http://www.mothernaturepartnership.org SAÚDE POR NANCI ALVES Intimidade ameaçada Acesso a absorventes higiênicos ainda é um problema para muitas mulheres 80 <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Junho <strong>2016</strong>
Há muito tempo falar sobre menstruação deixou de ser um tabu, mas é incrível que em pleno século 21, mulheres sofram pela falta de absorventes higiênicos, seja <strong>por</strong> problemas financeiros ou <strong>por</strong> negação de direitos. O que, em princípio, poderia ser somente um problema íntimo feminino tornase um problema social quando atinge mulheres em privação de liberdade ou em extrema pobreza. Mas, ainda bem que algumas d<strong>elas</strong> podem contar com iniciativas criativas e solidárias que ajudam a contornar o problema. Menstruei aos quase 14 anos de idade. Foi uma grande alegria, pois esperava ansiosa <strong>por</strong> esta transformação, já que minhas amigas todas eram “mocinhas”, como se dizia na década de 70. Após perceber a novidade, chamei minha mãe na <strong>por</strong>ta do banheiro e ela, naturalmente, me disse: “espera um pouquinho que já volto”. Ela era uma mulher simples que, quando menstruou pela primeira vez, em 1940, teve que se virar sozinha, pois não tinha liberdade para falar disso com sua mãe. Minha avó só ficou sabendo que minha mãe já tinha menstruado três anos depois, quando estava programando levá-la ao médico para entender o atraso das “regras”. Foi aí que <strong>elas</strong> conversaram sobre o assunto, mas com muita reserva. Seguramente, como minha avó, mamãe lavava e secava sua toalhinha às escondidas em algum canto da casa. Prática comum, até então, de quase todas as mulheres, apesar de ser exatamente neste período que o Brasil começou a produzir o primeiro absorvente higiênico descartável (Modess). Claro que bem poucas mulheres tiveram acesso ou quiseram a novidade nos primeiros anos – a mudança foi gradativa. Bem, voltando à minha história, pouco tempo depois, minha mãe retorna com um pacotinho de absorvente e me dá as orientações necessárias. Uma situação tão natural já naquela época, mas que ainda hoje não é a realidade de milhares de adolescentes e mulheres em várias partes do mundo. De acordo com pesquisa do Unicef, uma em cada 10 estudantes africanas faltam às aulas durante o período menstrual, o que equivale a até 20% do ano letivo, <strong>por</strong> falta de absorventes ou de saneamento adequado. Muitas dessas meninas abandonam a escola <strong>por</strong> completo, o que aumenta a probabilidade de complicações de saúde, gravidez na adolescência e casamento precoce, e limita ainda mais a sua futura carreira e o<strong>por</strong>tunidades econômicas. Em Uganda, uma das iniciativas que surgiu para tentar mudar essa realidade foi uma empresa social que produz absorventes a baixo custo, a AFRIpads. Em seu site (ww.afripads.com/), eles afirmam que criaram uma indústria de base rural, gerando emprego para mais de 150 ugandeses, a maioria mulher. “AFRIpads Kits menstruais são absorventes reutilizáveis projetados para “ Uma em cada 10 estudantes africanas faltam às aulas durante o período menstrual. fornecer proteção na higiene feminina e conforto para adolescentes e mulheres que, <strong>por</strong> falta de recursos, precisam usar do improviso durante a “semana da vergonha”: pedaços de roupas velhas, de colchão de espuma, papel higiênico, folhas e fibras de bananeira. Tudo anti-higiênico e desconfortável.” Privação de liberdade e de absorventes Uma outra situação inimaginável sobre a falta de absorvente higiênico é vivida <strong>por</strong> mulheres que estão em situação de privação de liberdade, no Brasil. Presas, muitas vezes abandonadas p<strong>elas</strong> famílias, precisam buscar alternativas nada confortáveis como, <strong>por</strong> exemplo, usar o miolo de pão em formato de absorvente interno, mais conhecido como OB. O que representa um risco grande para a sua saúde. De acordo com Adelaide Augusta Belga, enfermeira obstetra que presta, voluntariamente, atendimento (prénatal, planejamento familiar, saúde da mulher) em alguns presídios femininos na região metropolitana de Belo Horizonte, “o miolo de pão é um meio de cultura favorável para o crescimento de microrganismos como bactérias, fungos, vírus, etc. Todos estes são causadores de vaginoses, doenças infec cio sas de caráter ginecológicos que podem agravar se não forem detectados e tratados precocemente”. Da mesma forma, o uso de toalhinha como absorvente higiênico pode ser um risco para a saúde, caso não seja lavada, desinfetada e exposta ao sol para secar bem. “Tem mulheres que, <strong>por</strong> questões culturais e ecológicas, utilizam as toalhinhas, pois estão <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Junho <strong>2016</strong> 81
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