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i seminário do npgau - Escola de Arquitetura - UFMG

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programa <strong>de</strong> pós-graduação em arquitetura e urbanismo da ufmg (org.)isbn: 978-85-98261-08-9A paisagem não se cria <strong>de</strong> uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez umobjeto no passa<strong>do</strong> era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre aoutra, é um conjunto <strong>de</strong> objetos que têm ida<strong>de</strong>s diferentes, é uma herança <strong>de</strong> muitos diferentesmomentos (SANTOS, 1996, p. 66).O autor compara a paisagem a um palimpsesto – um manuscrito cuja grafia foi removida paradar lugar a novo texto, conservan<strong>do</strong> marcas da escrita passada –, explicitan<strong>do</strong> que a leitura<strong>de</strong>ssa paisagem <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar as condições políticas, econômicas e culturais da socieda<strong>de</strong>que a produz(iu). Nessa perspectiva, sopesan<strong>do</strong> as sucessivas medidas que criam, sobrepõem,ignoram e valorizam as áreas protegidas da região, faz‐se pertinente a utilização da metáfora<strong>do</strong> palimpsesto para pensar esse conjunto <strong>de</strong> áreas protegidas 16 , como se propõe a seguir.Enquanto a criação e o <strong>de</strong>senho original <strong>do</strong> Parque Municipal <strong>de</strong> Belo Horizonte refletem aintenção das elites políticas mineiras <strong>de</strong> constituir uma capital própria <strong>do</strong>s novos temposrepublicanos – a “síntese entre Paris e Washington, Haussmann e L´Enfant (LEMOS, 1988 apudMONTE‐MÓR, 1994) –, suas transformações ao longo <strong>do</strong> século constituem expressões <strong>de</strong>diferentes momentos da história belo‐horizontina. Nos primeiros anos <strong>de</strong> vida da nova capital,a área foi se<strong>de</strong> <strong>de</strong> importantes eventos e <strong>do</strong> lazer das elites, e, ao mesmo tempo, fragmentadapara receber novos prédios públicos; quan<strong>do</strong> Belo Horizonte fortaleceu suas ligações viáriascom as periferias e os municípios vizinhos, seu público foi altera<strong>do</strong> e benfeitorias foramrealizadas; mas, quan<strong>do</strong> a industrialização e o milagre econômico fizeram explodir o espaçourbano, a área se afastou das priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público, que voltou suas atenções para apaisagem das periferias.O mesmo afastamento das áreas protegidas das priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público se expressa nohistórico <strong>do</strong> tombamento fe<strong>de</strong>ral da Serra <strong>do</strong> Curral, que não representou mais que um título<strong>de</strong> reconhecimento da importância da serra na paisagem da capital – embora sinalize algumapreocupação pública, ainda que apenas na esfera fe<strong>de</strong>ral, com a permanência <strong>de</strong>ssa paisagem,que se alterava com o avanço <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbano em direção às periferias, nas décadas <strong>de</strong> 1960 e1970. O entendimento <strong>de</strong> que o tombamento tenha correspondi<strong>do</strong> apenas a um título sefortalece com a criação <strong>do</strong> Parque das Mangabeiras, conti<strong>do</strong> na área tombada. Isso porque, seo tombamento fosse suficiente para preservar a paisagem – e seu conteú<strong>do</strong> –, a criação <strong>do</strong>parque, com essa finalida<strong>de</strong>, não se faria necessária.As décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990 foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s transformações na capital, como no país e emto<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> capitalista. Os reflexos da “crise <strong>do</strong> petróleo”, a difusão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> mínimoneoliberal, a queda <strong>de</strong> barreiras econômicas internacionais, o fim <strong>do</strong> regime militar e are<strong>de</strong>mocratização alteraram não só o mo<strong>do</strong> como a população se relacionava com o Esta<strong>do</strong>,mas também o comportamento das gran<strong>de</strong>s empresas <strong>do</strong> setor primário brasileiro. No Eixo Sulda RMBH, enquanto a mineração se expandia por to<strong>do</strong> o Quadrilátero Ferrífero, inclusive nadireção da zona sul da capital, os loteamentos populares e <strong>de</strong> alto padrão avançavam nosenti<strong>do</strong> sul, acercan<strong>do</strong>‐se <strong>do</strong>s sítios <strong>de</strong> recreio <strong>de</strong> Brumadinho e Nova Lima, que vinham seconverten<strong>do</strong> em residências principais.Desses choques <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> uso e apropriação <strong>do</strong> solo – que compreen<strong>de</strong>m o receio <strong>de</strong> que oabastecimento <strong>de</strong> água da capital pu<strong>de</strong>sse se comprometi<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> preservação danatureza e das belas paisagens da região, e as estratégias <strong>de</strong> controle <strong>do</strong>s loteamentospopulares na zona nobre – são registros as vinte áreas protegidas criadas nesse perío<strong>do</strong> na27

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