24A interdisciplinari<strong>da</strong>de acontece naturalmentese houver sensibili<strong>da</strong>de para o contexto,mas sua prática e sistematização deman<strong>da</strong>mtrabalho didático de um ou mais professores.Por falta de tempo, interesse ou preparo, oexercício <strong>do</strong>cente na maioria <strong>da</strong>s vezes ignoraa intervenção de outras disciplinas na reali<strong>da</strong>deou fato que está trabalhan<strong>do</strong> com os alunos.Há inúmeras formas de realizar ativi<strong>da</strong>des outrabalhos interdisciplinares. Muitos professores<strong>do</strong>s anos iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental trabalhamde mo<strong>do</strong> interdisciplinar. Mesmo o professordisciplinarista pode realizar a “interdisciplinari<strong>da</strong>dede um professor só”, identifican<strong>do</strong>e fazen<strong>do</strong> relações entre o conteú<strong>do</strong> de suadisciplina e o de outras, existentes no currículoou não. Numa mesma área de conhecimentoas possibili<strong>da</strong>des de abor<strong>da</strong>gem interdisciplinarsão ain<strong>da</strong> mais amplas, seja pelo fato de umprofessor assumir mais de uma disciplina <strong>da</strong>área, seja pela proximi<strong>da</strong>de entre elas que permiteestabelecer conexões entre os conteú<strong>do</strong>s.A interdisciplinari<strong>da</strong>de, portanto, não precisa,necessariamente, de um projeto específico.Pode ser incorpora<strong>da</strong> no plano de trabalho <strong>do</strong>professor de mo<strong>do</strong> contínuo; pode ser realiza<strong>da</strong>por um professor que atua em uma sódisciplina ou por aquele que dá mais de uma,dentro <strong>da</strong> mesma área ou não; e pode, finalmente,ser objeto de um projeto, com um planejamentoespecífico, envolven<strong>do</strong> <strong>do</strong>is ou maisprofessores, com tempos e espaços próprios.Ao tratarmos <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mentallevar em conta que, como o próprionome indica, ela implica a existência de disciplinas.Sem <strong>do</strong>mínios disciplinares não há relaçõesa estabelecer. Por esta razão, é convenientelembrar que a melhor interdisciplinari<strong>da</strong>de éa que se dá por transbor<strong>da</strong>mento, ou seja, é o<strong>do</strong>mínio profun<strong>do</strong> e consoli<strong>da</strong><strong>do</strong> de uma disciplinaque torna claras suas fronteiras e suas “incursões”nas fronteiras de outras disciplinas ousaberes. Dessa forma, o trabalho interdisciplinarnão impede e, ao contrário, pode requerer queuma vez trata<strong>do</strong> o objeto de perspectivas disciplinaresdistintas, se promova o movimento aocontrário, sistematizan<strong>do</strong> em nível disciplinar osconhecimentos constituí<strong>do</strong>s interdisciplinarmente.Duas observações para concluir.A interdisciplinari<strong>da</strong>de pode ser simples,parte <strong>da</strong> prática cotidiana <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong> currículona escola e <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong> ensino na salade aula. Para isso, mais <strong>do</strong> que um projeto específico,é preciso que o currículo seja conheci<strong>do</strong>e entendi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, que os planos <strong>do</strong>sprofessores sejam articula<strong>do</strong>s, que as reuniõeslevantem continuamente os conteú<strong>do</strong>s queestão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s e as possibili<strong>da</strong>desde conexão entre eles, que exista aberturapara aprender um com o outro.Segun<strong>do</strong>, a interdisciplinari<strong>da</strong>de requer generosi<strong>da</strong>de,humil<strong>da</strong>de e segurança. Humil<strong>da</strong>depara reconhecer nossas limitações diante <strong>da</strong>ousa<strong>da</strong> tarefa de conhecer e levar os alunos aconhecerem o mun<strong>do</strong> que nos cerca. Generosi<strong>da</strong>depara admitir que a “minha” disciplinanão é a única e, talvez, nem a mais importantenum determina<strong>do</strong> contexto e momento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>de uma escola. E segurança, porque só quemconhece profun<strong>da</strong>mente sua disciplina pode<strong>da</strong>r-se ao luxo didático de abrir para os alunosoutras formas de entender o mesmo fenômenoou de buscar em outros o auxílio para isso.Referências:ETTAYEBI, Moussa<strong>da</strong>k; OPERTTI, Renato; JONNAERT,Philippe. Logique de compétences et dévelopment curriculaire:débats, perspectives et alternative pour lessystèmes éducatifs. Paris: Harmattan, 2008.DENYER, Monique; FURNÉMONT, Jacques; POU-LAIN, Roger; VANLOUBBEECK, Georges. Las competenciasem éducación: un balance. Mexico: Fon<strong>do</strong>de Cultura Económica, 2007.Referencial Curricular 4.indd 24 25/8/2009 11:10:17
Por que competências ehabili<strong>da</strong>des na educação básica?2525Lino de Mace<strong>do</strong>Instituto de Psicologia, USP 2009O objetivo de nossa reflexão é analisar oproblema <strong>da</strong> aprendizagem relaciona<strong>da</strong> aodesenvolvimento de competências e habili<strong>da</strong>desna educação básica. Em outras palavras,trata-se de pensar a questão – quaissão os argumentos para a defesa de um currículocomprometi<strong>do</strong> com o desenvolvimentode competências e habili<strong>da</strong>des na educaçãobásica? Sabemos que elas sempre foramuma condição para a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> exercíciode profissões qualifica<strong>da</strong>s e socialmentevaloriza<strong>da</strong>s. Mas, hoje, temos duas alteraçõesfun<strong>da</strong>mentais, que expressam conquistasde direitos humanos e superação de desigual<strong>da</strong>dessociais. Primeira, competênciase habili<strong>da</strong>des são julga<strong>da</strong>s necessárias parato<strong>da</strong>s as profissões e ocupações. Segun<strong>da</strong>,mais que isto, são essenciais para uma boagestão e cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>, na formacomplexa que assume, hoje.O melhor momento e lugar para formarcompetências profissionais é na escola superiorou em cursos de habilitação. O melhormomento e lugar para formar competênciase habili<strong>da</strong>des váli<strong>da</strong>s para qualquer profissãoe que têm valor para a vi<strong>da</strong> como um to<strong>do</strong> éna educação básica, ou seja, no sistema deensino que a compõe (Escola de Educação Infantil,Escola Fun<strong>da</strong>mental e Escola de EnsinoMédio). E se os conteú<strong>do</strong>s e os procedimentosrelativos às competências e habili<strong>da</strong>des profissionaissão necessariamente especializa<strong>do</strong>s,as competências e habili<strong>da</strong>des básicas só podemser gerais e considera<strong>da</strong>s nas diferentesdisciplinas que compõem o currículo <strong>da</strong> educaçãobásica. Daí nossa opção pelas competênciasvaloriza<strong>da</strong>s no Exame Nacional <strong>do</strong>ensino médio (ENEM) como referência.Consideremos, agora, o problema <strong>da</strong>aprendizagem em si mesma. Aprender semprefoi e será uma necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser humano.É que os recursos biológicos (esquemasinatos ou reflexos) de que dispomos aonascer não são suficientes, ocorren<strong>do</strong> o mesmocom os valores e condições socioculturaisque lhes são complementares, expressoscomo cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s adultos. Por exemplo, acriança nasce saben<strong>do</strong> mamar, isto é, nascecom esquema reflexo de sucção. Mas nestereflexo não estão previstos, nem poderiamestar, as características (físicas, psicológicas,sociais, culturais, etc.) <strong>da</strong> mama e <strong>da</strong> mamãe,que a amamentará. Da parte <strong>da</strong> mamãe é amesma coisa. Mesmo que ter um filho sejaum projeto queri<strong>do</strong>, sua mama cheia de leitee seu coração cheio de disponibili<strong>da</strong>de nãosubstituem os esforços de sucção de seu filho,deste filho em particular, com suas característicase condições singulares, não previsíveispara a pessoa que cui<strong>da</strong>rá dele. Paraque esta interação entre <strong>do</strong>is particularesseja bem sucedi<strong>da</strong>, mesmo que apoia<strong>da</strong> em<strong>do</strong>is gerais (uma criança e uma mãe), ambosterão de aprender continuamente, terão dereformular, corrigir, estender, aprofun<strong>da</strong>r osaspectos adquiri<strong>do</strong>s.Aprender é uma necessi<strong>da</strong>de constante <strong>do</strong>ser humano, necessi<strong>da</strong>de que encerra muitosconflitos e problemas, apesar de sua importância.Nem sempre reunimos ou <strong>do</strong>minamosos diferentes elementos que envolvem umaaprendizagem. Cometemos erros. Calculamosmal, não sabemos observar os aspectospositivos e negativos que compreendemuma mesma coisa, nem sempre sabemosponderar os diferentes la<strong>do</strong>s de um mesmoproblema. Daí a necessi<strong>da</strong>de de fazer regulações,de prestar atenção, aperfeiçoar, orientaras ações em favor <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> busca<strong>do</strong>.Este processo é sustenta<strong>do</strong> pelo interesse deReferencial Curricular 4.indd 25 25/8/2009 11:10:17
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