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Antifúngicos <strong>em</strong> infecções oculares: drogas e vias <strong>de</strong> administração133INTRODUÇÃOAs infecções oculares por fungos são importantes causadoras<strong>de</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> ocular. Des<strong>de</strong> o relato <strong>da</strong> primeiraceratite micótica por Leber <strong>em</strong> 1879 (1 , vimos um aumentocrescente do número dos casos. Suger<strong>em</strong>-se como principaisfatores o uso <strong>de</strong> corticosterói<strong>de</strong>s, facilitando a penetraçãodo agente, e a popularização do uso <strong>de</strong> antibióticos tópicos, criandoum ambiente <strong>de</strong> menor competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na superfície ocular(2,3) .Apesar do surgimento <strong>de</strong> novos fármacos, a resolução permanecedifícil <strong>em</strong> inúmeros casos. Comparados aosantibacterianos, os antifúngicos têm eficácia inferior, seja pelomecanismo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ssas drogas (geralmente fungistáticos, comação fungici<strong>da</strong> dose <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte), pela menor penetração tecidualou, ain<strong>da</strong>, pelo caráter indolente <strong>da</strong> infecção (4) .Este artigo t<strong>em</strong> por objetivo reunir informações a respeitodos principais antifúngicos utilizados atualmente pela oftalmologiano tratamento <strong>de</strong> ceratites e endoftalmites fúngicas,<strong>de</strong>stacando suas vantagens e <strong>de</strong>svantagens a fim <strong>de</strong> facilitar aescolha <strong>da</strong> terapia mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> caso.POLIENOSPertenc<strong>em</strong> a essa classe <strong>de</strong> antifúngicos a Anfotericina-B(AMB), a Nistatina e a Natamicina (NTM). A Nistatina <strong>de</strong>ixou<strong>de</strong> ser utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> infecções oculares há algumas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vidoà sua baixa penetração tecidual, toxici<strong>da</strong><strong>de</strong> e relatos <strong>de</strong> resistência(5,6) . Entretanto, a AMB e a NTM mantêm-se como as principaisdrogas no manejo <strong>de</strong> infecções fúngicas oculares.- Anfotericina BPertencente à família dos antibióticos macrolí<strong>de</strong>ospoliênicos, a AMB foi o primeiro dos antifúngicos <strong>de</strong> amplo espectroa ser <strong>de</strong>scoberto. Isola<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50, é produto doactinomiceto Streptomyces nodosus. Seu uso tornou-se popularcom a aprovação pelo FDA, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, e pela gran<strong>de</strong>eficiência no controle <strong>de</strong> infecções fúngicas diss<strong>em</strong>ina<strong>da</strong>s (4,6-8) .Em oftalmologia, ain<strong>da</strong> é a droga <strong>de</strong> referência.Seus mecanismos <strong>de</strong> ação são: aumento <strong>da</strong> permeabili<strong>da</strong><strong>de</strong>celular, através <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> poros ou canais ao ligar-se com oergosterol <strong>da</strong> m<strong>em</strong>brana celular fúngica, e ação oxi<strong>da</strong>tiva sobreas células, alterando suas funções metabólicas. Liga-se tambémao colesterol <strong>da</strong>s células humanas, principal razão <strong>de</strong> seus efeitoscolaterais (8,9) .Seu nome <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfotérica (solúvel<strong>em</strong> pH extr<strong>em</strong>os, tanto ácidos como bases). T<strong>em</strong> baixahidrossolubili<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo necessária a diluição <strong>em</strong> <strong>de</strong>soxicolatopara administração. Possui moléculas longas que, ao ser<strong>em</strong> infundi<strong>da</strong>s,se aglutinam <strong>em</strong> um coloi<strong>de</strong>. É foto e termossensível,<strong>de</strong>vendo ser armazena<strong>da</strong> <strong>em</strong> local escuro e sob refrigeração (2 a8°C) (4,6,7,10) . Possui, invariavelmente, ação fungistática, com açãofungici<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> concentração atingi<strong>da</strong> no tecido alvo (11) .Em medicina interna t<strong>em</strong> uso restrito <strong>de</strong>vido à suatoxici<strong>da</strong><strong>de</strong> e efeitos colaterais. Durante a infusão pod<strong>em</strong> ocorrer:febre, calafrios, t<strong>aqui</strong>pnéia, hipotensão, náuseas, vômitos entreoutros. S<strong>em</strong>pre acarreta lesão tubular com per<strong>da</strong> <strong>da</strong> funçãorenal <strong>em</strong> pacientes com doença renal prévia. Há também eliminaçãoparcial via hepática (8,11,12) . Não <strong>de</strong>ve ser diluí<strong>da</strong> <strong>em</strong> soluçãosalina, pois po<strong>de</strong> haver agregação dos coloi<strong>de</strong>s comconsequente diminuição na disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> droga.Possui ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tanto contra fungos filamentares comoleveduras. Apresenta excelente espectro contra Candi<strong>da</strong> spp.,Aspergillus spp., Penicilium marneffei, Criptococus spp. e agentescausadores <strong>da</strong> mucormicose. Eficaz também, porém <strong>em</strong> menorescala, contra as principais espécies <strong>de</strong> Fusarium. Não t<strong>em</strong> nenhumaação antibacteriana (4) .A AMB apresenta, também, ação imunopotenciadora através<strong>da</strong> ligação ao colesterol na m<strong>em</strong>brana celular dos linfócitos.Os linfócitos T supressores apresentam maior concentração <strong>de</strong>colesterol <strong>em</strong> sua m<strong>em</strong>brana do que os linfócitos B e T helper, ouso <strong>da</strong> AMB leva a uma consequente redução na população <strong>da</strong>scélulas supressoras, com aumento relativo <strong>da</strong>s células pré-inflamatórias(13,14) .A administração sistêmica <strong>da</strong> AMB apresenta pouca penetraçãonos tecidos oculares, não atingindo níveis terapêuticosna córnea, aquoso ou vítreo (4,10,15-17) . Além disso, seus efeitoscolaterais <strong>de</strong>sestimulam o uso <strong>de</strong>ssa via. A administração diretain situ acaba sendo a principal forma <strong>de</strong> tratamento. É uma <strong>da</strong>spoucas drogas que apresenta <strong>de</strong>scrição na literatura do usosubconjuntival, intraestromal, intracameral e intravítreo, alémdo seu uso tópico.O uso tópico na concentração <strong>de</strong> 1,5 a 5mg/ml é comumentea primeira escolha no tratamento <strong>da</strong>s ceratomicoses. Deve serprepara<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> formulação endovenosa (Fungizone ® -Bristol-Meyers Squibb, New York,NY) diluí<strong>da</strong> <strong>em</strong> água <strong>de</strong>stila<strong>da</strong>.Seu uso é feito <strong>em</strong> intervalos <strong>de</strong> 1 <strong>em</strong> 1 hora no início dotratamento, com espaçamento para ca<strong>da</strong> 4 horas após observadoresposta terapêutica. É recomen<strong>da</strong>do o <strong>de</strong>bri<strong>da</strong>mento periódicodo epitélio corneano durante o tratamento, pois, o gran<strong>de</strong>tamanho <strong>da</strong> molécula dificulta a penetração na córnea comepitélio íntegro. Em coelhos, a concentração <strong>de</strong> AMB após aadministração tópica, com r<strong>em</strong>oção do epitélio, conseguiu atingirníveis terapêuticos no estroma corneano. Já <strong>em</strong> córneas como epitélio íntegro, a penetração foi baixa ou não foi possível <strong>de</strong>tectaro fármaco (18-21) . O uso tanto na forma <strong>de</strong> colírios comopoma<strong>da</strong> d<strong>em</strong>onstram boa tolerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e eficiência (22,23) .A administração subconjuntival po<strong>de</strong> ser realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong>pacientes com baixa a<strong>de</strong>rência ao tratamento, porém seu uso élimitado <strong>de</strong>vido aos relatos <strong>de</strong> necrose conjuntival, esclerite eafinamento escleral (24,25) .O uso intracorneano <strong>de</strong> AMB, por outro lado, apresentamelhores resultados. Com poucos relatos <strong>de</strong> complicações, essavia <strong>de</strong> administração consegue atingir níveis terapêuticoscorneanos superiores e por mais t<strong>em</strong>po que o uso tópico ou intracameral.Diversos casos <strong>de</strong> ceratites não responsivas ao tratamentotópico d<strong>em</strong>onstram sucesso após a administraçãointraestromal (18,26) , porém, estudos controlados ain<strong>da</strong> são necessários.Sugere-se AMB via intraestromal na concentração <strong>de</strong> 5 a10 µg <strong>em</strong> infecções acometendo o estroma profundo que nãorespon<strong>da</strong>m b<strong>em</strong> ao tratamento tópico (2) . O intervalo entre as aplicações<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> pelo menos sete dias e sob bloqueio peribulbar,<strong>de</strong>vido à intensa dor causa<strong>da</strong> pela aplicação. Doses acima<strong>de</strong> 15 a 20µg pod<strong>em</strong> acarretar per<strong>da</strong> endotelial e ed<strong>em</strong>acorneano persistente (18) .A injeção intracameral <strong>de</strong> AMB também po<strong>de</strong> ser realiza<strong>da</strong>com concentração variando <strong>de</strong> 5 a 10 µg/0,1ml. Administra<strong>da</strong><strong>em</strong> intervalos <strong>de</strong> pelo menos um dia, pois há rápido escoamento<strong>da</strong> droga, não há per<strong>da</strong> endotelial significativa. É indica<strong>da</strong> <strong>em</strong> infecçõesprofun<strong>da</strong>s que penetram a m<strong>em</strong>brana <strong>de</strong> Desc<strong>em</strong>et e acomet<strong>em</strong>a câmara anterior e/ou cristalino. Há relatos <strong>de</strong> catarataapós as aplicações e aumento transitório <strong>da</strong> reação <strong>de</strong> câmaranas 24 horas subsequentes, <strong>de</strong>vido ao caráter imunopotenciador<strong>da</strong> AMB. Outros efeitos colaterais, como irite e ed<strong>em</strong>a corneano,pod<strong>em</strong> ocorrer, entretanto são reversíveis (27-31) .Para o tratamento <strong>da</strong>s endoftalmites fúngicas, a injeçãointravítrea <strong>de</strong> AMB é a terapia <strong>de</strong> escolha. A dose recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>varia <strong>de</strong> 1 a 10 µg/0,1ml, po<strong>de</strong>ndo ser repeti<strong>da</strong> s<strong>em</strong>analmen-Rev Bras Oftalmol. 2013; 72 (2): 132-41

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