86Em outro exemplo, é possível aprendermuito de Física Moderna estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o funcionamentode uma bomba atômica (muitosalunos demonstram interesse nisso quan<strong>do</strong>são ministra<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s de Física Moderna).Fazer esse estu<strong>do</strong> minucioso apenas paraaprender Física, omitin<strong>do</strong> questões éticas emorais que se relacionam com esse equipamento,é uma prática perigosa, que pode atéparecer um aval ao uso <strong>do</strong> armamento. Nãose deve esquecer que os <strong>do</strong>is únicos ataquesque foram realiza<strong>do</strong>s com armas nucleares,até o presente momento, aconteceram em 6e 9 de agosto de 1945, respectivamente, nasci<strong>da</strong>des de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.Ambos foram feitos pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong>América e deixaram um sal<strong>do</strong> de mortos estima<strong>do</strong>entre 140 mil e 220 mil. Nesse dia,o mun<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u: a partir <strong>da</strong>í, armas nuclearesmuito mais potentes e sofistica<strong>da</strong>s foramdesenvolvi<strong>da</strong>s e essa tecnologia logo foi desenvolvi<strong>da</strong>por outros países, além <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s (França, China e a antiga UniãoSoviética, por exemplo). Não pode ser negligencia<strong>do</strong>o impacto <strong>da</strong> tecnologia na socie<strong>da</strong>de,seja ele destrutivo ou não. O estu<strong>do</strong><strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s núcleos e o conhecimentode que matéria pode se converter emenergia levaram à bomba atômica. No entanto,o conhecimento <strong>do</strong>s núcleos tambémpossibilitou o desenvolvimento <strong>da</strong> medicinanuclear. Os bons e maus reflexos <strong>da</strong> tecnologiana socie<strong>da</strong>de são elementos importantese dão senti<strong>do</strong> e riqueza às aulas de Física.Explicar fenômenos naturais sem apelarpara os misticismos e superstições característicosde algumas culturas foi um grandeavanço para a época. Na I<strong>da</strong>de Moderna,é estabeleci<strong>da</strong> uma visão mecânica <strong>da</strong> natureza,na qual as pessoas a<strong>do</strong>tam uma posturautilitarista. A contemplação dá lugar auma ânsia pelo <strong>do</strong>mínio de tecnologias, nosenti<strong>do</strong> de melhor aproveitar os recursos naturais.O papel <strong>da</strong> Física e <strong>da</strong> Ciência vaialém de simplesmente aproveitar recursos:reside também na reflexão, na proposiçãode teorias e, muitas vezes, não acarreta umaaplicação prática imediata (por exemplo,a teoria <strong>do</strong> Big Bang e outras que buscamentender as nossas origens e responder algumas<strong>da</strong>s questões metafísicas cita<strong>da</strong>s noinício desse texto).Essa paixão pelo conhecimento e a contemplação<strong>da</strong> natureza podem nos guiar nouso consciente <strong>da</strong>s tecnologias. Elas devemser emprega<strong>da</strong>s no senti<strong>do</strong> de melhorar aquali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> ser humano, respeitaro meio ambiente e devem estar a serviço <strong>da</strong>humani<strong>da</strong>de, na medi<strong>da</strong> em que o acesso aessas tecnologias esteja ao alcance <strong>do</strong> maiornúmero possível de pessoas.Uma coisa é certa: a paixão pelo conhecimentoe o decorrente uso consciente <strong>da</strong> tecnologiapodem ser um elemento importantena complexa luta para a redução <strong>do</strong> espaçoocupa<strong>do</strong> pelas drogas, violência e outrasmazelas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de atual. Essa paixão incentivao exercício pleno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e éprincipalmente aí que reside o encanto deensinar Física.A paixão pelo conhecimento e o prazerde ter contato com ele impulsionarama Ciência no passa<strong>do</strong>. Na Grécia antiga,para citar um exemplo, a Ciência se baseavaem uma contemplação <strong>da</strong> natureza,levan<strong>do</strong> os cientistas <strong>da</strong> época a sededicarem ao seu estu<strong>do</strong>, movi<strong>do</strong>s porpaixão pelo conhecimento e investin<strong>do</strong>longo tempo na busca de explicações racionaispara os fenômenos naturais.Como ensinar Física?Ingenuamente, muitos pensam que essapergunta possui resposta simples. Não existeuma sequência de passos, uma receita mágicaou qualquer procedimento que mostrecomo ensinar, de forma ampla e bem-sucedi<strong>da</strong>,uma disciplina. Ensinar é uma tarefacomplexa, pois li<strong>da</strong> com muitos aspectos(afetivo, intelectual, cultural, social, político)e não há receita mágica para isso.Referencial Curricular 4.indd 86 25/8/2009 11:10:36
Os Parâmetros Curriculares Nacionaisdestacam os conceitos de competências ehabili<strong>da</strong>des que, pensa<strong>da</strong>s em relação aoensino de Física, devem permitir a percepçãoe o tratamento <strong>do</strong>s fenômenos naturaise tecnológicos, presentes tanto no cotidianomais imediato quanto na compreensão <strong>do</strong>universo distante, a partir de princípios, leis emodelos construí<strong>do</strong>s pela Física.Aprender Física envolve aprender a falarde Física, ou seja, envolve enculturarseem uma comuni<strong>da</strong>de, apropriar-se deuma linguagem.Nessa concepção, os critérios que orientama prática <strong>do</strong> professor deixam de tomarcomo referência primeira “o que ensinar deFísica”, passan<strong>do</strong> a centrar-se sobre “paraque ensinar Física”, explicitan<strong>do</strong> a preocupaçãoem atribuir ao conhecimento um significa<strong>do</strong>no momento mesmo de seu aprendiza<strong>do</strong>(BRASIL, 1998). Outro aspecto decorrente <strong>da</strong>noção de competências é a possibili<strong>da</strong>de decolocar a relação didática em perspectiva, nosenti<strong>do</strong> de expor os alunos a problemas queexijam a elaboração de hipóteses e a construçãode modelos.Como identificar quais competências sãoessenciais para a compreensão em Física?Não é possível esgotar uma lista detalha<strong>da</strong>.Para compreendê-las, propomos discuti-lasno âmbito <strong>do</strong>s três eixos – representação ecomunicação; investigação e compreensão;contextualização sociocultural – e em termos<strong>da</strong>s competências básicas de ler, escrever eresolver problemas, sem com isso deixar dereconhecer que essas competências podemse sobrepor (não é tão simples compartimentá-las– não é essa nossa intenção –, elasaparecem separa<strong>da</strong>s apenas por questõesde clareza e organização). Para proporcionaruma visão ampla dessa proposta, foi elabora<strong>do</strong>o Quadro 1, que deve ser entendi<strong>do</strong><strong>da</strong> seguinte maneira: a sigla CB indica ascompetências básicas (ler e escrever, resolverproblemas), enquanto que a sigla E indica oseixos (representação e comunicação, investigaçãoe compreensão e contextualizaçãosociocultural). Em ca<strong>da</strong> cruzamento <strong>da</strong>s competênciasbásicas com os eixos, são descritastrês competências específicas. Por exemplo, asigla CB1E2-2 indica a segun<strong>da</strong> competênciaespecífica (“Formular perguntas relevantessobre tais tópicos de Física...”), necessáriapara desenvolver a competência básica 1 (lere escrever), que também atua no senti<strong>do</strong> dedesenvolver a competência geral 2, ou eixo2 (investigação e compreensão). Em linguagemmais resumi<strong>da</strong>, tal competência específicaaju<strong>da</strong> a desenvolver a leitura e a escritano âmbito <strong>da</strong> competência investigativa e decompreensão.Essa situação trabalha em mais de umcruzamento <strong>do</strong> quadro, quan<strong>do</strong> se pede queos alunos argumentem sobre a resposta escolhi<strong>da</strong>.Ao mesmo tempo, essa situação éclaramente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em um fato cotidiano.De início, ela trabalha nos cruzamentosCB1E1-1; CB1E1-2. Ao discutirem suasconclusões por escrito, automaticamenteessa situação também atua no cruzamentoCB1E1-3, CB2E1-1, CB2E1-2 e CB2E1-3.Ela trabalha ain<strong>da</strong> no cruzamento CB2E2-2, já que estimula que o aluno concebamodelos teóricos e explicativos para suasolução. Mais sutilmente, ela trabalha tambémno cruzamento CB1E3-1. Este quadroestá muito longe de ser uma receita mágicapara ensinar Física, pois ele está longede ser completo. Mesmo assim, pode servircomo um guia que auxilia o professor. Nessamesma ativi<strong>da</strong>de, é natural que os alunosbusquem a resposta diretamente com seusprofessores. Em vez de responder com oclássico “pensa”, o que é demasia<strong>da</strong>mentesucinto, é possível olhar o quadro e dizer,por exemplo, “primeiro enten<strong>da</strong> a situação”(CB1E1-1 e CB1E1-2), “onde está o pontocentral <strong>do</strong> problema?” (CB2E1-1 e CB2E1-2), atuan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de incentivar o alunoa desenvolver as competências específicas<strong>do</strong> quadro.8787Referencial Curricular 4.indd 87 25/8/2009 11:10:36
- Page 3 and 4:
Sumário33Introdução05 Lições d
- Page 5 and 6:
Lições do Rio GrandeReferencial C
- Page 7 and 8:
Bassano, no Prêmio Educadores Inov
- Page 9 and 10:
educação básica de qualidade par
- Page 11 and 12:
Referenciais Curriculares daEducaç
- Page 13 and 14:
período ou ano escolar. Essa infor
- Page 15 and 16:
II - DCN, PCN e currículos dos sis
- Page 17 and 18:
III - Desafios educacionais no Bras
- Page 19 and 20:
IV - Princípios e fundamentos dos
- Page 21 and 22:
que constituiu no aluno e que este
- Page 23 and 24:
com os processos produtivos caracte
- Page 25 and 26:
Por que competências ehabilidades
- Page 27 and 28:
conhecimentos e seus modos de produ
- Page 29 and 30:
A gestão da escola comprometidacom
- Page 31 and 32:
A concretização dessa mudança é
- Page 33:
caso da Matemática, que é ao mesm
- Page 36 and 37: 36pedagógico e divulgação de pr
- Page 38 and 39: Referencial Curricular 4.indd 38 25
- Page 40 and 41: 40nas da área, frequentemente redu
- Page 42 and 43: 42e criatividade, não possui solu
- Page 44 and 45: 44mesmo que tenham parentesco long
- Page 46 and 47: 46EixosfundamentaisContextualizaç
- Page 48 and 49: Referencial Curricular 4.indd 48 25
- Page 50 and 51: 50fessores e gestores e a análise
- Page 52 and 53: 52tradas na resolução de problema
- Page 54 and 55: 54substâncias, organismos, sistema
- Page 56 and 57: 56conhecimento e a inserção no co
- Page 58 and 59: Quadro 2 - Sugestões para organiza
- Page 60 and 61: Quadro 2 - Sugestões para organiza
- Page 62 and 63: 62Referencial Curricular 4.indd 62
- Page 64 and 65: Referencial Curricular 4.indd 64 25
- Page 66 and 67: 66ção entre o estudante e as dife
- Page 68 and 69: 683 Competências gerais da área d
- Page 70 and 71: Quadro 3 - Habilidades e práticas
- Page 72 and 73: Quadro 4 - Temas estruturantes, con
- Page 74 and 75: 74mentos, os quais são transmitido
- Page 76 and 77: Quadro 6 - Sugestões para organiza
- Page 78 and 79: Quadro 6 - Sugestões para organiza
- Page 80 and 81: 80significado, mas referir-se ao us
- Page 82 and 83: 82Referencial Curricular 4.indd 82
- Page 84 and 85: Referencial Curricular 4.indd 84 25
- Page 88 and 89: Quadro 1- Relacionando os eixos às
- Page 90 and 91: 90Estudo realizado pelo ELAT (Grupo
- Page 92 and 93: 92Quadro 3 - Algumas competências
- Page 94 and 95: 94Ano3ºTemasestruturantesEquipamen
- Page 96 and 97: 96Concepções préviasAntes de ini
- Page 99 and 100: lução desse conceito na Ciência.
- Page 101 and 102: EixosRepresentação ecomunicação
- Page 103 and 104: Essa explosão criou a matéria que
- Page 105 and 106: ReferênciasABDALLA, M. C. B. O dis
- Page 107 and 108: José Cláudio Del PinoMichelle Câ
- Page 109 and 110: Referenciais Curriculares para o en
- Page 111 and 112: alcançar a abstração de conceito
- Page 113 and 114: formações que ocorrem nestes sist
- Page 115 and 116: TemasestruturadoresCompetências /
- Page 117 and 118: TemasestruturadoresConstituição2
- Page 119 and 120: outras) e agrupamento destas por se
- Page 121 and 122: Estratégias para ação - Química
- Page 123 and 124: Referencial Curricular 4.indd 123 2