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DEZEMBRO 2015

Edição 213 - Dezembro 2015

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Dezembro <strong>2015</strong><br />

Actualidade<br />

Lusitano de Zurique<br />

25<br />

porem regimes democráticos tipo<br />

ocidental) que as geraram. Mas na<br />

verdade, a generalidade da população<br />

teve dificuldade em as compreender<br />

e reagiu negativamente.<br />

Se algumas elites locais beneficiaram,<br />

porque foram depostos os ditadores<br />

que não lhes davam o espaço<br />

que elas entendiam ter direito<br />

e fizeram agitar algumas bandeiras<br />

por isso, o povo, uma vez mais,<br />

nada beneficiou. No fim, o Ocidente<br />

foi ganhando ali mais inimigos,<br />

porque os radicais souberam aproveitar<br />

este descontentamento para<br />

engrossarem o grupo dos seus incondicionais<br />

seguidores.<br />

Também os ataques que o Daesh<br />

tem levado a cabo no Ocidente,<br />

têm contribuído para que as populações<br />

muçulmanas aí radicadas sejam<br />

olhadas de lado, acabando por<br />

se marginalizar ou serem marginalizadas<br />

pelos vizinhos, por analogia<br />

com os terroristas. Esta marginalização<br />

leva a que se torne mais fácil<br />

por parte dos extremistas a radicalização,<br />

particularmente de jovens<br />

desenquadrados socialmente,<br />

quase sempre com passado criminal<br />

pela prática de crimes comuns.<br />

Também nesta estratégia o Daesh<br />

tem saído vencedor.<br />

Chegados a esta situação, em que<br />

reina o pânico, em que ninguém<br />

pode dizer convictamente que está<br />

livre de ser apanhado no local errado<br />

à hora errada; em que o chamado<br />

«Estado Islâmico» parece<br />

pujante e continua a ser o sol que<br />

ilumina grande parte dos extremistas<br />

islâmicos do mundo, é absolutamente<br />

necessário dar-lhe combate<br />

sério para o eliminar rapidamente.<br />

Mas os actos militares têm de ser<br />

acompanhados por outro tipo de<br />

intervenção que leve a mensagem,<br />

repetida à exaustão, de que a guerra<br />

não é de civilizações, a guerra<br />

é contra os extremistas que já deram<br />

bastas provas de o ser e não<br />

olham a meios para cumprir o seu<br />

desiderato: incutir o terror em todo<br />

o mundo pelos actos bárbaros que<br />

cometem à frente de câmaras de<br />

vídeo para depois os divulgarem<br />

em termos globais. O mundo não<br />

pode ficar refém destes terroristas,<br />

porém a sua destruição não pode<br />

descurar a sensibilização do mundo<br />

islâmico, marcando uma linha<br />

bem visível de separação entre uns<br />

e outros. Caso contrário, daqui a<br />

dez anos a difusão do radicalismo<br />

será ainda maior, assim como o seu<br />

grau de destruição.<br />

O que tem dividido o Ocidente nesta<br />

matéria, a Síria e o seu presidente,<br />

é neste momento um pormenor<br />

face à gravidade que representa a<br />

existência do Daesh. Razão tem Assad<br />

quando afirma que o Ocidente<br />

é o responsável pelo nascimento<br />

do «Estado Islâmico» porque tem<br />

tido o foco no regime sírio, enquanto<br />

o terrorismo foi ganhando força<br />

e espalhando o terror, a destruição<br />

e a morte. As hesitações e divisões<br />

existentes no seio de quem se devia<br />

unir para levar de vencido o terrorismo;<br />

o finge que faz mas não<br />

faz e os jogos de interesses, sempre<br />

se sobrepuseram à questão vital e<br />

urgente: destruir o Daesh. É nossa<br />

convicção que, com as devidas cautelas<br />

para evitar os danos colaterais<br />

(que têm sido aproveitados pelos<br />

radicais para ganharem apoio das<br />

populações) deixando bem claro<br />

que a acção militar não é contra<br />

o Islão, mas contra os terroristas;<br />

pensando atempadamente no dia<br />

seguinte e não deixando aqueles<br />

povos e terras entregues à lei do<br />

mais forte, a destruição do «Estado<br />

Islâmico» contribuirá fortemente<br />

para a solução do problema em termos<br />

globais. Ao faltar-lhes o sol que<br />

os ilumina, os inúmeros núcleos de<br />

extremistas, disseminados pelos<br />

muitos países em vários continentes,<br />

verão o ânimo esbater-se-á naturalmente.<br />

Poderá não dispensar<br />

uma actuação mais musculada das<br />

respectivas autoridades contra os<br />

mais renitentes, podendo isso, no<br />

caso europeu, implicar a suspensão<br />

temporária dos Acordos de<br />

Schengen para inviabilizar a mobilidade,<br />

dada a condição de cidadãos<br />

europeus dos jihadistas. Não nos<br />

parece, contudo, uma tarefa difícil<br />

de conseguir em cada um dos países,<br />

sendo certo que todas as manifestações<br />

de apelo ao radicalismo,<br />

que tem sido levadas a cabo em<br />

algumas mesquitas no continente<br />

europeu, devem ser duramente<br />

punidas, nunca perdendo de vista<br />

a fundamental linha de separação<br />

entre a liberdade religiosa, inquestionável<br />

nas sociedades europeias,<br />

e o extremismo, esse sim, deve ser<br />

combatido sem tréguas, integrando<br />

nesse combate, sempre que possível,<br />

as comunidades muçulmanas.

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