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Dezembro <strong>2015</strong><br />
Actualidade<br />
Lusitano de Zurique<br />
25<br />
porem regimes democráticos tipo<br />
ocidental) que as geraram. Mas na<br />
verdade, a generalidade da população<br />
teve dificuldade em as compreender<br />
e reagiu negativamente.<br />
Se algumas elites locais beneficiaram,<br />
porque foram depostos os ditadores<br />
que não lhes davam o espaço<br />
que elas entendiam ter direito<br />
e fizeram agitar algumas bandeiras<br />
por isso, o povo, uma vez mais,<br />
nada beneficiou. No fim, o Ocidente<br />
foi ganhando ali mais inimigos,<br />
porque os radicais souberam aproveitar<br />
este descontentamento para<br />
engrossarem o grupo dos seus incondicionais<br />
seguidores.<br />
Também os ataques que o Daesh<br />
tem levado a cabo no Ocidente,<br />
têm contribuído para que as populações<br />
muçulmanas aí radicadas sejam<br />
olhadas de lado, acabando por<br />
se marginalizar ou serem marginalizadas<br />
pelos vizinhos, por analogia<br />
com os terroristas. Esta marginalização<br />
leva a que se torne mais fácil<br />
por parte dos extremistas a radicalização,<br />
particularmente de jovens<br />
desenquadrados socialmente,<br />
quase sempre com passado criminal<br />
pela prática de crimes comuns.<br />
Também nesta estratégia o Daesh<br />
tem saído vencedor.<br />
Chegados a esta situação, em que<br />
reina o pânico, em que ninguém<br />
pode dizer convictamente que está<br />
livre de ser apanhado no local errado<br />
à hora errada; em que o chamado<br />
«Estado Islâmico» parece<br />
pujante e continua a ser o sol que<br />
ilumina grande parte dos extremistas<br />
islâmicos do mundo, é absolutamente<br />
necessário dar-lhe combate<br />
sério para o eliminar rapidamente.<br />
Mas os actos militares têm de ser<br />
acompanhados por outro tipo de<br />
intervenção que leve a mensagem,<br />
repetida à exaustão, de que a guerra<br />
não é de civilizações, a guerra<br />
é contra os extremistas que já deram<br />
bastas provas de o ser e não<br />
olham a meios para cumprir o seu<br />
desiderato: incutir o terror em todo<br />
o mundo pelos actos bárbaros que<br />
cometem à frente de câmaras de<br />
vídeo para depois os divulgarem<br />
em termos globais. O mundo não<br />
pode ficar refém destes terroristas,<br />
porém a sua destruição não pode<br />
descurar a sensibilização do mundo<br />
islâmico, marcando uma linha<br />
bem visível de separação entre uns<br />
e outros. Caso contrário, daqui a<br />
dez anos a difusão do radicalismo<br />
será ainda maior, assim como o seu<br />
grau de destruição.<br />
O que tem dividido o Ocidente nesta<br />
matéria, a Síria e o seu presidente,<br />
é neste momento um pormenor<br />
face à gravidade que representa a<br />
existência do Daesh. Razão tem Assad<br />
quando afirma que o Ocidente<br />
é o responsável pelo nascimento<br />
do «Estado Islâmico» porque tem<br />
tido o foco no regime sírio, enquanto<br />
o terrorismo foi ganhando força<br />
e espalhando o terror, a destruição<br />
e a morte. As hesitações e divisões<br />
existentes no seio de quem se devia<br />
unir para levar de vencido o terrorismo;<br />
o finge que faz mas não<br />
faz e os jogos de interesses, sempre<br />
se sobrepuseram à questão vital e<br />
urgente: destruir o Daesh. É nossa<br />
convicção que, com as devidas cautelas<br />
para evitar os danos colaterais<br />
(que têm sido aproveitados pelos<br />
radicais para ganharem apoio das<br />
populações) deixando bem claro<br />
que a acção militar não é contra<br />
o Islão, mas contra os terroristas;<br />
pensando atempadamente no dia<br />
seguinte e não deixando aqueles<br />
povos e terras entregues à lei do<br />
mais forte, a destruição do «Estado<br />
Islâmico» contribuirá fortemente<br />
para a solução do problema em termos<br />
globais. Ao faltar-lhes o sol que<br />
os ilumina, os inúmeros núcleos de<br />
extremistas, disseminados pelos<br />
muitos países em vários continentes,<br />
verão o ânimo esbater-se-á naturalmente.<br />
Poderá não dispensar<br />
uma actuação mais musculada das<br />
respectivas autoridades contra os<br />
mais renitentes, podendo isso, no<br />
caso europeu, implicar a suspensão<br />
temporária dos Acordos de<br />
Schengen para inviabilizar a mobilidade,<br />
dada a condição de cidadãos<br />
europeus dos jihadistas. Não nos<br />
parece, contudo, uma tarefa difícil<br />
de conseguir em cada um dos países,<br />
sendo certo que todas as manifestações<br />
de apelo ao radicalismo,<br />
que tem sido levadas a cabo em<br />
algumas mesquitas no continente<br />
europeu, devem ser duramente<br />
punidas, nunca perdendo de vista<br />
a fundamental linha de separação<br />
entre a liberdade religiosa, inquestionável<br />
nas sociedades europeias,<br />
e o extremismo, esse sim, deve ser<br />
combatido sem tréguas, integrando<br />
nesse combate, sempre que possível,<br />
as comunidades muçulmanas.