V - Competências e conteú<strong>do</strong>s nos currículos brasileiros22O espaço de articulação <strong>da</strong>scompetências com os conteú<strong>do</strong>sNo processo de definição curricular jáanalisa<strong>do</strong> nestes Referenciais, o paradigmacurricular que poderia ser chama<strong>do</strong> de “mestre”está na Lei 9394/1996 – LDB, que foisegui<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais(DCNs) e <strong>do</strong>s Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs). As DCNs, obrigatórias, apresentamdisciplinas ou áreas de conhecimento eas competências que devem ser constituí<strong>da</strong>s.Quanto aos conteú<strong>do</strong>s, são bastante gerais,porque supõem uma etapa intermediária dedesenvolvimento curricular para adequar asdiretrizes nacionais às distintas reali<strong>da</strong>des regionais,locais e escolares, tarefa que cabeaos mantene<strong>do</strong>res e gestores <strong>da</strong>s redes públicase priva<strong>da</strong>s. Os PCNs e qualquer orientaçãoemana<strong>da</strong> <strong>do</strong> MEC não têm caráterobrigatório. São recomen<strong>da</strong>ções e assistênciatécnica aos sistemas de ensino.Tanto os PCNs como as DCNs não constituemum currículo pronto para ser coloca<strong>do</strong>em ação. Não são pontos de chega<strong>da</strong> e simde parti<strong>da</strong> para um caminho que se inicianas normas nacionais e só consegue alcançaro chão <strong>da</strong> escola de mo<strong>do</strong> eficaz, se ossistemas de ensino completarem o percurso,desenvolven<strong>do</strong> seus próprios currículos.Estes currículos, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s competênciastransversais e de indicações genéricas de conteú<strong>do</strong>sestabeleci<strong>da</strong>s no âmbito nacional, devemincluir: um recorte <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>; sugestãode meto<strong>do</strong>logia de ensino e de materiais deapoio didático e situações de aprendizagem;procedimentos de avaliação; e as necessi<strong>da</strong>desde formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s professores.No Brasil, em função <strong>do</strong> regime federativoe <strong>do</strong> regime de colaboração entre União,Esta<strong>do</strong>s e Municípios, a mediação entre oâmbito nacional e o estadual, municipal ouescolar demarca o espaço de articulação entreas competências transversais ou competênciaspara aprender e os conteú<strong>do</strong>s curriculares.Nesse marco institucional, portanto,esse trabalho articula<strong>do</strong>r é de responsabili<strong>da</strong>de<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, Municípios ou escolas.A aprendizagem em contextoA passagem <strong>da</strong>s competências transversaispara aprender para as competências a constituirem ca<strong>da</strong> área ou conteú<strong>do</strong> curricular ea passagem <strong>da</strong> representação, investigação eabstração para a comunicação, compreensãoe contextualização, são facilita<strong>da</strong>s por meiode duas estratégias: a aprendizagem em contextoe a interdisciplinari<strong>da</strong>de.A contextualização é a abor<strong>da</strong>gem para realizara já menciona<strong>da</strong>, indispensável e difícil tarefade cruzar a lógica <strong>da</strong>s competências com alógica <strong>do</strong>s objetos de aprendizagem. Para queo conhecimento constitua competência e sejamobiliza<strong>do</strong> na compreensão de uma situaçãoou na solução de um problema, é preciso quesua aprendizagem esteja referi<strong>da</strong> a fatos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><strong>do</strong> aluno, a seu mun<strong>do</strong> imediato, ao mun<strong>do</strong> remotoque a comunicação tornou próximo ouao mun<strong>do</strong> virtual cujos avatares têm existênciareal para quem participa de sua lógica.Quan<strong>do</strong> a lei indica, entre as finali<strong>da</strong>des<strong>do</strong> ensino médio, etapa final <strong>da</strong> educaçãobásica, “a compreensão <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentoscientífico-tecnológicos <strong>do</strong>s processos produtivos,relacionan<strong>do</strong> a teoria com a prática, noensino de ca<strong>da</strong> disciplina” (Art. 35 inciso IV);ou quan<strong>do</strong>, no Art. 36, afirma que o currículo<strong>do</strong> ensino médio “destacará [...] a compreensão<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong>s letrase <strong>da</strong>s artes” (grifo nosso), está estabelecen<strong>do</strong>a aprendizagem em contexto como imperativope<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> educação básica. Maisain<strong>da</strong>, ao vincular os conteú<strong>do</strong>s curricularesReferencial Curricular 4.indd 22 25/8/2009 11:10:17
com os processos produtivos caracteriza umcontexto não apenas relevante, mas man<strong>da</strong>tóriopara tratar os conteú<strong>do</strong>s curriculares: omun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e <strong>da</strong> produção.O destaque <strong>da</strong> relação entre teoria e práticaem ca<strong>da</strong> disciplina, lembra que a dimensão<strong>da</strong> prática deve estar presente em to<strong>do</strong>sos conteú<strong>do</strong>s. A prática não se reduz a açõesobserváveis, experiências de laboratório ouelaboração de objetos materiais. A práticacomparece sempre que um conhecimentopode ser mobiliza<strong>do</strong> para entender fatos <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de social ou física, sempre que umconhecimento passa <strong>do</strong> plano <strong>da</strong>s abstraçõesconceituais para o <strong>da</strong> relação com areali<strong>da</strong>de. A aprendizagem em contexto é aabor<strong>da</strong>gem por excelência para estabelecera relação <strong>da</strong> teoria com a prática.As Diretrizes Curriculares Nacionais para oensino médio assim explicam a aprendizagemem contexto: “O tratamento contextualiza<strong>do</strong><strong>do</strong> conhecimento é o recurso que a escola tempara retirar o aluno <strong>da</strong> condição de especta<strong>do</strong>rpassivo. Se bem trabalha<strong>do</strong>, permite que,ao longo <strong>da</strong> transposição didática, o conteú<strong>do</strong><strong>do</strong> ensino provoque aprendizagens significativasque mobilizem o aluno e estabeleçamentre ele e o objeto <strong>do</strong> conhecimento umarelação de reciproci<strong>da</strong>de. A contextualizaçãoevoca por isso áreas, âmbitos ou dimensõespresentes na vi<strong>da</strong> pessoal, social e cultural, emobiliza competências cognitivas já adquiri<strong>da</strong>s”(Parecer 15/98 <strong>da</strong> Câmara de EducaçãoBásica <strong>do</strong> Conselho Nacional de Educação).Organizar situações de aprendizagem nasquais os conteú<strong>do</strong>s sejam trata<strong>do</strong>s em contextorequer relacionar o conhecimento científico,por exemplo, a questões reais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> aluno,ou a fatos que o cercam e lhe fazem senti<strong>do</strong>.A Biologia ou a Química precisam fazersenti<strong>do</strong> como recursos para entender opróprio corpo e gerenciar sua saúde, paraidentificar os problemas envolvi<strong>do</strong>s no uso dedrogas, na a<strong>do</strong>ção de dietas radicais, ou naagressão ao meio ambiente.Mas a contextualização não pode ser umfim em si mesma. Se a transposição didáticase limitar ao contexto, o conhecimento constituí<strong>do</strong>pode ficar refém <strong>do</strong> imediato, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>particular <strong>da</strong>quele contexto, e essa não éa finali<strong>da</strong>de última <strong>do</strong> currículo. Como recorte<strong>da</strong> cultura humanista, científica e artística,que se sistematiza e organiza em nível maisuniversal e abstrato, o currículo quer, em últimainstância, tornar o aluno participantedessa cultura sistematiza<strong>da</strong>.Partir <strong>do</strong> que é próximo significativo e presenteno mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno é uma estratégia.Seu propósito final é propiciar apropriação<strong>da</strong>quilo que, mesmo sen<strong>do</strong> longínquo, sistemáticoe planetário, também é intelectual eemocionalmente significativo. A contextualização,portanto, não elimina, ao contrário,requer um fechamento pela sistematizaçãoe pela abstração. Não queremos ci<strong>da</strong>dãosaprisiona<strong>do</strong>s em seu mun<strong>do</strong> cultural e afetivopróximo, queremos ci<strong>da</strong>dãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nosenti<strong>do</strong> mais generoso dessa expressão.Interdisciplinari<strong>da</strong>decomo prática permanenteA interdisciplinari<strong>da</strong>de acontece como umcaso particular de contextualização. Como oscontextos são quase sempre multidisciplinares,quan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> de uma determina<strong>da</strong> áreaou disciplina é em contexto, é quase inevitávela presença de outras áreas de conhecimento.Um conteú<strong>do</strong> de história, por exemplo, no contextode um lugar, instituição ou tempo específico,depara-se com questões de geografia, demeio ambiente, de política ou de cultura. Nessaaprendizagem em contexto trata-se não apenasde aprender fatos históricos, mas de entenderrelações <strong>do</strong> tipo: como os recursos naturais determinarama história <strong>do</strong>s povos e o que aconteceuquan<strong>do</strong> esses recursos se esgotaram; oucomo a história de um lugar foi determina<strong>da</strong>por seu relevo ou bacia hidrográfica. Esse entendimentoinevitavelmente requer conhecimentosde biologia e geografia para aprender o quesão os recursos naturais e entender o territóriocomo determinante desses recursos.2323Referencial Curricular 4.indd 23 25/8/2009 11:10:17
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lução desse conceito na Ciência.
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Essa explosão criou a matéria que
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ReferênciasABDALLA, M. C. B. O dis
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José Cláudio Del PinoMichelle Câ
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alcançar a abstração de conceito
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outras) e agrupamento destas por se
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