desta.- Processo avaliativo:a) processual: comparação <strong>da</strong>s produções de ca<strong>da</strong> aluno para identificar a evolução <strong>da</strong>s ideias;b) diagnóstico: reconhecimento <strong>do</strong>s avanços e obstáculos no processo de aprendizagem, através <strong>da</strong> comparação<strong>da</strong>s produções <strong>do</strong>s alunos ao longo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des;c) formativo: autoavaliação através <strong>da</strong> comparação <strong>da</strong>s próprias produções <strong>do</strong> aluno em várias etapas <strong>da</strong>formação, objetivan<strong>do</strong> o desenvolvimento <strong>da</strong> autorregulação <strong>da</strong> aprendizagem;d) avaliação entre iguais, na qual o estu<strong>da</strong>nte pode comparar sua produção individual com as de seus companheiros,e reconhecer mais facilmente seus erros: promove a explicitação, a discussão e o questionamento<strong>da</strong>s ideias.121 121ReferênciasBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EnsinoBásico. Orientações curriculares para o ensino médio:ciências <strong>da</strong> natureza, matemática e suas tecnologias.Brasília, 2006.______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria de EnsinoBásico. PCN + ensino médio: orientações educacionaiscomplementares aos parâmetros curricularesnacionais – ciências <strong>da</strong> natureza, matemática e suastecnologias. Brasília, 2002.BOLHUIS, S.; VOETEN, M. J. M. Teachers’ conceptionsof students learning and own learning. Teachers and Teaching:theory and practice, v. 10, n.1, 2004, p. 77-98.IBAÑEZ, V. E.; GÓMEZ, I. La interacción y la regulaciónde los procesos de enseñanza-aprendizaje en la clasede ciencias: análisis de una experiencia. Enseñanza dela Ciencias, v. 10, n. 1, 2005. p. 97-110.LIMA, M. M. C. C.; BARBOZA, L. C. Ideias estrutura<strong>do</strong>ras<strong>do</strong> pensamento químico: uma contribuição ao debate.Química Nova na Escola, v. 21, 2005. p. 39-43.LOCH, J. M. P. Avaliação – uma perspectiva emancipatória.Química Nova na Escola, v. 12, 2000. p. 30-33.MATURANA, H. Transformación en la convivencia.Santiago de Chile: Dolmen, 2002.MORTIMER, E. F.; MACHADO, A. H.; ROMANELLI,L. I. A proposta curricular de química <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> deMinas Gerais: fun<strong>da</strong>mentos e pressupostos. QuímicaNova, v. 23, n. 2, 2000. p. 273-283.POZO, J.I.; CRESPO, M.A. Aprender y enseñar ciencia.Madrid: Morata, 2000.SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análisede pressupostos teóricos <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem C-T-S (Ciência– Tecnologia – Socie<strong>da</strong>de) no contexto <strong>da</strong>educação brasileira. Ensaio – Pesquisa em Educaçãoem Ciências, Belo Horizonte, v. 2, n. 2, 2002,p. 1-23.SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Função social –o que significa ensino de química para formar o ci<strong>da</strong>dão?Química Nova na Escola, v. 4, 1996, p. 28-34.Referencial Curricular 4.indd 121 25/8/2009 11:10:45


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