RELATO DE CASO125Capsulorrexe <strong>em</strong> duplo anel:estudo clínico patológicoDouble ring capsulorhexis: clinic opathologic studyEduardo Ferrari Marback 1 , Marcelo Siqueira <strong>de</strong> Freitas 2 , Fernan<strong>da</strong> Tanajura Spínola 3 , Luciano Espinheira Fonseca Junior 4RESUMOApresentamos caso <strong>de</strong> capsulorrexe <strong>em</strong> duplo anel <strong>em</strong> paciente f<strong>em</strong>inina <strong>de</strong> 81 anos. O espécime cirúrgico foi submetido aestudo anatomopatológico que evi<strong>de</strong>nciou os achados típicos <strong>da</strong> capsulorrexe <strong>em</strong> duplo anel. Comentamos a possível relação com aexfoliação capsular ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira. Salientamos que é possível realizar a cirurgia com bom resultado mesmo que o duplo anel não sejacompleto – como no caso apresentado –, porém <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os folhetos capsulares estejam fundidos <strong>de</strong> forma contínua.Descritores: Extração <strong>da</strong> catarata; Catarata/patologia; Capsulorrexe; Cápsula do cristalino/cirurgia; Cápsula do cristalino/patologia; Relatos <strong>de</strong> casosABSTRACTWe present a case of double ring capsulorhexis in a 81 year-old f<strong>em</strong>ale patient. Surgical specimen was submitted to histopathologicstudy resulting in typical double ring capsulorhexis findings. We discuss the questioned relation to true capsular exfoliation. We callattention to the fact that it is possible to obtain a good surgical result even when the double ring is not complete – as the case presented–, since both capsular flaps are fused in a continuous form.Keywords: Cataract extraction; Cataract/pathology; Capsulorhexis; Lens capsule/surgery; Lens capsule/pathology; Case reports1Doutor <strong>em</strong> Oftalmologia, professor adjunto <strong>de</strong> Oftalmologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Bahia (UFBA) e Cirurgião do Instituto <strong>de</strong> Olhos Freitas– Salvador (BA), Brasil;2Mestre <strong>em</strong> Oftalmologia, diretor médico do Instituto <strong>de</strong> Olhos Freitas – Salvador (BA), Brasil;3Médica, aluna do 3º ano do Curso <strong>de</strong> Especialização <strong>em</strong> Oftalmologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Bahia (UFBA) – Salvador (BA), Brasil;4Doutor <strong>em</strong> Patologia Humana, professor adjunto <strong>de</strong> Anatomia Patológica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Bahia (UFBA) – Salvador (BA), Brasil.*Trabalho realizado na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Bahia e Instituto <strong>de</strong> Olhos FreitasO autor <strong>de</strong>clara não haver conflitos <strong>de</strong> interesseRecebido para publicação <strong>em</strong>: 5/10/2011 - Aceito para publicação <strong>em</strong>: 21/12/2011Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 125-7
126Marback EF, Freitas MS, Spínola FT, Fonseca Junior LEINTRODUÇÃOCom a popularização <strong>da</strong> capsulorrexe como capsulotomia<strong>de</strong> preferência para a cirurgia <strong>da</strong> catarata, começaram asurgir relatos do sinal <strong>de</strong> capsulorrexe <strong>em</strong> duplo anel(CDA). (1-3) Alguns autores questionam se tais pacientes são portadores<strong>de</strong> estágio subclínico <strong>de</strong> exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira <strong>da</strong> cápsulae se a CDA seria um possível sinal <strong>de</strong> fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> capsular compossíveis complicações cirúrgicas relaciona<strong>da</strong>s. (2-4)Apresentamos um caso <strong>de</strong> CDA, incluído seus aspectosclínicos e estudo anatomopatológico.Relato do casoPaciente f<strong>em</strong>inina, 81 anos, dona <strong>de</strong> casa, queixava-se <strong>de</strong>piora progressiva <strong>da</strong> visão <strong>em</strong> ambos os olhos (AO). Ao exameapresentava melhor acui<strong>da</strong><strong>de</strong> visual corrigi<strong>da</strong> igual a visão <strong>de</strong>vultos <strong>em</strong> olho direito (OD) e 20/100 <strong>em</strong> olho esquerdo (OE). Àbiomicroscopia revelou catarata nuclear ++/IV <strong>em</strong> AO.Mapeamento <strong>de</strong> retina evi<strong>de</strong>nciando <strong>de</strong>generação macular relaciona<strong>da</strong>à i<strong>da</strong><strong>de</strong> do tipo não exsu<strong>da</strong>tiva <strong>em</strong> AO, mais avança<strong>da</strong><strong>em</strong> OD. Foi submeti<strong>da</strong> à faco<strong>em</strong>ulsificação com implante <strong>de</strong> lenteintraocular <strong>em</strong> OD s<strong>em</strong> intercorrências, com melhora <strong>da</strong>acui<strong>da</strong><strong>de</strong> visual para 20/400. Na cirurgia do OE foi nota<strong>da</strong> ocorrência<strong>de</strong> duplo anel durante a confecção <strong>da</strong>capsulorrexe,iniciando-se no meridiano <strong>da</strong>s 10horas (Figura 1).Ao perceber a presença do segundo anel, foi tomado o cui<strong>da</strong>dopara manter a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e continui<strong>da</strong><strong>de</strong> dos dois “flaps”, quevoltaram a unir-se no meridiano <strong>da</strong>s 03 horas. A porção excisa<strong>da</strong><strong>da</strong> cápsula anterior foi fixa<strong>da</strong> <strong>em</strong> fomal<strong>de</strong>ído a 10% e envia<strong>da</strong>para estudo anatomopatológico. O restante <strong>da</strong> cirurgia transcorreus<strong>em</strong> complicações, com lente intraocular b<strong>em</strong> posiciona<strong>da</strong><strong>de</strong>ntro do saco capsular ao final. A acui<strong>da</strong><strong>de</strong> visual pós-operatóriamelhorou para 20/50.O estudo anatomopatológico do fragmento <strong>de</strong> cápsula anteriorrevelou a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>laminação superficial <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s,presença <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> rarefação do epitélio capsular epresença <strong>de</strong> vacúolos intraepiteliais (Figura 2), achados análogosàqueles encontrados na exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira <strong>da</strong> cápsula docristalino, caracterizando do ponto <strong>de</strong> vista anatomopatológicoa situação conheci<strong>da</strong> como CDA.DISCUSSÃOA incidência <strong>de</strong> CDA não é b<strong>em</strong> conheci<strong>da</strong>. Existe gran<strong>de</strong>divergência na literatura com números que variam entre 5 até40% <strong>da</strong>s cirurgias <strong>de</strong> catarata. (2,3) Acreditamos que esta variaçãotão gran<strong>de</strong> talvez aconteça pelo <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> algunscirurgiões sobre a existência <strong>de</strong> CDA, uma vez que está não éfacilmente i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> <strong>em</strong> pequenos aumentos, especialmentese não foi utilizado corante vital, como o azul tripan, para realçara cápsula anterior.Alguns autores consi<strong>de</strong>ram a CDA como estágio subclínico<strong>da</strong> exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira <strong>da</strong> cápsula. (1-3) Tal afirmação é fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>no aspecto anatomopatológico indistinto entre as duascondições. (1-5) Apesar <strong>de</strong>ssa s<strong>em</strong>elhança, Yamamoto et al.,avaliando um grupo <strong>de</strong> 13 olhos com exfoliação capsularver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e 11 com CDA, argumentaram que a CDA seria umaiatrogênia causa<strong>da</strong> pela ação mecânica do manuseio sobreestrutura lamelar <strong>da</strong> cápsula do cristalino. (5) Como reforço a essepensamento, os autores comentam a apresentação <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><strong>de</strong>laminação capsular induzi<strong>da</strong> pela injeção <strong>de</strong> substânciaviscoelástica na câmara anterior. (6) Além disso, ao examinar<strong>em</strong>uma série <strong>de</strong> cápsulas <strong>de</strong> pacientes s<strong>em</strong> CDA os autoresencontraram vacúolos no epitélio capsular e consi<strong>de</strong>raram apresença <strong>de</strong> fen<strong>da</strong>s na estrutura capsular e áreas <strong>de</strong> rarefaçãoepitelial como artefatos <strong>de</strong> fixação. (5)Embora não exista um fator <strong>de</strong> risco ambiental conhecidoque predisponha a ocorrência <strong>da</strong> CDA, como a exposição a altast<strong>em</strong>peraturas predispõe a exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira, os pacientesrelatados com CDA habitualmente são idosos com mais <strong>de</strong> 80anos. (1-6) Nesta faixa etária a exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira chega a acometer3,6% dos indivíduos, sendo relata<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> uma maior ocorrência<strong>de</strong> pseudoexfoliação capsular e fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> zonular nosmesmos pacientes. (5)A <strong>de</strong>speito <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> sobre a natureza <strong>da</strong> CDA como precursoraou não <strong>da</strong> exfoliação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira, o estudoanatomopatológico <strong>de</strong>ste e <strong>de</strong> outros casos <strong>de</strong> CDA não <strong>de</strong>ixadúvi<strong>da</strong>s quanto à presença <strong>de</strong> fragilização capsular. (1-3,5) Estafragilização, por redução <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> cápsula anterior r<strong>em</strong>anescenteapós a ocorrência <strong>da</strong> <strong>de</strong>laminação, justifica a argumentaçãopara a execução <strong>de</strong> uma capsulorrexe contínua nosdois anéis. (1-3) Em nosso caso, o duplo anel não foi completo, eFigura 1: Aspecto transoperatório - A) Evidência <strong>da</strong> capsulorrexe <strong>em</strong> duplo anel durante sua execução; Folheto interno (seta branca); folhetoexterno (seta negra); B) capsulorrexe completa; notar o início do duplo anel (seta branca) e fim do duplo anel com fusão dos folhetos (setanegra) e limites do duplo anel (setas cinza)Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 125-7
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