Este trabalho tem o objetivo de discutir as estratégias nutricionaisdas fêmeas suínas modernas para se conseguirdesmamar 30 leitões/porca/ano, dando-se ênfase às estratégiasnutricionais para se aumentar a prolificidade dasfêmeas.2- Manejo Nutricional de Fêmeaspara ReposiçãoA seleção inicial para uma taxa elevada de crescimentoresulta em uma população não apenas mais jovem à puberdade,mas também mais leve e, portanto, com peso mais baixoà maturidade sexual. Desse modo, na maioria das marrãs,a idade na qual estão aptas geneticamente para o iníciodo ciclo reprodutivo será atingida bem após terem alcançadouma taxa de crescimento mínima ou o peso corporalnecessário para o início da puberdade. É bem possível queanimais com genótipos extremamente magros e taxas decrescimento muito elevadas e pouco apetite devido à seleçãopara menor deposição de gordura não consigam atingiruma boa relação gordura: músculo para desencadear amaturidade sexual, resultando no aumento da idade à puberdade(Foxcroft et al., 1996). O limiar de taxas de crescimentoprecisa assegurar que o crescimento per se não limiteo início da maturidade sexual da marrã (Foxcroft etal., 2005).A correta nutrição de marrãs durante o seu crescimento temimpacto significativo no desenvolvimento reprodutivo dasfêmeas. Se for respeitada a utilização de níveis nutricionaise padrões de consumo que permitam a ingestão de nutrientesem quantidade suficiente para permitir taxas deganho de peso comercialmente aceitáveis, bem como taxasde deposição protéica compatíveis com as linhagens modernas,dificilmente ocorrerão influências nutricionais relevantessobre a idade à puberdade (Almeida, 1999). Dessaforma, taxa de crescimento e composição corporal não serãolimitações à maturidade sexual (Foxcroft, 1993).2.1- MANEJO NUTRICIONAL <strong>DA</strong> FASE INICIALDE VI<strong>DA</strong> ATÉ A PUBER<strong>DA</strong>DEO manejo nutricional dos suínos deve começar nos estágiosiniciais de sua vida. Do nascimento até três semanasde idade, a leitegada recebe em quantidade satisfatória osnutrientes necessários através do colostro (rico em imunoglobulinase fatores nutricionais de crescimento) e do leiteda porca. Leitões mais pesados a desmama têm melhor apetitedurante a fase de creche e crescem mais rapidamente doque leitões pequenos e mais leves. Por isso, ao selecionaras marrãs de reposição, é preciso que os animais tenhamnascido de leitegadas mais pesadas, apresentem boas condiçõesfísicas, e, no mínimo, seis pares de tetas funcionais.Além disso, há evidências sugerindo que leitoas selecionadasde leitegadas pequenas (dez ou menos) atingema puberdade mais precocemente e por isso apresentammelhor desempenho reprodutivo subseqüente (Dritz, 2006).Para a fase de creche, há limitada informação sobre o efeitoda nutrição sobre o desenvolvimento e longevidade dasleitoas. Uma boa estratégia de alimentação aliada a um ambientecontrolado assegura a boa qualidade das leitoas aofinal do período de creche. Do mesmo modo, após a saídade creche, para os grupos dos quais serão selecionadas asmarrãs de reposição, é necessário algum esforço quanto aoscuidados e ao manejo. Para otimizar a alimentação de marrãs,aos produtores é recomendado algumas atitudes simplescomo utilizar de comedouros e bebedouros compatíveiscom cada fase (crescimento ou terminação) e evitar alimentaras marrãs no chão devido ao desperdício de raçãoe ao aproveitamento insuficiente da dieta.O programa nutricional da fase inicial até a puberdade temcomo objetivo proporcionar às fêmeas uma adequada produçãode massa corporal (proteína) e deposição de gorduralimitada e não o máximo ganho de peso que é alvo dosprogramas de nutrição para animais em crescimento e terminaçãodestinados à produção de carne. Desse modo éimportante considerar, as marrãs, como animais diferenciadosdentro do plantel. Além disso, recomenda-se paraas dietas de desenvolvimento de leitoas, que os níveis decálcio e fósforo devem ser 0,10% mais altos que aqueles recomendadospara os animais destinados ao abate para aumentara densidade óssea e longevidade dos animais. Já osníveis de suplementação de vitaminas e minerais devemser semelhantes aos utilizados em dietas de suínos na fasecrescimento (Dritz, 2006)As especificações das exigências nutricionais para o desenvolvimentode marrãs encontram-se na Tabela 1 ( PIC, 2003).As variações para as especificações nutricionais para o desenvolvimentode marrãs, descritas em muitos trabalhosna literatura, ocorrem por diversos fatores, sendo provavelmentea genética o mais importante. Assim, esse deveser um dos principais alvos a serem atingidos e será umponto decisivo para o sucesso reprodutivo do plantel. Astabelas e dados dos manuais de genética devem, portanto,ser utilizadas como referência.2.2- MANEJO NUTRICIONAL DE LEITOASSELECIONA<strong>DA</strong>S PARA REPRODUÇÃOPara situações em que a seleção de leitoas de reposição éfeita com animais no final da terminação, o programa dealimentação e manejo das leitoas, preferencialmente, deveser baseado na idade e na espessura de toucinho à épocada seleção.Após a seleção de marrãs, a taxa de crescimento esperadapara esses animais é de 650 g/dia distribuídos em 450g/dia de carne e ossos e 200 g de gordura. Com essa taxade crescimento, as marrãs ganham 0.9 mm em espessurade toucinho (ET) por semana. Assume-se que a deposição26 V&Z EM MINAS
Tabela 1 - Especificações nutricionais para o desenvolvimento de marrãs, segundo PIC (2003).ITEM UNI<strong>DA</strong>DE PESO (KG)6-12 12-23 23-40 40-68 68-95 95-118EM(NCR) Kcal/Kg 3440 3440 3300 3300 3300 3300LISINA TOTAL % 1.56 1.45 1.24 0.96 0.88 0.72LISINA DIGEST. % 1.42 1.32 1.11 0.85 0.79 0.60LISINA DIGEST.:EM g/Mcal 4.55 4.22 3.78 2.93 2.68 2.20Cálcio % 0.88 0.80 0.78 0.70 0.70 0.70Fósforo Total % 0.73 0.70 0.65 0.63 0.63 0.63Fósforo Disponível % 0.47 0.42 0.36 0.35 0.35 0.35Fonte: PIC (2003)de 1.5 Kg de gordura corresponde ao ganho de 1 mm emET. Assim sendo, marrãs selecionadas com 11 a 12 mm emET precisariam de cerca de 5 a 6 semanas para atingiremo alvo de 16 a 17 mm ao primeiro serviço.Por outro lado, leitoas selecionadas mais leves, com maiorespessura de toucinho e que permanecerão por um períodoprolongado de reposição, antes da cobrição, devem receberuma dieta restrita ou com menor densidade energéticae que proporcionem um crescimento mais lento.Entre as dificuldades em adequar o programa nutricionaldas marrãs destacam-se: a falta de informações sobre asexigências nutricionais de algumas genéticas; a utilizaçãode diferentes genéticas dentro do mesmo sistema de produção;a ausência de um manejo alimentar bem preparadoe executado até a primeira cobertura; e a falta de treinamentoda mão-de-obra nesta importante fase da produção. Éimportante salientar que algumas práticas de manejo afetamo consumo de ração, como, por exemplo, a movimentaçãode animais, a mistura de ninhadas diferentes e o estressesocial, prejudicando a execução de um bom programanutricional.2.3. MANEJO NUTRICIONAL DE FÊMEASNO PERÍODO DE PRÉ-COBRIÇÃOA nutrição específica de marrãs no período que antecedesua primeira cobertura ou inseminação já é prática consolidadaem boa parte da indústria suinícola, uma vez quejá foi demosntrado que altos níveis de energia nesta faseestão relacionados com a melhoria no desempenho reprodutivo(Ferguson et al., 2003; Brustolini et al., 2004).Esta prática é conhecida como “flushing nutricional”. A compreensãosobre os efeitos de diferentes fontes de energiadietética, nesta fase, ainda carece de consolidação científica.Considerando o papel relevante que a insulina podedesempenhar nas interações entre a nutrição e a reproduçãode marrãs, pode-se especular que dietas que efetivamentepromovam o aumento nos níveis de insulina plasmáticavenham a representar uma importante ferramentapara a melhoria da eficiência reprodutiva dos rebanhos. Tendoem vista que os efeitos nutricionais sobre a taxa ovulatóriaparecem ser dependentes da ação da insulina (Matamoroset al., 1991), a manipulação da resposta insulínicaatravés da dieta pode representar um mecanismo depotencialização do desempenho reprodutivo em suínos(van den Brand, 2001). Diversos outros autores tambémsugeriram ou evidenciaram que a insulina pode intermediaros efeitos interativos entre a nutrição e a reproduçãode suínos.2.4. UTILIZAÇÃO DO “FLUSHING”COMO ESTRATÉGIA PARA AUMENTARO NÚMERO DE NASCIMENTOSEntre as estratégias utilizadas para aumentar o desempenhoreprodutivo destacam-se aquelas que se utilizam dediferentes fontes de energia em marrãs cíclicas ( Machado,2005). Este autor realizou dois experimentos para avaliaro desempenho reprodutivo de marrãs cíclicas quando da utilizaçãode rações isoenergéticas baseadas em duas diferentesfontes de energia dietética. O princípio básico para adefinição dos tratamentos experimentais foi fundamentadona hipótese que uma das fontes energéticas (carboidratos)promoveria uma maior resposta insulínica agudaquando comparada à outra fonte testada (lípides).No primeiro experimento foram avaliados os efeitos de diferentesfontes de energia a taxa ovulatória, fertilidade, sobrevivênciaembrionária, morfometrias embrionária e uterina,dinâmica ovariana e características do estro em um grupode 64 marrãs híbridas comerciais de uma mesma linhagem(cruzamento Landrace x Large-White). Estas fêmeasforam oriundas de um lote de seleção contemporâneo,V&Z EM MINASARTIGO TÉCNICO 427