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24 Lusitano de Zurique Actualidade<br />
Dezembro <strong>2015</strong><br />
III Guerra Mundial<br />
Carlos Ademar<br />
mcademar@gmail.com<br />
Pois é, estamos em<br />
guerra! Lamento, mas<br />
não o admitir é fechar<br />
os olhos à realidade e<br />
essa atitude nunca ajudou<br />
a resolver problemas.<br />
Não é uma guerra<br />
convencional, em que as<br />
tropas de um e do outro<br />
lado se confrontam uma<br />
e outra vez até o assumir<br />
da derrota por uma das<br />
partes. Podemos dizer<br />
que se ajusta mais ao que<br />
se convencionou chamar<br />
guerra de guerrilha, em<br />
que uma das partes, reconhecendo<br />
não ter força<br />
suficiente para se confrontar<br />
directamente em<br />
campo de batalha com o<br />
inimigo, o vai atacando de<br />
surpresa em variadíssimas<br />
frentes. O objectivo é<br />
produzir o maior número<br />
de vítimas possível, sem<br />
que isso implique meios<br />
humanos e materiais de<br />
elevada monta, provocando,<br />
contudo, um desgaste<br />
generalizado nas<br />
sociedades pela instabilidade<br />
que a ameaça constante<br />
gera.<br />
Nesta perspectiva, esta<br />
guerra mundial é muito<br />
diferente das duas que a<br />
antecederam. Nas primeiras,<br />
sabia-se onde estava<br />
o inimigo, sabia-se onde<br />
lhe ir dar luta. Na guerra<br />
que vivemos o inimigo<br />
não tem um poiso; tem<br />
o mundo ou grande parte<br />
dele à sua disposição.<br />
Em qualquer lugar pode<br />
ser gerada uma célula de<br />
pequenas dimensões, 3,<br />
4 ou 5 pessoas, que pode<br />
atuar uma, duas ou mais<br />
vezes em função da luta<br />
que lhe for dada ou não,<br />
por incúria ou incompetência.<br />
Se esta célula for<br />
eliminada, outras nascerão<br />
noutros locais, prontas<br />
a semear o terror na<br />
sua zona de actuação<br />
e, devido aos meios de<br />
comunicação social, em<br />
qualquer lugar do planeta.<br />
Trata-se, por isso, verdadeiramente,<br />
de uma guerra<br />
mundial, não poupemos<br />
nas palavras, porque<br />
a abrangência é global e<br />
o que move quem actua<br />
maleficamente em Paris,<br />
Mali, Madrid, Londres, ou<br />
em Nova Iorque, é o mesmo.<br />
E o mesmo nada tem<br />
que ver com um conflito<br />
civilizacional, como alguns<br />
defendem. A guerra<br />
não é do mundo contra o<br />
islamismo, a guerra é do<br />
mundo contra o extremismo<br />
islâmico. E é preciso<br />
que este aspecto fique<br />
bem claro e que por todos<br />
seja entendido, porque,<br />
analisando rapidamente<br />
o passado recente, verificamos<br />
que o fundamentalismo<br />
islâmico tem<br />
vindo em crescendo nas<br />
últimas dezenas de anos.<br />
Quem, há dez anos, pensaria<br />
ser possível a existência<br />
de um vasto território<br />
dominado pelos<br />
mais extremistas do fundamentalismo<br />
islâmico, o<br />
autoproclamado «Estado<br />
Islâmico», ou mais propriamente<br />
Daesh? Poucos<br />
iriam tão longe e se o<br />
idealizassem, tal não poderia<br />
ser levado muito a<br />
sério, porque os elementos<br />
existentes na altura<br />
não o deixavam antever.<br />
No entanto, ele existe em<br />
território da Síria e do Iraque,<br />
com a Líbia disponível<br />
ali tão perto; vive da<br />
venda do petróleo que ali<br />
se explora e que alguém<br />
compra, e irradia o fervor<br />
radical, os ensinamentos<br />
e os meios para que as<br />
tais células floresçam nas<br />
grandes capitais do mundo<br />
e em muitos países<br />
africanos e asiáticos.<br />
As intervenções militares<br />
no mundo islâmico,<br />
independentemente das<br />
razões, não cuidaram de<br />
vincar devidamente a diferença<br />
entre crentes islâmicos<br />
e terroristas islâmicos<br />
e deviam tê-lo feito.<br />
Era mesmo fundamental<br />
que o fizessem. De facto,<br />
são quase sempre os<br />
interesses económicos,<br />
embora disfarçados com<br />
valores elevados (a defesa<br />
dos direitos humanos<br />
e alegadamente para im-